José Mariano da Silva

Por Maria Nasaré Silva

Patrono da Cadeira nº 15 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Maria Nasaré Silva. Nasceu no povoado São Raimundo em Peri-Mirim – MA, no dia  09 de julho de 1929. Filho de Claudino Hermógenes da Silva e Rosa Soares Silva e  faleceu em 26 de Janeiro de 2007.

Em 1953 casou-se no civil com Maria Amélia Nunes. E em 1969, aproximadamente, contraiu matrimônio religioso. Essa união abençoada por Deus e pelos homens foi responsável pela formação de uma família exemplar, servindo de modelo para todos que quiseram copiar tal exemplo.

José Silva, como era conhecido, teve nove filhos do primeiro casamento: Edgard Joab Nunes da Silva, Maria Luiza da Silva Oliveira, José Paulo Nunes da Silva (in memória), Jaqueline da Silva Garcia, Dorathy Nunes da Silva, Gerardo Nunes da Silva, Hilário Nunes da Silva, Ana Ivonete da Silva e Silva e Marcelle da Silva e Silva. Todos, valorosos, como o pai, exemplo de virtude, justiça e altruísmo.

Em 1970, viajou a Guimarães para formação de catequista. A mesma aconteceu sob a responsabilidade da paróquia São Sebastião de Peri-Mirim que, na época, já se encontrava sob o comando de Pe. Gerard.

Essa viagem durou muitos meses, mesmo assim, persistiu em sua capacitação e, adquiriu forças para continuar sua vida de estudos, nesse tempo, tão escassos. Por apenas duas vezes no período de formação, visitou sua família e, sua esposa, competente e responsável, com era, encarregou-se de cuidar dos filhos e de todo o resto que seu marido costumeiramente fazia.

José Silva desenvolveu muitas funções, foi lavrador, catequista, legionário (Legião de Maria), ministro da eucaristia, líder de comunidade, gerente de Cooperativa, entre outras. Com a chegada dos padres canadenses, em 15 de agosto 1962, a sua vida pessoal e profissional foi elevada a um bom nível de desenvolvimento econômico (para nossa realidade).

Além dos cursos feitos em Guimarães, José Silva participou de muitas outas capacitações pela vida afora. Exemplo disso foi que com seus quase sessenta anos de idade, cursou o magistério no colégio “Cenecista Agripino Marques”, na Sede de Peri-Mirim. O curso era noturno e ele saía de Santana, muitas vezes a pé, juntamente com sua esposa, Maria Amélia e alguns grandes amigos como, Sr. Pitota, D. Vitória, para assim, dar continuidade na evolução do seu conhecimento.

Após o falecimento de sua esposa, ele não desaminou da vida, continuou sua missão aqui na terra, celebrando os cultos dominicais em várias comunidades e, na sua própria.

José Silva decidiu casar-se novamente e, desse matrimônio, teve mais três filhos: Cláudia Amélia Nunes da Silva, Andréia de Fátima Nunes da Silva e José Mariano Nunes da Silva, os mesmos ficaram órfãos de pai ainda na tenra idade.

Peri-Mirim sedia a primeira Mini Olimpíada de Filosofia, aplausos para este momento

A primeira mini olimpíada de Filosofia promovida por professores e alunos do Curso de Filosofia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) ocorreu em Peri-Mirim nos dias 18 e 19 de novembro de 2019. Participaram alguns membros da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), entre eles: Adelaide, Alda Ribeiro, Ataniêta Martins, Giselia Martins e Nasaré Silva.

De acordo com informações fornecidas do Ataniêta Martins, que é membro da ALCAP e aluna do Curso de Filosofia, as equipes dos alunos da UFMA envolvidos na brilhante apresentação, sob a coordenação da Profª Adelita, foram: Atanieta Martins; Sidlayne Martins; Simony Martins; Francineide Andrade; Zacaria Pereira; Kelisson Melo; Agnaldo Nogueira; Valterlino Silva; Nayara Nunes; Conceição; Maria Ribamar; Minerviba; Sandra Nogueira; Ieda Gomes; Jucinalva; Edna Rouse; Elycarlos; Darlene Nunes; Rosilandia; Karla Patrícia; Antônia e Cíntia. Parabéns aos alunos pelo empenho, vez que conseguiram repassar a mensagem proposta pelo trabalho apresentado.

A mini olimpíada foi distribuída da seguinte forma: dia 18, pela manhã, o evento deu-se no povoado Tijuca. A equipe “Paradoxo” foi  liderada pela acadêmica, a Prof.ª Adelaide Pereira Mendes, com o tema: “A Educação tem por objetivo principal a emancipação humana”.

Ainda no dia 18, no turno vespertino, a equipe, intitulada “Esmagai a Infame”, liderada pela acadêmica, a Prof.ª Maria Nasaré Silva e Ataniêta Martins que trabalharam com o tema: “Até que ponto agimos em respeito às leis”? Esse trabalho fora desenvolvido da seguinte forma: O julgamento de Eichmann (júri simulado) e o julgamento de Sócrates.  Os dois julgamentos foram apresentados pelos alunos da turma 901 do 9.º ano, escola Cecilia Botão “Anexo II”.

As mini olimpíadas originaram-se a partir de um projeto de intervenção da disciplina Laboratório do Ensino de Filosofia II da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ministrada pelo professor Dr. Almir Ferreira Júnior, que dividiu os temas em diferentes equipes, para possibilitar amplo debate, por serem temas muito reflexivos.

No dia 19, turno vespertino, três equipes apresentaram seus trabalhos. A escola selecionada foi “Arthur Teixeira de Carvalho, com três equipes com a seguinte distribuição:

  1. Equipe Otimismo Filosófico,  desenvolveu o tema: “Estamos condenados a ser livres”, embasado no existencialismo de   Sartre;
  2. Equipe Existencialismo com o tema: O cuidado como questão existencial  e como problema especifico e
  3. Equipe: “Ousar Saber” com tema: Como conviver com o outro.

