Palavras: ditas e não ditas

Por Sodré Neto

Um bom começo pode ser extraído do conto de Guimarães Rosa, A terceira margem do rio, ao dizer que “nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação”. Assim era Zé Santo, a quem peço vênia para chamar, a partir de agora, de Papaizão.

Nascido em 2/2/22, natural de Palmeirândia e criado na Jurema em Peri-Mirim, Papaizão, aos dezoito anos, já assumia as rédeas da família em virtude da perda de sua mãe. Aqui, percebo que a precocidade de sua paternidade permitira o desenvolvimento de tudo o que se sucedeu. Os acontecimentos não foram fáceis, mas, para ele, não precisavam ser. “Mar calmo nunca fez marinheiro experiente”. E, assim, a vida o fez um almirante de primeira!

Comunicar não é sair verbalizando tudo e Papaizão sabia disso como poucos. Lembro-me dos momentos em que nos sentávamos todos à mesa para almoçar – vestidos com camisa, é claro! – e, por alguma ou outra razão, começámos a tagarelar. Evidente era o desrespeito àquela hora sagrada que ele ensinara com seus agradecimentos silenciosos sobre o prato de comida. Bastava que ele repousasse a sua colher sobre o prato para sabermos que o limite havia sido ultrapassado. Se ele levantasse a vista, pronto! A vergonha se instalava entre nós.

Mas nem sempre gestos são suficientes e palavras precisam ser ditas. Ele também sabia disso. Aliás, em toda nossa história, acabei não conseguindo descobrir o que ele não sabia. Mas voltemos às palavras. Com a precisão de um neurocirurgião, Papaizão proferia, sussurrava e até disparava palavras, tamanha era a sua destreza com elas. Com o tom perfeito para cada ocasião. Não me lembro de tê-lo visto gritar com alguém que estava perto. Não porque lhe faltava capacidade ou estridência, mas porque lhe sobrava sabedoria.

E, ainda tratando das palavras de Papaizão, me lembro das muitas histórias contadas quando nos sentávamos num mocho para que ele cortasse os nossos cabelos. Do que não me lembro – porque não acontecia – era dele repetir os contos, salvo se houvesse pedido nesse sentido.

Não posso deixar de mencionar que Papaizão não confrontou o tempo, como muitos de nós o fazemos. Eles se aliaram. Lembram daqueles almoços sagrados em silêncio? Pois é, continuaram sempre sagrados, mas deram lugar a risos e boas conversas. As inarredáveis rugas se apresentaram no rosto, mas a velhice nunca lhe tocou o coração.

As conversas e histórias sobre a sua meninice não saíram de cena. Entretanto, surgiram piadas sobre Barack Obama. Ele viveu em um tempo atemporal. E, se vivesse mil anos, falaria de carros voadores como conversava sobre uma plantação de maniva.

Enganam-se aqueles que acham que sua sabedoria se esvaiu com seu corpo. Hoje, a sua descendência fala – ou cala! – seguindo os passos de Papaizão. Não com a mesma habilidade, é bom que se diga. Carregamos marcas indeléveis de sua educação, de seu caráter e de sua integridade.

Com estas reflexões sobre as palavras, por pertinência, registro os parabéns pelos 3 anos da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense, trazendo as lembranças do nosso estimado patrono da cadeira nº 24, José dos Santos.

Encantos de Minha Terra

Vou falar um pouquinho do meu folclore popular, nomes de muitos artistas que vivem a encantar.

Peris terra abençoada, já foi narrada em rimas e em versos cantada por França, Paim e Santiago sempre é bem representada.
Nossa cultura por todo Maranhão é levada pelo Carlos Pique e o Antônio João que sempre cantam coisas vindas do coração.
Nas noites estreladas, a mulherada muita saia girava e ao som do tambor na roda entravam. Dona Antônia, dona Rosa e ainda tem a Maria que com seu rebolado deixa gente de olhos arregalados.

Se quiser conhecer as foliolas do Divino, Dona Nicinha vai tocar, na frente dela um imperador e imperatriz estão sempre a lhe honrar, mas se quiser conhecer um forró de caixa, meu bem vou lhe sugerir o de JJM com ele qualquer chão treme.

Às benzedeiras daqui estão sempre de seu povo a cuidar, mas teve uma que deixou seu nome na história deste lugar. Dona Morena assim era chama e 3 folhas de pião ela usava. Tirava quebrante espantava a mofina, hoje temos Dona Nair que nos recebe com muita alegria.

Neste dia do folclore minha gratidão venho externar ao povo que contou nossas lendas e tornou nosso ditado popular. Não posso esquecer das brincadeiras que vivem a nos ensinar, do pião, da amarelinha, pular corda como se a rua fosse minha.

Brincar de roda e de ciranda pular elástico na varanda. Ainda tenho muito a falar de pessoas como Diêgo, prof.ª Gisa, Eni, Nazaré e Tatá poetas da nossa terra que em versos estão sempre a narrar.

Aqui tem gente que canta como Eliane Dantas, tem gente que toca e gente que dança. Esta é minha cultura popular, foi um prazer vim lhe apresentar, espero que para as futuras gerações possam levar este é um trabalho de resgate e aos mestres vou dedicar.

QUERIDO DIÁRIO..

