Raimundo Martins Nunes

Por Rosilda Pinheiro Nunes, Robson Pinheiro Nunes e Rouseli Pinheiro Nunes, com revisão de Diêgo Nunes Boaes

Patrono da Cadeira nº 33 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP). Raimundo Martins Nunes nasceu no Povoado Canaranas aos 06 de setembro de 1948, filho de Jose Evaristo Amorim Nunes (Zé Grande) e Antonia Paula Martins Nunes (Tonha). Teve três irmãos sendo Domingos Martins Nunes, Ana Luiza Nunes Martins e Raimundo Gabriel Amorim, família de classe baixa, humilde, mas com muita dignidade educaram-no com respeito e ensinaram-no a lutar para ser alguém na vida. Devido às dificuldades da vida iniciou seus estudos quando já tinha 12 anos terminando o ensino primário com 17 anos. Tendo que se contentar com o que o município oferecia, pois, naquela época, década de 60, só continuava seus estudos as pessoas, filhos de família de classe média alta que podiam mandar seus filhos estudar fora. Como seus pais não podiam mandá-lo estudar em São Luís teve que esperar e trabalhar na lavoura juntamente com estes, perdendo o gosto assim pelo estudo.

Iniciou sua vida religiosa na comunidade de JJM, sendo convidado para participar de uma preparação para catequista no município de Guimarães, o qual aceitou e foi de bicicleta até lá. No dia 18 de janeiro de 1974 casou-se com Rosilda Pinheiro Nunes e deste casamento nasceram 4 filhos: Rouseli Pinheiro Nunes, Raimundo Martins Nunes Junior, Robson Pinheiro Nunes e Roberth Pinheiro Nunes. Em 1977 voltou a estudar fazendo o curso ginasial, logo após, o curso Normal e em 2003 iniciou a faculdade de Pedagogia concluindo a mesma no ano de 2007.

A convite do saudoso Padre Ubirajara entrou para faculdade de Teologia a qual realizou no Centro de Formação de Mangabeira juntamente com outros colegas da nossa Paróquia, e com o incentivo do saudoso Padre Ubirajara, Padre Sarges e do Padre Marcio iniciou o estudo para o Diaconato Permanente no mesmo período, recebendo o Sacramento da Ordem como Diácono Permanente no dia 30 de maio de 2015.

Sipreto como era conhecido por todos é igual a seu Fulgêncio (pau para toda obra). Foi lavrador, marceneiro, fotógrafo, professor, foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Peri-Mirim (STTR) durante doze anos, foi vereador durante 16 anos, abdicando deste último para se dedicar à vida diaconal, sendo incentivado por sua esposa, filhos, demais familiares, padres e amigos.

O Diácono Sipreto fez sua páscoa no dia 10 de fevereiro de 2024 estando junto ao seu netinho Pablo, seus pais Zé Grande e Tonha e deixando como maior legado sua família: esposa Rosilda; os filhos Rouseli, Raimundo Junior, Robson e Roberth e seus amados netinhos: José Erick, Maria Eulalia, Robson, João Víctor, Guilherme, Mariana, João Gabriel e Ravi Luca; e seu bisneto Zion.

Adelar José Álvares Mendes

Por Ana Cléres Santos Ferreira

Patrono da Cadeira nº 32 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP). Adelar José Álvares Mendes, popularmente conhecido como Dedeco Mendes, é natural de Peri-Mirim/MA, nasceu em 20 de janeiro de 1926. Filho de Raimundo Botão Mendes e Mariana Álvares Mendes. Casou-se em 30 de janeiro de 1967 com Lêda Maria Pereira Amorim, que passou a denominar-se Lêda Maria Amorim Mendes, conhecida como Dona Ledinha. Tiveram como testemunhas de casamento Agripino Álvares Marques e Julieta de Castro Marques. Da união matrimonial, nasceram três filhos: Solange Amorim Mendes; Cleon Saluc Amorim Mendes e Adelar José Álvares Mendes Júnior.

Iniciou seus estudos em Peri-Mirim, posteriormente, cursou o Técnico em Enfermagem, onde aprendeu várias técnicas de cuidados médicos e farmacológicos.

Desempenhou as funções de funcionário público municipal.

Adelar desenvolveu a técnica da farmacologia, na prática, foi o médico da região onde a população se dirigia ao profissional para receber assistência à sua saúde numa época em que os serviços médicos eram raros e, por vezes, inacessíveis. Com sua técnica apurada e conhecimento da composição dos remédios, os quais vendia em sua farmácia atendia a população na assistência médica e farmacêutica, sempre com um atendimento humanizado caracterizado por empatia, compreensão e diálogo. Tanto ele receitava os medicamentos, como os aplicava. A confiança do Sr. Dedeco era imensa. Ela ajudou a combater preconceitos, como a resistência a tomar vacinas – aconselhava os pais a aplicar as vacinas nas crianças, em uma época em que a mortalidade infantil era muito grande por doenças como: verminoses, desidratação, desnutrição, sarampo, coqueluche, cataporas e outras enfermidades.

A Farmácia do Sr. Dedeco funcionava em um ponto contíguo à sua casa, o que permitia que ele atendesse a qualquer hora do dia e da noite. Muitas vezes, os doentes dos povoados eram trazidos em cavalos ou em redes que serviam para locomoção do paciente, pois precisavam ser medicados com urgência.

