Por Aymoré Alvim*
A fazenda Teresópolis fica em terras do município de Peri-Mirim, na borda do campo do Pericumã, distante alguns quilômetros, no sentido nordeste, da cidade de Pinheiro.
Inicialmente, foi ali desenvolvida pelo seu proprietário, Sr. Antônio Souza, uma próspera agroindústria com ênfase na produção de açúcar de cana. Depois, passou por alguns outros donos e, atualmente, é apenas uma fazenda de criação de gado.
O destaque histórico que lhe vem sendo dado pela curiosidade popular, desde as primeiras décadas do século passado, é devido ao fato de ter sido palco de uma das mais violentas incursões do banditismo que proliferou, nessa época, na Baixada Maranhense.
Desafiando a segurança pública, na Região, bandos armados apavoravam fazendeiros e moradores, invadindo suas propriedades, saqueando-as e matando com extrema crueldade quem se interpusesse às suas ações.
Destes grupos, o mais temido era o do perigoso e violento Tito Silva. Naquela fatídica noite que se perde, nos últimos meses de 1921, um pesado silêncio caia sobre a fazenda Teresópolis. Calmo ninguém estava, pois o dono era um dos desafetos do facínora que lhe jurara vingança.
Após o jantar, alguns vaqueiros e outros serviçais trocavam um dedo de prosa, na sala do andar térreo da casa principal da fazenda. O assunto, como sempre, girava em torno dos crimes que grupos de bandoleiros armados vinham praticando, na região.
Relatos dessa época deixados, principalmente, pelo Tenente Francisco de Araújo Castro, o Chico Castro, então Delegado de Polícia de Pinheiro, e pelo Juiz de Direito local, Dr. Elizabetho Barbosa de Carvalho, contam que por volta das nove horas daquela noite os bandidos invadiram a casa grande, atirando para todos os lados. Os empregados apavorados se dispersaram buscando proteção contra as balas. Um deles ao tentar subir as escadas foi, mortalmente, baleado.
Outros, no entanto, escaparam e correram até Pinheiro, chegando à casa do delegado lá pelas vinte e três horas. Muito cansados, tentaram relatar o que presenciaram, sem contudo saber o que realmente havia acontecido. De imediato, com o delegado Chico Castro, todos rumaram para a casa do Juiz. Ali, as duas autoridades planejaram algumas medidas que pela urgência o caso exigia.
Na primeira hora da madrugada, o delegado à frente de soldados e de vários voluntários em armas, reunidos à ultima hora, chegaram a Teresópolis.
Chico Castro entrou e logo, no andar térreo, foi encontrando alguns corpos. Subiu ao andar superior e se deparou com o corpo do fazendeiro Antônio Souza ainda na rede onde antes repousava. Mais adiante, no mesmo andar, estavam os corpos de uma criança e de uma senhora paralítica, já avançada em idade, que moravam na casa.
Ruídos, em um quarto ao lado, chamaram a atenção do delegado. Pela janela, retirou o filho do proprietário, o jovem Lauro Souza e um amigo seminarista de nome Pitágoras que ali se encontrava a passeio. Disseram não ter visto nada.
Assim que ouviram os tiros, pularam a janela e se esconderam no telhado. Os primeiros depoimentos ali tomados dos sobreviventes que, pouco a pouco, iam chegando, dão conta de que o bando era do Tito Silva e que a motivação era vingança. O delegado deu, então, ordens para que fossem recolhidos os corpos e levados para Pinheiro para serem sepultados.
Pela manhã, ainda sob o impacto emocional da noite passada, chegou a notícia de que o bando, logo após a chacina, rumara para Cabeceiras, hoje, Bequimão, onde Tito Silva foi ajustar contas com um comerciante e delegado do local por nome José Castro. Após haver sido acordado juntamente com a família, foi levado para a via pública e ali assassinado. Por fim, dizem que o Tito Silva cortou-lhe uma das orelhas e a levou consigo.
Esse foi mais um problema, no complicado ambiente político-social da Região, naquela época, que exigia solução imediata por parte das autoridades.
Rixas, ambições, rancores e mágoas foram os fortes ingredientes que alimentaram as atividades desses facínoras que espalharam, naquelas populações, pavor e ódio, em cujo epicentro está Teresópolis, pela frieza e covardia com que manifestaram sua agressividade e expressaram toda a sua violência.
Tempos depois, chegou a Pinheiro a notícia de que outro bando, comandado por João Mole, prendeu Tito e o entregou às autoridades.
Transferido para São Luís, o mesmo foi recolhido à Penitenciária e, pelo que falam os mais antigos, ninguém mais soube do seu paradeiro.
Algumas outras diligências levaram as autoridades de Pinheiro a desmantelar os últimos grupamentos de bandidos que operavam, nas proximidades do Bom Viver, fazendo, assim, que a paz e a tranquilidade voltassem à cidade e ao seu povo.
*Aymoré de Castro Alvim, Natural de Pinheiro-MA, formado em Medicina, Aymoré é professor adjunto IV do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Maranhão, aposentado. Ele tem especialização em Biologia Parasitária, membro da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências (Aplac), autor do livro Contos e Crônicas de um Pinheirense.