Autora Eni Amorim
Esse Convento, velho, maltratado, guarda histórias de uma pequena e pacata cidade chamada Peri-Mirim. Esse casarão, outrora imponente, fora construído para abrigar as freiras da Missão de Sherbrook (Canadá) na década de 60. Ficando o convento abandonado, meus pais foram convidados para tomarem conta dele, desde então iniciamos uma nova história da nossa vida naquele local. Papai (Jair Amorim), mamãe Inácia Amorim, eu primogênita, com sete anos de idade na época e mais quatro irmãos… Vivíamos assustados, a priori, pelas histórias de assombrações que emergiam do senso popular: diziam que o casarão era assombrado e que tinha uma freira de chamató (tamanco) que aparecia na calada da noite e corria pelo casarão fazendo um barulho ensurdecedor pelo toc, toc dos tamancos e outras tantas histórias… (eu particularmente nunca vi nenhuma freira de chamató por lá…). Vivemos por lá cerca de 10 anos e foram tempos maravilhosos, tínhamos um quarteirão só para nós, era espaço suficiente para aprontarmos mil e uma peripécias…
Após nossa saída do casarão, outras histórias continuaram a serem reescritas por outros atores, e, de repente, a notícia de que o mesmo seria destruído… E eu na minha insignificância juntei minha voz a todas as vozes dos filhos de Peri-Mirim para clamar que sejam feitos novos projetos que não sacrifiquem o velho casarão e sim, procedam a uma Reforma para que ali possa pulsar a vida que outrora pulsou.
A história precisa continuar e os nossos representantes precisam ver as coisas com um olhar diferente, focado na cultura de um povo, afinal é para isso que nós os colocamos para nos representarem dignamente.
Velho Casarão
Vendo-te definhar nas sombras das tuas ruínas,
Remoto-me para o período da tua aurora juventude, onde reinavas majestoso na imponência do tempo.
Guardas em tuas ruínas histórias e lendas de personagens que habitaram dentro de ti; Histórias de amores e desamores, esperanças, alegrias, tristezas, angústias, perdas e reencontros, chegadas e partidas…
Nas histórias do senso comum que brotam da imaginação de uma gente humilde surge a lenda da ’’Freira de chamató’’ (tamanco). (Eis que na calada da noite uma freira de chamató passeia pelas varandas do casarão com seu toc, toc irritante.) Lenda essa que fez o casarão tomar uma conotação de ‘’Casarão mal assombrado’’.
Guardastes no teu abrigo: religiosos, trabalhadores, viajantes, vendedores e moribundos…
Abrigas nas tuas entranhas histórias de muitos atores, cada qual com sua singularidade que lhe é peculiar.
Agora que a velhice chegou e que não tens mais o vigor de outrora,
Jazes esquecido ao relento e aos maus tratos,
Não passas de escombros e de local para deposição de excrementos humanos e abrigo para os animais que perambulam pelas ruas da cidade.
E você, velho casarão, aguarda que o tempo complete o seu processo de oxidação, enquanto você figurará nos fragmentos de uma história nas névoas do tempo.
Artigo publicado no site do FDBM em 9 de março de 2018