O atendimento do Sr. Dedeco era como dizemos nos dias atuais, personalizado, ele nunca se negou atender ninguém que precisasse dele, sempre com um sorriso no rosto a qualquer hora do dia ou da noite. Tinha sempre o remédio ideal, quando não tinha o prescrito na receita ele subistituia por outro similar, ele ficou conhecido por usar muito a frase “fabulosa”: – “Ah esse remédio é fabuloso” e assim pela fé que a população tinha em seus conhecimentos ele tinha sempre o remédio que curava.

Informações fornecidas pela esposa Lêda Maria Amorim Mendes pela filha Solange Amorim Mendes, informações adicionais fornecidas por Eni do Rosario Pereira Amorim.

Maria de Jesus Castro Martins

Por Maria do Carmo Pereira Pinheiro

Patrona da Cadeira nº 34 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP). Maria de Jesus Castro Martins, popularmente conhecida como Dona Morena, nasceu em Perimi-Mirim-MA no dia 07/03/1927. Tendo como pais Joana Darc Silva Castro e Almir Gomes de Castro. Seu esposo era José de Ribamar Martins.

Irmãos: Maria dos Remédios Castro, Helena Castro, Tereza Castro, Almir Castro, Adalto Castro e Alcina Castro,

Filhos: José Maria Castro Martins, Marilurdes Castro Martins, Antônio Pádua Castro Martins, Idivanda Castro Martins, Ivanoel Castro Martins, Maria de Fátima Castro Martins, Raimunda das Neves Castro Martins, Raimundo Nonato Castro Martins, Sebastião de Jesus Castro Martins, Almir Castro Martins, Edson Castro Martins, Francisco de Assis Castro Martins, Maria Laudames Castro Martins. Teve também muitos netos e bisnetos, deixando um legado de amor e dedicação à família.

Educação e Formação: Seus filhos não souberam informar onde estudou, mas sabem que Dona Morena teve sua formação em Peri-Mirim. Ela foi uma grande parteira tradicional, ou parteira leiga com grandes saberes em sua prática tradicional e conhecimentos éticos e culturais. Vocação essa que exerceu com maestria e generosidade, gratidão e amor ao longo da vida.

Vida e Atuação: Mulher sábia, de muitas habilidades, Dona Morena era conhecida por sua generosidade e coração gigante. Atuava como parteira, sua prática se configura como uma prática popular, reconhecida e respeitada pela sua comunidade. Ela se concretiza através das orações, do uso de plantas medicinais, de superstições e de simpatias. Embora essas práticas não sejam de credibilidade de todas as parteiras, a fé é sempre incorporada como regra e parâmetro para que o trabalho de parto aconteça sem maiores problemas, independentemente de religião. Entre os seus saberes estavam: benzimentos, rezas, orações, banhos, chás e remédios caseiros.

A dureza do trabalho, as longas caminhadas, as privações e as dificuldades faziam parte da trajetória das parteiras tradicionais, também a falta de material, treinamento, transporte, acesso dificultado e ambiente de trabalho precário representavam condições desfavoráveis ao bom desempenho de suas funções favorecendo a diminuição da capacidade física e psíquica das parteiras. Essas condições adversas expressavam, também, uma condição de vida margeada por sentimentos de medo, incerteza, insegurança e tensões.

Sentimentos como medo e coragem, alegria e tristeza, sofrimento e prazer são sentimentos constantes no trabalho de uma parteira demonstrando ter consciência dos riscos de vida a que a mulher e o recém-nascido estão sujeitos, quando um parto se realiza em domicilio rural.  Mas também há os sentimentos positivos, entre eles, alegria e satisfação relacionados com o êxito no trabalho e, desta forma, significam reconhecimento, status e valor social como era reconhecida Dona Morena como uma excelente parteira no Município de Peri-Mirim.

Diante das dificuldades acima citadas, Dona Morena possuía um quarto em sua casa, construído por seu marido, onde passou a realizar atendimentos e acolhia a gestantes prestes a dar à luz. Muitas grávidas passavam o último mês de gestação sob seus cuidados e só partiam após o nascimento do bebê. Muitas vezes, não cobrava por seus serviços, movida pelo desejo de ajudar. Seu último parto foi o de seu neto Cristhyan, filho de Maria Laudames. Além disso, Dona Morena abrigava estudantes vindos de povoados distantes que precisavam estudar na sede do município. Seu espírito acolhedor fazia com que ninguém saísse de sua casa sem comida, sem água ou sem um atendimento, mesmo quando ela mesma não se sentia bem.

Religião e Filosofia de Vida: Dona Morena era católica e também seguia ensinamentos espíritas. A sua prática de trabalho estava voltada para ajudar aqueles que a procuravam, principalmente em meio às dificuldades de atendimento médico no município pelo poder público. Suas palavras de sabedoria marcaram profundamente seus filhos. Entre suas frases mais lembradas, destacam-se: “Escorregar não é cair, a carga é ruim para quem não sabe conduzir.”  “Deixa o rastro, mas não deixa o nome.” (Dita aos filhos quando saíam sem ela): “Não estou nem aí, sou que nem cera: só quero quem me queira. Espero a pessoa aqui porque o meu batente é de pique.” (Expressão usada quando se sentia magoada.)

Legado: Dona Morena deixou um exemplo de força, generosidade e sabedoria. Sua vida foi dedicada ao cuidado do próximo, seja através do acolhimento, da medicina popular ou dos ensinamentos passados para seus filhos e netos. Seu nome permanece vivo na memória daqueles que tiveram o privilégio de conhecê-la e que foram tocados por seu amor e dedicação. Deixou um grande legado e muitas saudades. Partiu deste mundo em 11 de julho de 2016.