Hoje eu vou falar de memórias, falar de saudades…
Tudo começou no ano de 2016. No dia 30 de abril de 2016.
Era um período de chuvas na nossa baixada, a lua fazia quarto crescente…
Um dia que ficou registrado na nossa memória…
Sala cheia ,
Burburinhos,
Expectativas,
Sonhos…
Aliados a tudo isso, surgiram às dificuldades:
Medo
Perdas
Inseguranças
Ansiedade
Desistências…pessoas ficaram pelo caminho…sonhos interrompidos.
E veio talvez, o maior desafio da caminhada. A pandemia , a pandemia da covid 19:
Medo, muito medo,
Isolamento,
Distanciamento,
Mudança de metodologia,
Adequação às aulas remotas,
Ansiedade,
Vontade de desistir…Mas os colegas, as famílias surgiram como anjos e nos reanimaram. A corrente de energia positiva emanada nos sustentou até aqui.
Querido diário não foi fácil…
Mas aprendemos tantas coisas…
Aprendemos sobre comportamento humano, talvez a mais difícil das engenharias, porém fundamental para a nossa convivência.
Os caminhos trilhados no curso de filosofia nos moveram a ter uma consciência lúdica na busca de conhecimento. Capacitou-nos para a leitura, para a pesquisa e escrita, além de desenvolvermos um raciocínio abstrato, espirito investigativo e interpretativo.
E como não falar dos professores e orientadores que estiveram esse tempo todo conosco?
Estes cada qual com seu saber, nos ajudavam a traçar a estrada do nosso futuro. Sem eles seria impossível chegarmos até aqui.
Querido diário…Hoje nossa alegria se mistura com a nossa tristeza o sorriso com as nossas lágrimas.
Simplesmente porque, fechar o capítulo de um livro é muito difícil ,principalmente quando se está inserido na história, fazendo parte dela como um dos principais personagens.
Muitas vezes comentamos:
Esse dia nunca chega!!
Mas essa dia chegou!!
E vocês podem me perguntar sobre esse tempo…Quais as melhores lembranças que você irá levar? E eu vou responder:
Vou levar as amizades ,
As lembranças ,
O jeito sapeca de cada um ou o jeito ranzinza do outro,
As manias de cada professor,
Os puxões de orelhas,
Levarei principalmente o conhecimento, as experiências e o saber de cada um,
E uma oração de gratidão…
Muito obrigada!

PLANTIO SOLIDÁRIO: Baobá de Maria Sodré

Por Cleonice

A Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP) lançou no dia 29/02/2020 um projeto intitulado: Plantio SolidárioJoão de Deus Martins”. A primeira etapa do projeto prevê que cada membro da ALCAP deverá plantar uma árvore duradoura em homenagear ao seu patrono.

Para representar a patrona da Cadeira 09 da ALCAP, Maria José Campos Sodré Ferreira, foi escolhida a árvore Baobá (Adansonia digitata), cuja muda foi adquirida em São Paulo, pois, o único exemplar na Baixada Maranhense, que se tem notícia, está em São Vicente Férrer. Foi tentada, sem êxito, a germinação das sementes do Baobá pela equipe do Dr. Gusmão Araújo, professor do Curso de Agronomia da Universidade Estadual do Maranhão.

O baobá é uma árvore que fascina povos de todo o mundo, no Brasil ela tem uma forte relação com a religiosidade do povo, sobretudo o de matriz africana. É a árvore-símbolo do livro “O Pequeno Príncipe” que foi escolhido como a primeira obra do Projeto Clube de Leitura da ALCAP.

Maria Sodré deixou um grande legado de amor à natureza, inspirando seus descendentes como sua filha Sheila, seu filho Tozinho Sodré e  sua nora Ana Cléres, que se encarregou de cuidar da planta com amor e carinho.

A muda de baobá foi plantada no Sítio Boa Vista em Peri-Mirim, no dia 12 de março de 2021.  Estima-se que  daqui a 15 anos os primeiros frutos possam ser saboreados.

Raimunda França

Patrona da Cadeira nº 25 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Edna Jara Abreu Santos. Nasceu em 1919 davam-se o fim da 1ª Guerra Mundial e vinte anos depois (1939) davam-se início à 2ª Guerra no mundo. Já no Brasil, o ano de 1934 foi considerado o divisor de águas na história devido as inúmeras alterações que Vargas fez no país tanto no setor social quanto no setor econômico. Criou leis que beneficiaram a educação, saúde, trabalho e cultura, o qual ficou conhecido como a promulgação da Constituição brasileira.

E nesse cenário, nascia nesse mesmo ano (1934) no interior do Maranhão, em 05 de fevereiro, a Raimunda França na Povoação Macapá atual Peri-Mirim, filha de José Valeriano França e Atanázia Martha França, naturais e residentes desta cidade, sendo a segunda mais velha dos 6 (seis) filhos do primeiro casamento da sua mãe.

Atanázia Martha França, sua mãe, era doméstica e vinha de uma linhagem de 6 (seis) filhos de João Francisco dos Inocentes e Francisca Romana da Silva, casal que vivia maritalmente, porém não eram casados no Civil. Os seus irmãos eram: João Príncipe dos Inocentes, Francisca Paula dos Inocentes, Hilário Bispo dos Inocentes, Marcolina Rosa dos Inocentes e Juvencio Raimundo dos Inocentes.

Grande parte da povoação que até 1943 se chamava Macapá pertencia ao seu bisavô passando para seu avô João Francisco dos Inocentes – conhecido como “Carabá” (redução de “cabra brabo”) – o qual fez as doações de terras, ainda em vida para seus seis filhos.

Já o seu pai, José Valeriano França, herdou dos pais Inocencio França e Petronila França grande parte do Povoado Portinho (residia onde hoje é conhecida a Passagem dos padres) e a sua esposa Anastásia era dona das terras das proximidades do Povoado Conceição (da ponte de Anastácio para o centro). Com o passar do tempo, foram vendendo grandes lotes de terras por pequenas quantias. Sem saberem ler nem escrever deixavam as suas digitais em documentos de venda e transferências de terrenos e muitas vezes eram enganados por quem tinham estudos e más lábias. E assim foram perdendo terrenos e consequentemente ficando pobres.

José Valeriano, era moreno, lavrador que faleceu em casa aos trinta e seis anos mais propriamente em 01 de julho de 1946. Teve seis filhos com Atanázia, assim sendo: Raimunda, Antônia, Maximo, João, Floriano e Maria dos Inocentes França. Não deixou testamentos nem bens a inventariar. Atanázia se casou novamente e teve mais três filhos.

