Walter da Silva Braga

Patrono da Cadeira nº 13 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Manoel de Jesus Andrade Braga. Conhecido como Tetê Braga, nasceu em Pericumã, povoado pertencente ao município de Peri-Mirim (MA), no dia 08 de agosto de 1911, filho de Antônio Florêncio Diniz Braga (o Velho Braga) e de Joana Regina da Silva Braga (Nhá Resna). Teve como irmãos Constantino Braga e Valdivino da Silva Braga. Filho de fazendeiro, herdou do pai a profissão de criador. Criava, além de gado bovino, outros animais como porcos, patos, galinhas, paturis, catraios, perus, cabras, cavalos e peixes. Tinha um tanque em frente à sua casa que dava farturas de peixes. No início de sua vida adulta, Tetê Braga teve uma pequena barraca e também foi pequeno agricultor, mas a paixão pela criação de gado falou mais alto, fazendo-o optar por essa atividade deixando aquelas outras definitivamente.

Em sua pequena propriedade, produzia bastante leite, que servia como base da alimentação de sua família e para a produção de queijos e manteiga. O que era produzido na propriedade, queijos, manteiga, ovos era vendido para comerciantes de Peri-Mirim (Mundico Botão) e de São Bento (Adrião) que levavam para revender em São Luís. Na propriedade havia grande produção de coco babaçu, donde eram extraídas as amêndoas para vender aos comerciantes locais (Ademar Peixoto). A receita da vendas desses produtos era a principal fonte de renda para sustentação da família.

Tetê Braga aprendeu a aplicar injeção e servia a comunidade de Pericumã, aplicando injeção nos enfermos do lugar, inclusive na veia. Desde jovem, era um homem muito conceituado e cobiçado por muitas mulheres da região. Casou-se aos 32 anos com a jovem Maria José Andrade Braga de apenas 16 anos, no dia 23 de dezembro de 1944 (no civil) e no dia 24 do mesmo mês no religioso, na cidade de Pinheiro. Viveram por 45 anos em uma relação profícua que gerou vários frutos. Dessa bela união, nasceram 13 filhos, que são pela ordem cronológica: João Batista, Maria Regina, Valtemar, Walter da Conceição, Maria do Rosário, José Maria, Manoel de Jesus, Valber do Socorro, Leônia Maria, Wewman Flávio, Lidiane da Graça, além dos falecidos Maremaldo e Verionaldo. Complementando a família adotaram e criaram cerca de 10 filhos, dentre eles: Aristo, Ernesto, Cota, José de Cananã, Beatriz, Coronel, Erenice, José Maria e Clenilde.

Ouvindo os conselhos de dona Almerinda Gonçalves e por suas próprias ideias, Tetê Braga alimentou um nobre e grande sonho que era deixar seus filhos bem encaminhados na vida. Para isso, sabia que só tinha um caminho: o estudo. E foi se agarrando com amigos e contando com a ajuda dos padres e freiras que conseguiu realizar seu sonho.

Dona Almerinda Gonçalves, descendente de portugueses e matriarca  da destacada família Gonçalves da cidade de Pinheiro, era sua grande amiga e conselheira. Foi através dela que conseguiu uma vaga no Patronato São Tarcísio para seu filho mais velho (João Batista) e uma no Convento das Irmãs para sua filha mais velha (Regina). No ano seguinte, obteve vagas para Valtemar e posteriormente para Waltinho. E assim foi colocando os filhos no caminho certo.

Todos os filhos da dona Almerinda eram seus compadres. O Sr. Américo Gonçalves deu hospedagem para Regina por algum tempo, o mesmo aconteceu com Rosário que foi hospedada na casa do Sr. Raimundo Gonçalves, seu padrinho. E assim as portas da educação foram se abrindo para esse agricultor, que com muito orgulho conseguiu que todos os filhos estudassem e se formassem em cursos de nível superior.

A religiosidade do casal Tetê Braga e Maria José era notável. Como membros da Legião de Maria, participavam das reuniões e cultos dominicais e das missas que aconteciam na comunidade. Uma missão que eles faziam questão de exercitar eram as visitas aos enfermos, idosos e pessoas que estavam passando por momentos de dificuldades, levando a palavra da Bíblia e as orações para conforto dessas pessoas. Outra prática religiosa da família, era a oração do santo terço diariamente.

