História de Feliciano da Cruz Silva

Autora Maria Nasaré Silva

Peço à Musa Divina

Para vir-me inspirar

Pois vou narrar a história

De alguém que vivi para amar

Há mais de 50 anos

Peço a Deus para abençoar.

 

Para abençoar a história

De um homem nobre e guerreiro

Feliciano da Cruz

Tendo Silva o derradeiro

Abençoado por Deus

Valoroso e verdadeiro.

 

Logo em seus primeiros anos

Sofreu grande desalento

Pois Deus assim já chamava

Quem lhe servia de acalento

Sua mãezinha Aidê Silva

Eita mundo de tormento.

 

A bonança viria, era certo

Deus lá do céu já olhava,

Um coração nobre e fiel

E o Pai já o abençoava

Mandando um casal de amigos

E assim já o adotara.

 

A acolhida foi bendita

Para seus dez anos de idade,

Joventina e Mariano

Ensinaram-lhe a verdade.

O amaram como filho

Dando-lhe felicidade.

 

Começou uma nova etapa

De sua vida em Pinheiro

O casal que o adotou

Possuía um bom dinheiro

Tinha uns bons carros de boi

Também era fazendeiro.

 

Deixemos à nova vida

Para voltarmos ao passado,

Feliciano ao nascer

Foi num lugar atrasado

Chamava-se Serra Velha

Mas por era Deus abençoado.

 

Na Serra havia deixado

Muita gente querida.

O seu avô Carlos Maia

E a sua avó Ana Rita

Os irmãozinhos pequenos

Em uma vida desdita.

 

Não saía da lembrança

A sua vida passada,

Não esquecia de Ana Rita

Sua vizinha adorada

Que em meio às sentadas bruscas

Era outra saia rasgada.

 

Em meio a tanto atropelo

Não podia deixar de ser

Lembrava sempre Mãe Zeca

Que o carregara, nenê,

Dormiam sempre juntinhos

Era sua razão de viver.

Em seu mundo de lembranças

Vinha a irmã tão querida,

Que em meio a tapas e beijos

Mantinha sempre a guarida,

Protegendo-o e defendo-o

Dessa vida tão sofrida.

 

Lembrava com carinho

Do seu irmão João Laboro

Sempre metido em encrenca

E tão cheio de desaforo,

Do seu pai sempre apanhava

Com famoso cinto de couro.

 

Muitas vezes era obrigado

A beber mijo fundido.

Como castigo ao papismo

Nem assim se achava perdido

Cada vez aprontava mais

Mas da família, não era banido.

 

Não podia deixar de lado

Seu irmãozinho querido

Valdomiro menino manso

E foi por Deus escolhido

Para acompanhar os passos

E continuar seu destino.

 

Lembrava também Olindina

Mulher de Zé Macaxeira

Homem franzino, vagaroso,

Vivia a fazer asneira

Não era pessoa ruim

Era assim sua maneira.

 

As lembranças eram boas

Fitava o céu a meditar

Pensava nas pescarias

De caniço, e, a soquear

Bicho de tucum no anzol

Para um bom peixe pescar.

 

Deixemos os devaneios

Fitemos na realidade,

Sua vida não era fácil

Mas não vivia de caridade,

Trabalhava de sol a sol

Como homem de verdade.

 

Como homem de verdade

Mas era apenas menino

Ia cedo ao mercado

Para vender o pepino

Aipim, couve, maxixe,

Seu trabalho era divino.

 

Cedo estava na estrada

Para carro de boi carrear

Pois os pais tinham uma frota,

Porém, tinha que trabalhar

Feliciano não se curvava

Fosse o que fosse a enfrentar.

 

Certa vez, em noite escura

Houve um grave acidente,

Em uma curva derrapante

Saiu com vida, felizmente

Mas devido à capotagem

Ficou gravemente doente.

 

Dante desses problemas

Passou meses acamado

Não podia deixar de ser

Fora muito bem cuidado

Pois ele era um ser querido

Por todos era muito amado.

