Manoel de Jesus Campos, o Santiago

Cantor e compositor de Bumba-Meu-Boi e manifestações folclóricas no Estado do Maranhão. Nascido em 03 de junho de 1947 no povoado Tremedal, zona rural do município de Peri-Mirim, filho de Maria Almerinda Campos e Pedro Damião Campos. Conhecido popularmente como Santiago. O mesmo vem de uma geração de oito irmãos. Santiago possui três filhos, cinco netos e uma bisneta.

Sua paixão pela cultura deu-se aos 13 anos no povoado em que nasceu. Os moradores se reuniam e confeccionavam chapéus de palha de uma palmeira conhecida na região como Tuncum. O boi tinha como matéria prima a palha do babaçu feito em formato de cofo e era enfeitada com o papel dourado retirado da carteira de cigarro Continental. Na época os moradores preparavam mingau de arroz para doar, ao término das apresentações, os responsáveis por organizar as brincadeira e convidar os cantores de boi chamava-se Pedro Sabino e João de Lázaro, a comunidade  tinha a missão de socar o arroz no pilão e fazer o mingau para a noitada. A partir daí o gosto e a vontade de participar das manifestações folclóricas sempre falou mais alto.

O primeiro boi que participou, fora do seu município de origem, tinha como nome Bumba Boi Paziano sotaque de orquestra do São Domingos que tinha como Dono o Raimundo Cordeiro, a partir daí os convites para abrilhantar as noites juninas foram surgindo e em seguida integrou no período de um ano o boi do São Joaquim sob o comando do Sr. Eusébio.

Na década de 70 viajou para Santa Inês em busca de novas perspectiva de vida e melhores condições financeiras, pois o Sr. Manuel é oriundo de uma família humilde de lavradores. Não se adaptando às mudanças e a saudade de seus familiares retornou para junto dos mesmos no ano seguinte. De volta, aceitou o convite para participação no Boi da Tapera de responsabilidade de Zé Pereira (In memória), na ocasião dividia os palcos com Antônio João de Ladica.

Em 1973, Deusdete Gamita Campos é eleito prefeito do município e na ocasião fundou um Bumba Boi chamado Campeão do Norte no sotaque de zabumba. Reuniu uma boiada e colocou nos palcos entre rimas e versos três repentistas o Santiago, o Diér e Paulo da Beira. Tornando-se o primeiro boi da região a se apresentar nos arraiás da capital maranhense. No ano seguinte o Campeão do Norte reuniu os grandes mestres repentistas da cidade e as noitadas juninas foram embaladas ao som das toadas de Santiago, Carlos Pique, João Betouve, Dier e Paulo da Beira.

Em 1977, João França Pereira ganha as eleições municipais e mantém viva a tradição do boi de zabumba Campeão do Norte, a fama dos Mestres de boiada da nossa querida Peri-Mirim percorre as cidades do Maranhão e o boi é convidado a se apresentar em Chapadinha. Em 1978 recebeu o convite de Deusdete para integrar um boi que ele estava organizando na comunidade de Campo de Pouso, na oportunidade comandou a boiada juntamente com João Betouve e na organização tinha Biu, Betinho e Antônio de Zila.

No ano de 1979 o convite veio de Itamatatiua cidade de Alcântara, onde comandou o Boi de Itamatatiua do seu Ricardo. Na chama da fogueira que esquentava o tambor lindas rimas o Santiago criou despertando o interesse de muitos donos de boiada. No ano seguinte, estava a cantar e encantar no boi do Ferro de Engomar da cidade de Bequimão.

Do chapéu de palha simples aos canutilhos e paetês, Santiago acompanhou e participou do processo de evolução e reconhecimento da cultura maranhense. O mesmo cantou muitos repentes olhando as saias da mulherada girar nas rodas de tambor de crioula ascendeu fogueira para esquentar tambor e muitos corações conquistou de Pontal a Três Marias uma temporada passou, no conjunto de Timótio de Olávio no povoado de Minas sua marca deixou. No Tubarão em Alcântara muita correia fez punga escutando Santiago cantar.

Em 1995, durante a gestão do prefeito Benedito de Jesus Costa Serrão surge em Peri-Mirim o Bumba-Meu-Boi Brilho da Baixada no sotaque de orquestra, o primeiro boi desse gênero que integrou fazendo composições para interpretação própria e para outros cantores como a mais famosa música da época “Peri-Mirim, minha terra é um amor”. Toada que foi interpretada por França e na ocasião gravada pelo mesmo.

Muitas toadas foram gravadas durante a existência do Brilho da Baixada, algumas em fitas que eram o instrumento que se tinha na época para registro de músicas e outras estão nos CD’s que até hoje embalam a saudade de um geração apaixonada pela cultura perimiriense.

Com o término do Brilho da Baixada, o Santiago seguiu carreira no Boi Unidos de Palmeirândia também no sotaque de orquestra . Este batalhão tem sobre seu comando a Sr. Rita Marques que mantém viva esta tradição até os dias atuais.

Em 2010, aceitando o convite de Seu Arcanjo, o Santiago atravessa a Baia de São Marcos para integrar no Bumba-Meu-Boi Anjo dos Meus Sonhos, sotaque de Orquestra do Anjo da Guarda. Aqui entre pandeirões, vaqueiros e índias cantou coisas do amor e muitos corações agradou.

Em 2013, estava de volta nos arraiás da sua cidade natal, desta vez no Bumba-Meu-Boi Mimo de Peri-Mirim.  Que tinha como representatividade a Ex.ª Vereadora Rosa Pinheiro. A Toada que ficou registrada neste batalhão diz assim “Guarnece turma, guarnecer se faz assim, vamos mostrar a cultura da nossa Peri-Mirim. O povo está animado, quem tá na frente do gado é Santiago e Paim”. Por muitos anos, Paim e Santiago fizeram muitos apitos assobiar para São João homenagear.

No ano seguinte, o Santiago fez parte de um projeto municipal da Secretária de Assistência Social que reuniu jovens e idosos na perspectiva de se fazer um batalhão o projeto deu certo o Boi do CRAS como era chamado saiu ao som do teclado e reuniu muitos perimirienses no dia do seu batizado.

Manuel é um homem feito de muitas veias culturais, dono de versos, músicas, poemas e toadas que soam o ano inteiro  compondo um verdadeiro canteiro de manifestações folclóricas da Baixada.

Nos carnavais da nossa cidade muitos sambas criou, passou pelo Império do Portinho, mas foi no Unidos do Campo de Pouso que  sua história registrou.  Entre alegorias e baianas conquistou muitas notas 10. Comandava uma bateria como ninguém na passarela, ao lado de Paim emoções e muitas composições surgiram. Títulos embalados pela euforia de uma torcida que todo ano o esperava, na ponta do pé muita gente sambava e com aplausos saia de cena sempre com gostinho de quero mais.

Hoje, com seus 74 anos o Santiago tem uma legião de fãs, amigos e admiradores de seu belíssimo trabalho. Por onde passa sempre deixa a seguinte mensagem “A cultura é a marca de um povo e somos nós quem fazemos este feito”.

Em 2021, Manoel de Jesus Campos, o Santiago, recebeu da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense- ALCAP a honraria Mérito Cultural Perimiriense, João de Deus Paz Botão, concedida pessoas da cidade, de forma a reconhecer a importância, o trabalho e a dedicação daqueles que constroem a história da cidade por meio da promoção e apoio a diversas manifestações folclóricas e culturais no Município de Peri-Mirim.

Deixe uma resposta