ALCAP: DISCURSO DA PRESIDENTE NA POSSE DOS ACADÊMICOS

Por Eni Amorim

Boa noite!

Saúdo a todos: Autoridades aqui presentes, visitantes, acadêmicos e acadêmicas, amigos da academia simpatizantes, familiares, convidados e comunidade em geral

Primeiramente agradeço a Deus, arquiteto do universo e Senhor Todo Poderoso por este momento singular na minha vida, em nossas vidas.  À minha família que sempre acreditou no meu potencial e aos amigos que sempre me incentivaram a perseguir os meus sonhos…

Como filha de Peri-Mirim, tenho a graça de ter nascido sobre as bênçãos do Santo Guerreiro São Sebastião, esse Santo que pela crença do seu povo, perscruta e protege nossa cidade das aflições, da fome, da peste e das guerras, sustentado pelas bênçãos do Deus Todo Poderoso que nos dá o espírito de Fortaleza para que a exemplo de São Sebastião, vosso Glorioso Mártir, possamos aprender com ele a obedecer mais a Deus do que aos homens.

Apraz-me sobremaneira neste momento, por fazer parte deste seleto grupo de destacados Perimirienses que constituem nossa Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense. Sinto-me honrada em estar nesse meio de saudável convivência com todos vocês, confrades e confreiras e assim podermos compartilhar experiências no Largo campo das Letras, ciências e artes interligados nos saberes de nossa gente.

Para quem não sabe, o termo Academia tem sua origem na Grécia em torno do século terceiro antes de Cristo quando Platão passou a reunir pensadores que discutiam questões filosóficas em um local chamado Jardins de Akademus (herói ateniense), o grupo passou a ser conhecido por academia; atualmente quando nos referimos genericamente a academia estamos nos referindo ao sistema educacional e ao meio intelectual como um todo.

A Academia Perimiriense, no artigo primeiro de seu estatuto preconiza o desenvolvimento da Cultura, a defesa do patrimônio cultural do município, intercâmbio com instituições congêneres e funcionará em conformidade com as normas de seu estatuto e Regimento. Espera-se que cada um de nós faça apenas o que a academia propõe que seja feito, que cada um de nós torne-se aquele pequeno Colibri Compreendendo sua parte no mundo, então, a academia produzirá os frutos que se espera dela, que seja um emblema forte, admirado e envaidecedor dos bons Perimirienses.

Há muito a fazer, é preciso ousar, sonhar, crer no talento inabalável, intrínseco dos que nasceram, dos que cresceram neste privilegiado solo. É gratificante sentir a energia do poder místico, contagiante, acrisolado que circunda nossos Verdes Campos e que azuleja o nosso céu de azul anil.

Nessa noite de magia, sinto o frescor da brisa da noite acariciando o meu coração, traduzido nas lembranças da minha doce infância: o cheiro dos jamaris florescendo na beira do  campo, dos passeios de Canoa, o enlevo do toque do Sino da igreja matriz, o sabor dos doces de espécie da tia Babica, o café torrado com erva doce e os filhoses de tapioca assado no azeite de coco na casa da bisavó, (minha patrona Maria Isabel Martins Nunes), do sabor da jabiraca cozida ao leite de coco, o arroz de Jaçanã, o queijo chegando quentinho da Fazenda, o toque de caixa das festas do divino Espírito Santo, o espocar dos foguetes nos festejos de São Sebastião, o tambor de crioula nas noites de São João, o grasnar dos marrecos, japiaçocas e jaçanãs, os banhos de rios, os quitutes da mamãe, a magia e a singeleza da minha terra querida.

Não poderia deixar de citar aqui a minha família na pessoa de meu pai Jair Amorim (in memorian), que foi; Carpinteiro, lavrador, pescador, caçador… Minha mãe Inacia Pereira Amorim que foi costureira, redeira, lavradora, doméstica, vendedora de pastel, de cocada, de bolos, e de suquinhos; os dois juntos exerciam uma multidisciplinaridade de tarefas  para ajudar no sustento da casa e dos seus seis filhos; Meus irmãos: Laurijane, conhecida por Nita, Jair filho (Jacolino-Jacó ou Jacó-bala), Silvia, conhecida por Cici, Cristina Maria e Evandro ( Vanvando). Essa é a minha base, na qual eu aprendi, os primeiros passos para ser quem eu sou, aprendi a ser tolerante, a amar e a perdoar e a perceber o meu lugar no mundo.