‘Raimunda de Atanázia’ como era conhecida na cidade, estudou a cartilha do ABC que hoje consideramos o 1º Ano. A criança, o adolescente, ou até mesmo o adulto que concluía a tal cartilha era considerado alfabetizado. E era o maior nível de ensino na época.

Na cidade não havia médicos nem hospitais; quando se tinha alguma enfermidade que os remédios caseiros e os macumbeiros não conseguiam a cura, os doentes precisavam ser transportados em redes ou a cavalos até cidades vizinhas como São Bento, Pinheiro e de canoa para São Luís. Sem vacinas e antibióticos as doenças dizimavam milhares de seres humanos inocentes.

Tinha doze anos quando foi eleito Prefeito o Sr. Agripino Marques (1946 a 1949), que muito trabalhou nos seus quatro anos de governo. Não havia estradas, e o único meio de locomoção era na sela de um cavalo. Aliás, quem possuía um cavalo de “sela de cilico” tinha-se como barão. O prefeito Agripino Marques mandava abrir caminhos nas estradas, assim aconteceu com o Campo de Pouso que era mata fechada com apenas um caminho estreito no meio. Construiu o prédio da atual Prefeitura que servia também de escola.

Ainda jovem, Raimunda foi duas vezes a São Luís; era uma viagem de canoa que demorava dias e noites e tinham como acompanhantes indesejáveis as temidas muriçocas.

No tocante à juventude de Raimunda sentiu que precisava de liberdade então decidiu sair de casa, pensou que deveria buscar formas para viver melhor a sua vida, já que o estado de pobreza extrema imperava na cidade onde nascera. São tantas possíveis justificativas que a fizeram sair de casa, no entanto, o que buscava mesmo era a sua liberdade, ser independente. Porém, mal ela sabia que ao sair de casa, teria um futuro de muita dor e miséria com os seus nove filhos. Três destes vieram a falecer por conta de complicações na gravidez e no parto e em razão da falta de recursos médicos e hospitais, todos os serviços de pré-natal e parto eram feitos pelas mãos das parteiras em suas próprias residências.

Criou os seus seis filhos sem as assistências dos pais, visto que, eles foram concebidos por pais diferentes e muitos dos filhos cresceram, se tornaram adultos sem saberem quem eram os seus ascendentes.

Desde cedo teve que assumir o difícil papel de ser mãe e pai, se preocupando com as terríveis doenças e com a tão preocupante fome e miséria fazendo muitos sacrifícios para criá-los. Talvez por isso tinha uma postura rígida com as proles, ou era apenas um reflexo das judiações e dos hábitos brutos dos seus próprios pais.

Logo após o nascimento dos filhos, ela pedia um caderno e lápis à parteira e escrevia apenas os seus nomes, data e hora do nascimento, depois guardava aquelas anotações como forma de registro. O registro civil em Cartório saia caro e a viagem para o Município de São Bento era muito difícil. Por essa razão, quando tinha a possibilidade de pedir ajuda a algum candidato a Prefeito ou vereador e conseguia a ajuda ela tirava as certidões de nascimento dos filhos.

Todos os filhos tinham a obrigação desde cedo de ajudar o (s) pai (s) ora na roça, ora nos afazeres domésticos e na criação dos irmãos menores.

A sua primeira casa foi erguida com muita dificuldade assim como todas naquela época em que hoje é conhecido o “Caminho da frieira”. Colocavam nos quatro cantos os esteios e para cercá-la formando as paredes eram colhidas e abertas as “pindovas brabas” que são conhecidas como palhas verdes, encontradas na mata das famílias das palmas.

De tempos em tempos havia a necessidade de repor algumas dessas palhas que secavam e apodreciam. Para cobrir as casas utilizavam as palhas secas estaladas, ou seja, abertas, os cômodos eram divididos em duas partes, assim sendo: sala e quarto. As duas únicas portas eram fechadas com “mensabas” e não havia janelas. A cozinha fazia-se na sala, suas louças eram escassas, fazendo jus a falta de alimentos e simultaneamente à fome. Enfincada no chão batido da casa havia uma forte estaca de três pontas com um pote que se armazenava água do poço, havia uma panela, um caldeirão, “caiambucas”, cuias feitas de cabaças que serviam de pratos e colheres na contagem exata com números de pessoas e ao meio diversas redes penduradas nos esteios de ponta-a-ponta.

Aprendera a “sacudir barriga” de mulheres grávidas, ou seja, ‘mexia’ na barriga para ver a posição dos fetos, tamanhos, data do possível nascimento e foi parteira algumas vezes também.

Raimunda viveu por 81 anos (03/05/2015), era vigorosamente protestante e sem dúvidas uma mulher virtuosa, que dedicou sua vida em prol dos seus filhos. Lutou contra a pobreza extrema há mais de seis décadas de sua existência e só depois de se aposentar pelo Sindicato dos trabalhadores rurais que conseguiu construir uma casa de barro para morar.

Esta é uma singela homenagem a esta mulher guerreira, que com seus braços nus ajudou de alguma forma erguer a cidade de Peri-Mirim e/ou contribuiu para o seu crescimento. Em reconhecimento às suas lutas, grandeza e valor a esta verdadeira filha de Peri-Mirim demonstro aqui a minha eterna saudade e gratidão.

Jarinila Pereira Campos

Patrona da Cadeira nº 11, ocupada por Adelaide Pereira Mendes. Nasceu no dia 28 de maio de 1929, no Município de Peri-Mirim-MA, nasceu uma linda menina que recebeu o nome de Jarinila, filha de Benedito Pereira e Sebastiana Gomes de Castro Pereira, teve quatro irmãos e três irmãs. Aos seis anos de idade, foi para companhia de seus pais adotivos Sr. Raimundo Leocádio Corrêa e Florinda Castro Alves Corrêa, os quais faleceram em 1978 e 1979. Foi alfabetizada em casa pelos seus pais adotivos e, do 1º ao 5º ano – antigo primário, cursou na cidade de São Bento, na Escola Paroquial, sob a direção da professora Luciana Ramos Batista.