Por ser muito religioso, conquistou a amizade e o respeito dos padres canadenses que tinham missão em Peri-Mirim, notadamente Padre Edmond Poliot e Padre Gérard Gagnon. Essa amizade abriu as portas para que seus filhos Regina e Valtemar fossem estudar em Guimarães no Convento das Irmãs de Assunção e no Seminário São José, respectivamente. Do mesmo jeito aconteceu com filho Waltinho que foi estudar no Seminário Santo Antônio em São Luís. Sem essas ajudas, dificilmente Tetê Braga teria tido condições de oferecer a seus filhos a oportunidade de estudarem.

Embora nunca tenha frequentado uma sala de aula regular, foi alfabetizado por seu tio André Avelino Mendes, irmão de sua mãe, Tetê desenvolveu uma verdadeira paixão pela educação. Apesar do pouco estudo, tinha um grande prazer pela leitura. Lia a Bíblia, os catecismos da Igreja Católica, livros, revistas, histórias infantis, até bulas de remédios, tudo que aparecia em sua frente ele lia. Essa paixão pela leitura foi passada para seus filhos, podendo está aí, uma explicação para o sucesso destes, em concursos e vestibulares.

Alguns valores muito caros até hoje e que se fossem mais observados, as pessoas viveriam muito melhor, eram cultivados pelo homenageado: Gratidão, Perdão, Tolerância e Serenidade. Em tudo dava Graças a Deus, mesmo quando parecia algo ruim (Gratidão); não guardava rancor de ninguém, perdoava mesmo os ladrões de seus cavalos e gado (Perdão); mesmo sendo muito católico, abria as portas para irmãos de outras religiões que passavam evangelizando, ouvia atentamente sem mudar suas convicções (Tolerância); por pior que fosse a situação, nunca perdia a calma, não exaltava a voz, nunca se exasperava (Serenidade).

Outro ponto que merece ser destacado em sua vida é que nunca teve  vícios. Não ingeria bebida alcoólica, nunca fumou e não participava de jogos de azar.

Durante os 45 anos de casado, com Maria José Braga, viveu um clima de harmonia, de respeito, de diálogo, de compreensão, de abnegação, de renúncia e de um amor verdadeiro. Faleceu no dia 10 de novembro de 1989, em São Luís, aos 78 anos, deixando um legado de homem honesto, educado, católico praticante e que gostava de conversar com os filhos, a esposa e os amigos.

Quando morreu todos os filhos estavam casados e quase todos, bem empregados. Portanto, morreu com a missão de educar os filhos cumprida. Viva Tetê Braga!

João Garcia Furtado

Patrono da Cadeira 26 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Diêgo Nunes Boaes. Nasceu em Peri-Mirim, no dia 15 de setembro de 1944, e faleceu no dia 24 de junho de 1993. Filho de Paulo Pereira Furtado e de Domingas Garcia Furtado, ambos naturais de Peri-Mirim. Filho mais velho de uma geração de 10 filhos, teve como irmão: Benta Garcia Furtado, Maria do Socorro Furtado Câmara, José Maria Garcia Furtado, Raimundo Garcia Furtado, Geraldo Garcia Furtado, Francisco Garcia Furtado, Inês Garcia Furtado, Cecília Garcia Furtado (in memoriam) e Pedro Garcia Furtado. Sua avó, Teresa Almeida, era descendente de português, oriunda da cidade de Luzitânia.

Foi batizado no dia 15/05/1945 pelo vigário padre René Carvalho, teve como padrinhos: Francisco Mendes e Celina Gonçalves; crismado no dia 22/05/1959 na Igreja Matriz de Guimarães pelo bispo Dom Afonso Ungarelli. Alistou-se no dia 24 de agosto de 1964, na cidade de Fortaleza (CE), porém não serviu o exército.

Cursou o primário do Ginásio Bandeirantes, por cinco anos na cidade de Peri-Mirim-MA, aos 15 anos de idade mudou-se para Guimarães, em busca de uma boa educação, onde ingressou no ginasial por 4 anos na cidade de Guimarães-MA. O Científico por 3 anos na cidade de Guimarães-MA, ambos no Seminário São José, além de aluno, ele também ensinava na cidade para fins de ajudar nas despesas com o seminário, deixou a batina com um mês antes de sua ordenação. Cursou Filosofia por 3 anos no Seminário em Fortaleza (CE) e se formou Bacharel em Letras Modernas durante 3 anos em São Luís (MA), pela UFMA.