Agradeço grandemente ao Fórum em Defesa da Baixada Maranhense (FDBM) que desenvolve esse belo projeto denominado “Academias na Baixada”, cujo gestor é o Professor da UFMA, Manoel Barros, e principalmente à Ana Creusa Martins que foi a idealizadora na missão de provocar o despertar para a criação da Academia, que tem como meta a divulgação de todos que contribuem com a cultura e a história do município.

Na oportunidade, lembramos personagens que fizeram e fazem parte da história deste município, como o saudoso professor João Garcia Furtado quem, na memória de muitos, batizou Peri-Mirim como a “Metrópole da cultura brasileira”, além dele, citamos outros personagens: Naisa Amorim ( Patrona da Academia), Venceslau Pereira, Carlos Pique (Aqui presente), Santiago, Padre Gérard Gagnon, Flávio Braga, Antônio João França Pereira, Francisco Viegas, Abacaxé, Vavá Melo, Maria Rosa Gomes, Isabel Martins Nunes e tantos outros que contribuíram e que ainda contribuem com a história do município.

E, para encerrar a minha fala quero declamar um poema da minha autoria, intitulado, Teares.

Teares

 

Os teares que construíram a minha história,

Teceram as tramas do tecido,

Nos moldes dos meus antepassados;

Nesse conjunto biológico de células,

Compostos orgânicos de moléculas,

Mistura genética de meu pai e minha mãe,

Textura dos meus textos;

Contextos;

Engenhosidade rústica,

Uma Trama que me fez única,

Singular;

Entre milhões de DNA’s do planeta;

Doce como mel,

Ou,

Amarga como o Fel.

Às vezes deserto,

outras vezes Oasis,

Às vezes forte,

Às vezes frágil;

Às vezes lenta,

Às vezes ágil;

E,

Nessa arte de tecer:

Em cada ponto,

Em cada conto;

Erros;

Acertos.

Em cada fio entrelaçado,

ora aparente,

Ora escondido,

Dentro de mim,

Vou aprendendo…

Fazer-me,

E refazer-me,

Continuamente….

E assim,

Tecendo os meus caminhos,

Vou aprendendo que:

Nas tessituras da vida,

Apesar dos meus remendos…

… Ainda estou em construção…

Muito Obrigada!

 

O LUGAR ONDE VIVO TEM CRIANÇA POETA

RESENHA DO RELATO DE PRÁTICA DA ESCOLA MUNICIPAL “KEILA ABREU MELO” NA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA – 7ª EDIÇÃO. TÍTULO: O LUGAR ONDE VIVO TEM CRIANÇA POETA

 Por Edna Jara Abreu Santos

A Escola Municipal “Keila Abreu Melo”, localizada na Rua Campo de Pouso, s/nº, Peri-Mirim – MA, atende alunos do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental I, deu início ao ano letivo em doze de março de 2021. Sendo que, há um ano as gestões escolares vêm adotando a modalidade de Ensino Remoto de Emergência (ERE) devido à Pandemia do Covid – 19.

Atendendo à solicitação da Secretaria Municipal de Educação, a escola aderiu ao projeto da Olimpíada de Língua Portuguesa – 7ª Edição, inscrevendo os alunos das três turmas do 5º ano na categoria: Poema.

A professora de Língua Portuguesa, Edna Jara Abreu, desenvolveu o tema proposto “O lugar onde vivo” por meio de Planejamentos quinzenais com atividades impressas, vídeos, áudios, tira-dúvidas com os pais de forma virtual e presencial, oficinas e apresentações em Sarau.

