Matéria publicada no Jornal Pacotilha-Maranhão (quinta-feira), 7 de agosto de 1919
“De uma visita que fizemos a Macapá, no dia da inauguração do Município e vila do mesmo nome, trouxemos a mais agradável impressão. Então, viu-se quanta força de vontade possui tão nobre gente e a ânsia de progredir que preside a todas as almas. Em toda parte, na rua, na Igreja, nos edifícios públicos, nos lares, nos bairros vizinhos, a alegria era enorme. Todos exultaram ao sentir que iam ter vida própria, com governo seu, daí por diante.
A vila de Macapá está situada ao pé de um morro, de altitude regular, tendo em frente o campo. Está cortada em duas secções por um pequeno rio intermitente, que as limita. Uma dessas secções entende com a denominação propriamente de Macapá, e a outra tem o nome de Portinho, mas essas divisões não têm importância, é a mesma relação que existe outra, a cidade de São Bento propriamente e o bairro Outra Banda.
A população de Macapá não deve decrescer de 5.000 habitantes, número fixado pela Constituição do Estado para autorizar a emancipação.
Pelas delimitações fixadas, o Município possui várias fazendas importantes, de engenho e gado, pelo que é de esperar que haja arrecadação suficiente para custear os serviços públicos. Afora esse parêntesis, vamos continuar a nossa narração.
Em viajem, antes de chegarmos a pitoresca vila deparamos com a fazenda do Sr. João de Deus Martins, o homem que, só entre filhos e genros, possui 20 e tantos electores. A sua amabilidade fez-no transpor os humores da sua morada, e aí fomos tratados com fidalguia cativante.
Chegamos a Macapá às 6 horas da tarde da véspera da inauguração do Município. Logo pela manhã, do grande dia, houve alegre alvorada na Igreja, com música e foguetes. O reverendíssimo Padre Felipe Candurú, que aí então se achava para provar que a Igreja comungava também dos sentimentos do povo, fez de propósito reparar algumas meninas, tolas muito interessantes e graciosas para receberem a comunhão sagrada.
Como era natural, depois do despertar, tomamos o caminho da Igreja, e lá assistimos a cerimonia religiosa, em que houve a maior concorrência popular. Após essa cerimonia, o povo todo, inclusive o Padre Felipe Candurú dirigiu-se em passeata para o lugar destinado á inauguração, e durante o trajecto, a banda de música tocou várias peças alegres e canções patrióticas. Muitos nomes eram aclamados entre estes, com mais fervor, os do Dr. Urbano Santos Cel. Bricio de Araujo, Dr. Raul Machado, Cel. Carneiro de Freitas, Dr. Carlos Reis, etc.
O salão que os esforçados macapaenses para a cerimônia estava regularmente movimentado e inteiramente repleto.
As dez horas, começou o serviço das actas. Era meio dia quando foi instalada a Câmara e empossados o Prefeito e o Sub-Prefeito às suas residências. Era de encantar o modo fidalgo como era tratados todos os visitantes. A família Ignacio Mendes, numa actividade pasmosa procurava por todos os meios com solicitude e carinho, agradar a todos. Estava aí uma miniatura do lar de Macapá, franco e hospitaleiro. A festa rematou com um animadíssimo baile na residência do Prefeito, em que compareceu toda a elite Macapaense cada qual mostrando o maior capricho no trajar. Foi uma desta, a bem dizer, deliciosa, onde sentimos no coração de cada macapaense pulsar fibra dessa alma sertaneja, orgulhosa da sua fidalguia de trato e nobreza de coração. Ainda relembramos com imensas saudades os dias ditosos que possamos, naquela terra, em contacto com o seu gênero e hospitaleiro povo”. (Matéria fornecida pelo pesquisador Zacarias do Arquivo Público Estadual do Maranhão).