Foi professor de língua portuguesa nos colégios “Conceição de Maria”, “Nina Rodrigues”, “Rosa Castro”, “Ateneu Teixeira Mendes”, “Dom Bosco”, “Colégio Batista”, “Santa Teresa”, “Maristas”, “Instituto Divina Pastora” todas em São Luís-MA e “Ginásio Bandeirante” de Peri-Mirim-MA (1968-1976); professor de francês nos colégios “Conceição de Maria” e “Nina Rodrigues” (1969-1971); professor de língua portuguesa, literatura luso-brasileira e história geral do Brasil nos cursos preparatórios de vestibular “Castro Alves”, “CMV”- Centro Maranhense de Vestibulares, sob direção de Carlos Cunha e “VECTOR”.

Fundador e administrador do Cursinho Papa João Paulo, último até sua morte. Aprovado pelo concurso de professor de latim pela UFMA, não assumindo por conta do baixo vencimento e do seu curso ser mais alto e mais lucrativo em relação à vaga. Ofertava de graça seu curso às pessoas que ele via que tinha interesse e força de vontade de estudar, mas não tinham uma boa condição financeira.

Foi diretor do “Ginásio Bandeirantes” de Peri-Mirim (1968); 3 anos secretário e tradutor de cursos agrícolas pela Caritas Brasileira (órgão ligado ao Vaticano) e por 2 anos exerceu o cargo de  Auxiliar de Escritório da Ação Social da Prelazia de Pinheiro. Cursado em datilografia manual e elétrica; diretor de escolas do 1.º grau (intensivo) e de dinâmica em grupo. Falava e escrevia fluentemente o português, francês, inglês, espanhol, latim e italiano e estava já se adaptando ao russo.

Fundou a ASFIP- Associação dos Filhos de Peri-Mirim no dia 27/09/1987 com sede na Rua Rio Branco Nº 276, Centro e no Conjunto Newton Bello, Quadra B, Casa 12 AL, São Luís-MA. Sendo nomeado vice-presidente da associação. Criou o Jornal na ASFIPE, onde publicava os seus pasquins denunciando a política perimiriense, escreveu contos, poemas e crônicas além de ter seus escritos em participação de jornais, como O Estado do Maranhão e revistas como ISTOÉ, considerado um dos melhores professores do Maranhão, escritor de discursos para políticos, iniciou seu primeiro livro, porém, faleceu antes de concluir.

As madrugadas eram pequenas para tanta tarefa, era onde ele se preparava para as aulas do dia seguinte, não utilizava os livros para ministrar suas aulas, a memória e o conhecimento os supriam naqueles momentos. Se sentia bem em ajudar o próximo, não gostava de mídia, se expor suas tarefas para querer se “esnobar”, era contrário a política, mas em 1992, para o bem da cidade de Peri-Mirim, resolveu ser um patrocinador na campanha à prefeitura da cidade, foi atuante na campanha da chapa de Vilásio França Pereira e vice José Ribamar Martins Bordalo, na qual foram vitoriosos.

No município de Peri-Mirim foi homenageado com um prédio da Escola Municipal do povoado Tucunzal e o farol da educação no bairro Campo de Pouso. Em relação a sua grande contribuição para com o município não somente na área da educação, mas em todas as áreas, pois ajudava na saúde, administração, ministrava aulas de catecismo durante a noite em alguns povoados, como Tucunzal, Santa Maria. Atualmente recebe merecida homenagem pelo confrade Diêgo Nunes Boaes.

Rafael Paz Botão

Patrono da Cadeira nº 07, ocupada por Francisco Viegas Paz. Filho de João Albino Paz Botão e Domingas de Castro Botão, nascido em 30 de outubro de 1905 na localidade Santo Antônio do Acre (hoje Xapuri – terra de Chico Mendes) e faleceu em 23 de junho de 1986. Seu pai era conhecido como Coronel Albino Paz, (dono de seringal) e descendente de holandês. O seu título vem do holandês Boton, que foi aportuguesado para Botão.