 

A presidente da ALCAP, Eni Pereira Amorim, compareceu ao evento e ficou maravilhada. Suas palavras foram de agradecimento pelo convite, constatando que “temos muitos talentos em nossa cidade, jovens que alimentam sonhos. Turma de diversidades, três  alunos surdos, uma altista, alunos depressivos, hiperativos, que possibilitou ao grupo conviver com diferenças, respeitando ideias, fazendo uso da alteridade, rompendo a barreira do egoísmo, da desigualdade, é ir em direção ao outro e dizer: “estou aqui”,  que o outro  não pode viver excluído da sociedade, mergulhado em palavras vazias”. E vaticina a presidente “o eu não existe sem o outro”, comentou a presidente.

Para a Secretária de Educação, Alda Ribeiro, o evento enriqueceu o conteúdo programático das escolas envolvidas, além de possibilitar/ensinar aos alunos os princípios da solidariedade e tolerância. Vez que a Educação visa formar o ser humano integral, capaz de conviver e respeitar as diferenças dos seus colegas e estar apto a conviver em sociedade.

A incursão filosófica despertou os costumeiros dons poéticos da Prof.ª Maria Nasaré Silva, que  brindou os presentes com um poema de singular discernimento:

POEMA SÓCRATES OU HANNAH

Todos vocês que aqui estão

Recebam meus cumprimentos,

É muita honra tê-los conosco,

A prestigiar nosso evento.

Mini olimpíada de filosofia

A primeira da freguesia

Palmas para este momento.

Nesta tarde ensolarada

Tivemos dois julgamentos:

O primeiro foi de Eichmann

Que só produziu sofrimento,

Não somente ao povo judeu

Condenou até o filisteu

Seu problema: discernimento.

O segundo foi de Sócrates

Que todos já ouviram falar,

Século V a. de Cristo

Ele vivia a perambular,

Questionava todo mundo

Parecia com vagabundo

A Ágora: seu habitat.

Para falar sobre Eichmann

Convém neste momento citar

A cientista política

Hannah Arendt, ouviram falar?

Viajou para Jerusalém,

Não foi para dizer amém

Foi ao julgamento reportar.

Eichmann fora julgado

Em mil novecentos e sessenta e um.

Por muitos crimes de guerra,

Aqui falamos de um a um.

Ele dizia ser inocente

Não pensava, pois, sua mente,

Não tinha dote nenhum.

Mandou para o holocausto

Seis milhões de judeus

Idosos, crianças ou jovens,

Quem tinha religião ou ateus

Seu problema era não pensar

Hannah Arendt fez confirmar,

No livro que escreveu.

Eichmann em Jerusalém

É um livro seu famoso

Nele Arendt conta a história

De julgamento oneroso

De Argentina a Israel

Fora conduzido o réu

Sob um regime rigoroso.

Hannah Arendt escreveu

Muitos livros, no entanto.

Praticamente em todos eles

Questionar era seu acalanto

Judaísmo: a religião

Questões políticas: sua missão

A verdade era seu manto.

Em 1906 nascera

A Alemanha era seu mundo.

Morou na grande Paris

Num período infecundo.

Vivera em tempos sombrios

Sobreviveu às guerras, o vazio,

 Conviveu com moribundo.

O livro que lhe deu notoriedade

As Origens do Totalitarismo,

Arendt narra como surgiu

O conhecido antissemitismo,

Pois ela queria entender

Por que tanto ódio e Poder

No mais novo regime, o Nazismo.

Em Homens em Tempos Sombrios

Arendt biografa homem e mulher

Walter Bejamin, Karl Jaspers,

Os seus dois amigos de fé.

Rosa, Lessing e reflexões,

Heidegeer, uma de suas paixões,

Arendt, judia,  grande mulher.

O termo “banalidade do mal”

Por ela cunhado no julgamento

Amigos judeus de Hannah Arendt

Não sentiram contentamento,

Pensaram que a Eichmann defendia

Não entenderam o pensar da judia

Amizade sofre estremecimento.

Passaria a tarde inteira

Falando de Hannah Arendt

Todo o tempo ainda é pouco

Quando o poema expressa arte.

Preciso a Sócrates voltar

E sua linda história narrar

A verdade foi seu baluarte.

Sócrates fora condenado

Por crimes que não cometeu

Indagar era o seu forte

Aos jovens não corrompeu,

Aos deuses não desrespeitou

Contra a mentira sofística lutou

Deram-lhe cicuta, ele bebeu.

Por vezes o  interlocutor

Ao Sócrates não entendia

Usava método maiêutico,

Concomitantemente, a ironia,

Quando da conversa, o fim,

Não visualizava o jardim

Da luz da sabedoria.

Isso gerou confusão

Na vida de muita gente,

Em Atenas, na Grécia Antiga,

Nessa parte do Ocidente,

Os cidadãos se reuniam

Na Ágora e decidiam

O melhor ao continente.

Assim narra-se a história

De quem buscava a verdade,

Não mentia, perguntava,

Sobre os temas da cidade

Ele indagava, só queria saber,

Desconhecia a essência do Ser

E não aceitava caridade.

Um grupo de filósofos

Chamado de sofistas

Ficou muito incomodado

Com sucesso do politeísta.

Armaram uma encenação

Condenaram Sócrates, então,

Por crimes ainda não vistos.

A peça que apresentamos

Foi parte de seu julgamento

Escrito no Apologia a Sócrates

De Platão, o pensamento,

O seu discípulo fiel

A condenação  fora o fel

Amargo desse momento.

O objetivo deste evento

É mostrar nosso projeto

“Até que ponto nós agimos

Mediante as leis”, fazendo certo?

Vê-se nos dias atuais

Medidas descabidas, fatais,

Que impedem nosso progresso.

Mediantes a tantas PECs

Que tiram nossos direitos

Nos calamos, nos omitimos

Aceitamos o desrespeito.

Até onde vão os desmandos?