Depois que término do seu primário em 1945, deixou de estudar cinco anos por falta de condições financeiras de seus pais adotivos e, durante esse período, trabalhou como Professora Leiga na referida cidade de “São Bento”. Em 1950 foi para São Luís em companhia de seus pais adotivos a fim de continuar seus estudos mesmo com muito sacrifício. Nesse mesmo ano começou a trabalhar durante o dia no Laboratório Jesus, à noite iniciou Curso Ginasial fazendo o Exame de Admissão, a 1ª série no Colégio São Luís, os demais anos, no Liceu Maranhense.

Fez o Normal na Escola Normal, formando-se em 1957. Em 1958 foi nomeada para trabalhar em São José de Ribamar onde lecionou quatro anos no Convento:  depois foi transferida para São Luís, trabalhou no Grupo Escolar Sotero dos Reis. No dia 17 de dezembro de 1963, casou-se com o Sr. Deusdete Gamita Campos, como não foi genitora, o casal decidiu adotar como filho uma criança a qual passou a ser chamado José de Jesus Pereira Campos, que por sua vez estudou e lhe agraciou com os seguintes netos: Romário Willian Amorim Campos, Deusdete Gamita Campos Neto, Maria Elis Campos e Jhonatan Silva Melo.

 Removida para sua terra natal como Professora trabalhou no Grupo Escolar “Carneiro de Freitas”, turno matutino. Em fevereiro de 1977, foi chamada e enquadrada como Professora de 1º Grau, Classe A – referência I. Desde a fundação (1968) do Ginásio Bandeirante ela exerceu duas funções: de Diretora e Professora até 1980 quando foi extinto e emancipado para a Instituição Roquete Pinto (CEMA).  Com a extinção dessa Unidade de Ensino, foi contratada para trabalhar no Supletivo o 1º grau à noite exercendo a função de Diretora.

Em 1979 foi convidada pelo Secretário de Educação para fazer o Vestibular da FESMA com a finalidade de uma Licenciatura Curta em Pedagogia e Administração Escolar. Foi aprovada, e no dia 25 de janeiro do mesmo ano ingressou na Faculdade de Caxias, concluindo e colando Grau no dia 02 de maio de 1980. No dia 26 de dezembro do mesmo ano foi transferida de cargo, assumindo área de Administração Escolar, classe A, referência VII. Durante esses períodos de atividades nunca deixou de se qualificar participando de seminários, cursos e outros eventos.

Fez os seguintes Cursos:

Diretores de Ensino Médio de 1º a 10 /07/1968 – 70 horas.

Matemática Moderna de 08 /01 a 03/02/1968 – 150 horas.

Formação Pedagógica de 1º a 31 /06/1969 – 200 horas.

Ensino Global de 06/01 a 01 /02/1969.

Treinamento de Liderança de 26 a 30 /12/1971 de 1º a 10 /07/1968 – 70 horas.

III encontro de Unidades Bandeirantes de 10 a 12 /127/1975 – 24 horas.

III Encontro Livros Didáticos de 13 a 15 /12/1976 – 24 horas.

Seminário sobre Reforma de Ensino de 25 a 29 /10/1976 – 40 horas.

I Curso de Pessoal de Apoio de 08 a 10 /09/1976- 24 horas.

Curso Formação Religiosa de 02 a 07 /02/1976- 36 horas.

Seminário para Diretores de Unidade Bandeirantes de 28/11 a 02 /12/1977-40 horas.

Curso de Atualização em Avaliação e Planejamento de 20 a 24 /06/1977-40 horas.

V Encontro Livro Didático de 25 a 27/09/1979-24 de 28/11 a 02 /12/1979-40 horas.

Curso de Aperfeiçoamento de Professores de 5º a 8ª série de 13 a 31/07/1978.

Porém, a nossa vida é uma dádiva de Deus, então nos lembramos deste como exemplo de mulher, esposa, e Mãe, ensinou não só o seu filho como tantas e tantas crianças a seguir no caminho certo, digno e verdadeiro, enquanto pôde, foram incapazes de baixa os braços, a cabeça para a luta que Deus lhe ofereceu, mulher com princípios fortes, tratamento especial para todos. Faleceu no dia 18 de junho de 2015, deixando seu legado que muito contribuiu para nossa Cidade e para os cidadãos Perimirienses  Dona: Jarinila Pereira Campos tinha uma habilidade ímpar de lidar com as pessoas.

Júlia Silva

Patrono da Cadeira nº 27 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Elinalva de Jesus Campos. Natural do município de Peri-Mirim, nascida no dia 28 de julho de 1919. Filha do casal Águida Botão Silva e Luís Silva. Seus pais a criaram no povoado chamado Serra hoje considerado um local extinto devido a migração de seus moradores para outros locais em busca de melhores condições de vida.

Júlia ficou conhecida popularmente como “Júlia da Serra”, titularidade adquirida devido ao local onde residia. Familiares acreditam que em 1959 aos 40 anos de idade ela migrou com sua família para o centro da cidade saindo do povoado que ficava a quatro quilômetros de distância e foi formado por integrantes de uma mesma família, após sua mudança para o centro e com a extinção de seu povoado, Júlia passou a ser referência no município como fonte de saber e informações sobre essa localidade.

A família da Dona Júlia era devota de Santa Terezinha por ser a santa que sua comunidade celebrava e festejava e assim como as pessoas de lá se deslocaram para outros locais com eles também saíram, costumes e tradições como a festividade religiosa que teve acompanhamento da missão canadense e que hoje é celebrada pela comunidade Campo de Pouso, pois é nessa capela que a Santa Terezinha trazida pelos moradores é festejada seguindo uma tradição que sobreviveu ao tempo e a extinção de muitas lembranças.

