Rafael Paz Botão

Patrono da Cadeira nº 07, ocupada por Francisco Viegas Paz. Filho de João Albino Paz Botão e Domingas de Castro Botão, nascido em 30 de outubro de 1905 na localidade Santo Antônio do Acre (hoje Xapuri – terra de Chico Mendes) e faleceu em 23 de junho de 1986. Seu pai era conhecido como Coronel Albino Paz, (dono de seringal) e descendente de holandês. O seu título vem do holandês Boton, que foi aportuguesado para Botão.

Como Rafael Botão veio para o Maranhão?

Em 1918 surgiu a gripe espanhola (H1N1). E a probabilidade que ela chegasse aos seringais era inevitável, haja vista que os europeus vinham constantemente comprar seringas na região, inclusive em Santo Antônio do Acre. Antes que a gripe se alastrasse na região, o Coronel Albino Botão, combinou com a família para enviá-la ao Maranhão o mais rápido possível, devido esta localidade não está incluída na rota da gripe. Então arrumou uma mala com dinheiro, roupas e outros utensílios e mandou toda a família junta. Fazia parte da expedição os seguintes membros da família: a mãe Domingas de Castro Botão e os filhos Marsonilo Paz Botão (mais velho), Rafael Paz Botão (segundo filho, com 13 anos de idade), Albino Paz Botão, Artemízia Paz Botão, Alice Paz Botão (Santinha) e Osório Paz Botão (filho caçula).

Todos viajavam numa embarcação de porte pequeno e, no Golfão Maranhense, com a maré enchendo provocou o desvio da rota, rumando para o Itaúna e de lá até São Bento.

Com o dinheiro que a família trouxe alugou uma casa e começou a tocar a vida livre daquela peste, que dizimou muitos índios na Região Amazônica. O dinheiro estava reduzindo a cada dia e a mãe preocupada com as despesas, para que sua economia não desaparecesse. Então era “um olho no gato e o outro no peixe”.

Rafael começou a se enturmar com os pescadores e foi à luta, garantindo o sustento da família com o auxílio dos outros irmãos.

A mãe de Rafael o matriculou no Seminário de São Bento. Ele não era interno. Ia às aulas e depois vinha para casa. Foi lá que ele aprendeu música com o padre Felipe Condurú Pacheco.

Mais tarde um amigo de Rafael, residente em São Luís lhe mandou uma carta aconselhando que ele viesse para a capital maranhense e escolhesse o Bairro Diamante por possuir opções de adquirir um imóvel para residir e que, na cidade havia maior possibilidade de arranjar emprego. O aconselhamento foi muito bem-vindo pela família. Imediatamente Rafael viajou para São Luís e fez a opção de comprar uma casa. Voltou a São Bento comunicou à sua mãe, que precisava da quantia ajustada para compra do imóvel. A mãe que possuía joias vendeu algumas e deu o dinheiro ao seu filho para fechar o negócio com o proprietário da casa.

A família toda se mudou para o Diamante e, mais tarde, colocou o nome da rua onde morava de Preciosa – existente até hoje. Lá nasceram os irmãos: João de Deus Paz Botão e Fernando Paz Botão.

Rafael arranjou um emprego na Fábrica Fabril, localizada no canto da Fabril, próximo a Receita Federal. Lá aprendeu um pouco de mecânica realizando manutenção das máquinas.

Depois ele se apaixonou por uma jovem chamada Elisa, residente no mesmo bairro em que residia (Diamante) e começaram um relacionamento que durou pouco tempo.

A vinda de Rafael para Peri-Mirim.

Rafael adoeceu de um problema no fígado e já havia tomado muito remédio receitado por farmacêuticos e médicos, mas nenhum deles tinha a eficácia esperada. Então lhe informaram uma senhora em Peri-Mirim, de nome Quitéria e residente entre Portinho e Jaburu, que poderia curá-lo. Ele se dispôs a experimentar os préstimos da dona Quitéria, que realmente o curou, alegando coisa feita. Na recomendação da dieta pediu ao cliente (Rafael Botão), que não comece mais jerimum.

Com o resultado alcançado, ele disse a dona Quitéria que ia retornar para São Luís, mas a vidente senhora profetizou dizendo que o seu lugar atual era no Portinho e depois em Macapá.

“Ou por tralhas ou por malhas”, como diziam os mais velhos, Rafael ficou um pouco mais no município e se apaixonou pela senhorita Odineia França, com quem casou em 30 de junho 1934. E dessa forma cumpria-se a primeira parte da profecia de dona Quitéria. Em função do casamento, a esposa passou a assinar o nome como Odineia França Botão. O casal teve os seguintes filhos: Benedita Marta Botão França (falecida), Maria Lúcia Botão de Oliveira, Lindoura Botão Martins, Raimunda Lélia Botão de Oliveira, Emanoel França Botão e Odinésio França Botão. (Odineia morreu de parto).