Nossa honra blasfemando

E tudo sendo desfeito?

Vamos unir nossas forças

Nossa coragem, a fé.

Aprendamos a dizer não,

Lutemos contra o cifer

Eichmann aceitava tudo,

Até mesmo dos judeus o tributo,

Não pensava, vivia de cliché.

Somente nós podemos mudar

O rumo da nossa história.

Nascemos pobres e somos dignos,

Sonhamos com muitas vitórias

Não fiquemos aprisionados,

Do contrário, seremos condenados,

A não termos momento d e glória.

Quero registrar  no momento

Meus queridos professores:

Almir e Marly Cutrin,

Ambos são doutores.

Transmitem conhecimento,

E nos dão contentamento,

E assim, perpetuam valores.

Deixamos aqui registrado

Os sinceros agradecimentos

A secretária Alda Regina

 Dalcione, no engajamento,

Aos amigos da equipe

Vieram a pé ou de jipe

Mas estão neste momento.

A equipe “Esmagai a Infame”

Encerra sua apresentação.

Adquirimos competências

Dotados ou não, de inspiração.

Dizemos até breve a todos.

Estes são nossos modos

Agradecemos de coração.

Antônio Raimundo Câmara

Conhecido como Antoninho Lobato. Natural do Povoado de Taocal em Peri-Mirim-MA. Nasceu em 07 de julho de 1921, filho de José Estanislau Câmara e Iluminata Izidia Câmara. Casado com Maria Célia Nunes Câmara (in memorian), que era filha de Geminiano de Santana. Exercia a profissão de carpinteiro e como passatempo era cantor e compositor de toadas de Bumba-meu-boi.

Aprendeu o ofício da carpintaria com Antônio Paissandu de Santana. Conta que seu irmão mais velho chamado Rafael falou com o mestre, que disse que estava precisando de alguém que o ajudasse. Não teve dificuldade de aprender o ofício e lembra que o seu professor morreu do coração, que já se queixava de dores no peito.

Entre os seus trabalhos, orgulha-se de haver construído o telhado da igreja de Santana, da Cooperativa dos Produtores Rurais, da igreja de Pericumã e do Rio da Prata, sob a orientação do Padre Gerard, que tinha grande confiança em seu trabalho. Lembra-se que fez muitos caixões de defunto. Também fez o telhado das casas de Benvindo (pai de Maria Amélia) e Procório Martins, do Feijoal, filhos de João de Deus.

Nunca estudou com professor. Aprendeu a ler e escrever por meio de um livro que uma namorada “roubou” da mãe e que lá explicava tudo, não teve dificuldade em aprender. Porém, atualmente não escreve mais, devido a uma paralisia na mão direita.

Por ser muito namorador, antes do casamento teve quatro filhos: Wilson (Cidoca), Antônia do Tremedal, Grigório do Tacoal e Maria de Fátima do Poções.

Aos 32 anos, o coração aventureiro, apaixonou-se de uma moça muito bonita, chamada Maria Célia Nunes, que morava em Santana, ela tinha apenas 16 anos. Pela idade da moça e pela fama de namorador de Antoninho, a família não aceitou o namoro. Ela repetia ao namorado: “sou eu que vou casar contigo”.

Depois de um breve namoro, Antoninho praticou o rapto da moça, levando-a para a casa de Manoel Grilo. Casaram-se, Maria Célia passou a assinar Maria Célia Nunes Câmara (in memorian). Da união nasceram 11 (onze) filhos, pela ordem: 1) Isidoro Ribamar Nunes Câmara, mora em Tucuruí-PA, é carpinteiro como o pai; 2) Reginaldo de Jesus Nunes Câmara (in memorian); 3) Raimundo Nonato Nunes Câmara; 4) Antônio Raimundo Câmara Filho; 5) Maria Luísa Nunes Câmara (faleceu com 11 meses); 6) José Augusto Nunes Câmara; 7) Edmilson Nunes Câmara; 8) Joanete de Jesus Nunes Câmara; 9) Rosinete de Jesus Nunes Câmara; 10) Walmir Nunes Câmara e 11) Adalton de Jesus Nunes Câmara.

Perguntado sobre João de Deus Martins, patrono da Cadeira nº 12 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Ana Creusa Martins dos Santos, o entrevistado informou que conheceu João de Deus e que o chamavam Nhô João de Deus. Recorda que namorou com uma neta de João de Deus, filha de João Venâncio, que não lembra o nome da moça, mas que lhe tinha grande estima. A moça faleceu, mais ou menos, com 18 anos, vítima de uma infecção no pé.

Compareceram à casa de Antonino: Ana Creusa, Ana Cléres, Maria Amélia (mãe das Anas), Suzane Pinto Moura e seus filhos Sarah e Paulo. Foram recepcionados pelo filho do entrevistado Antônio Raimundo Câmara Filho (Tozinho).

Importante ressaltar que Antoninho goza de excelente memória, de gestos carinhosos, alegre e, durante a entrevista, soltava sonoras gargalhadas ao lembrar da sua juventude. Ele é muito bem tratado pelos seus familiares, exalando perfume, cabelos cheirosos. É incrível: Antonino mantém uma beleza peculiar, provavelmente pela sua alegria constante.

Não tem como não amar Antoninho. Ele lembrou da visita que o amigo José Santos lhe fez, meses antes de falecer. Para coroar de êxito a visita, o anfitrião presenteou os visitantes com uma bela toada. Os visitantes despediram-se já sentindo saudades daquele jovem de cabelos brancos, prometendo voltar outras vezes. Antonino, um exemplo de vida!

Entrevista realizada na residência de Antônio Raimundo Câmara no dia 16/11/2019 no Povoado Tacoal, na presença de seu filho Antônio Raimundo Câmara Filho. Nossos agradecimentos à Família pela preciosa colaboração com a historicidade de Peri-Mirim.

Antonino faleceu por volta de 23:45 horas no Hospital Regional de Pinheiro, deixando muita saudade aos familiares e amigos.