A Olimpíada de Língua Portuguesa teve origem no programa Escrevendo o Futuro desenvolvido pela Fundação Itaú Social entre 2002 e 2006, iniciativa do Ministério da Educação. É um concurso de produção de textos para alunos de escolas públicas do Brasil, que visa estimular o interesse pela leitura e escrita. Nesta edição, todos os Estados  aderiram e se inscreveram, sendo que, em todo Maranhão 2.519 escolas estão participando do concurso em diferentes categorias: Poema, Memórias literárias, Crônica, Artigo de opinião e Documentário.

Nesta escola, cinquenta e três alunos fizeram parte do projeto. Apesar dos obstáculos enfrentados como a falta de recursos tecnológicos em casa: celular/computador, do acesso à internet e do transporte, as aulas remotas seguem com entregas quinzenais de atividades impressas, plantões pedagógicos com professores e também orientação via grupo de WhatsApp com pais e alunos que dispõem desta ferramenta.

As primeiras quinzenas do primeiro semestre foram trabalhadas atividades diagnósticas: elaboração de texto narrativo, leitura, compreensão textual, entrevista, elaboração de cartas, ortografia, sílaba tônica, sinais de pontuação, classificação das palavras e separação silábica.

Nas duas últimas quinzenas antes do início das férias (julho), as aulas foram direcionadas ao conceito e composição do poema: rimas, versos, estrofes, métricas e etc., produção e compreensão textual envoltos pela caracterização histórica de Peri-Mirim. Por meio do site oresgate.net.br obteve-se acesso a materiais de poetas da terra como: Diêgo Nunes, Nasaré Silva, Eni Pereira, Ataniêta Martins, Carlos Oliveira, Santiago e etc., da qual foi adaptado e confeccionado atividades ilustradas para a prática da compreensão textual, leitura, complementando assim, com a elaboração das produções preliminares dos discentes.

Nos dias dois e três de agosto, na retomada das aulas após as férias, aconteceram as duas tão aguardadas oficinas. A escola recebeu números reduzidos de alunos, seguindo os protocolos sanitários, no turno matutino e vespertino. Os alunos que compareceram às oficinas foram: Adrian Vitório P. Barros (5º A), Gabriel G. Santos (5º B), Gilda Sibelly S. Martins (5º B), Jhonata Kauã G. Campos (5º A), Maria Eduarda O. Melo (5º A), Samuel G. Sousa (5º C) e Thayla Kauane França (5º A), residentes da zona urbana e rural deste município.

Em um dado momento das oficinas, foi acolhido o autor do poema: “A história da minha cidade” – Diêgo Nunes, onde recitou sua poesia aos alunos. A aluna do 4º ano, Alice Santos Lopes também declamou o poema “Acorda filha, está na hora” de autoria da professora Edna Jara. Além destes, vários outros poemas de autores nacionais e naturais do município foram expostos e lidos também, demonstrando aos alunos que qualquer pessoa pode ser poeta, que seja professor e/ou estudante, pessoa abastada ou pobre, homem ou mulher, idoso ou criança.

Os poemas inéditos produzidos pelos alunos levaram títulos e foram passados para o papel almaço. Recitaram-nos no pátio da escola em forma de Sarau, onde levou o nome: “Sarau das Crianças Poetas”.

Todo este processo foi descrito caprichosamente em um relato de prática solicitado à professora participante. A comissão escolar ao receber este, e os demais materiais: Linha do tempo e Álbum da turma, selecionou duas produções (poemas) e enviou ao site do concurso dentro do prazo estipulado.

A professora Edna Jara teceu elogios aos seus alunos, como sendo geniosos, determinados, perseverantes e fontes de inspiração. Ela observou durante o processo de aplicação do projeto, que a escola em questão tem muitas crianças com grandes facilidades em poetizar e que só precisam de mais incentivos.

Os objetivos propostos e desenvolvidos neste projeto da Olimpíada de Língua Portuguesa foram finalizados com grande êxtase de trabalho cumprido. Este, bem recebido pela comunidade escolar pelos benefícios da prática da leitura e escrita aos alunados e pela valorização da história cultural antiga e atual do povo perimiriense.