Como Rafael Botão veio para o Maranhão?

Em 1918 surgiu a gripe espanhola (H1N1). E a probabilidade que ela chegasse aos seringais era inevitável, haja vista que os europeus vinham constantemente comprar seringas na região, inclusive em Santo Antônio do Acre. Antes que a gripe se alastrasse na região, o Coronel Albino Botão, combinou com a família para enviá-la ao Maranhão o mais rápido possível, devido esta localidade não está incluída na rota da gripe. Então arrumou uma mala com dinheiro, roupas e outros utensílios e mandou toda a família junta. Fazia parte da expedição os seguintes membros da família: a mãe Domingas de Castro Botão e os filhos Marsonilo Paz Botão (mais velho), Rafael Paz Botão (segundo filho, com 13 anos de idade), Albino Paz Botão, Artemízia Paz Botão, Alice Paz Botão (Santinha) e Osório Paz Botão (filho caçula).

Todos viajavam numa embarcação de porte pequeno e, no Golfão Maranhense, com a maré enchendo provocou o desvio da rota, rumando para o Itaúna e de lá até São Bento.

Com o dinheiro que a família trouxe alugou uma casa e começou a tocar a vida livre daquela peste, que dizimou muitos índios na Região Amazônica. O dinheiro estava reduzindo a cada dia e a mãe preocupada com as despesas, para que sua economia não desaparecesse. Então era “um olho no gato e o outro no peixe”.

Rafael começou a se enturmar com os pescadores e foi à luta, garantindo o sustento da família com o auxílio dos outros irmãos.

A mãe de Rafael o matriculou no Seminário de São Bento. Ele não era interno. Ia às aulas e depois vinha para casa. Foi lá que ele aprendeu música com o padre Felipe Condurú Pacheco.

Mais tarde um amigo de Rafael, residente em São Luís lhe mandou uma carta aconselhando que ele viesse para a capital maranhense e escolhesse o Bairro Diamante por possuir opções de adquirir um imóvel para residir e que, na cidade havia maior possibilidade de arranjar emprego. O aconselhamento foi muito bem-vindo pela família. Imediatamente Rafael viajou para São Luís e fez a opção de comprar uma casa. Voltou a São Bento comunicou à sua mãe, que precisava da quantia ajustada para compra do imóvel. A mãe que possuía joias vendeu algumas e deu o dinheiro ao seu filho para fechar o negócio com o proprietário da casa.

A família toda se mudou para o Diamante e, mais tarde, colocou o nome da rua onde morava de Preciosa – existente até hoje. Lá nasceram os irmãos: João de Deus Paz Botão e Fernando Paz Botão.

Rafael arranjou um emprego na Fábrica Fabril, localizada no canto da Fabril, próximo a Receita Federal. Lá aprendeu um pouco de mecânica realizando manutenção das máquinas.

Depois ele se apaixonou por uma jovem chamada Elisa, residente no mesmo bairro em que residia (Diamante) e começaram um relacionamento que durou pouco tempo.

A vinda de Rafael para Peri-Mirim.

Rafael adoeceu de um problema no fígado e já havia tomado muito remédio receitado por farmacêuticos e médicos, mas nenhum deles tinha a eficácia esperada. Então lhe informaram uma senhora em Peri-Mirim, de nome Quitéria e residente entre Portinho e Jaburu, que poderia curá-lo. Ele se dispôs a experimentar os préstimos da dona Quitéria, que realmente o curou, alegando coisa feita. Na recomendação da dieta pediu ao cliente (Rafael Botão), que não comece mais jerimum.

Com o resultado alcançado, ele disse a dona Quitéria que ia retornar para São Luís, mas a vidente senhora profetizou dizendo que o seu lugar atual era no Portinho e depois em Macapá.

“Ou por tralhas ou por malhas”, como diziam os mais velhos, Rafael ficou um pouco mais no município e se apaixonou pela senhorita Odineia França, com quem casou em 30 de junho 1934. E dessa forma cumpria-se a primeira parte da profecia de dona Quitéria. Em função do casamento, a esposa passou a assinar o nome como Odineia França Botão. O casal teve os seguintes filhos: Benedita Marta Botão França (falecida), Maria Lúcia Botão de Oliveira, Lindoura Botão Martins, Raimunda Lélia Botão de Oliveira, Emanoel França Botão e Odinésio França Botão. (Odineia morreu de parto).