Antoninho e José Santos

Antoninho e Maria Amélia, filha de Benvindo e neta de João de Deus Martins.

Sarah, Antoninho e Paulo. As crianças são filhos de Aírton Martins, tetraneto de João de Deus.
Ana Cléres, Tozinho, Antoninho e Ana Creusa

ALCAP define a data de sua Confraternização 2019

Com a finalidade de celebrar a chegada do Natal e Ano Novo, a Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), realizará a confraternização entre os Acadêmicos  no dia 27 de dezembro de 2019 no Restaurante Tiquara (Sítio Daluz) a partir das 19:00 um local aconchegante com piscina. Na programação está previsto um delicioso jantar, música ao vivo e o tradicional “Amigo Secreto”.

Memórias de uma cidade

Por Eni Amorim

No início era só uma floresta,
Íngreme,
Cercada entre belos morros,
E Verdes Campos,
Cheia de animais e aves exóticas,
Muitos bacabais,
Babaçuais, jussarais,
Buritizais, entre tantas outras plantas nativas.
Campos inundáveis brotavam,
Cortando sua extensão,
Embelezando a paisagem,
Com sua diversidade de fauna e de Flora.
Certo dia,
Um Caminhante Errante,
Passou por aquele lugar,
E se apaixonou.
Fez um roçado,
E dentro dele,
Construiu uma cabana
Para se proteger do sol e da chuva.
Avaliou o local,
Havia caça em abundância,
O local era farto de fruteiras,
A terra era propícia para o cultivo,
E a criação de animais domésticos.
Havia sol, ar respirável,
Rios de águas perenes,
Cantos de pássaros…
Perfeito!
Achou que seria um bom lugar,
Para fixar residência.
Voltou para sua casa,
Conversou com a esposa, filhos e vizinhos,
Sobre a novidade do local encontrado.
E assim, a esse desbravador,
Se juntaram outros e voltaram ao local.
Avaliaram e,
Embevecidos,
Pelo que encontraram,
Resolveram ali fixar residência…
Foram buscar suas famílias,
Fizeram uma Choupana,
Que mais tarde virou uma casa.
Com o sucesso,
Dos primeiros moradores ao novo local,
Outros vieram e fizeram suas modestas casinhas,
Construíram logo uma capela,
Onde se reuniam para rezar.
Nasceu a devoção a São Sebastião Guerreiro,
Protetor da fome, da peste e das guerras.
Uma Quitanda,
Para suprir as necessidades dos moradores,
Nasceu uma rua aqui, outra ali,
Formando uma vila.
Elegeram um líder comunitário,
O qual seria responsável pela organização comunitária.
Plantavam, pescavam, caçavam, criavam,
Faziam festas,
E foram organizado seus espaços.
Havia solidariedade,
E todos se ajudavam em trabalhos de mutirões,
Como não podia deixar de ser,
No local também tinha lendas e Magias,
Haviam os currupiras que protegiam a Vila,
Dos cumes dos seus outeiros,
As mães d’água que protegiam as águas,
E as Curacanga que assombravam os vaqueiros e pescadores,
Na beirada dos Verdes Campos,
E tantas outras…
E assim,
Nesse exuberante Rincão da Baixada Maranhense,
Entre morros e belos Campos,
Sobre a égide do milagreiro e guerreiro São Sebastião,
Surgiu e cresceu uma comunidade amiga,
Esbanjadora de hospitalidade,
A vila de Macapá.

E a vila vai crescendo…
Nasce uma fazenda,
Duas fazendas.
Um engenho de cana de açúcar,
Dois engenhos…
Uma escola,
Um posto de saúde,
Uma pracinha,
Um cemitério,
Uma delegacia,
As primeiras farmácias,
Agência do Correios,
E a vila de Macapá se torna Peri-Mirim.
Que para alguns de seus filhos apaixonados é chamada “Rainha da Baixada”,
Para outros carinhosamente,
“Paris-Mirim”…

Parabéns Peri-Mirim pelo seu Centenário 👏👏👏

Publicada em 31/03/2019

Fotos da Igreja antiga de São Sebastião e da Igreja atual.

 

Matéria jornalística sobre a inauguração do Município de Macapá em 1919

Matéria publicada no Jornal Pacotilha-Maranhão (quinta-feira), 7 de agosto de 1919

“De uma visita que fizemos a Macapá, no dia da inauguração do Município e vila do mesmo nome, trouxemos a mais agradável impressão. Então, viu-se quanta força de vontade possui tão nobre gente e a ânsia de progredir que preside a todas as almas. Em toda parte, na rua, na Igreja, nos edifícios públicos, nos lares, nos bairros vizinhos, a alegria era enorme. Todos exultaram ao sentir que iam ter vida própria, com governo seu, daí por diante.

A vila de Macapá está situada ao pé de um morro, de altitude regular, tendo em frente o campo. Está cortada em duas secções por um pequeno rio intermitente, que as limita. Uma dessas secções entende com a denominação propriamente de Macapá, e a outra tem o nome de Portinho, mas essas divisões não têm importância, é a mesma relação que existe outra, a cidade de São Bento propriamente e o bairro Outra Banda.

A população de Macapá não deve decrescer de 5.000 habitantes, número fixado pela Constituição do Estado para autorizar a emancipação.

Pelas delimitações fixadas, o Município possui várias fazendas importantes, de engenho e gado, pelo que é de esperar que haja arrecadação suficiente para custear os serviços públicos. Afora esse parêntesis, vamos continuar a nossa narração.

Em viajem, antes de chegarmos a pitoresca vila deparamos com a fazenda do Sr. João de Deus Martins, o homem que, só entre filhos e genros, possui 20 e tantos electores. A sua amabilidade fez-no transpor os humores da sua morada, e aí fomos tratados com fidalguia cativante.

