Carlos Pereira Oliveira

Conhecido como “Carlos Pique”, ocupante da Cadeira nº 02 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), cujo patrono é Jacinto Pinto Pinheiro. Nasceu no dia 04 de novembro de 1935, no povoado Enseada Santo Antônio, hoje povoado Canaranas, filho de uma geração de quatro filhos dos senhores Cássio Henrique de Oliveira, natural do município de Alcântara, mas precisamente do o povoado Itamatatiua, e Maria Caetana Pereira Oliveira, nascida no povoado Enseada Santo Antônio, Peri-Mirim.

Estudou até o 4º ano do primário, casou-se com a senhora Marilda Silva Oliveira, natural do povoado Serra, Peri-Mirim, matrimônio este que gerou sete filhos: Maria Lucinda Silva Oliveira, Claudenice Oliveira França, Carlos Oliveira Filho, Claudinel Silva Oliveira, Cláudia Regina Silva Oliveira, falecida aos 7 anos de idade, Claduilene Silva Oliveira e Claudenir Silva Oliveira. Além de nove netos e oito bisnetos.

Sempre trabalhou na roça para ajudar nos sustentos da família, começou a cantar as suas toadas de bumba-meu-boi aos 14 anos de idade, sua primeira atuação foi no povoado Pontal, Bequimão, no ano de 1949, quando lançou uma toada no boi de Otaviano, a toada teve como significado o retrato das pessoas que viajavam para a capital, São Luís, a trabalho e se apreciavam com o cinema.

Teve apenas um professor, chamado Raimundo de Doteia, que dava aulas no povoado Enseada da Mucura, na varanda da residência do senhor Hemeterio Oliveira, onde hoje residem o casal Neide e Jhon. Lá aprendeu a contar e a escrever seu nome, entrou aos 10 anos de idade, numa escola onde os alunos eram multisseriado.

Carlos Pereira Oliveira, conhecido por Carro Pique, inspirou-se em alguns talentos da cultura de Peri-Mirim, como Jacinto Pinto, João Botão, Rafael Botão e Dé da Tijuca, todos já falecidos, que deixaram um grande legado de companheirismo e determinação.

Em suas lembranças uma de suas toadas de valor expressivo e de muita tristeza aos ouvintes foi a de homenagem a Jacinto Pinto, que o fez por muitas décadas parar de cantar, na toada ele contava a história de Jacinto Pinto que para alguns serviu de protesto sobre a morte daquele singelo personagem da cultura perimiriense, por conta disso, Carro Pique foi perseguido por oito dias para ser morto.

Tem de berço como maior valor, o respeito pelos pais a partir de uma surra que levou por sua mãe ao desrespeitá-la, onde ela a solicitou que fosse da Enseada Santo Antônio até a Enseada da Mucura e ele respondeu que não iria, ela lhe prometeu uma grande surra, ele então correu pelos quatro cantos daquela região, chegando a noite, ele se deitou em sua rede, se embrulhou e quando pegou no sono, ela chega no seu quarto e devagar retira-lhe o lençol e lhe dá a tão temida surra. Desde então para ele a obediência aos pais é um dos bens mais precioso, um valor de extrema importância.

Compôs e cantou várias todas, dentre as quais as mais conhecidas foram: Lá vai da difusora, Copa de 70 e muitas outras. Hoje um imortal da academia perimiriense de letras, um exemplo vasto de amor à cultura da sua terra.

Apaixonado pela cultura de Peri-Mirim aceitou o convite por conta de contribuir ainda mais com suas lembranças e memórias e suas diviníssimas toadas para abrilhantar mais a Academia de Letras de Peri-Mirim.

Maria Isabel Martins Veloso

Ocupante da Cadeira nº 01, cuja patronesse é Naisa Ferreira Amorim. Nasceu no dia 18 de julho de 1927, filha de Antonio Raimundo Martins e Clotildes Azevedo Martins, (chamada carinhosamente de “Dona”). Teve nove irmãos, sendo oito já falecidos e apenas um ainda vivo.

Nasceu no povoado de Feijoal, antigo Santa Severa, município de Peri-Mirim, na Baixada Maranhense, a 337 km de São Luís, vizinho a Pinheiro, Bequimão, Palmeirândia e São Bento. Quando nasceu, Peri-Mirim se chamava Macapá; Bequimão era Cabeceiras e Palmeirândia se chamava Palmeira.

Em sua terra natal foi professora no povoado Buragical, na “Escola Djalma Brito”, no período de julho de 1950 até maio de 1951, quando foi transferida de surpresa para a “Escola José Antonio Marques”, no Feijoal.