Entrevista concedida por: Maria Laudames Castro Martins e Sebastião de Jesus Castro Martins (seus filhos).

Maria Madalena Nunes Corrêa

Por Alda Regina Ribeiro Corrêa

Patrona da Cadeira nº 35 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP). Maria Madalena Nunes Corrêa foi uma educadora dedicada, cuja paixão pelo ensino moldou a vida de inúmeras pessoas na cidade de Peri-Mirim, Maranhão. Mais do que uma professora, foi uma referência para gerações de alunos, inspirando com seu compromisso, simplicidade e amor pelo conhecimento.

Nascida em 8 de maio de 1938, no povoado Miruíras, era filha de Leonílio Antônio Nunes e Maria Raimunda França Nunes. Sua infância foi marcada por desafios, pois perdeu a mãe quando tinha apenas dois anos. Diante das dificuldades, seus avós, que enfrentavam condições de extrema pobreza, confiaram seus cuidados à tia Eunice Oliveira. Posteriormente, passou a viver com outra tia, Ana Oliveira, e, mais tarde, com seu tio Francisco Oliveira, onde permaneceu dos seis aos dez anos.

Aos 11 anos, determinada a ter uma educação, Madalena pediu permissão ao pai para ser alfabetizada. Com a autorização concedida, buscou a professora Cecília Botão, que a matriculou na turma de crianças de sete anos. Seu desempenho escolar sempre foi exemplar: nunca repetiu um ano e manteve excelentes notas. Aos 15 anos, prestou o exame de admissão para o ginásio e, nesse período, recebeu um convite da professora Cecília para auxiliá-la em sala de aula, o que pode ter despertado sua vocação para o ensino.

Durante essa fase da vida, mudou-se para a casa da prima Marita Oliveira e, pouco tempo depois, passou a morar e trabalhar com a tia Clara Oliveira. Juntas, fabricavam bolos de tapioca e os vendiam de porta em porta. A rotina era árdua: começavam a trabalhar às 4h da manhã, às 6h, os bolos já estavam prontos para entrega, e às 7h ela seguia para a escola. No dia 30 de novembro de 1957, Madalena concluiu o ensino primário na Unidade Escolar Carneiro de Freitas.

Aos 17 anos, Madalena convenceu o pai a construir uma casa para que pudessem morar juntos, junto com sua primeira madrasta, Miriam. No entanto, após três anos, o casal se separou. Pouco tempo depois, seu pai iniciou um novo relacionamento com Domingas Pereira França, e, dessa união, nasceram seus cinco irmãos: José Ribamar França, Lucineide França, Diomar de Jesus França, Cleide Domingas França e João Carlos França.

Foi nesse período que Maria Madalena conheceu Valdemar Corrêa, um jovem do povoado Pericumã. Decidiram se casar, mas, ao dar início aos trâmites, Madalena descobriu que não possuía certidão de nascimento. Após resolver essa pendência e obter os documentos necessários, foi oficialmente registrada. Em 20 de janeiro de 1962, casou-se com Valdemar Corrêa.

Nos primeiros anos de casamento, Madalena e Valdemar viveram com o pai e a madrasta de Madalena. Mais tarde, quando conquistaram sua casa própria, decidiram morar perto da família de Madalena, fortalecendo os laços familiares. O casal teve quatro filhos: Jucilei Nunes Corrêa, Lenivalda Nunes Corrêa, Valdemar Corrêa Júnior e Vera Silvia Nunes Corrêa.

Devido às responsabilidades domésticas e à chegada dos filhos, Madalena precisou interromper seus estudos temporariamente. Entretanto, nunca se afastou do ensino. Anos depois, quando sua filha mais velha iniciou o ensino médio, ambas se matricularam na mesma escola e concluíram juntas o magistério, em 29 de maio de 1983.

Sua trajetória profissional teve início oficialmente em 1º de fevereiro de 1966, quando foi nomeada professora das Escolas Reunidas Municipais pelo prefeito José Ribamar Martins França. Em 7 de maio de 1986, recebeu uma nomeação estadual do governador Epitácio Cafeteira e passou a atuar na Unidade Escolar Carneiro de Freitas.

Além disso, lecionou no Colégio Cenecista Agripino Marques, a convite de Raimundo João Santos. Como diretora adjunta, ao lado do professor João Batista Pinheiro Martins, desempenhou um papel essencial na implantação do ensino fundamental maior (5ª a 8ª séries) na Escola Municipal Cecília Botão. Ao lado do primeiro diretor da escola, trabalhou incansavelmente para transformar o projeto em realidade, garantindo uma educação de qualidade para a comunidade local e durante mais de 25 anos, dedicou-se ao ensino com compromisso e amor.

Maria Madalena Nunes Corrêa deixou um legado inestimável na cidade de Peri Mirim. Como professora, marcou gerações, transmitindo não apenas conhecimento, mas também valores de dedicação e carinho para seus alunos. Sua jornada foi interrompida em 13 de junho de 1991, mas suas lições seguem vivas na memória de seus alunos, amigos e colegas de trabalho. Seu impacto na educação permanece na Escola Municipal Cecília Botão e na história de Peri Mirim, inspirando novas gerações a valorizar o conhecimento e a transformação que a educação pode proporcionar.