Chegamos a Macapá às 6 horas da tarde da véspera da inauguração do Município. Logo pela manhã, do grande dia, houve alegre alvorada na Igreja, com música e foguetes. O reverendíssimo Padre Felipe Candurú, que aí então se achava para provar que a Igreja comungava também dos sentimentos do povo, fez de propósito reparar algumas meninas, tolas muito interessantes e graciosas para receberem a comunhão sagrada.

Como era natural, depois do despertar, tomamos o caminho da Igreja, e lá assistimos a cerimonia religiosa, em que houve a maior concorrência popular. Após essa cerimonia, o povo todo, inclusive o Padre Felipe Candurú dirigiu-se em passeata para o lugar destinado á inauguração, e durante o trajecto, a banda de música tocou várias peças alegres e canções patrióticas. Muitos nomes eram aclamados entre estes, com mais fervor, os do Dr. Urbano Santos Cel. Bricio de Araujo, Dr. Raul Machado, Cel. Carneiro de Freitas, Dr. Carlos Reis, etc.

O salão que os esforçados macapaenses para a cerimônia estava regularmente movimentado e inteiramente repleto.

As dez horas, começou o serviço das actas. Era meio dia quando foi instalada a Câmara e empossados o Prefeito e o Sub-Prefeito às suas residências. Era de encantar o modo fidalgo como era tratados todos os visitantes. A família Ignacio Mendes, numa actividade pasmosa procurava por todos os meios com solicitude e carinho, agradar a todos. Estava aí uma miniatura do lar de Macapá, franco e hospitaleiro. A festa rematou com um animadíssimo baile na residência do Prefeito, em que compareceu toda a elite Macapaense cada qual mostrando o maior capricho no trajar. Foi uma desta, a bem dizer, deliciosa, onde sentimos no coração de cada macapaense pulsar fibra dessa alma sertaneja, orgulhosa da sua fidalguia de trato e nobreza de coração. Ainda relembramos com imensas saudades os dias ditosos que possamos, naquela terra, em contacto com o seu gênero e hospitaleiro povo”. (Matéria fornecida pelo pesquisador Zacarias do Arquivo Público Estadual do Maranhão).

* Alguns termos antigos foram colocados para a linguagem atual, para não confundir os pesquisadores, especialmente alunos perimirienses.

Poema ao Aniversário da ALCAP

Por Nasaré Silva

A ALCAP é pura alegria
Pois está a aniversariar.
A casa de Naísa Amorim
Tem a honra de apresentar
Os ilustres acadêmicos
Confesso, são totêmicos,
Fazem cultura neste lugar.

Em maio de 2018
A ALCAP foi formada
Após algumas reuniões
Naísa fora homenageada
Por ter prestado serviço
Com amor e compromisso
Hoje está sendo louvada.

São vinte e sete cadeiras,
Para compositores e poetas.
Professor, jovem aprendiz,
Sonhadores e arquitetas
De esperança, sonhos, ideais.
As mãos não se soltam jamais.
A união, a arma secreta.

A cadeira número um
Compete a Maria Isabel
Patronesse Naísa Amorim,
Deixou-nos e mora no céu
Fez o bem por onde andou,
Na educação se lançou,
Tirou-nos da vista, o véu.

Carlos Pereira Oliveira,
O seu nome é distinto.
A cadeira é número dois,
Seu patrono, Jacinto Pinto.
Carlos pique, o poeta,
Da cultura é o profeta,
É amado neste recinto.

A cadeira número três
É de Raimundo Campelo
E Olegário Martins
Seu patrono, seu modelo.
Campelo, o cirurgião,
Fez suturas de pé ou mão,
Hoje, acadêmico terceiro.

Todos já ouviram falar
Em José Ribamar Bordalo,
Na política, veterano,
Acorda ao cantar o galo
Quatro é sua cadeira,
Na fazenda fez carreira,
Seu robe, campear gado.

Antônio João França Pereira,
É um grande visionário.
Sua cadeira, número seis,
Com Cecília Botão fez Ginásio.
Por sinal, sua patronesse.
Das Letras ele é o alicerce.
Dedicou-se no Seminário.

E a cadeira número sete
Pertence a Viegas da Paz.
Já escreveu alguns livros,
Ele é um poeta capaz.
Seu patrono, Rafael Botão,
Ambos nos causam emoção
Viegas escritor tenaz.

Graça Maria França
Oito, é a sua cadeira.
Seu patrono é importante
Secundino Mariano Pereira,
Ela reside no Portinho,
Da Academia é o pergaminho
Foi professora de carreira.

Cleonice Martins Santos
É uma grande mulher
Sua cadeira, número nove.
Patronesse, Maria Sodré,
Guerreira e empreendedora
Em seu cartório era doutora,
Uma grande mulher de fé.

A cadeira de número dez
É de uma professora
Nani Sebastiana da Silva
Nesta cidade, educadora.
Patronesse, Nazaré Maia,
Na educação, revolucionária,
Deste povo, preceptora.

A confreira Adelaide Pereira Mendes,
Amiga, corajosa e destemida.
Sua cadeira é de número onze
Mulher de fibra, aguerrida.
Patronesse, Jarinila Pereira,
Na educação fez carreira,
Flor preferida, margarida.

Ana Creusa dos Santos
Nome pomposo e bonito.
Fundadora da Academia
Escuta da natureza, o grito.
João de Deus é seu patrono
A cadeira doze é o seu trono.
O seu destino é bendito.

A cadeira número treze
É de Manoel Braga, o imortal.
Seu patrono, Walter Braga,
Corajoso, íntegro e especial.
Hoje está aqui presente
Nossa alegria ele consente
Pertence a ala cultural.

A cadeira catorze tem a honra
De pertencer à presidente,
Da Academia de Peri-Mirim,
Eni Amorim Pereira, o presente.
Sua patronesse, Dona Isabel.
Viveu em Santana, hoje no Céu.
Abençoa-nos constantemente.

A cadeira número quinze
Pertence a mim, a poeta.
Sou verdadeira e amiga,
O estudo é minha meta.
José Silva, meu patrono,
Em Santana fez seu trono
Eu o considero um profeta.