Na época, o então prefeito de Peri-Mirim, Sr. Agripino Álvares Marques, lançou um concurso, que previa que: quem passasse em primeiro lugar iria ser professor do “Grupo Escolar Carneiro de Freitas”, com nomeação estadual. Maria Isabel foi aprovada em primeiro lugar e assumiu a tão sonhada vaga na Escola.

Depois do concurso, já morando em Peri-Mirim, passou a ter uma vida social mais ativa. Era convidada para reuniões políticas, comícios, aniversário de prefeito, bem como nomeada para presidente e fiscal de mesa eleitoral. Na Igreja de São Sebastião, foi professora de catecismo, associada da Irmandade de São José.

Viveu em Peri-Mirim até o ano de 1956, onde foi professora na Escola Carneiro de Freitas.

Em 1956, chegou à capital maranhense para dar prosseguimento aos seus estudos, tendo trabalhado como comerciária durante alguns anos no escritório da Movelaria Loja das Noivas na Rua Grande, Centro de São Luís.

Casou-se em 1960, na Igreja de São Pantaleão com Francisco Eleutério Veloso (já falecido), união que durou 49 anos. Veloso também nasceu na região da Baixada, na cidade de Bequimão. Tiveram quatro filhos: Maria da Graça Veloso Melo; Antonio José Martins Veloso; Maria Stela Martins Veloso e Kátia Maria Martins Veloso. Possui seis netos.

Atualmente é servidora pública aposentada, após prestar serviço ao Governo do Estado do Maranhão, inclusive no Palácio dos Leões, na praça Pedro II, por alguns anos.

A sua trajetória de vida é marcada por muita luta, persistência e garra, realidade comum a muitos brasileiros e brasileiras, especialmente os nordestinos de nosso país. Mulher digna, de fibra, corajosa, não teve medo de sair de sua terra para alçar outros voos na capital, numa época em que não era muito comum às moças trabalharem fora se casa, serem independentes. Sempre cultivou o hábito pela leitura, o que consequentemente lhe rendeu o talento para escrever.

Seu jeito de ser: inteligente, sensível, generosa, fiel aos seus princípios, determinada, guerreira, características que conserva até hoje.  Extremamente religiosa, católica fervorosa, e devota de Nossa Senhora e de Santo Antônio. Ainda hoje, cultiva o hábito de rezar o terço, especialmente durante todo o mês de maio, tradição seguida pelas suas filhas.

Educou os quatros filhos com amor e dedicação e, além destes, vários sobrinhos que foram enviados a sua casa, os quais cuidou, mandou ensinar, conseguiu emprego e transmitiu os mesmos valores que repassava aos filhos, sem distinção.  Mãe incansável, ensinou aos filhos o valor do estudo, do trabalho, da honestidade, solidariedade, respeito ao próximo, além da fé em Deus acima de tudo.

Aos 60 anos de idade, resolveu escrever suas memórias, uma narrativa emocionante da sua infância, juventude, da sua família, sua terra natal, amizades, amores, vida profissional, etc, o que foi motivo de orgulho e grande satisfação para os seus filhos, parentes, amigos, ex-alunos, conterrâneos, que tiveram a oportunidade de ler, se emocionar ao ver eternizadas para outras gerações tantas histórias que o tempo apagaria e que é possível resgatar por meio de um livro.

Para uma moça que, para sua época foi considerada avançada por sair de uma cidade do interior, sozinha, e vir arriscar a vida numa capital, Maria Isabel pode ser considerada uma vencedora. Nada que conquistou foi fácil, tudo veio com muita luta e dificuldade e isso faz parte do legado que orgulha seus descendentes.

Nunca desistiu de lutar, sempre soube esperar o tempo certo e colher o que plantou. Passou aos filhos esse exemplo, de honestidade, de determinação, de respeito ao próximo e de manter a fé, acima de todas as adversidades. Como não ser motivo de orgulho e de exemplo? Sua memória primorosa para a idade avançada, nos permite saber de tantas histórias que ninguém sabe reproduzir como ela.

Era um arquivo vivo das histórias da sua terra e da sua família, histórias essas que faz questão de repassar aos mais novos para que não se pereçam no tempo e agora, como membro da Academia de Letras, Ciências e Artes de sua terra natal. Não tem interesse em reconhecimento pela sua trajetória, mas contribuir, de forma ímpar, para manter viva essa memória que ela tanto fez questão de preservar com amor e zelo por onde passou.

Faleceu no dia 09 de janeiro de 2025, em São Luís/MA.