Quebradeira de coco

Autor Diêgo Nunes Boaes

Cedo, ela se levanta. O café ferve no velho bule sobre o fogareiro de barro, o carvão feito da casca de babaçu solta um aroma terroso que desperta o corpo e a alma. Um pano enrolado na cabeça, feito rodilha, protege o peso do cofo; na mão, a manchada e a mancepa, instrumentos precisos de uma rotina que é força, cuidado e sabedoria. O vestido é enrolado, a mão na cintura serve de contrapeso, e ela parte para o mato.

Um coco aqui, outro acolá; o cofo se enche, transborda, e a ruma cresce, silenciosa testemunha de trabalho e paciência. No tronco forte ou na raiz de mangueira, a manchada é pregada com firmeza, a mancepa dança no ar, e o som cadenciado dos golpes se mistura à cantoria que passa o tempo, acompanha o dia, faz companhia. Cada golpe é força, cada canto é consolo, cada instante é vida.

As amêndoas vão para o cofo, as cascas para a caeira, buraco que será carvão, que alimentará o fogo, que voltará à mesa. A quebradeira, de costas doloridas e coração firme, retorna. Parte das amêndoas segue para venda, parte para alimentar os animais, parte para o pilão, para o azeite que será sustento.

O leite de coco engrossa o caldo do peixe, dá sabor aos bolos de tapioca, transforma-se em mingau para os pequenos. As cascas que sobram cobrem o fogo da caeira, com pindobas, palhas verdes de babaçu, e terra; o fogo trabalha, paciente, silencioso, enquanto o dia vai terminando.

No fim, ela retorna, retira o carvão, leva os cofos fardos para casa. A cozinha se enche de aromas: mingau quente, peixe fresco, bolo de tapioca, café com erva-doce. Cada gesto, cada tarefa, cada sopro de fogo é memória viva, beleza simples, dignidade silenciosa.

E assim se repete, dia após dia,
a dança da quebradeira de coco, guerreira do campo, guardiã da vida simples e intensa, mulher que transforma o esforço em sustento, e o cotidiano em poesia.

2 Replies to “Quebradeira de coco”

Deixe uma resposta para DiegoCancelar resposta