As pessoas constroem em torno de si seus espaços de existência, com suas singularidades, porém nunca sozinhas. Para o bem ou para o mal, constroem com outras pessoas, semelhantes ou não, o legado da vida e das suas circunstâncias.
Existem pessoas com exemplo de vida a serem compartilhados por seguidas gerações, não pelo que agregaram ao seu patrimônio individual de natureza econômica ou material, mas pelo que dividiram de virtudes e sabedoria com os outros seres humanos que se dignaram a fazer parte do círculo de suas participações nos diferentes lugares de exercício de suas atividades profissionais e da vivência diária em suas próprias comunidades.
De Peri-Mirim para o mundo, nos fins da primeira metade do século passado, da união matrimonial de dois lavradores – seu José dos Santos e dona Maria Amélia – nascia uma menina, como tantas outras de uma família de dez irmãos, destinada a ser mais uma dentre milhões de crianças brasileiras nascidas na roça; nordestina, acometida de saúde precária, por conta dos surtos constantes de asma, que não lhe conferiam muita esperança de uma infância feliz e muito menos de um futuro diferente dos seus pares.
Contradizendo as circunstâncias adversas, essa menina, Ana, não apenas sobreviveu às dificuldades interioranas da pobreza comum aos municípios da Baixada Maranhense, como concluiu os estudos no Ginásio Bandeirante, o máximo que era permitido à época pela rede de ensino de Peri- Mirim.
Não conformada com essa conquista inicial, Ana partiu para enfrentar novos desafios na capital, prestando exames de admissão para o ingresso no ensino médio do Colégio Gonçalves Dias, e daí para uma jornada profissional e acadêmica que, resumindo, resultou na conclusão de dois cursos superiores, Ciências Contábeis e Direito, ambos pela Universidade Federal do Maranhão.
Paralelamente ao processo de formação, inaugura uma trajetória vitoriosa de acesso a variados cargos públicos, que se inicia no extinto SIOGE e prossegue pelo Ministério do Trabalho, Correios, Auditoria dos estados do Piauí, Rondônia e Maranhão, incluindo uma passagem pelo cargo de analista de controle do Tribunal de Contas da União, e culminando com a investidura no cargo de Auditora-Fiscal da Receita Federal do Brasil. Com exceção do primeiro, todos os demais sob o difícil crivo do concurso público.
Ana Creusa Martins dos Santos é o nome completo da personagem do artigo desta semana; um nome que com certeza não faz parte das colunas noticiosas ou do repertório de matérias sensacionalistas, ou mesmo dos destaques de personalidades do mundo político ou intelectual tão badalado pela imprensa do Maranhão.
Porém, para nós, colegas da Receita Federal do Brasil, que tivemos a honra de comungar por muitos anos da sua solidariedade funcional e competência técnica, um exemplo de dignidade, de pessoa humana que vai deixar uma imensa lacuna no serviço público federal brasileiro. Com todas as letras, e sem medo de errar, um dos melhores e mais capacitados quadros das assim denominadas carreiras de estado, integrantes do Ministério da Fazenda.
Nesta última sexta-feira, 13 de setembro de 2013, Ana completou o que ela mesma chama de mais um ciclo, dos muitos que a vida lhe proporcionou, aposentando-se do serviço público, após uma gloriosa e impecável carreira, cercada de grandes contribuições aos processos e procedimentos referentes à arrecadação e acompanhamento de ações administrativas e judiciais no campo tributário.
Numa cerimônia simples, como quase tudo que aconteceu e acontece em sua vida, realizada no quarto andar do imponente prédio do edifício-sede dos órgãos do Ministério da Fazenda no Maranhão, localizado no Canto da Fabril, Ana recebeu as merecidas homenagens de seus colegas pelo conjunto da obra e serviços prestados às instituições públicas por onde passou.
Ainda teve espaço e tempo para nos brindar com um agradecimento especial por tudo aquilo que o Estado lhe proporcionou, por meio da formação integral nos bancos de escolas públicas, manifestando a sua vontade de retribuir, dentro de suas novas possibilidades de tempo e dedicação, no pagamento da grande dívida social que ainda gera tantas desigualdades na sociedade maranhense e brasileira.
Deixa em nossos corações e mentes uma mensagem bastante simbólica e significativa, avisando que permanecerá engrossando as fileiras do combate às desigualdades e às injustiças sociais, como a dar alcance e sentido aos versos do poeta Thiago de Mello: “Não tenho um caminho novo. O que tenho de novo é um jeito de caminhar”, Só podemos lhe desejar sucesso nos caminhos novos, com seu jeito sutil de saber sempre caminhar pelas veredas retas da vida.
Texto de Joãozinho Ribeiro, pulicado no Livro ECOS DA BAIXADA, páginas 17/20.