Júlia da Serra não foi alfabetizada e sempre trabalhou no cultivo da terra, ou seja, era lavradora, além do serviço braçal na roça fazia também suas atividades domésticas e cuidava de sua família. Ela nunca foi casada e teve quatro filhas dedicando seu tempo livre para educá-las.

Suas filhas são oriundas de relações diferentes: Marilda (in memoriam) e Matilde são filhas do seu Osvaldo; Maria de Jesus e Domingas são filhas de Raul Mendes. Após crescerem e construírem família duas delas permaneceram na cidade e outras duas fixaram morada em São Luís capital do Maranhão.

De suas filhas a Dona Júlia ganhou dezesseis netos que são; Maria Lucinda, Claudenice, Carlos, Claudinel, Claudia Regina (in memoriam), Claudilene, Claudenir, Jailton, Edmundo Filho (in memoriam), Edmeyre, Jerferson, Poliana, Paloma, Elieide, Silvancilda e Edglébson. Netos estes pelos quais a avó possui afeto e um carinho enorme vivendo sempre rodeada de muito amor e cuidados.

Além dos netos, Júlia tem os seguintes bisnetos: Kedson, Rhayanne, Jhonata, Ana Carolina, Paulo Henrique, Carla, Kauany, Junior, Agatha Carolina, Alice Sofia, Jailton Júnior, Iara, Rebeca, Isabela, Ana Lívia, Rafael, Thamyla, Sâmilla, Caio Nohan, Cássio, Margarida, Kerllyson e Kelly. Tem nove tataranetos, Rhayk, Kayla, Yamilla, Enzo, Ana Julia, Maria Clara, Maria Eduarda (in memoriam), Pedro Kauã e Dhyovana.

No livro Curiosidades Históricas de Peri-Mirim, o autor fala um pouco de Júlia e de seu povoado do qual carinhosamente recebeu seu apelido.  Ela faleceu em 01 de julho de 2015 com seus 96 anos.

Edmilson Ferreira Ribeiro

Patrono da Cadeira nº 22 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Liliene da Glória Costa Ferreira. Filho de Clovis da Silva Ribeiro e Valeriana Ferreira Ribeiro, natural de Peri- Mirim/MA, nasceu em 29 de Agosto de 1945.

Aos 4 anos de idade mudou-se para Pericumã, juntamente com seus familiares. Aos 7 anos de idade iniciou seus estudos na Escola Urbano Santos, com a professora Helena Ribeiro, sua tia. Aos 10 anos e idade deu continuidade aos seus estudos na sede onde concluiu o 5º ano na Escola “Carneiro de Freitas”, durante todo esse período, sua família continuou morando no Pericumã, onde o mesmo  ajudava seu pai no comércio, criação de animais, plantio de bananas, colheita de babaçu dentre outros para o sustento da família.

Em 1965, voltaram a morar no Centro da cidade, onde continuaram com a comercialização para atender as necessidades básicas da família. Na época, o jovem Edmilson Ribeiro ainda iniciou um curso por correspondência (Daltro), para concluir o Ginásio, o jovem supracitado trazia consigo o desejo de ajudar a sociedade perimiriense, foi incansável nessa luta, fez a diferença na cidade de Peri-Mirim, pois foi incansável e jamais desistiu de seus objetivos. Observando a situação precária da população do referido município, iniciou sua carreira política com vitória garantida para o cargo de Vereador no ano de 1972, numa legislatura que se iniciou em 1973-1976, momento histórico onde não havia renumeração para essa função, mesmo assim o Edmilson Ribeiro não mediu esforços em busca de um novo tempo, de uma sociedade mais justa e igualitária, sendo assim, esse digníssimo cidadão e representante da sociedade lutou por uma educação de qualidade, melhorias na saúde, nas estradas, deixando assim um legado para a nossa sociedade a partir de suas contribuições sociais.

Após seu primeiro mandato tentou continuar na política, porém, no momento não foi bem sucedido, após ter se passado um tempo e em 1992, foi eleito vereador para pleito de 1993-1997. Durante o pleito realizou mais de vinte ações legislativas tornando-se desde sua emancipação a município, Peri-Mirim a mais atuante, destacando-se dentre outros: Projeto de Lei, constituindo-se o Conselho Municipal de Saúde; Lei de Complemento à Educação, incluindo os portadores de necessidades especiais; Lei da Agricultura, responsabilizando a prefeitura com apoio financeiro e técnico. Foi responsável por importantes indicações: construção da praça São Sebastião, asfaltamento do ramal da Boca do Campo, estradas e pontes de Inambu a Palmeirândia, construção de postos de saúde e escolas em vários povoados e reformas significativas, iluminação pública e abastecimento de água. Cabe ressaltar que das 902 das Leis aprovadas foram de sua autoria como versa em seu memorial.

Suas atribuições não pararam por aí, em 1984, Edmilson Ribeiro destacou-se quando assumiu a liga de esportes do município, bons campeonatos até montar uma das melhores seleções do momento, consequentemente, obteve os melhores resultados, sendo campeões respectivamente: 1985- “Juventude” (sede); em 1986- “União” (Portinho); 1987- “Botafogo” – (Inambu). Nesse mesmo período, assumiu a presidência da comissão da igreja São Sebastião, que, segundos relatos escritos passava por um momento de desmotivação. Com sua humildade, coragem e comprometimento com a obra de Deus o Sr. Edmilson Ribeiro bastante popular no meio social qual estava inserido, conseguiu elevar o ânimo dos fiéis, dando-lhes incentivos e promovendo atrações aos festejos de São Sebastião o qual é considerado o padroeiro da cidade.

No período de três anos conseguiu muitos benefícios para a igreja, dentre estes a reforma desde a cor da Praça até o alto da igreja. O mesmo criou um livro que tinha como objetivo prestar contas do arrecadado ao aplicado, teve uma grande representação e prestígio para a Igreja Católica, visto às suas contribuições para o crescimento desta, que se destacou notadamente pela sociedade religiosa apostólica romana.