Flávio Andrade Braga
Possui cadeira dezesseis
É escritor renomado,
Faz sucesso o “Baixadês”
Patrono, Alexandre Botão,
Homem de bom coração,
Seu dote, a sensatez.

Alda Regina Correia
Deu cara nova à educação,
Patronesse, Helena Ribeiro,
Pois a amou de paixão.
Dezessete é sua cadeira
Professora, sua carreira.
Foi gestora de Cecília Botão.

E a cadeira dezoito
Tem patrono o Furtuoso.
Paulo Sérgio, o escolheu,
Por ser de fibra e valoroso.
Paulo, poeta, compositor,
É guerreiro, vencedor.
É homem bom, virtuoso.

Venceslau Pereira Júnior,
Homem de fibra e de fé,
Sua cadeira é dezenove,
Rônia, a sua mulher.
Patrono, Venceslau Pereira.
Foi dentista, fez carreira,
Creu em Deus, tinha fé.

Gisélia Pinheiro Martins,
Filha de Valton Barreira.
Cadeira de número vinte
Fala mansa, não diz asneira.
Seu patrono, João Botão.
Gisa é da educação
E professora de carreira.

Atanieta Nunes Martins
Amiga da faculdade,
Sua cadeira é vinte e um.
É leal, pratica alteridade.
Seu patrono, Carneiro de Freitas,
A Peri-Mirim deu receitas
De como viver de verdade.

A cadeira vinte e dois
É de Liliene da Glória,
Mãe de um casal de filhos,
A primeira Sara Vitória,
Patrono, Edimilson Ribeiro.
Farmacêutico e até parteiro,
Deus abençoe sua história.

Jessytania Carvalho Santos
Faz parte da diretoria,
Sua cadeira é vinte e três
Seu sorriso, pura alegria.
Agripino Marques, seu patrono,
Até hoje tem o trono,
De melhor prefeito da freguesia.

Jose Sodré Ferreira Neto
Sua cadeira é vinte e quatro.
Seu patrono, José dos Santos.
Gostava de campear nos prados
Cleres é a mãe de José,
Mulher de fibra e de fé.
A justiça os deixa empolgados.

A confreira Edna Jara,
Tem cadeira vinte e cinco.
Raimunda França, patronesse,
Trabalhava com afinco,
A sua avó, guerreira mulher,
A neta é assim, não tem mister.
Dessa forma, a estrofe eu findo.

Diego Nunes Boaes,
Tem cadeira vinte e seis,
Escolheu para patrono
Alguém fluente no inglês.
João Garcia Furtado
Até hoje admirado.
Falava também o francês..

A cadeira vinte e sete
É da confreira Elinalva.
Inteligente e brilhante,
Parece a estrela D’alva.
Júlia Silva, sua patronesse,
Nossa homenagem merece.
Voz de barítono, ressalva.

Jailson Alves Sousa
Vinte e oito, sua cadeira.
Raimundo João Santos,
Escolhido para patrono
O matemático Taninho,
Todos lhe davam carinho,
Nas quatro estações do ano.

A primeira diretoria
Desta forma é composta.
Presidente, Eni Amorim,
A vice é muito disposta,
Jessytania é seu nome.
Essa dupla é graciosa.

O primeiro secretário,
É nosso amigo à parte,
O companheiro Diego Nunes,
A sua vida é uma arte
Por onde passa deixa alegria
A todos dá felicidade.

A segunda secretária,
Ana Creusa, a fundadora,
Desta nossa Academia
É amiga, batalhadora.
Edna Jara Abreu Santos
É sua colaboradora.

Elinalva de Jesus Campos,
Tesoureira incondicional.
Atanieta e Francisco da Paz
São do conselho fiscal.
Bordalo também compõe
A equipe triunfal.

As atividades continuam
Fique aqui a nos honrar,
Com sua linda presença
Este evento só tem a brilhar
O poema está encerrando
Mas vocês, continuo amando
Já é hora de encerrar.

Obrigada,
Maria Nasaré Silva

Cecília Euzamar Campos Botão

Por Antônio João França Pereira

Patrona da Cadeira nº 06 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Antônio João França Pereira. Nasceu em São Luís, no dia 22 de novembro de 1912, filha de Torquata Campos, esta natural de São Vicente Ferrer, sem condições econômicas suficientes para criá-la e educá-la, decidiu deixá-la aos cuidados do Sr. Domingos Vieira, seu padrinho, não por falta de amor, mas como uma oportunidade de que Cecília viesse a ter melhores oportunidades na vida, tão difícil naquela época, principalmente para uma mãe solteira. E garças a Deus, assim aconteceu! Cecília teve uma boa criação e educação como prometeu seu padrinho.

Formou-se Professora Normalista, curso máximo do magistério na época. Como as dificuldades de trabalho no Estado eram grandes, só foi possível conseguir sua nomeação como Professora Normalista para o Município de Peri-Mirim, cidade da Baixada Maranhense. Chegou a Peri-Mirim em 1930, aos 18 anos, normalista, nomeada para licenciar no Grupo Escolar Carneiro de Freitas, o qual dirigiu e ensinou gerações até 1970.

Logo que lá se estabeleceu, mandou buscar para o seu convívio sua mãe e seus irmãos, que moravam em São Vicente Ferrer. A família consanguínea passou a viver junta até o casamento dos irmãos e morte de sua mãe, compensando, dessa forma, os anos que estiveram separados.

Profissionalmente, Cecília realizou-se na área educacional. Por muitos anos exerceu a função de Diretora e Professora do Grupo Escolar Carneiro de Freitas e ao se aposentar foi a primeira a oferecer seus dadivosos préstimos à Fundação do Ginásio Bandeirante, como Secretária. Foi também coordenadora das professoras leigas da Escola que leva a seu nome: “Escola Municipal Cecília Botão”, homenagem recebida depois de aposentada.