Fernando Ribamar Lobato Viana

Por Francisco Viegas Paz

Patrono da Cadeira nº 38 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP). Em 26 de agosto de 2016, entrevistei o escritor Waldemiro Antônio Bacelar Viana, membro da Academia Maranhense de Letras e filho do Dr. Fernando Ribamar Lobato Viana que, gentilmente, forneceu alguns dados sobre o seu pai.

Antes, porém, busquei na mente a agradável lembrança do Dr. Fernando Viana, quando o via passar pelas ruas da cidade de Peri-Mirim, saudando as pessoas com amabilidade, simpatia e afeto. Com esse jeito carismático participava, efetivamente, da vida dos peri-mirienses, aos quais colocava os seus préstimos de médico a serviço deste povo. A lembrança é das décadas de 50 e 60, com muita saudade e admiração.

Segundo o entrevistado, Dr. Fernando Viana, nasceu em São José de Ribamar no dia 31 de outubro de 1904 e faleceu em São Luís em 10 de setembro de 1983. Ele foi criado em São Bento, onde iniciou os estudos até sair para cursar Medicina. E, à medida que prosperava nos estudos vislumbrava ser útil aos menos favorecidos e de pouco alcance nos serviços médicos daquela época. Objetivo que culminou após a especialização na área médica.

A formação não sucumbiu da mente o gosto pela poesia e pelas letras. De vez em quando, o receituário virava uma página de poesia, ou de um livro. Suas poesias ficaram soltas, aqui e ali, ou publicadas em algumas páginas dos jornais, por serem muito engraçadas. Elas continham um quê de sofisticada rima e humor, que proporcionavam alegria aos leitores. Como esta onde ele referia a si próprio, talvez por achar melhor falar de si do que dos outros, pois sua decência não lhe permitia ofender ao seu próximo, mesmo que poeticamente.

Os anos se vão passando

Com preguiça, no desleixo,

E o nariz se aproximando

Da ponta curva do queixo.

Dr. Fernando desenvolveu um pouco mais a parte literária, pondo em prática o ideal de escritor, que lhe facultou a possibilidade de escrever e publicar dois livros: Folhas Soltas e Seara, os quais por serem interessantes tiveram as tiragens esgotadas, o que dificulta encontrá-los pelas livrarias de São Luís.

Dr. Fernando Viana, também tinha gosto pela política e terminou por conquistar um mandato de deputado estadual. Mas, decepcionou-se com ela e não pretendeu mais enveredar por esse caminho sinuoso, deixando-a definitivamente.

Ele sofreu muito com o falecimento do filho caçula, Fernando Ribamar Viana Filho, em 1953, cujo episódio mexeu demais com o seu coração e a forma de vida. E, diante do acontecimento que o consumia resolveu mudar-se para a Fazenda Canaã no município de Peri-Mirim, a procura de uma vida mais salutar, onde a convivência familiar e a natureza fossem as maiores aliadas na terapia de suporte à perda do filho e na modelagem de uma vida espiritual saudável.

Quando coroinha fui com o padre Edmond Pouliot à Fazenda Canaã ajudar na celebração da Santa Missa, que era realizada em sua casa, mensalmente. A fazenda estava situada num local muito agradável e que impressionava pela tranquilidade e paz. Dentro do ambiente residencial havia uma capela, numa inequívoca demonstração de fé dos habitantes e, segundo o entrevistado, as nove pessoas da família, que lá residiam, eram todas católicas.

Próximo à fazenda, havia uma pista de pouso utilizada para servir às famílias, Viana e Bacelar, no transporte aéreo entre a Fazenda Canaã e a capital São Luís. Naquela época, a empresa de aviação Táxi Aéreo Aliança interligava a Baixada Maranhense à capital São Luís, diariamente, com modernas aeronaves.

Dr. Fernando, não só tratava as pessoas carinhosamente, como também atendia, gratuitamente, a quem buscava seus préstimos na área médica. Muitas vezes chegava a residência algum pai de família levando consigo uma peça de roupa de um filho, para, dali, obter um diagnóstico da esperada cura. Semelhante ao que acontecia, normalmente, com as benzedeiras do interior. Mas Dr. Fernando tirava de letra, pois, pelo tamanho da peça e com a experiência de médico sabia mais ou menos a idade e o peso que aquela criança poderia ter, e o resto vinha na conversa com o pai. O certo é que ele explicava tudo ao portador e entregava-lhe um medicamento, gratuitamente, a ser ministrado na criança que, daí para à frente, passava a ser sua paciente, assim que fosse necessário.

O medicamento ele conseguia também, gratuitamente, com o representante de medicamentos Mário Lameira, em São Luís.

Às vezes Dr. Fernando achava graça da esperança e crença que as pessoas tinham em procurá-lo para curar os entes queridos à distância. Mas quase sempre dava certo, pelo fato de o atendimento ter uma significativa dose de fé dos familiares e a boa vontade do prestativo e solidário médico.

Apesar de ter abandonado a política após o término do mandato de deputado estadual e, por residir há tempo no município de Peri-Mirim, foi convidado para compor uma chapa à prefeitura local, que tinha como candidato majoritário Tarquino Viana Sousa e Dr. Fernando Viana, como vice. A chapa foi vitoriosa e eles assumiram a Prefeitura Municipal de Peri-Mirim, para um mandato de quatro anos, que teve início a partir de 1958 e término em 1961. O município foi agraciado e administrado por dois senhores ilustres e de ilibada conduta moral.