No campo profissional o biografado destacou-se na saúde, com participação em Congressos e Conferências, diretor do Posto de Saúde Santa Tereza, no Centro, entre 1989 a 1993. Em 1994 -1996, atuou coo secretário de Saúde, nomeado pelo então prefeito Vilásio Pereira, onde desenvolveu  várias ações, destacando-se um profissional lícito, fez junto à sua equipe, um grande trabalho de atendimento e prevenção, ressaltando não houve nenhum óbito por negligência, atuou ainda no tratamento da Hanseníase, uma doença muito temida pela população, inclusive atendendo  pessoas dos município circunvizinhos, dando-lhes uma nova perspectiva de vida diante do tão terrível preconceito que sofriam.

Em 1997 mudou-se para a capital São Luís em busca de melhores condições de vida para seus filhos, sua família, e transferido por conveniência para o posto de saúde Genésio Rego na Vila Palmeira e no Posto e Saúde Central (municipal), onde prestava serviço com o mesmo amor e dedicação, primando pela qualidade, confortando a todos que o procuravam, pois seu lema é ” servir o público e ser útil ao maior número de pessoas”.

Ainda é muito forte a lembrança de todos que acompanharam seus passo a passo, sua família, seus amigos, compadres e sua extensa lista de afilhados.

Estava próximo em requerer sua aposentadoria e o seu projeto seria voltar para sua terra natal, dar continuidade a sua história, agora alicerçada e acompanhada por outras pessoas que, direta ou indiretamente fazem parte de todo contexto, pois tinha como centro de sua religiosidade e de sua vida o primeiro e o segundo mandamento da Lei de Deus: Amar a Deus sobre todos as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Mas, de repente, em 12 de maio de 2011, nos chega a notícia: Edmílson faleceu! Nesse momento, as palavras se empobrecem porque não dá para transmitir tudo o que está cheio o nosso coração. O chão parece que se abre debaixo dos nossos pés e nos traga. Ficamos zonzos. Não se trata de um sonho ou de um pesadelo. É triste, mas verdadeira realidade.

Sempre imaginamos a possibilidade da morte de outro, como se ela nunca chegasse para nós. E, de repente, perdemos um ente querido, ficamos privados de sua presença física no meio de nós. Nessa hora, precisamos de gente que nos saiba ouvir e assim como Jesus chorou na morte de Lázaro, não nos envergonha chorar, sofrer, pois Deus não está indiferente às nossas lágrimas ele também sabe o que é sofrer.

Este é um registro de alguns momentos da história de vida de Edmílson Ribeiro, Missinho, para os mais íntimos, que viveram juntos. Já que, nada pode ser mudado, desfeito ou refeito, pensemos nas coisas boas feitas por ele e agradeçamos por estes momentos tão preciosos! Temos certeza que parte do que somos hoje é a soma deste relacionamento: mais maduros, completos, vemos a vida de outra maneira, pois Deus estava em cada uma delas!  (Palavras contidas no memorial produzido pela família do patrono Edmilson Ferreira Ribeiro), o qual foi o maior referencial de pesquisa para produção desta Biografia.

Maria Isabel Martins Nunes

Patrona da Cadeira nº 14 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense, ocupada por Eni do Rosario Pereira Amorim. Nasceu em 15 de abril os de 1892, no povoado chamado Feijoal no município de Peri-Mirim-MA. Filha de João de Deus Martins (Dedeus) e Maria Rosa Pinheiro Martins (Mãe Cota). Foi Lavradora, doméstica, arteira leiga. Maria Isabel Martins casou-se aos dezenove anos com Domingos Nunes, ficando então seu nome Maria Isabel Martins Nunes, se mudando então do Feijoal para a comunidade onde seu marido morava, que mais tarde veio a se chamar Santana dos Nunes, localidade formada principalmente pela família dos Nunes e dos Silvas.

Era uma mulher franzina fisicamente, mas tinha um forte espírito de liderança, usava vestidos longos, nos cabelos um cocó no qual colocava uma estrela (flor muito cheirosa do seu jardim).

Uma marca muito forte na Isabel era a “partilha”, tudo o que ela tinha era partilhado com outras pessoas, talvez por isso, nunca faltava nada em sua casa, principalmente gêneros alimentícios; Ela tinha um “baú” onde guardava tudo o que lhe era especial, algo assim como a “canastrinha” da Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo, e a cada visita que recebia ela sempre tinha algo a lhe oferecer, algum “mimo” que tirava do seu baú: frutas, ovos, bombons, chocolates, farinha etc…

A casa de Isabel sempre teve as portas abertas para a comunidade, abrigava: amigos, vizinhos, visitantes, forasteiros, ciganos em passagem pela comunidade e até saltimbancos que faziam seus espetáculos na varanda da sua casa. Ela tinha o hábito de fazer bastante comida, porque ela sabia que sempre chegaria algum visitante, e este não podia sair sem se alimentar.

Na fotografia de destaque, é possível visualizar o perfil de Maria Isabel, liderança importante para a implantação da Comunidade de Santana e o surgimento dos festejos de Sant`Ana na comunidade.

Maria Isabel era muito religiosa, segundo relatos de alguns moradores, dizia-se que “ela tinha uma fé inabalável”. Ela fez promessa a Sant’Ana para engravidar. Comenta-se que durante suas gestações, Isabel se apegava a essa Santa para lhe ajudar e lhe conceder sempre um bom parto.

Isabel teve 12 (doze) filhos gerados e protegidos por sua Santa protetora. Seus filhos Legítimos: Joanita Nunes Pereira, Terezinha de Jesus Nunes Pereira, Edna Nunes Gamita, Maria José Nunes Silva, Maria Rosa Martins Nunes, Adotino Martins Nunes, Izidório Martins Nunes, Raimundo Martins Nunes, José Martins Nunes, Emanoel Martins Nunes, João Martins Nunes, Domingos Sebastião Martins Nunes. Filhos Adotivos: Inacia Rosa Pereira e Magnaldo Amorim.