Naquele interior tão pequeno, e desprovido de tantas coisas, Cecília foi um pouco de tudo: professora, advogada, médica, parteira, conselheira e tantas outras atividades, consideradas de grande importância para suavizar as carências ali existentes.

A verdade é que ela adotou Peri-Mirim como sua, pelo amor que passou a lhe ter. E sempre dizia: “São Luís não me quis, mandou-me embora aos 18 anos, numa idade tão bonita para uma jovem! Esta cidade, Peri-Mirim, me acolheu e aqui sou feliz!”.

Casou-se no dia 26 de dezembro de 1940, com Antenor Botão, comerciante da cidade e tiveram três filhos biológicos: José de Ribamar, Maria das Graças e Conceição de Maria e dois de “coração”: João Furtado (que faleceu muito cedo) e João Felipe. Teve três netos: Cecília, filha de José, Giovana e Eduardo filhos de Graça e Eduardo que quando nasceu ela já havia partido. Faleceu aos 64 anos de idade em 10 de setembro de 1976, ironicamente no dia que estava marcada a mudança definitiva do casal para São Luís.

Como primícias da notável Escola Normal do Maranhão, sua vida foi um desfilar de bons exemplos como mestra, mãe e amiga. Pregou pela palavra e pelos atos de vida. Esposa irreverente, a mulher forte de quem falam as escrituras.

Emprestando seu nome a uma instituição educacional à cidade que ela adotou e na qual semeou verbo e vida, o povo perimiriense só faz justiça àquela que, como muitos outros, merece ter seu nome gravado na pedra e na alma das grandes e pequenas mentes claras.

Jacinto Pinto Pinheiro

Por Carlos Pereira Oliveira

Patrono da Cadeira nº 02 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada Carlos Pereira Oliveira. Nasceu no dia 30 de janeiro de 1932, no Povoado de Inambu – Peri-Mirim. É o segundo filho do casal Bonifácio Pinheiro e Patrocina Pinto. Na fase pré-escolar, a família mudou-se para o povoado Poções e mais tarde para a sede do município, com o propósito de colocar os filhos para estudarem.

Jacinto foi matriculado no Colégio Coronel Carneiro de Freitas, onde cursou até o quinto ano do primário. Fazia um turno de aula e outro na oficina de carpintaria, sendo seus mestres Manduca (Armando Leôncio Paz) e Tácito Nunes. Aprendeu a profissão rapidamente e se tornou um dos melhores marceneiros da região. Com a competência demonstrada na marcenaria e o carinho que tinha pelas pessoas, atraiu muitos discípulos, para aprenderem a profissão.

Jacinto gostava muito de cantar e tocar pandeiro, o que desempenhava com maestria e altivez. Sendo cobiçado para cantar na Igreja, na Escola de Samba e no Conjunto Musical de Rafael Botão.

Tudo que fazia tinha a marca da sua dedicação, compromisso e perfeição. Era um homem muito tratável, respeitoso e amigo. Por isso, tinha 360 (trezentos e sessenta) afilhados. Uma marca difícil de ser ultrapassada em qualquer localidade da Baixada Maranhense e, principalmente, da sua terra natal Peri-Mirim. O acadêmico da ALCAP, Francisco Viegas Paz foi o seu primeiro afilhado.

Jacinto era um dos principais articuladores do time de futebol Santa Cruz Esporte Clube da cidade de Peri-Mirim, do qual era um exímio jogador. Por ser um homem muito forte, tinha um chute potente e a cabeçada, mais ainda.

Ele teve uma vida dedicada às artes locais e, por isso, convidado para fazer parte até das ladainhas, muito comum nas décadas passadas e que até hoje ainda algumas pessoas pagam suas promessas nos festejos.

Duas moradoras da sede do município tinham horror aos seus apelidos, mas faziam maior elogio aos irmãos Jacinto e Raimundo Pinto que as respeitavam e de certo modo se sentiam amadas por eles. Um bom exemplo para os outros que, por acaso, agiam ao contrário dos bons costumes.

Quando os padres canadenses chegaram a Peri-Mirim, em 15 de agosto de 1958, o contrataram para renovar os bancos da Igreja e construir um parapeito que separava a nave principal da igreja do altar, deixando aberto um espaço para o deslocamento. Os padres ficaram satisfeitos em ver o cantor do coro da igreja executar com maestria as referidas obras.

Em 31 de dezembro de 1962 ele estava ensaiando a Escola de Samba, do qual era membro efetivo e, antes de sair cantou pela última vez uma música de  Ataulfo Alves “Me dá meu paletó”, que diz:

O general chegou Aurora
Me dá meu paletó
Que eu vou me embora

Quem se arrumou se arrumou
Quem não se arrumou se arrumasse
Eu não sou daqui sou de fora
Me dá meu paletó
Que eu vou me embora.

Jacinto foi assassinado no dia 31 de dezembro de 1962 e deixou a cidade de Peri-Mirim perplexa e os seus trezentos e sessenta afilhados órfãos da sua bênção.

Walter da Silva Braga

Por Manoel de Jesus Andrade Braga

Patrono da Cadeira nº 13 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Manoel de Jesus Andrade Braga. Conhecido como Tetê Braga, nasceu em Pericumã, povoado pertencente ao município de Peri-Mirim (MA), no dia 08 de agosto de 1911, filho de Antônio Florêncio Diniz Braga (o Velho Braga) e de Joana Regina da Silva Braga (Nhá Resna). Teve como irmãos Constantino Braga e Valdivino da Silva Braga. Filho de fazendeiro, herdou do pai a profissão de criador. Criava, além de gado bovino, outros animais como porcos, patos, galinhas, paturis, catraios, perus, cabras, cavalos e peixes. Tinha um tanque em frente à sua casa que dava farturas de peixes. No início de sua vida adulta, Tetê Braga teve uma pequena barraca e também foi pequeno agricultor, mas a paixão pela criação de gado falou mais alto, fazendo-o optar por essa atividade deixando aquelas outras definitivamente.