Dr. Fernando voltou para São Luís em 1967 por motivo de doença, ocupando novamente a residência localizada na Rua do Egito, em frente ao Colégio Santa Teresa, onde permaneceu até os dias finais de sua existência.

A fazenda Canaã, hoje reformada e totalmente descaracterizada pertence ao Dr. Remi Trinta, que não conservou a pista de pouso, em virtude das Rodovias Estaduais 014 e 106, oferecerem condições de trafegabilidade adequadas, para ir e vir a São Luís e a outros municípios da baixada maranhense.

Prestar esta simples homenagem ao Dr. Fernando me trouxe muita felicidade e reconhecimento, pelo que ele representou aos conterrâneos de Peri-Mirim.

Floriano Pereira Mendes

Por Francisco Viegas Paz

Floriano Pereira Mendes é Patrono da Cadeira nº 40 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP). Entrevistei José Gutemberg Mendes, o Zé de Floriano, que aceitou contar a história do seu pai – um expedicionário da segunda guerra mundial, com todo prazer.

Floriano Pereira Mendes, filho de José Álvares Mendes e Alchimena Pereira Mendes, nasceu em São Luís no dia 20 de setembro de 1925 e, ao completar a idade de alistamento militar foi servir ao Exército, momento em que a segunda guerra mundial, comandada pelo nazista alemão Hitler, que sonhava em dominar o mundo, estava em plena atividade de destruição dos países contrários ao seu regime.

O Exército brasileiro, na ocasião, estava recrutando militares para a guerra e o jovem Floriano não pensou duas vezes em colocar o nome como voluntário da Pátria, embora em total desacordo dos pais. Mas a sua inspiração o impulsionava para aquela missão de perigo. E, já que os pais não concordavam com a atitude do filho, ele encontrou um meio de satisfazer o chamamento do Exército Brasileiro e realizar o idealismo de bravura: fugiu e foi se alistar no 6º Regimento de Infantaria de São Paulo, de onde sairia para a Itália. Com os últimos acertos do regimento no Brasil, a Força Expedicionária Brasileira – FEB partiu e chegou à Itália em 16 de julho de 1944, conforme já dito anteriormente.

Floriano foi atingido por uma granada e um estilhaço se alojou na nuca que permaneceu por toda a vida. Além disso, uma rajada de metralhadora perfurou o intestino e estilhaçou o osso da perna. Socorrido, Floriano foi levado para um hospital de base, onde se submeteu a várias cirurgias. As vísceras destruídas foram recompostas por outras de carneiro, as quais se mantiveram compatíveis e sem rejeição pelo organismo do bravo guerrilheiro. E, no osso da perna, utilizaram o implante de uma platina, para ajudar a recompor a tíbia, que se refez de acordo com os princípios da medicina.

No hospital italiano ele ficou sob os cuidados da enfermeira Soraya, que o tratou com muito profissionalismo e carinho, fazendo com que o paciente tivesse uma excelente recuperação, como de fato ocorreu.

Por ter sobrevivido à guerra e voltado para casa, o Exército o promoveu a tenente e o governador do Maranhão, José Sarney, reconhecendo a bravura do maranhense, o patenteou como capitão. Entretanto, ele não chegou a usufruir da promoção de capitão, pois veio a óbito 45 dias depois que tomou conhecimento da justa ascensão. Neste caso, o benefício, de acordo com a lei, ficou a cargo da família.

Quando Floriano voltou para o Maranhão e, ainda solteiro, demonstrava muito nervosismo no dia a dia, com o reflexo dos tiros da guerra e a zoada infernal da artilharia aérea. O pai, que o acompanhava de perto, resolveu mandá-lo para sua fazenda no Agostinho, em Peri-Mirim, com o intuito de tranquilizá-lo. Na região encontrou uma moça de nome Josefa Leite Gutemberg, com a qual começou a namorar e depois ataram o compromisso matrimonial. E assim ele foi gostando cada vez mais do ambiente e terminou fixando residência no local conhecido por Boa Vista no mesmo município, onde o casal teve seus filhos e prosperou como comerciante e fazendeiro.

Boa Vista é um local calmo, que possui os encantos da natureza e muita harmonia, portanto, propício para acalmar até mesmo as tristes lembranças da guerra. Lá, a família se desenvolveu e os filhos tiveram o privilégio de estudar na capital São Luís, levados de avião pelos préstimos do avô que era sócio da Empresa Táxi Aéreo Aliança. A fazenda onde a família Mendes residia tinha um aeroporto de uso exclusivo.

Floriano pode ser considerado um peri-miriense de coração, pois nesta cidade da Baixada constituiu família e colaborou na saúde, na evolução do município, inclusive como partícipe da política local, pela qual tinha certa paixão.

Floriano Mendes era enfermeiro prático, na ausência de médicos, exercia os seus préstimos para curar quem o procurava. Era estudioso do assunto e por isso, pôde ajudar a curar muitas pessoas. Com gratidão, lembro que fui curado por ele quando tinha a idade de 12 anos. Faleceu em 21 de fevereiro de 1993 em São Luís.

Secundino Mariano Pereira

Por Diêgo Nunes Boaes

Secundino Mariano Pereira é patrono da Cadeira nº 08 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP). Nasceu no povoado Meão, não sabia ler e escrever, mas obtinha uma inteligência admirável, nunca havia frequentado escola, mas seus saberes e conselhos eram temidos por todos. Na comunidade era tido como um profeta. A cadeira número 08 (oito) da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Graça de Maria França Pereira.

