Autora Ana Creusa
Ao completarmos 18 anos, eu e meus irmãos, costumávamos andar com uma pasta, contendo nossos documentos pessoais e um curriculum vitae, para facilitar a procura de empregos.
Atualmente os currículos são enxutos, sendo desaconselhável anexação de documentos. Porém, naquela época, exigia-se cópia de documentos pessoais e dos diplomas mencionados. Com isso, um bom currículo costumava ser volumoso.
Além do imprescindível curso de datilografia, fiz vários cursos no SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e já havia concluído o segundo grau, de forma que estava pronta para conseguir um emprego, enquanto esperava passar em um concurso público.
Nas costumeiras viagens de ônibus coletivo, não raro avistava uma fila, descia do ônibus, para checar se era “fila de emprego”.
Um dia, já voltando para casa, passando pelo bairro Canto da Fabril em São Luís, eu e minha irmã, Maria do Nascimento, avistamos uma placa em que lemos: PRECISA-SE DE FUNCIONÁRIOS.
Descemos do ônibus para tentar concorrer a uma vaga. Tratava-se do prédio do Ministério da Fazenda em construção.
Fomos recebidas por umas pessoas que trabalhavam na obra. Alguém foi chamar o chefe, que era um homem alto, magro, louro de olhos azuis, que disse ser o engenheiro da obra.
Ele perguntou em que poderia nos servir. Eu tomei a palavra e disse:
– Estamos à procura de trabalho, como vimos a placa que vocês estão precisando de funcionários, viemos entregar nossos currículos.
O engenheiro, meio constrangido, falou:
– Sou da Construtora Guaratan de São Paulo. Aqui está sendo construído um prédio de um órgão muito importante, quem sabe quando terminarmos a obra, vocês consigam emprego nessa repartição! Porque aqui estamos precisando é de funileiros.
Pedimos desculpa e saímos, não sem antes ler a placa: PRECISA-SE DE FUNILEIROS que nossa mente reproduziu PRECISA-SE DE FUNCIONÁRIOS.
O tempo passou e aquela história permaneceu como um tabu, não contávamos a ninguém – passamos um vexame daqueles! Até brincamos: como procurar emprego, se não sabemos nem ler?
Aquele episódio veio à minha mente no dia que assumi o cargo de Auditora Fiscal da Receita Federal naquele mesmo prédio do Ministério da Fazenda, outrora em construção.
Tive vontade de contar a história na solenidade de posse, mas não tive coragem.
Entre risos e aplausos no dia 11 de setembro de 2013, em uma festinha de bota-fora pela minha aposentadoria, finalmente contei o episódio, talvez estimulada pela leitura do texto de Joãozinho Ribeiro sobre mim, que denominou: “Ana: de Peri-Mirim para o mundo”, em que contou até sobre a minha asma, que minha mãe não me deixava contar, por nada neste mundo!
O compadecido engenheiro teria feito uma profecia?
Texto publicado no livro ECOS DA BAIXADA, páginas 160/162.
Sou testemunha da grande abnegação desta guerreira Ana Creusa!