A gestação da prole de filhos e filhas contribuiu significativamente para a devoção e admiração de Isabel por Santa Ana. Para agradecer a proteção e as bênçãos concebidas por intermédio da Santa, ela começou a organizar, no ano de 1939, as novenas e as ladainhas em louvor a Santa Ana.

O novenário e as ladainhas aconteciam durante nove noites em sua residência. No início das festividades, as ladainhas começavam somente com a presença da família e vizinhos, mas ao longo dos anos foi tomando uma proporção maior e novos visitantes passaram a frequentar o festejo em louvor a Santa Ana, que se homenageia em  26 de julho.

Isabel Martins Nunes, além de fazer novenário para Santa Ana, organizava também, no dia 13 de junho, ladainha para Santo Antônio, porém com menos intensidade. Atualmente, duas de suas filhas Terezinha Nunes e Edna Gamita fazem as novenas para Santo Antônio em suas casas Edna Nunes em São Luís-MA e Teresinha de Jesus na varanda de sua residência, no centro da cidade em Peri-Mirim.

As orações de Isabel não aconteciam só uma vez ao ano, todas as noites ela se reunia na sala de sua casa para rezar com sua família. Uma de suas filhas, Terezinha de Jesus Nunes, relatou que sua mãe tinha sonhos com orações. Conforme seu depoimento: “Às vezes durante a noite mamãe tinha sonhos onde ela se via fazendo orações e assim que acordava não importava a hora ela saia chamando seus filhos e todos que estavam em casa para escreverem a oração que ela tinha sonhado e para juntos rezarmos.”

Essas orações eram feitas em momentos com a família, nos festejos ou quando a procuravam solicitando orações. Foi assim que Isabel construiu uma família muito religiosa. Na casa, havia uma mensaba, na qual todas as noites, reunia os filhos; todos se colocavam de joelhos com as mãos postas para juntas rezarem o terço e agradecer pelo dia concebido por Deus.

Outro momento forte era a hora do almoço, momento mais sagrado do dia para a família, pois todos iam para a mesa e novamente se colocavam de joelhos para agradecer pelo alimento de cada dia, e assim a cena se repetia dia após dia.

Domingos, seu esposo, ficava responsável pelas orações da Sexta-feira Santa. Nesse dia, era ele quem dirigia as orações. Segundo os relatos da família, ele tentava reproduzir do jeito que Jesus fez na Santa Ceia, rezava e depois se alimentavam, não só com alimentos para o corpo, mas também com orações que traduziam-se em sustento para a alma.

A comunidade admirava a fé de Isabel e iam até ela sempre que precisavam de orações, pois como dizia o povo: “Dona Isabel pede e a Santa atende…”. Essa admiração era tão grande que naquela época era comum quando as mulheres estavam com dores do parto de seus filhos, os familiares saíam em busca de parteiras e também dela, pois enquanto a parteira fazia seu serviço de ajudar a mulher a ter a criança, Isabel ficava no cantinho rezando e pedindo proteção para que tudo ocorresse bem, tanto para a mãe como para o filho que estava chegando.

As pessoas acreditavam no poder das orações de Isabel. Muitas vezes iam até ela levando crianças, jovens e até adultos para que ela fizesse orações e os benzesse. Esses benzimentos eram feitos por meio de suas orações e através de sua fervorosa fé.

Os gestos de Isabel demostravam seu jeito simples e carinhoso de viver, No sitio onde foi sua morada existem muitas árvores frutíferas e plantas medicinais. Ela na sua iluminação divina produzia remédios naturais que curavam várias doenças (lambedor excelente para expectoração de catarro, vermes, erisipela, cobreiro, gripes em geral, dores de barriga…) tudo produzido pelas plantas medicinais da sua horta.

Isabel era semiletrada e a única coisa que aprendeu a escrever foi o seu nome, mas era dona de uma sabedoria única, sua solidariedade não tinha tamanho e nem preço, estava sempre pronta para servir a hora que precisassem e, muitas vezes, deixava de fazer suas atividades pessoais para ir ajudar o próximo. Contribuiu significativamente para construção da Comunidade de Santa Ana.

Os anos se passavam e ela seguia firme sua caminhada de Fé. Ela presenciou, segundo as narrativas, um momento histórico para o povo, que foi a emancipação do município de Peri-Mirim; festas, bailes e todas as comemorações que foram feitas em honra as conquistas do povo perimiriense em razão de sua nova condição. Em 1919, a Vila de Macapá foi declarada município pela Lei nº 850 de 31 de março de 1919. O povo se organizou e fez uma grande festa no dia 07 de agosto do mesmo ano para comemorar sua emancipação.

Quando Deus a chamou de volta ao seu regaço, subiu como um raio de sol, iluminada pelo bem que praticou aqui na terra, deixando na sua trajetória de vida, um rastro de bondade, solidariedade, humildade e fortaleza a ser seguido por quem conviveu com ela.  Faleceu de morte natural em 24 de fevereiro de 1989, estava rezando na rede e foi deitando devagarinho e se apagando como uma vela, assim foi o seu ultimo momento neste plano material.

ALCAP: DISCURSO DA PRESIDENTE NA POSSE DOS ACADÊMICOS

Por Eni Amorim

Boa noite!

Saúdo a todos: Autoridades aqui presentes, visitantes, acadêmicos e acadêmicas, amigos da academia simpatizantes, familiares, convidados e comunidade em geral

Primeiramente agradeço a Deus, arquiteto do universo e Senhor Todo Poderoso por este momento singular na minha vida, em nossas vidas.  À minha família que sempre acreditou no meu potencial e aos amigos que sempre me incentivaram a perseguir os meus sonhos…

Como filha de Peri-Mirim, tenho a graça de ter nascido sobre as bênçãos do Santo Guerreiro São Sebastião, esse Santo que pela crença do seu povo, perscruta e protege nossa cidade das aflições, da fome, da peste e das guerras, sustentado pelas bênçãos do Deus Todo Poderoso que nos dá o espírito de Fortaleza para que a exemplo de São Sebastião, vosso Glorioso Mártir, possamos aprender com ele a obedecer mais a Deus do que aos homens.