Rafael casou-se novamente, cumprindo o que determinava a profecia de dona Quitéria e veio morar na sede do município. A esposa do segundo casamento era Elizabeth Castro Botão, com a qual tiveram os seguintes filhos: Dulcilene Castro Botão, João Albino Paz Botão Neto, Marsonilo da Paz Botão Sobrinho, José Ribamar Castro Botão (falecido), Maria da Graça Castro Botão, Maria Vitória Castro Botão (falecida) e Maria Marta Castro Botão.

Rafael Paz Botão foi Delegado de Polícia e Suplente de Juiz, autorizado, portanto, a realizar casamentos e questões do dia a dia do município.

Como entusiasta e conhecedor de música, Rafael reuniu alguns amigos e parentes com conhecimentos afins para criarem um Conjunto Musical no município, com a participação dos seguintes músicos: Rafael Paz Botão (tocava saxofone alto); José Ribamar Pereira Bahury– Nana (tocava trombone); Herbert de Jesus Abreu – Bebê (tocava saxofone tenor); Furtuoso José Corrêa (tocava saxofone alto); Constantino Corrêa (tocava trombone); Valter Guterres (tocava tuba); João Picola (tocava banjo); João de Deus Paz Botão (tocava pandeiro) e José Ribamar Castro Botão – Sebinho, o caçula dos músicos (tocava bateria).

Por ocasião da visita do Núncio Apostólico canadense a Peri-Mirim, em 1959, que coincidiu com a primeira comunhão da primeira turma de alunos educados para esse fim, o conjunto musical de Rafael Botão tocou o Hino do Canadá e em seguida um dobrado composto e arranjado pelo próprio Rafael. Os canadenses gostaram imensamente da composição ao ponto de solicitarem ao seu compositor uma cópia. Rafael, então, deu o original para o padre Edmundo, que o levou para o Canadá.

Foi uma festa muito animada, realizada no canto da casa Paroquial de São Sebastião, com muito folclore, inclusive com o tambor de crioula do mestre Gervásio do Pontal, que cantava várias músicas do reportório do tambor e uma das letras dizia o seguinte:

Balanceia, balanceia, quero ver balancear, balança de pesar ouro não pode pesar metá. Refrão: balanceia, balanceia, quero ver balancear.

Menina casa comigo, que eu sou um nego trabalhador: com chuva não vou na roça, com sol também não vou.

Rafael foi um homem extremamente dedicado a cultura perimiriense, a ponto de inovar cada vez mais as brincadeiras de bumba meu boi, com a sua criatividade de dar gosto. Ele confeccionava o boi, construía os personagens e ensaiava a comédia de mãe Catirina e Pai Francisco. Cada cena era cuidadosamente elaborada por ele. Como em uma novela, onde o diretor diz como deve ser o enredo, proposto para aquele ato.

A Escola de samba do Portinho tinha sempre a sugestão e autocrítica de Rafael, para que ela fizesse bonito no desfile. Em 1951 o prefeito Agripino Marques, em desavença com Rafael patrocinou um bloco da sede, chamado de “Só prá nós” e, em desafeto, seu Rafa, como era chamado carinhosamente, fez o “Bloco Popular” do Portinho. Muito criativo conseguiu um carro de boi e sua equipe enfeitou da melhor forma possível. Nele os músicos se agruparam e tocavam, como se fosse num trio e os demais brincantes e a população os seguia, com muito entusiasmo, cantando a música:

“Vem cá ioiô, vem cá iaiá, não sejam tolinhos que este bloco é popular (bis)”.

“É assim que a rosa respira, seja o caipira ou o general, seja o doutor, seja o pobre, seja o rico, todos caem no fuxico deste carnaval”.

Quando o Bloco Popular chegou à Praça de São Sebastião, Agripino Marques foi embora para casa. Então sua esposa dona Julieta Marques lhe disse: você deixa a animação na praça e vem se esconder em casa? – Ele refletiu deixou o orgulho de lado, vestiu uma bermuda e foi brincar no meio da multidão.