Rafael casou-se novamente, cumprindo o que determinava a profecia de dona Quitéria e veio morar na sede do município. A esposa do segundo casamento era Elizabeth Castro Botão, com a qual tiveram os seguintes filhos: Dulcilene Castro Botão, João Albino Paz Botão Neto, Marsonilo da Paz Botão Sobrinho, José Ribamar Castro Botão (falecido), Maria da Graça Castro Botão, Maria Vitória Castro Botão (falecida) e Maria Marta Castro Botão.

Rafael Paz Botão foi Delegado de Polícia e Suplente de Juiz, autorizado, portanto, a realizar casamentos e questões do dia a dia do município.

Como entusiasta e conhecedor de música, Rafael reuniu alguns amigos e parentes com conhecimentos afins para criarem um Conjunto Musical no município, com a participação dos seguintes músicos: Rafael Paz Botão (tocava saxofone alto); José Ribamar Pereira Bahury– Nana (tocava trombone); Herbert de Jesus Abreu – Bebê (tocava saxofone tenor); Furtuoso José Corrêa (tocava saxofone alto); Constantino Corrêa (tocava trombone); Valter Guterres (tocava tuba); João Picola (tocava banjo); João de Deus Paz Botão (tocava pandeiro) e José Ribamar Castro Botão – Sebinho, o caçula dos músicos (tocava bateria).

Por ocasião da visita do Núncio Apostólico canadense a Peri-Mirim, em 1959, que coincidiu com a primeira comunhão da primeira turma de alunos educados para esse fim, o conjunto musical de Rafael Botão tocou o Hino do Canadá e em seguida um dobrado composto e arranjado pelo próprio Rafael. Os canadenses gostaram imensamente da composição ao ponto de solicitarem ao seu compositor uma cópia. Rafael, então, deu o original para o padre Edmundo, que o levou para o Canadá.

Foi uma festa muito animada, realizada no canto da casa Paroquial de São Sebastião, com muito folclore, inclusive com o tambor de crioula do mestre Gervásio do Pontal, que cantava várias músicas do reportório do tambor e uma das letras dizia o seguinte:

Balanceia, balanceia, quero ver balancear, balança de pesar ouro não pode pesar metá. Refrão: balanceia, balanceia, quero ver balancear.

Menina casa comigo, que eu sou um nego trabalhador: com chuva não vou na roça, com sol também não vou.

Rafael foi um homem extremamente dedicado a cultura perimiriense, a ponto de inovar cada vez mais as brincadeiras de bumba meu boi, com a sua criatividade de dar gosto. Ele confeccionava o boi, construía os personagens e ensaiava a comédia de mãe Catirina e Pai Francisco. Cada cena era cuidadosamente elaborada por ele. Como em uma novela, onde o diretor diz como deve ser o enredo, proposto para aquele ato.

A Escola de samba do Portinho tinha sempre a sugestão e autocrítica de Rafael, para que ela fizesse bonito no desfile. Em 1951 o prefeito Agripino Marques, em desavença com Rafael patrocinou um bloco da sede, chamado de “Só prá nós” e, em desafeto, seu Rafa, como era chamado carinhosamente, fez o “Bloco Popular” do Portinho. Muito criativo conseguiu um carro de boi e sua equipe enfeitou da melhor forma possível. Nele os músicos se agruparam e tocavam, como se fosse num trio e os demais brincantes e a população os seguia, com muito entusiasmo, cantando a música:

“Vem cá ioiô, vem cá iaiá, não sejam tolinhos que este bloco é popular (bis)”.

“É assim que a rosa respira, seja o caipira ou o general, seja o doutor, seja o pobre, seja o rico, todos caem no fuxico deste carnaval”.

Quando o Bloco Popular chegou à Praça de São Sebastião, Agripino Marques foi embora para casa. Então sua esposa dona Julieta Marques lhe disse: você deixa a animação na praça e vem se esconder em casa? – Ele refletiu deixou o orgulho de lado, vestiu uma bermuda e foi brincar no meio da multidão.

No que diz respeito a bens e serviços ele não poderia ser melhor do que era. Consertava tudo que fosse necessário, mesmo com os míseros recursos da época. Como prova ainda poderá ser vista o Crucifixo da Igreja de São Sebastião, que lá chegou avariado e Rafael o deixou como fora esculpido o original.

Enfim, a sua vinda para Peri-Mirim, foi traçada por um destino que só fez bem para a população. O acadêmico Francisco Viegas Paz é muito grato em poder prestar-lhe esta homenagem com o esmero que o seu Patrono merece.

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