Camelôs em Peri-Mirim: sextas-feiras gordas e magras

Autor Diêgo Nunes

Como dizem os mais velhos, “dia de muito, véspera de nada”. E assim são as sextas-feiras dos camelôs em Peri-Mirim, carros de roupa que há três décadas atravessam cidades, enfrentam estradas, calor e chuva, levando consigo sonhos, sustento e esperança.

Eles chegam cedo, cansados das viagens que se iniciam no domingo em São João Batista, seguem por Matinha, Cajari, Pedro do Rosário, São Vicente Ferrer, Cajapió, e só na sexta alcançam Peri-Mirim. Cada dia, uma cidade; cada noite, um descanso curto, uma comida improvisada, um abrigo que nem sempre existe.

Na Rua Rio Branco, suas barracas se alinham, doze no total, oferecendo roupas, calçados, utensílios domésticos, cosméticos, verduras. Cada objeto é fruto de esforço, cada venda, uma batalha silenciosa. Entre amigos e clientes fiéis, encontram acolhimento: uma refeição compartilhada, uma mão estendida, uma conversa que alivia o peso do corpo e da alma.

O caminho não é fácil. Já enfrentaram chuva, fome, expulsões, noites ao relento, hospedagens precárias. Já foram obrigados a dormir sob suas próprias barracas, deixando-as prontas para o dia seguinte. Já enfrentaram cidades que os proibiram de trabalhar, ou que exigiram pequenas taxas para exercer sua arte de sobreviver. Ainda assim, persistem, porque a necessidade é mais forte, e a esperança mais teimosa que qualquer obstáculo.

Dona Ana, há quinze anos entre Peri-Mirim e São Vicente Ferrer, diz: “Aqui somos bem recebidos, vendemos bem, temos amigos. Não moro aqui só por causa da família, senão ficaria sempre.” Dona Celina, matinhense e pioneira: “Tem dias que dá bem, tem dias que dá mal, mas o prazer de vir não tem preço. Ao invés de ficar em casa, vamos ver se vendemos algo.”

As sextas-feiras aqui são pequenas epopeias: dias de esforço, encontros, negociações, risos, cansaço, histórias. Para os camelôs, cada viagem é vida; cada barraca montada, resistência; cada venda, um suspiro de alívio. Entre a poeira da estrada, o calor do sol e o brilho de clientes e amigos, eles seguem, semana após semana, mostrando que o trabalho, mesmo difícil, é também dignidade, coragem e esperança.

Peri-Mirim os acolhe, não apenas porque compram ou vendem, mas porque, na rotina das sextas-feiras, se faz visível a força de quem luta para viver, de quem transforma dificuldade em rotina e dificuldade em história.

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