A resenha do Relato de práticas e demais materiais disponibilizados aqui fazem parte do que foi enviado no site do concurso.  O intuito da divulgação é para que toda a rede escolar e a sociedade em geral apreciem a proeza dos alunos da escola Keila Abreu Melo em Peri-Mirim – MA.

Confira os vídeos das apresentações:

REFERÊNCIAS

BECHARA, Evanildo. Dicionário escolar da Academia Brasileira de Letras: língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2011.

MEMÓRIAS ESCRITAS. Disponível em: >https://bloggernapontadalingua.blogspot.com/<. Acesso em: 25 de março de 2021.

OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA– 7ª EDIÇÃO. Disponível em: >https://olimpiada.escrevendoofuturo.org.br/mapa/info_uf.php?uf=MA<. Acesso em: 12 de março de 2021.

O RESGATE: DE PERI MIRIM PARA O MUNDO. Disponível em: >http://oresgate.net.br/categoria/alcap/<. Acesso em: 25 de março de 2021.

Furtuoso José Corrêa

Por Paulo Sérgio Corrêa

Patrono da Cadeira nº 18 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Paulo Sérgio Corrêa. Nasceu no dia 08 de janeiro de 1933, no povoado Conceição, Peri Mirim/MA. Filho de Manoel Paciência Corrêa e de Maria Raimunda Martins. De uma família de 4 irmãos, sendo ele caçula.

Iniciou sua vida escolar no povoado vizinho Pericumãzinho onde estudou até o 4º ano do ensino Fundamental em 1945, após passou a estudar na sede do município, onde concluiu o 5° ano, ensino máximo oferecido no município na época e que teve como professora a Senhora Maria Guimarães. Após concluir o 5º ano mudou-se para São Luís (capital do estado do Maranhão), a fim de aprender uma profissão. Pois até o momento só conhecia como profissão o trabalho na agricultura que aprendera com seu pai que era lavrador. Em São Luís, aprendeu a profissão de pedreiro e carpinteiro, profissões que passou a exercer para a sua sobrevivência. Nesse mesmo período, Furtuoso que tinha paixão pela música, passou a estudar música com os professores Nélio e Godofredo, onde aprendeu a ler partituras e tocar Saxofone e Saxtenor. Voltou a Peri-Mirim onde passou a trabalhar de tudo que tinha aprendido como profissão: pedreiro, marceneiro, carpinteiro, músico e lavrador.

Formou com uns amigos uma banda a qual era composta por: Furtuoso no Saxfone, Amadeu no Banjo, Ribamar na Bateria, Biné no Pandeiro, Crescenço no Violino, banda que animava as os bailes de toda a região. Nesse período conheceu Eunice Alves, que foi seu primeiro relacionamento sério, relacionamento este que deu frutos, dois filhos: José Marçal e José Orlando, mas este relacionamento não foi muito longo e deu-se a separação do casal. Em seguida, conheceu Altair, Tazinha, como era conhecida, moradora do povoado vizinho Pericumãzinho, filha de um dos músicos de sua banda, Amadeus, namoraram e em 13 de margo de 1959 casaram-se e em 30 de dezembro de 1959, nasceu a primeira filha do casal a primogénita dos 11 filhos (Célia, Dilce, Manoel, Deujanira, José Luís (falecido) Ana Cristina (falecida), João Batista, Paulo Sérgio, Ronaldo, Clodoaldo, Claudiane (falecida).

Furtuoso como um homem trabalhador continuou seu trabalho como pedreiro, carpinteiro, construindo casas e outros serviços e como marceneiro fazia móveis, portas, janelas, calçados (chamató) e até urnas funerárias (caixões). Mas não deixou a música de lado, passou a integrar o que chamou o 3° conjunto de Peri-Mirim, que era composto por Rafael Botão (Flauta), Joao Picola (banjo), Botão (bateria e vocal) Furtuoso Corrêa (saxofone) e Constantino (Trombone), era a banda xodó dos bailes perimirienses. Mais tarde junto com o irmão Constantino e Lauro Modego passa a integrar um dos melhores conjuntos musicais da cidade de Pinheiro onde permaneceram tocando juntos até a década de 80.