No que diz respeito a bens e serviços ele não poderia ser melhor do que era. Consertava tudo que fosse necessário, mesmo com os míseros recursos da época. Como prova ainda poderá ser vista o Crucifixo da Igreja de São Sebastião, que lá chegou avariado e Rafael o deixou como fora esculpido o original.

Enfim, a sua vinda para Peri-Mirim, foi traçada por um destino que só fez bem para a população. O acadêmico Francisco Viegas Paz é muito grato em poder prestar-lhe esta homenagem com o esmero que o seu Patrono merece.

Maria de Nasaré Serra Maia

É patrona da Cadeira nº 10, ocupada por Nani Sebastiana Pereira da Silva. Natural da cidade de São Bento-MA, nasceu em 21 de fevereiro de 1925, filha legítima de Bernardino Serra e Nila Carvalho Serra, tinha mais três irmãos: Bento Carvalho Serra, José Ribamar Carvalho Serra e Walton Brígido Carvalho Serra, todos naturais de São Bento, depois naturalizados macapaenses, hoje perimirienses.

Iniciou seus estudos em São Bento-MA, mais tarde mudou-se para São Luís para ingressar no magistério no Colégio Rosa Castro, onde se formou como professora normalista. Sua vida profissional iniciou -se como professora leiga em Peri-Mirim, depois como normalista do Estado onde trabalhou em diversos povoados, enfrentando preconceitos em relação a sua cor da pele, pois nessa época era latente na sociedade perimiriense, mas em todas as suas lutas era sempre vitoriosa. Permaneceu durante 33 anos no Grupo Escolar Carneiro de Freitas, onde encerrou sua carreira profissional.

Casada com Jorge Antônio Maia, o qual amava muito, dessa união nasceram 12 filhos, sendo 8 mulheres e 4 homens, gerando assim 22 netos e 11 bisnetos. Filhos todos formados com nível superior. Com 91 anos, no dia 25 de maio de 2016, encerra sua jornada aqui na terra, deixando um legado forte de sabedoria na sua família de amor, respeito, companheirismo e acima de tudo fé, muito católica e perseverante. Assim foi sua estada no meio de vós.

Agripino Álvares Marques

Patrono da Cadeira nº 23 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada Jessythannya Carvalho Santos. Foi comerciário, político, nasceu na Fazenda Santo Agostinho, Macapá, 4.º Distrito de São Bento, atualmente Peri-Mirim, MA, em 16 de março de 1905, e faleceu na mesma cidade, em 22 de fevereiro de 1970.

Filho de José Antônio Marques e de Maria Álvares Marques. Fez os primeiros estudos com um professor particular, na fazenda onde nascera.

Ainda jovem, mudou-se para São Bento-MA, onde se empregou nas Casas Pernambucanas, grupo de lojas que vendia tecidos, viajando posteriormente para uma cidade no interior do estado de Pernambuco para gerenciar uma das filiais da empresa. Também gerenciou uma loja do grupo no município de Piancó, estado da Paraíba, por três anos.

Em 1933, começou a gerenciar o próprio negócio, uma casa comercial, na cidade de Palmares, Pernambuco, onde permaneceu por sete anos. Nessa cidade, casou-se com Julieta de Almeida Castro Marques, professora normalista, nascida em Pernambuco, com a qual não teve filhos, tendo criado Maria Tereza Leite Amorim, nascida no município de Pesqueira, estado de Pernambuco e posteriormente Lígia Maria Amorim Câmara, filha de Maria Tereza com Raimundo João Lopes Amorim (Doca Amorim).

Em 1939 retornou à Macapá, já elevado à categoria de município naquela época, onde instalou uma casa comercial, fixando residência na Fazenda “Cruzeiro do Sul”. A casa comercial foi instalada na rua Desembargador Pereira Júnior, onde hoje é o sindicato dos lavradores.

Restaurada a democracia, ingressou na política em 1947, sendo eleito ao cargo de prefeito de Peri-Mirim pelo partido Republicano, ao lado da vice-prefeita professora Naísa Ferreira Amorim (1948-50). Naquela época, já havia ocorrido alteração da toponímia Macapá para a denominação Peri-Mirim.