Casou-se com a senhora Alaíde Pereira, quando construiu família mudou-se para o bairro do Portinho. Em sua união com a Alaíde teve 09 filhos: João Pereira, Antônio Pereira, José Pereira, Macico Pereira, Constâncio Pereira, Donízia Pereira, Anicolina Pereira e Raimunda Pereira, e de outro casamento, Raimunda Azevedo, todos já falecidos. Secundino criou seus filhos e muitos de seus netos, adorava fumar charuto.

Secundino Mariano Pereira foi vereador em Peri-Mirim, ele também gostava da cultura, fazia blocos carnavalescos e bumba-boi. Conforme depoimento do seu neto João Pereira Amorim: “lembro de um dos blocos, chamado BLOCO DOS MARINHEIROS, no bloco tinha um barco de buriti de 2 e meio metros, era muito bonito, para minha felicidade quando acabou a festa fui apresentado pelo meu avô com  aquele barquinho“.

Em 1977 na gestão de um de seus netos: João França Pereira, teve a praça do bairro do Portinho construída em sua homenagem, e em 2003 na gestão do seu outro neto: Geraldo Amorim Pereira, reformada e ampliada além da construção de uma escola no povoado Centro dos Câmaras.

Secundino tem uma geração de netos e bisnetos, doutores, professores, advogados e pessoas ilustres. O próprio era uma das pessoas ilustres de Peri Mirim, dono de barcos, canos, gado, carros de boi e de muitas terras. Ele tinha um barco chamado “formosa”, um barco famoso, quando chegava na Beira Mar em São Luís, o povo já avistava de longe, com suas belas cores nas tonalidades: amarelo, azul, branco e preto, cores prediletos do Secundino, que pintava anualmente, abrilhantava seu belo barco que se destacava em meio a muitos naquela época.

O Secundino era quem construía o seu próprio barco, o consertava e pintava. Além de fabricar canoas e pneus dos carros de boi, na época eram muito utilizado no translado de lenhas para as olarias, além de outros tipos de cargas. Secundino e Gaudêncio eram os únicos, na época que transportavam mercadorias de São Luís, atracavam na Beira Mar, pegavam as compras dos comerciantes perimirienses, traziam até o armazém, na Vala ou barragem do defunto (atual barragem Maria Rita) para abastecer os comércios de Peri Mirim, praticamente 05 dias de viagem, eles reversavam, um dia Secundino (barco Formosa) e no outro Gaudêncio (barco França Filho, depois mudou para Lucimar).

Um fato importante é que hoje o bairro do Portinho tem o padroeiro São João Batista graças ao Secundino Mariano Pereira, que fez a primeira capela para abrigar a imagem doado pela senhora Gertrudes Pinheiro, conterrânea do povoado Minas, que morava no Rio de Janeiro e mandou a imagem pra São Luís de avião, Secundino trouxe em seu barco formosa, deixou na residência do senhor Egídio Martins, no povoado Jaburu, e assim organizou uma procissão do povoado Jaburu até a capela de São João Batista no bairro do Portinho, no dia 24 de setembro de 1952, procissão esta que marcou a vida do Secundino, além de ser devoto de São João Batista, o mesmo começou a ser um cristão assíduo nas missas e rezas da igreja local. Com isso, há 72 anos o bairro do Portinho tem como padroeiro São João Batista. 

No dia 14 de janeiro de 1960, aos 78 anos, Secundino Pereira faleceu em São Luís onde foi sepultado no Cemitério do Gavião.

 

 

Carmem Martins

Por Cintia Cristina Martins Serrão

Carmem Martins é patrona da Cadeira nº 30 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP). Nasceu em 19 de maio de 1942. Filha de Tarquínio Viana de Souza, ex-prefeito de Peri-Mirim na década de 1959, e de Maria José Martins. Nasceu no povoado Tijuca município de Peri-Mirim, veio de uma família de mãe solteira, tinha 07 irmãos. Passou uma parte de sua infância no povoado em que nasceu e, na juventude passou a residir em São Luís-MA, na casa de seus padrinhos, que assumiram a tarefa de cuidá-la, dando uma boa educação.

Estudou na Escola Rosa Castro, escola pública, conclui o terceiro grau. Trabalhou na loja Brotinho, uma loja conhecida por todos da capital. Nas suas idas e vindas de férias à sua comunidade, conheceu em 1965, o senhor Benedito de Jesus Costa Serrão, conhecido por De Jesus, estabeleceram, a partir daí, uma união estável, que concebeu três filhos: Cintia Cristina Martins Serrão, Benedito de Jesus Costa Serrão Filho e Welliton Jorge Martins Serrão.

No ano de 1970, o casal começou a trabalhar, abriram um comércio de compra e venda de coco babaçu e arroz no povoado Três Marias. E daí em diante, foram fazendo amizades com pessoas políticas. O senhor Isaac Dias de São Bento conheceu o casal e passou a visitá-los constantemente.

Em 1972 o De Jesus concorreu à sua primeira eleição de Vereador, mas não se elegeu e ficou na suplência. No ano de 1976 é que a senhora Carmem Martins entrou na política como candidata a Vereadora e foi eleita em 1995. Foi vereadora por quatro legislaturas e o seu mandato de prefeita foi de 1988 a 1992.