Como pessoa dedicada, no meado dos anos 70 ele conheceu o Instituto Universal Brasileiro, uma Escola a distância de cursos profissionalizantes e supletivos, Furtuoso com todas as dificuldades da época, conseguiu concluir o Ensino Fundamental pela instituição e o curso de Rádio Técnico, e não parou com os estudos, sempre querendo aperfeiçoar-se. Em 1981, concluiu também à distância o curso de mestre de obras da Construção Civil. Vale lembrar que os cursos à distância na época eram todos feitos via correios, material de estudo e avaliações, era necessária muita dedicação.

Como Pedreiro e Mestre de Obras, Furtuoso construiu muitos prédios no município e fora dele, pode-se citar alguns Prédios públicos: Escola do povoado Conceição, Escola do povoado Baiano, Escola do povoado Pericumã, Escola do povoado São Lourenço, Ampliação da Escola Cecília Botão, Escola do povoado Torna, Posto de saúde do povoado Conceição (hoje demolido para construgâo da UBS no local), Escola do povoado Tijuca, além de inúmeras residências.

Como lavrador gostava muito do trabalho na roça, a agricultura também fazia parte do sustento da família. Deixou este trabalho quando em 1991 e mudou-se definitivamente para a sede do município, onde já possuía residência, após uma doença de sua esposa que a deixou surda.

No lado Religioso como católico, praticante Furtuoso sempre dedicou também seu trabalho em frente à igreja no povoado Conceição. Como dirigente comunitário e alguns moradores, fundaram a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, com a construção da igreja local e transformou esse festejo na época como um dos maiores festejos comunitários do município de Peri-Mirim.

Furtuoso José Correa faleceu no dia 08 de agosto de 2014, aos 81 anos de idade.

Olegário Mariano Martins

Por Raimundo Martins Campelo

Patrono da Cadeira nº 03 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP). Nasceu em 06 de março de 1878, na cidade de Macapá, atualmente Peri-Mirim, filho de Cássio Mariano Martins e Filomena Rosa de Melo Martins, tinha sua residência fixa na Praça São Sebastião no centro de Peri-Mirim-MA.

Estudou apenas o terceiro ano primário. Casou-se aos 32 anos de idade com Amélia Gomes de Castro, com 23 anos, no dia 21 de abril de 1910. Amélia era filha de José Trajano Gomes de Castro e Clarinda Aurora de Melo.

Foi político, conceituado e respeitado pela população, assumindo a responsabilidade de conciliador das famílias, foi escrivão do segundo ofício de Peri-Mirim, comarca de São Bento pela seguinte Apostila:

Apostila

O vencimento do cargo de escrivão do segundo ofício do termo de Peri-Mirim, Comarca de São Bento, do qual é titular interino o senhor Olegário Mariano Martins, foi fixado no padrão B, na conformidade do disposto da Lei nº 491 de 30 de dezembro de 1950, a contar do dia 1º janeiro.

Secretário de Estado dos Negócios do Interior Justiça e Segurança, em São Luís, 13 de março de 1951.

Doutor Elizabeto Barbosa de Carvalho

Secretário do Interior Justiça e Segurança

Teve uma das ruas do centro da cidade de Peri-Mirim em sua homenagem.

Faleceu no dia 29 de dezembro de 1955, aos 77 anos, deixando os seguintes filhos: Valderice Martins dos Santos com 46 anos; Odete Castro Martins com 44 anos; José Ribamar Castro Martins com 42 anos; Ocino de Castro Martins com 40 anos; Zuila de Castro Martins Azevedo com 39 anos; Maria José Martins Campelo com 37 anos; Benedito de Castro Martins com 31 anos e Itaci de Castro Martins com 21 anos.

MACAPÁ – MUNICÍPIO ENLUTADO

Por Vavá Melo*

Em plena ascensão e justificada euforia, o novo município foi abalado por dois hediondos crimes:

O primeiro ocorreu no engenho Itaquipé, com o bárbaro assassinato do senhor Antônio Avelino Pinheiro, praticado pela esposa e o amante conhecido por Pequapá. Pelo forte apreço que tenho aos amigos, descendentes dessa família, recuso-me a pormenorizar essa tragédia.