Em sua pequena propriedade, produzia bastante leite, que servia como base da alimentação de sua família e para a produção de queijos e manteiga. O que era produzido na propriedade, queijos, manteiga, ovos era vendido para comerciantes de Peri-Mirim (Mundico Botão) e de São Bento (Adrião) que levavam para revender em São Luís. Na propriedade havia grande produção de coco babaçu, donde eram extraídas as amêndoas para vender aos comerciantes locais (Ademar Peixoto). A receita da vendas desses produtos era a principal fonte de renda para sustentação da família.

Tetê Braga aprendeu a aplicar injeção e servia a comunidade de Pericumã, aplicando injeção nos enfermos do lugar, inclusive na veia. Desde jovem, era um homem muito conceituado e cobiçado por muitas mulheres da região. Casou-se aos 32 anos com a jovem Maria José Andrade Braga de apenas 16 anos, no dia 23 de dezembro de 1944 (no civil) e no dia 24 do mesmo mês no religioso, na cidade de Pinheiro. Viveram por 45 anos em uma relação profícua que gerou vários frutos. Dessa bela união, nasceram 13 filhos, que são pela ordem cronológica: João Batista, Maria Regina, Valtemar, Walter da Conceição, Maria do Rosário, José Maria, Manoel de Jesus, Valber do Socorro, Leônia Maria, Wewman Flávio, Lidiane da Graça, além dos falecidos Maremaldo e Verionaldo. Complementando a família adotaram e criaram cerca de 10 filhos, dentre eles: Aristo, Ernesto, Cota, José de Cananã, Beatriz, Coronel, Erenice, José Maria e Clenilde.

Ouvindo os conselhos de dona Almerinda Gonçalves e por suas próprias ideias, Tetê Braga alimentou um nobre e grande sonho que era deixar seus filhos bem encaminhados na vida. Para isso, sabia que só tinha um caminho: o estudo. E foi se agarrando com amigos e contando com a ajuda dos padres e freiras que conseguiu realizar seu sonho.

Dona Almerinda Gonçalves, descendente de portugueses e matriarca  da destacada família Gonçalves da cidade de Pinheiro, era sua grande amiga e conselheira. Foi através dela que conseguiu uma vaga no Patronato São Tarcísio para seu filho mais velho (João Batista) e uma no Convento das Irmãs para sua filha mais velha (Regina). No ano seguinte, obteve vagas para Valtemar e posteriormente para Waltinho. E assim foi colocando os filhos no caminho certo.

Todos os filhos da dona Almerinda eram seus compadres. O Sr. Américo Gonçalves deu hospedagem para Regina por algum tempo, o mesmo aconteceu com Rosário que foi hospedada na casa do Sr. Raimundo Gonçalves, seu padrinho. E assim as portas da educação foram se abrindo para esse agricultor, que com muito orgulho conseguiu que todos os filhos estudassem e se formassem em cursos de nível superior.

A religiosidade do casal Tetê Braga e Maria José era notável. Como membros da Legião de Maria, participavam das reuniões e cultos dominicais e das missas que aconteciam na comunidade. Uma missão que eles faziam questão de exercitar eram as visitas aos enfermos, idosos e pessoas que estavam passando por momentos de dificuldades, levando a palavra da Bíblia e as orações para conforto dessas pessoas. Outra prática religiosa da família, era a oração do santo terço diariamente.

Por ser muito religioso, conquistou a amizade e o respeito dos padres canadenses que tinham missão em Peri-Mirim, notadamente Padre Edmond Poliot e Padre Gérard Gagnon. Essa amizade abriu as portas para que seus filhos Regina e Valtemar fossem estudar em Guimarães no Convento das Irmãs de Assunção e no Seminário São José, respectivamente. Do mesmo jeito aconteceu com filho Waltinho que foi estudar no Seminário Santo Antônio em São Luís. Sem essas ajudas, dificilmente Tetê Braga teria tido condições de oferecer a seus filhos a oportunidade de estudarem.

Embora nunca tenha frequentado uma sala de aula regular, foi alfabetizado por seu tio André Avelino Mendes, irmão de sua mãe, Tetê desenvolveu uma verdadeira paixão pela educação. Apesar do pouco estudo, tinha um grande prazer pela leitura. Lia a Bíblia, os catecismos da Igreja Católica, livros, revistas, histórias infantis, até bulas de remédios, tudo que aparecia em sua frente ele lia. Essa paixão pela leitura foi passada para seus filhos, podendo está aí, uma explicação para o sucesso destes, em concursos e vestibulares.

Alguns valores muito caros até hoje e que se fossem mais observados, as pessoas viveriam muito melhor, eram cultivados pelo homenageado: Gratidão, Perdão, Tolerância e Serenidade. Em tudo dava Graças a Deus, mesmo quando parecia algo ruim (Gratidão); não guardava rancor de ninguém, perdoava mesmo os ladrões de seus cavalos e gado (Perdão); mesmo sendo muito católico, abria as portas para irmãos de outras religiões que passavam evangelizando, ouvia atentamente sem mudar suas convicções (Tolerância); por pior que fosse a situação, nunca perdia a calma, não exaltava a voz, nunca se exasperava (Serenidade).

Outro ponto que merece ser destacado em sua vida é que nunca teve  vícios. Não ingeria bebida alcoólica, nunca fumou e não participava de jogos de azar.

Durante os 45 anos de casado, com Maria José Braga, viveu um clima de harmonia, de respeito, de diálogo, de compreensão, de abnegação, de renúncia e de um amor verdadeiro. Faleceu no dia 10 de novembro de 1989, em São Luís, aos 78 anos, deixando um legado de homem honesto, educado, católico praticante e que gostava de conversar com os filhos, a esposa e os amigos.

Quando morreu todos os filhos estavam casados e quase todos, bem empregados. Portanto, morreu com a missão de educar os filhos cumprida. Viva Tetê Braga!