 

Mas como a vida não para

Quem nasce, cresce, reproduz

É o completo dinamismo.

Quem olha, às vezes deduz

Começa uma nova era

Aonde tudo se conduz.

 

Casou-se, era bem cedo

E se pôs a procriar.

Raimunda e Maria Helena

Veio-lhe a vida alegrar

Mas o que tem começo tem fim

Casamento veio findar.

 

As filhas ficam em Pinheiro,

Após a separação

Feliciano desce a serra

E não vem de contramão

Vem lutar pelos seus sonhos

E cumprir sua missão.

 

A missão de homem honesto

É difícil ser cumprida

Ele, porém, conseguiu

Tendo Deus como guarida

E escreveu sua história

Até 97 anos de vida.

 

Morando no São Raimundo

Logo se enamorou

Quando viu Maria Rosa

Disse: agora sim, chegou,

A mulher da minha vida

Para ser meu grande amor.

 

Como já era casado

No civil anteriormente.

Casar-se no religioso

Era o que tinha em mente,

Foi assim que aconteceu

Desse jeito exatamente.

 

As famílias concordaram

Com esse entrelaçamento

Não havendo discussão

Era só contentamento,

Todos ficaram felizes

Com o novo casamento.

 

Desse novo matrimônio

Cinco filhos nasceram:

Dois homens e três mulheres

E assim logo cresceram.

Contra as adversidades,

Lutaram e sempre venceram.

 

A sua primeira filha,

Nasceu com nome Brandina

Como esse nome sugere,

Trouxe ao nascer uma sina

Ser amiga, doce e calma,

Assim Deus determina.

 

Continuando sua prole

Nasce o filho segundo

Bonito, robusto e forte

Deus o mandou para o mundo

Chegou manhoso e chorão

Benildo nasce em São Raimundo.

 

Vinha o terceiro filho

Um menino inteligente

Veio mandado de Deus

Para fazer todos contentes

Não sei como escapou

Zé Maria, só vivia doente.

 

E assim a quarta filha

Nasce toda faceira

Veio branca e gordinha

Rosa, abençoou a parteira

Por certo era a sua avó

Mãe Jota não falava asneira.

 

Por fim, nasce a caçula,

Que é forte em pensamento,

É verdadeira e honesta

Nasaré está no documento.

Ama de paixão a família

E tem bom discernimento.

 

Feliciano da cruz viveu

Noventa e sete anos de vida.

O meu pai foi um guerreiro

Trabalhar era sua lida

Nos criou com sabedoria

E bem idoso fez sua partida.

 

O que meu pai teve de sobra

Soberania, dignidade

Nunca disse uma mentira

Só ensinou a verdade

Quem não seguiu seus conselhos

De suas lições não aprendeu a metade.

 

Encerro assim, a  história,

De Feliciano, o meu pai

Com Deus vive em sintonia

Da minha mente não sai

Era devoto da Virgem Maria

Rezava três rosários por dia

E Nossa Senhora não trai.

 

10 Replies to “História de Feliciano da Cruz Silva”

  1. Mãe a senhora é meu orgulho, que jeito mais lindo de retratar vovô, quem conheceu ele sabe o quanto ele amava literatura de cordel. Ele deve tá muito orgulhoso da senhora

  2. Todo merecimento do mundo e mais..! Teve o prazer de conviver com esse Grande Homem Pai maravilhoso e Tio Respeitado em todos os Sentidos.!

        1. O trabalho ainda está disperso. Temos que tentar desenvolver o amor pela nossa terra, e a forma mais fácil é pelo resgate de nossas histórias, vividas pelos nossos ancestrais. Parabéns pela divina inspiração.

  3. Meu pai, lições de vida esse homem para todos que tiveram a felicidade de com ele conviver. Neste dia dos que se aproxima, desejo de fundo da lama que me perdoe por não ter sido uma filha exemplar. Que Deus lhe dê o descanso eterno.

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