O segundo, que abalou toda a região com outras vítimas, verificou-se às 20 horas, da fatídica noite de 25 de outubro, na fazenda de lavoura em Teresópolis, com o cruel assassinato do proprietário Antônio Pedro de Sousa e de dois de seus empregados, praticado pelo cangaceiro Tito Reis Silva e bando dele que o acompanhou.

Esse crime, segundo alegou o facínora Tito, homem de péssimos antecedentes foi por motivo de vingança pela humilhante prisão sofrida pela esposa Marina.

Essa história por ser longa, com controvérsias, registro-a no livro São Bento dos Peris – água e vida.

TITO SILVA – Síntese

Depois da prisão de Marina, esposa de Tito Reis Silva, em Macapá, por dezoito dias, quando lhes rasgaram as vestes, deixando-a nua, o casal jurou vingança. Mudou-se em abril para Boa Vista Goiás. Foi morar perto da casa de Dionísio Alves Batista e de seus irmãos, de quem se tornou amigos, e às vezes falava que tinha uma dívida a receber no Maranhão, na fazenda Teresópolis e outra, na vila de Santo Antônio e Almas. Em junho começou convencer o próprio Dionísio, Raimundo Alves Batista, Waldevino, Pedro de Sousa Leal e João de Tal, vulgo João Mole. Dois seis apenas este recebeu um refle e uma caixa de balas.

Partiram de Boa Vista, há 3 de outubro, atravessaram o Rio Tocantins, caminharam por chapadas durante 6 dias, alcançaram ao povoado Presídio, em frente da cidade de Grajaú, chegaram a Penalva dia 18. No seguinte foram a Monção, dormiram perto de Viana. Dia 20, passaram distante dessa cidade, viajando sempre a pé, atingiram São Vicente Férrer. Dia 21, passaram em São Bento com destino a Pinheiro. Dia 22, pela manhã atravessaram campos imensos, com água pelos joelhos, barriga e peito. No dia seguinte foram dormir na casa da mãe de Tito e descansaram todo o dia 24. Dia 25, cerca de uma hora da tarde, viajando pelos campos, chegaram a Teresópolis, às 8 horas da noite. Na entrada da fazenda foi que Tito falou que as dívidas que ele vinha receber eram duas: matar o fazendeiro Antônio Pedro de Sousa, e em Santo Antônio e Almas – José Castro. Tito só não fez esta revelação a Pedro de Sousa Leal, porque este já sabia de suas intenções desde Boa Vista, que foi quem comprou a caixa de bala, vista está sem dinheiro. Na entrada da fazenda, jantaram ao grupo mais dois rapazes, um pardo e outro negro que estavam armados de faça e cacete. A fazenda de sobrado só com uma entrada pela frente. Entraram-na e encontraram o fazendeiro escrevendo sobre a mesa, iluminada por lamparina a querosene. Tito Silva acompanhado de João Mole subiram a escada, e os outros ficaram no pátio, fazendo guarda.

Falou Tito em voz alta, capitão! Sabe com quem está conversando? Atos contínuos Tito e João Mole disparam dois tiros. Na ocasião saíram dois pretos do interior da casa, aos quais disse Tito – saiam fora que não quero matar vocês. – Responderam: se o padrinho estava morto eles também podiam morrer. João Mole disparou um tiro matando-o. Como o refle de Tito engasgou, e o outro armado de faca, Tito sacou do terçado “colins”, cravou no adversário que com ele embebido no corpo, correu e despenhou-se atrás da casa.

Tito e João Mole na suposição de que ainda houvesse alguém dentro da casa, gritaram – não saiam. Quem tiver que se aquiete. Dispararam mais dois tiros, indo um destes, ao que parece ferir uma criança que estava no quarto, pois a criança gritava muito clamando por Jesus Cristo e Nossa Senhora. (Papai contava ser este o único arrependimento de Tito).