Em 1951, foi eleito à vice-prefeito, ao lado da cadidata à prefeita professora Naísa Ferreira Amorim. Um mês após tomarem posse, diante da renúncia da prefeita, Agripino Marques assumiu a cadeira de chefe do executivo (1952-55).

Em 14 de setembro de 1952, inaugurou o prédio do centro administrativo da Prefeitura Municipal, o qual permanece ativo até os dias atuais, e a Usina de Luz e Força da Cidade, um possante motor de energia elétrica. Na época, em matéria publicada no Diário Popular, Agripino Marques foi exaltado pela operosidade, descortino e pela administração modelar, realizando obras de vulto incontestáveis no município, sendo considerado, nas palavras do senador Vitorino Freire, “o mais dinâmico auxiliar do atual governo, no interior do Maranhão”.

Nas eleições municipais de 1955, foi eleito vereador e presidente da Câmara Municipal de  Peri-Mirim (1956-60).

Em 1960, foi eleito novamente prefeito de Peri-Mirim, ao lado do vice-prefeito Pedro Augusto de Melo (1961-65). No término desse mandato, Agripino Marques ficou licenciado várias vezes para tratamento de saúde, e encontrando-se seriamente enfermo e impossibilitado de exercer suas atividades, recolheu-se à vida privada, na sua fazenda, onde faleceu em 22 de fevereiro de 1970.

Dentre os benefícios realizados no município de Peri-Mirim nos governos de Agripino Marques, destacam-se ainda: construção do colégio “Carneiro de Freitas”; construção de escolas nos povoados Jaburu, Santana, Inambu e outras; construção da Barragem dos Defuntos; construção da Praça São Sebastião; construção do mercado público;  construção de um campo de pouso na Boa Vista; construção da Barragem Vitorino Freire (Portinho); início da construção da cadeia pública; construção de tanques nos campos, construção da Igreja São Sebastião, com auxílio dos munícipes, através do concurso de bonecas e de rainha.

JOSÉ DOS SANTOS

É patrono da Cadeira nº 24 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por José Sodré Ferreira Neto. É natural de Palmeirândia, terra de seus pais. Foi criado no Povoado Cametá, no Sítio Jurema – Peri-Mirim/MA, nasceu em 02/02/1922, filho de Ricardina Santos e Máximo Almeida, o nome do seu pai não consta no seu registro de nascimento, pois não eram casados. Sua mãe era negra e seu pai, louro de olhos azuis. Pelos padrões da época, não havia casamento entre essas raças.

Na época predominava os bailes separados pela cor da pele. José na adolescência, apesar de não ser negro, geralmente, sofria resistência para entrar nos “bailes dos brancos”, por ser filho de Ricardina.

Sua mãe teve 8 filhos, mas faleceu muito jovem, quando José tinha apenas 18 anos. Na época, sua mãe não tinha nenhum companheiro – criava os filhos sozinha.

Homem de poucas letras, estudou apenas 03 meses. Naquela época não tinha escolas, os professores eram contratados pelos fazendeiros para educar apenas os seus filhos. João Guilherme e Mariana Martins contrataram uma professora para ensinar seus filhos e Ricardina pediu para que os amigos deixassem seus filhos maiorzinhos estudarem na casa deles.

Com três meses José já sabia ler e rabiscar algumas letras. A professora mandou comprar-lhe livro de 2.º Ano, porém, a professora teve que ir embora, por se envolver em um triângulo amoroso que contrariava a vontade dos patrões.

A professora pediu a Santoca (alcunha da mãe de José), para que levasse José consigo, para que ele pudesse aprender mais. Mas a mãe não podia deixar: José era seu filho mais velho e já lhe ajudava nas tarefas da vida.

Sem a professora, mas com o Livro de 2.º Ano nas mãos, José leu e releu o livro. Memorizou todas as lições, que mais tarde viria a contar para seus filhos e netos: ele sabia os afluentes da margem direita e esquerda do Rio Amazonas e várias lições como: “Vá e entrega-se ao vício da embriaguez” e tantas outras.

Antes de falecer Ricardina pediu a José e Maria Santos que cuidassem dos seus irmãos. O irmão mais novo, Manoel Santos, tinha apenas 4 anos de idade.