A mamãe Carmem, como era conhecida por todos teve grande participação política no município de Peri-Mirim por ser uma mulher de garra e prestativa com todos. No ano de 2003 na Câmara como vereadora a senhora Carmem Martins lutava contra um câncer, e acabou falecendo no dia 05 de dezembro de 2003, deixando familiares e muitos amigos. O plenário da Câmara de Vereadores tem seu nome em homenagem.

João Batista Pinheiro Martins

Patrono da Cadeira nº 37 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP). João Batista Pinheiro Martins nasceu no dia 7 de junho de 1953 no Povoado Ilha Grande Peri-Mirim/Maranhão. É o terceiro de um total de 10 (dez) filhos de Pedro Pinheiro Martins e Maria de Lourdes Pinheiro Martins. 

Era católico praticante de ensinamentos religiosos que aprendeu na convivência com seus pais desde criança.

Graduado em Geografia pela Universidade Estadual do Maranhão. Foi funcionário público no cargo de professor das redes estadual e municipal de ensino.

Possui relevantes trabalhos prestados em sua trajetória de vida, assumindo cargos de Vereador, Secretário Municipal de Educação de Peri-Mirim, Assessor Técnico da Secretaria de Educação do Município de Bequimão e Secretário da Câmara de Vereadores.

Dentre todos os cargos, era o de professor que mais se dedicava com amor e compromisso profissional, que durante a pandemia, no ensino à distância, sem grandes recursos para aulas pela internet, teve o zelo de mestre e educador – imprimia os trabalhos e atividades e os entregava aos seus alunos.

Foi político, filiado e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) em Peri-Mirim.

Gostava de futebol, seu esporte e lazer preferido, tinha como time favorito o Clube de Regatas Flamengo.

Como ser humano não era perfeito, mas tinha inúmeras virtudes, entre as quais, a honestidade, a lealdade, a fraternidade e a justiça. Foi um portador da paz, um bom conselheiro e tinha um imenso amor pelo próximo, tudo isto foi presenciado na homenagem de reconhecimento prestada por seus parentes e amigos na passagem de seu cortejo pelas ruas de Peri-Mirim.

Cabe aos que ficaram, esposa, filhos, neto irmãos, alunos e amigos, a saudade que será eterna, mas ao mesmo tempo, a certeza de que ele foi recebido no abraço caloroso de seus pais e irmãos que também já partiram e acolhido por Deus e a Virgem Maria Santíssima, no futuro, serão, testemunhas vivas de seu caráter aqui na Terra.

Aquele que acredita na ressurreição, jamais morrerá, depois como disse o próprio Cristo: “Eu sou a ressurreição e a vida!!!”.

Batista faleceu em 11 de abril de 2021 em Fortaleza-CE, vítima da Covid-19. Está sepultado em Peri-Mirim, município que dedicou sua vida e deixou um grande legado na área da Educação.

Deixa esposa e 4 (quatro) filhos e seu neto amado, Vince, com quem compartilhava suas maiores alegrias.

Saudades eternas de sua esposa, filhos, neto, irmãos, primos, alunos e amigos.

Biografia disponibilizada pelos familiares.

Raimunda França

Por Edna Jara Abreu Santos

Patrona da Cadeira nº 25 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Edna Jara Abreu Santos. Nasceu em 1919 davam-se o fim da 1ª Guerra Mundial e vinte anos depois (1939) davam-se início à 2ª Guerra no mundo. Já no Brasil, o ano de 1934 foi considerado o divisor de águas na história devido as inúmeras alterações que Vargas fez no país tanto no setor social quanto no setor econômico. Criou leis que beneficiaram a educação, saúde, trabalho e cultura, o qual ficou conhecido como a promulgação da Constituição brasileira.

E nesse cenário, nascia nesse mesmo ano (1934) no interior do Maranhão, em 05 de fevereiro, a Raimunda França na Povoação Macapá atual Peri-Mirim, filha de José Valeriano França e Atanázia Martha França, naturais e residentes desta cidade, sendo a segunda mais velha dos 6 (seis) filhos do primeiro casamento da sua mãe.

Atanázia Martha França, sua mãe, era doméstica e vinha de uma linhagem de 6 (seis) filhos de João Francisco dos Inocentes e Francisca Romana da Silva, casal que vivia maritalmente, porém não eram casados no Civil. Os seus irmãos eram: João Príncipe dos Inocentes, Francisca Paula dos Inocentes, Hilário Bispo dos Inocentes, Marcolina Rosa dos Inocentes e Juvencio Raimundo dos Inocentes.

Grande parte da povoação que até 1943 se chamava Macapá pertencia ao seu bisavô passando para seu avô João Francisco dos Inocentes – conhecido como “Carabá” (redução de “cabra brabo”) – o qual fez as doações de terras, ainda em vida para seus seis filhos.

Já o seu pai, José Valeriano França, herdou dos pais Inocencio França e Petronila França grande parte do Povoado Portinho (residia onde hoje é conhecida a Passagem dos padres) e a sua esposa Anastásia era dona das terras das proximidades do Povoado Conceição (da ponte de Anastácio para o centro). Com o passar do tempo, foram vendendo grandes lotes de terras por pequenas quantias. Sem saberem ler nem escrever deixavam as suas digitais em documentos de venda e transferências de terrenos e muitas vezes eram enganados por quem tinham estudos e más lábias. E assim foram perdendo terrenos e consequentemente ficando pobres.

José Valeriano, era moreno, lavrador que faleceu em casa aos trinta e seis anos mais propriamente em 01 de julho de 1946. Teve seis filhos com Atanázia, assim sendo: Raimunda, Antônia, Maximo, João, Floriano e Maria dos Inocentes França. Não deixou testamentos nem bens a inventariar. Atanázia se casou novamente e teve mais três filhos.