Feito isto, os dois, entraram na sala, apoderam-se de um baú coberto de couro, encheram de fazendas, roupas feitas, lençóis, colarinho, uma rede e dinheiro. Partiram levando um cavalo de sela apanhado na estrebaria por Pedro Leal, Valdivino e os dois rapazes chegaram a casa de um tio de Tito uma hora da manhã, duas ou três léguas, perto de Santo Antônio e Almas.

Lá Tito contou ao tio que matara Antônio Sousa e seu desejo era matar José Castro. O tio lhe fez ver que estava fazendo coisas impossíveis. Mas que, como lhe havia prendido a mulher e lhe tomado o que era seu, continuasse seu desígnio, se era que se atrevesse a tanto. (Depoimento do senhor Dionísio Alves Batista, 31 anos de idade, nascido em Bom Jesus da Gurgueia, prestado na Polícia, publicado no Diário Oficial).

O Senhor Antônio Pedro Sousa é aquele já citado, várias vezes premiado na Exposição Nacional no Rio Janeiro, realizada na Praia do Botafogo, em 1908, alusiva ao 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil às Nações Unidas.

Com a prática desses crimes as comunidades macapaenses e dos municípios adjacentes alarmadas e amedrontadas, incapazes de oferecer resistência armada, apelaram pateticamente ao Governo do Estado, com estes telegramas: íntegra.

Macapá – 26. População alarmada esta vila pede vosso auxílio urgente, doze salteadores armados rifles saquearam fazenda Theresópolis depois terem morto proprietário e empregados, hontem 20 horas. Hoje 8 horas, atacaram município Santo Antônio e Almas, mataram e saquearam José Castro. Resto ignorado. Esperamos ser atendidos. Ignácio Mendes – Manoel Miranda.

Macapá – 26. População alarmada motivo doze bandidos armados rifles saquearam e mataram o proprietário fazenda Teresópolis, Sr. José Castro, chefe político município vizinho. Dizendo bandidos vier esta vila, peço garantia em nome população. Antônio Botão Mendes – 4º juiz suplente.

Macapá 30 – numero cento e cinquenta e dois. Lamento dizer nenhuma garantia ter recebido até agora de parte do governo, enquanto salteadores continuam exercendo ação criminosa. Depois caso Santo Antônio e Almas, foram atacados casa vivência e comercial Raimundo Argemiro e Pedro Teodoro, Luiz Peralico, Manoel Sousa, José Cândido, Francisco Amorim, João Viégas e muitos outros se acham refugiados nos matos. O assalto a três km donde estou recebendo constantes avisos de invasão. Sinto-me sem forças oferecer resistência e vinda salteadores, resolvido entregar repartição ao saque caso não me chegue auxílio com tempo a vir. Mandei abastecer víveres em Santo Antônio e Almas, não sendo possível por continuar deserta esta vila e população foragida. Indescritível se encontra população, em completa correria. Sem meios defesas mais uma vez apelo confio vosso criterioso governo. Saudações. Bezerra Cavalcante – Encarregado Cento Agrícola.

Para colaborar com o Corpo Policial, capitão Ulysses Cesar Marques, o 1º tenente Sebastião Cantanhede de Albuquerque e 2º tenente Antônio Henrique Dias, prefeito Inácio Mendes cedeu três cavalos. Contou, ainda o apoio do coronel Carneiro de Freitas que se encontrava em São Bento.

Aqui, com devida vênia, revelo um episódio contado pelo meu pai, André Martins Melo. “Aos oito anos de idade deu fuga a importante figura, levando-o à noite, montados em cavalos, para o lugarejo Borocotó. Em lá chegando o dito ficou escondido dentro de um poço, coberto de palhas”.

Muitas histórias foram inventadas, em desacordo com o relatório oficial o Tenente Sousa Coqueiro, no Imparcial Diário Oficial do Estado, 1920. Nesse mesmo ano, foi vítima da aftosa e a peste bubônica da alastrou-se na região.

* Álvaro Urubatan (Vavá Melo) é natural de São Bento, bancário aposentado. Pesquisador e historiógrafo. Membro fundador da Academia Sambentuense e da Academia Ludovicense de Letras.