Por Eni do Rosário Pereira Amorim
Patrona da Cadeira nº 14 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense, ocupada por Eni do Rosario Pereira Amorim. Nasceu em 15 de abril os de 1892, no povoado chamado Feijoal no município de Peri-Mirim-MA. Filha de João de Deus Martins (Dedeus) e Maria Rosa Pinheiro Martins (Mãe Cota). Foi Lavradora, doméstica, arteira leiga. Maria Isabel Martins casou-se aos dezenove anos com Domingos Nunes, ficando então seu nome Maria Isabel Martins Nunes, se mudando então do Feijoal para a comunidade onde seu marido morava, que mais tarde veio a se chamar Santana dos Nunes, localidade formada principalmente pela família dos Nunes e dos Silvas.
Era uma mulher franzina fisicamente, mas tinha um forte espírito de liderança, usava vestidos longos, nos cabelos um cocó no qual colocava uma estrela (flor muito cheirosa do seu jardim).
Uma marca muito forte na Isabel era a “partilha”, tudo o que ela tinha era partilhado com outras pessoas, talvez por isso, nunca faltava nada em sua casa, principalmente gêneros alimentícios; Ela tinha um “baú” onde guardava tudo o que lhe era especial, algo assim como a “canastrinha” da Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo, e a cada visita que recebia ela sempre tinha algo a lhe oferecer, algum “mimo” que tirava do seu baú: frutas, ovos, bombons, chocolates, farinha etc…
A casa de Isabel sempre teve as portas abertas para a comunidade, abrigava: amigos, vizinhos, visitantes, forasteiros, ciganos em passagem pela comunidade e até saltimbancos que faziam seus espetáculos na varanda da sua casa. Ela tinha o hábito de fazer bastante comida, porque ela sabia que sempre chegaria algum visitante, e este não podia sair sem se alimentar.
Na fotografia de destaque, é possível visualizar o perfil de Maria Isabel, liderança importante para a implantação da Comunidade de Santana e o surgimento dos festejos de Sant`Ana na comunidade.
Maria Isabel era muito religiosa, segundo relatos de alguns moradores, dizia-se que “ela tinha uma fé inabalável”. Ela fez promessa a Sant’Ana para engravidar. Comenta-se que durante suas gestações, Isabel se apegava a essa Santa para lhe ajudar e lhe conceder sempre um bom parto.
Isabel teve 12 (doze) filhos gerados e protegidos por sua Santa protetora. Seus filhos Legítimos: Joanita Nunes Pereira, Terezinha de Jesus Nunes Pereira, Edna Nunes Gamita, Maria José Nunes Silva, Maria Rosa Martins Nunes, Adotino Martins Nunes, Izidório Martins Nunes, Raimundo Martins Nunes, José Martins Nunes, Emanoel Martins Nunes, João Martins Nunes, Domingos Sebastião Martins Nunes. Filhos Adotivos: Inacia Rosa Pereira e Magnaldo Amorim.
A gestação da prole de filhos e filhas contribuiu significativamente para a devoção e admiração de Isabel por Santa Ana. Para agradecer a proteção e as bênçãos concebidas por intermédio da Santa, ela começou a organizar, no ano de 1939, as novenas e as ladainhas em louvor a Santa Ana.
O novenário e as ladainhas aconteciam durante nove noites em sua residência. No início das festividades, as ladainhas começavam somente com a presença da família e vizinhos, mas ao longo dos anos foi tomando uma proporção maior e novos visitantes passaram a frequentar o festejo em louvor a Santa Ana, que se homenageia em 26 de julho.
Isabel Martins Nunes, além de fazer novenário para Santa Ana, organizava também, no dia 13 de junho, ladainha para Santo Antônio, porém com menos intensidade. Atualmente, duas de suas filhas Terezinha Nunes e Edna Gamita fazem as novenas para Santo Antônio em suas casas Edna Nunes em São Luís-MA e Teresinha de Jesus na varanda de sua residência, no centro da cidade em Peri-Mirim.