Os filhos de Ricardina são: 1) Joelzila; 2) Maria Santos; 3) José Santos; 4) João Pedro; 5) Alípio; 6) Antônio; 7) Izidoro e 8) Manoel. Destes, apenas João Pedro ainda está vivo.

José tinha muitos sonhos, o mais forte deles era servir a Pátria Amada. Ele gostaria de seguir a carreira militar no Exército Brasileiro e tocar clarinete na Orquestra do Exército, mas com a missão de continuar a criação dos seus irmãos, não pôde realizar esse sonho.

Com esse sonho ainda vivo, José estimulou três dos seus irmãos a servir o Exército, foram eles: 1) João Pedro, 2) Alípio e 3) Antônio. Todos eles ao cumprirem o tempo obrigatório, engajaram na Polícia Militar do Maranhão. João Pedro e Antônio foram destacados para o município de Coelho Neto, para dar segurança à família Duque Bacelar e depois deixaram a PM e por lá casaram-se e tiveram seus filhos.

Alípio permaneceu na PM, galgando a maior posição que um Praça pode alcançar, cargo em que se reformou.

José e Maria Santos criaram seus irmãos com princípios e valores sólidos: todos lhe tomavam a bênção e lhes deviam respeito. Os irmãos homens tinham o hábito de somente sentar-se à mesa na cabeceira, mas quando Zé Santos os visitava, na hora das refeições, todos eles cediam o lugar da cabeceira da mesa a José, que comandava a Família do irmão naquele momento solene, sempre antecedido de orações. Pode-se ver que José cumpriu muito bem a missão que a sua mãe lhe confiou.

José na Mocidade, cumpre registrar, era um jovem simpático, forte e musculoso, campeão de “cana-de-braço”, amansador de burro bravo, pé de valsa, ´brincante de bumba-meu-boi, comparecia às festas com terno de linho belga “arvo”, sapatos de couro, sorriso fácil, era muito cobiçado pelas moças do lugar.

José começou a namorar uma moça, filha do fazendeiro Benvindo Mariano Martins. Ela é Maria Amélia, sabia ler, escrever, fazer belas costuras e bordados e tinha um belo jardim, que costumava cuidar no final da tarde, quando Zé Santos já saía do trabalho e por ali conversavam.

Casaram-se e tiveram muitos filhos: 1) Francisco Xavier; 2) Ademir de Jesus (in memoriam); 3) Cleonice; 4) Edmílson José; 5) Ricardina; 6) Ademir; 7) Maria do Nascimento; 8) Ana Creusa; 9) Ana Cléres; 10) José Maria e 11) Carlos Magno (in memoriam).

José era um exímio educador, pois educava com amor, carinho e, principalmente pelo exemplo, pois era líder comunitário em Peri-Mirim, juntamente com Pedro Martins. José Santos era um homem de Fé.

Antes de falecer José ainda queria realizar um sonho: construir uma casinha no exato lugar onde fora criado (na Jurema), para que fosse celebrado o seu aniversário, com uma missa em homenagem à sua mãe Ricardina. Ele realizou esse sonho como idealizou, aos seus 94 (noventa e quatro) anos.

Também idealizou que uma vez por ano fosse feita uma reunião na Comunidade de Cametá, na casa que construiu para homenagear a sua mãe, para que todos se reunissem para celebrar a união e gratidão pelas pessoas do lugar.

José faleceu antes que fosse realizada a 1.ª Ação de Graças que idealizou para que fosse realizado todo ano no último sábado do mês de julho. No dia 29 de julho de 2017 foi realizada a 1.ª Ação de Graças na Jurema; a 2.ª Ação de Graças 28 de julho de 2018 e a 3.ª em 27 de julho de 2019.

José dos Santos era um líder, um educador nato, possuidor de uma inteligência ímpar, um homem digno, que merece entrar para a imortalidade ao ser escolhido para ser um dos patronos da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense, para que sua história seja contada às futuras gerações – foi um homem exemplar, motivo de orgulho para toda a sua descendência.

José dos Santos sempre pregou a União, vivia na graça, era um Homem Feliz, faleceu no dia 25 de fevereiro de 2017, aos 95 (noventa e cinco) anos, em São Luís, onde está sepultado juntamente com seu filho Carlos Magno.