Apraz-me sobremaneira neste momento, por fazer parte deste seleto grupo de destacados Perimirienses que constituem nossa Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense. Sinto-me honrada em estar nesse meio de saudável convivência com todos vocês, confrades e confreiras e assim podermos compartilhar experiências no Largo campo das Letras, ciências e artes interligados nos saberes de nossa gente.

Para quem não sabe, o termo Academia tem sua origem na Grécia em torno do século terceiro antes de Cristo quando Platão passou a reunir pensadores que discutiam questões filosóficas em um local chamado Jardins de Akademus (herói ateniense), o grupo passou a ser conhecido por academia; atualmente quando nos referimos genericamente a academia estamos nos referindo ao sistema educacional e ao meio intelectual como um todo.

A Academia Perimiriense, no artigo primeiro de seu estatuto preconiza o desenvolvimento da Cultura, a defesa do patrimônio cultural do município, intercâmbio com instituições congêneres e funcionará em conformidade com as normas de seu estatuto e Regimento. Espera-se que cada um de nós faça apenas o que a academia propõe que seja feito, que cada um de nós torne-se aquele pequeno Colibri Compreendendo sua parte no mundo, então, a academia produzirá os frutos que se espera dela, que seja um emblema forte, admirado e envaidecedor dos bons Perimirienses.

Há muito a fazer, é preciso ousar, sonhar, crer no talento inabalável, intrínseco dos que nasceram, dos que cresceram neste privilegiado solo. É gratificante sentir a energia do poder místico, contagiante, acrisolado que circunda nossos Verdes Campos e que azuleja o nosso céu de azul anil.

Nessa noite de magia, sinto o frescor da brisa da noite acariciando o meu coração, traduzido nas lembranças da minha doce infância: o cheiro dos jamaris florescendo na beira do  campo, dos passeios de Canoa, o enlevo do toque do Sino da igreja matriz, o sabor dos doces de espécie da tia Babica, o café torrado com erva doce e os filhoses de tapioca assado no azeite de coco na casa da bisavó, (minha patrona Maria Isabel Martins Nunes), do sabor da jabiraca cozida ao leite de coco, o arroz de Jaçanã, o queijo chegando quentinho da Fazenda, o toque de caixa das festas do divino Espírito Santo, o espocar dos foguetes nos festejos de São Sebastião, o tambor de crioula nas noites de São João, o grasnar dos marrecos, japiaçocas e jaçanãs, os banhos de rios, os quitutes da mamãe, a magia e a singeleza da minha terra querida.

Não poderia deixar de citar aqui a minha família na pessoa de meu pai Jair Amorim (in memorian), que foi; Carpinteiro, lavrador, pescador, caçador… Minha mãe Inacia Pereira Amorim que foi costureira, redeira, lavradora, doméstica, vendedora de pastel, de cocada, de bolos, e de suquinhos; os dois juntos exerciam uma multidisciplinaridade de tarefas  para ajudar no sustento da casa e dos seus seis filhos; Meus irmãos: Laurijane, conhecida por Nita, Jair filho (Jacolino-Jacó ou Jacó-bala), Silvia, conhecida por Cici, Cristina Maria e Evandro ( Vanvando). Essa é a minha base, na qual eu aprendi, os primeiros passos para ser quem eu sou, aprendi a ser tolerante, a amar e a perdoar e a perceber o meu lugar no mundo.

Agradeço grandemente ao Fórum em Defesa da Baixada Maranhense (FDBM) que desenvolve esse belo projeto denominado “Academias na Baixada”, cujo gestor é o Professor da UFMA, Manoel Barros, e principalmente à Ana Creusa Martins que foi a idealizadora na missão de provocar o despertar para a criação da Academia, que tem como meta a divulgação de todos que contribuem com a cultura e a história do município.

Na oportunidade, lembramos personagens que fizeram e fazem parte da história deste município, como o saudoso professor João Garcia Furtado quem, na memória de muitos, batizou Peri-Mirim como a “Metrópole da cultura brasileira”, além dele, citamos outros personagens: Naisa Amorim ( Patrona da Academia), Venceslau Pereira, Carlos Pique (Aqui presente), Santiago, Padre Gérard Gagnon, Flávio Braga, Antônio João França Pereira, Francisco Viegas, Abacaxé, Vavá Melo, Maria Rosa Gomes, Isabel Martins Nunes e tantos outros que contribuíram e que ainda contribuem com a história do município.

E, para encerrar a minha fala quero declamar um poema da minha autoria, intitulado, Teares.

Teares

 

Os teares que construíram a minha história,

Teceram as tramas do tecido,

Nos moldes dos meus antepassados;

Nesse conjunto biológico de células,

Compostos orgânicos de moléculas,

Mistura genética de meu pai e minha mãe,

Textura dos meus textos;

Contextos;

Engenhosidade rústica,

Uma Trama que me fez única,

Singular;

Entre milhões de DNA’s do planeta;

Doce como mel,

Ou,

Amarga como o Fel.

Às vezes deserto,

outras vezes Oasis,

Às vezes forte,

Às vezes frágil;

Às vezes lenta,

Às vezes ágil;

E,

Nessa arte de tecer:

Em cada ponto,

Em cada conto;

Erros;

Acertos.

Em cada fio entrelaçado,

ora aparente,

Ora escondido,

Dentro de mim,

Vou aprendendo…

Fazer-me,

E refazer-me,

Continuamente….

E assim,

Tecendo os meus caminhos,

Vou aprendendo que:

Nas tessituras da vida,

Apesar dos meus remendos…

… Ainda estou em construção…

Muito Obrigada!