‘Raimunda de Atanázia’ como era conhecida na cidade, estudou a cartilha do ABC que hoje consideramos o 1º Ano. A criança, o adolescente, ou até mesmo o adulto que concluía a tal cartilha era considerado alfabetizado. E era o maior nível de ensino na época.

Na cidade não havia médicos nem hospitais; quando se tinha alguma enfermidade que os remédios caseiros e os macumbeiros não conseguiam a cura, os doentes precisavam ser transportados em redes ou a cavalos até cidades vizinhas como São Bento, Pinheiro e de canoa para São Luís. Sem vacinas e antibióticos as doenças dizimavam milhares de seres humanos inocentes.

Tinha doze anos quando foi eleito Prefeito o Sr. Agripino Marques (1946 a 1949), que muito trabalhou nos seus quatro anos de governo. Não havia estradas, e o único meio de locomoção era na sela de um cavalo. Aliás, quem possuía um cavalo de “sela de cilico” tinha-se como barão. O prefeito Agripino Marques mandava abrir caminhos nas estradas, assim aconteceu com o Campo de Pouso que era mata fechada com apenas um caminho estreito no meio. Construiu o prédio da atual Prefeitura que servia também de escola.

Ainda jovem, Raimunda foi duas vezes a São Luís; era uma viagem de canoa que demorava dias e noites e tinham como acompanhantes indesejáveis as temidas muriçocas.

No tocante à juventude de Raimunda sentiu que precisava de liberdade então decidiu sair de casa, pensou que deveria buscar formas para viver melhor a sua vida, já que o estado de pobreza extrema imperava na cidade onde nascera. São tantas possíveis justificativas que a fizeram sair de casa, no entanto, o que buscava mesmo era a sua liberdade, ser independente. Porém, mal ela sabia que ao sair de casa, teria um futuro de muita dor e miséria com os seus nove filhos. Três destes vieram a falecer por conta de complicações na gravidez e no parto e em razão da falta de recursos médicos e hospitais, todos os serviços de pré-natal e parto eram feitos pelas mãos das parteiras em suas próprias residências.

Criou os seus seis filhos sem as assistências dos pais, visto que, eles foram concebidos por pais diferentes e muitos dos filhos cresceram, se tornaram adultos sem saberem quem eram os seus ascendentes.

Desde cedo teve que assumir o difícil papel de ser mãe e pai, se preocupando com as terríveis doenças e com a tão preocupante fome e miséria fazendo muitos sacrifícios para criá-los. Talvez por isso tinha uma postura rígida com as proles, ou era apenas um reflexo das judiações e dos hábitos brutos dos seus próprios pais.

Logo após o nascimento dos filhos, ela pedia um caderno e lápis à parteira e escrevia apenas os seus nomes, data e hora do nascimento, depois guardava aquelas anotações como forma de registro. O registro civil em Cartório saia caro e a viagem para o Município de São Bento era muito difícil. Por essa razão, quando tinha a possibilidade de pedir ajuda a algum candidato a Prefeito ou vereador e conseguia a ajuda ela tirava as certidões de nascimento dos filhos.

Todos os filhos tinham a obrigação desde cedo de ajudar o (s) pai (s) ora na roça, ora nos afazeres domésticos e na criação dos irmãos menores.

A sua primeira casa foi erguida com muita dificuldade assim como todas naquela época em que hoje é conhecido o “Caminho da frieira”. Colocavam nos quatro cantos os esteios e para cercá-la formando as paredes eram colhidas e abertas as “pindovas brabas” que são conhecidas como palhas verdes, encontradas na mata das famílias das palmas.

De tempos em tempos havia a necessidade de repor algumas dessas palhas que secavam e apodreciam. Para cobrir as casas utilizavam as palhas secas estaladas, ou seja, abertas, os cômodos eram divididos em duas partes, assim sendo: sala e quarto. As duas únicas portas eram fechadas com “mensabas” e não havia janelas. A cozinha fazia-se na sala, suas louças eram escassas, fazendo jus a falta de alimentos e simultaneamente à fome. Enfincada no chão batido da casa havia uma forte estaca de três pontas com um pote que se armazenava água do poço, havia uma panela, um caldeirão, “caiambucas”, cuias feitas de cabaças que serviam de pratos e colheres na contagem exata com números de pessoas e ao meio diversas redes penduradas nos esteios de ponta-a-ponta.

Aprendera a “sacudir barriga” de mulheres grávidas, ou seja, ‘mexia’ na barriga para ver a posição dos fetos, tamanhos, data do possível nascimento e foi parteira algumas vezes também.

Raimunda viveu por 81 anos (03/05/2015), era vigorosamente protestante e sem dúvidas uma mulher virtuosa, que dedicou sua vida em prol dos seus filhos. Lutou contra a pobreza extrema há mais de seis décadas de sua existência e só depois de se aposentar pelo Sindicato dos trabalhadores rurais que conseguiu construir uma casa de barro para morar.

Esta é uma singela homenagem a esta mulher guerreira, que com seus braços nus ajudou de alguma forma erguer a cidade de Peri-Mirim e/ou contribuiu para o seu crescimento. Em reconhecimento às suas lutas, grandeza e valor a esta verdadeira filha de Peri-Mirim demonstro aqui a minha eterna saudade e gratidão.