As orações de Isabel não aconteciam só uma vez ao ano, todas as noites ela se reunia na sala de sua casa para rezar com sua família. Uma de suas filhas, Terezinha de Jesus Nunes, relatou que sua mãe tinha sonhos com orações. Conforme seu depoimento: “Às vezes durante a noite mamãe tinha sonhos onde ela se via fazendo orações e assim que acordava não importava a hora ela saia chamando seus filhos e todos que estavam em casa para escreverem a oração que ela tinha sonhado e para juntos rezarmos.”
Essas orações eram feitas em momentos com a família, nos festejos ou quando a procuravam solicitando orações. Foi assim que Isabel construiu uma família muito religiosa. Na casa, havia uma mensaba, na qual todas as noites, reunia os filhos; todos se colocavam de joelhos com as mãos postas para juntas rezarem o terço e agradecer pelo dia concebido por Deus.
Outro momento forte era a hora do almoço, momento mais sagrado do dia para a família, pois todos iam para a mesa e novamente se colocavam de joelhos para agradecer pelo alimento de cada dia, e assim a cena se repetia dia após dia.
Domingos, seu esposo, ficava responsável pelas orações da Sexta-feira Santa. Nesse dia, era ele quem dirigia as orações. Segundo os relatos da família, ele tentava reproduzir do jeito que Jesus fez na Santa Ceia, rezava e depois se alimentavam, não só com alimentos para o corpo, mas também com orações que traduziam-se em sustento para a alma.
A comunidade admirava a fé de Isabel e iam até ela sempre que precisavam de orações, pois como dizia o povo: “Dona Isabel pede e a Santa atende…”. Essa admiração era tão grande que naquela época era comum quando as mulheres estavam com dores do parto de seus filhos, os familiares saíam em busca de parteiras e também dela, pois enquanto a parteira fazia seu serviço de ajudar a mulher a ter a criança, Isabel ficava no cantinho rezando e pedindo proteção para que tudo ocorresse bem, tanto para a mãe como para o filho que estava chegando.
As pessoas acreditavam no poder das orações de Isabel. Muitas vezes iam até ela levando crianças, jovens e até adultos para que ela fizesse orações e os benzesse. Esses benzimentos eram feitos por meio de suas orações e através de sua fervorosa fé.
Os gestos de Isabel demostravam seu jeito simples e carinhoso de viver, No sitio onde foi sua morada existem muitas árvores frutíferas e plantas medicinais. Ela na sua iluminação divina produzia remédios naturais que curavam várias doenças (lambedor excelente para expectoração de catarro, vermes, erisipela, cobreiro, gripes em geral, dores de barriga…) tudo produzido pelas plantas medicinais da sua horta.
Isabel era semiletrada e a única coisa que aprendeu a escrever foi o seu nome, mas era dona de uma sabedoria única, sua solidariedade não tinha tamanho e nem preço, estava sempre pronta para servir a hora que precisassem e, muitas vezes, deixava de fazer suas atividades pessoais para ir ajudar o próximo. Contribuiu significativamente para construção da Comunidade de Santa Ana.
Os anos se passavam e ela seguia firme sua caminhada de Fé. Ela presenciou, segundo as narrativas, um momento histórico para o povo, que foi a emancipação do município de Peri-Mirim; festas, bailes e todas as comemorações que foram feitas em honra as conquistas do povo perimiriense em razão de sua nova condição. Em 1919, a Vila de Macapá foi declarada município pela Lei nº 850 de 31 de março de 1919. O povo se organizou e fez uma grande festa no dia 07 de agosto do mesmo ano para comemorar sua emancipação.
Quando Deus a chamou de volta ao seu regaço, subiu como um raio de sol, iluminada pelo bem que praticou aqui na terra, deixando na sua trajetória de vida, um rastro de bondade, solidariedade, humildade e fortaleza a ser seguido por quem conviveu com ela. Faleceu de morte natural em 24 de fevereiro de 1989, estava rezando na rede e foi deitando devagarinho e se apagando como uma vela, assim foi o seu ultimo momento neste plano material.
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