Luiz Gonzaga Campos

Por Eni do Rosario Pereira Amorim

Luiz Gonzaga Campos popularmente conhecido como “Luis Bode”, filho ilustre de Peri-Mirim, nasceu em 21.06.1930 e faleceu 20/04/2018.

Pais: Teodoro Campos e Libânia Pereira  Campos

Casado com Maria Madalena Campos com a qual teve dez filhos, seis mulheres e quatro homens os quais educou eticamente.

Filhos: Luisa Libânia Campos, Luis Gonzaga Campos Filho (in memoriam), Roseli Campos, José Augusto Campos, Marineusa Campos Ferreira, Aldemir de Jesus Campos (in memoriam), Maria Luana Campos, Teodoro Campos Neto, Jeane Martins Campos, Cintia Cristina Martins Campos.

Seguindo a ordem de serviços na carteira profissional:

Ano 1948 – trabalhou na empresa J.A Castro & cia (escritório de representações) no cargo de contínuo.

Empresa Raiol & cia (escritório de representações) no cargo de contínuo.

1949 –  Santa Casa de Misericórdia  do Maranhão onde exerceu o cargo de servente, aprendeu vários procedimentos que o qualificaram na profissão de enfermeiro auxiliando em pequenas cirurgias, curativos, aplicação de injeção, aplicação de sondas, sendo maqueiro e foi ganhando experiência na área de enfermagem e dentista.

Em 1970 retornou a Peri-Mirim na qual além da atividade de lavrador, exerceu na comunidade a função de dentista e enfermeiro em residências e povoados e na sua residência, auxiliando em pequenas cirurgias como: extração de bala de revólver e chumbos de espingarda, suturas, imobilização de fraturas, sondas, curativos em ferimentos e cortes, extração de dentes, recolocação de mandíbula entre outros.

Teve um trabalho significativo no município como “guarda sanitarista” em uma época aonde havia muita pobreza, os recursos eram escassos, as “tecnologias” não chegavam, havendo grandes dificuldades de transporte, educação e comunicação.

Andando pelos caminhos mal traçados, a pé, de canoa ou montado às costas de um animal, lá estava ele, não media as dificuldades encontradas no caminho; isso é amor à profissão, isso é serviço à quem necessita.

Ajudou arduamente a população na conscientização e prevenção de doenças como esquistossomose, hanseníase e tuberculose que na época vitimou muitas pessoas da comunidade.

Nos anos 1980 foi nomeado enfermeiro no posto de saúde Santa Terezinha realizando atendimento á população, entregando remédios, curativos, vacinas e partos entre outros.

Ainda exerceu trabalhos de vigilante sanitário na fiscalização de produtos vencidos em comércio no município e vizinhanças.

Foi lavrador, pescador, caçador, um bom filho, um bom pai e um bom cidadão.

Entrevista feita com os filhos: Cintia Cristina Martins Campos, Marineusa Campos Ferreira e Luisa Libânia Campos.

Maria de Jesus Castro Martins

Por Maria do Carmo Pereira Pinheiro

Maria de Jesus Castro Martins, popularmente conhecida como Dona Morena, nasceu em Perimi-Mirim-MA no dia 07/03/1927. Tendo como pais Joana Darc Silva Castro e Almir Gomes de Castro. Seu esposo era José de Ribamar Martins.

Irmãos: Maria dos Remédios Castro, Helena Castro, Tereza Castro, Almir Castro, Adalto Castro e Alcina Castro,

Filhos: José Maria Castro Martins, Marilurdes Castro Martins, Antônio Pádua Castro Martins, Idivanda Castro Martins, Ivanoel Castro Martins, Maria de Fátima Castro Martins, Raimunda das Neves Castro Martins, Raimundo Nonato Castro Martins, Sebastião de Jesus Castro Martins, Almir Castro Martins, Edson Castro Martins, Francisco de Assis Castro Martins, Maria Laudames Castro Martins. Teve também muitos netos e bisnetos, deixando um legado de amor e dedicação à família.

Educação e Formação: Seus filhos não souberam informar onde estudou, mas sabem que Dona Morena teve sua formação em Peri-Mirim. Ela foi uma grande parteira tradicional, ou parteira leiga com grandes saberes em sua prática tradicional e conhecimentos éticos e culturais. Vocação essa que exerceu com maestria e generosidade, gratidão e amor ao longo da vida.

Vida e Atuação: Mulher sábia, de muitas habilidades, Dona Morena era conhecida por sua generosidade e coração gigante. Atuava como parteira, sua prática se configura como uma prática popular, reconhecida e respeitada pela sua comunidade. Ela se concretiza através das orações, do uso de plantas medicinais, de superstições e de simpatias. Embora essas práticas não sejam de credibilidade de todas as parteiras, a fé é sempre incorporada como regra e parâmetro para que o trabalho de parto aconteça sem maiores problemas, independentemente de religião. Entre os seus saberes estavam: benzimentos, rezas, orações, banhos, chás e remédios caseiros.

A dureza do trabalho, as longas caminhadas, as privações e as dificuldades faziam parte da trajetória das parteiras tradicionais, também a falta de material, treinamento, transporte, acesso dificultado e ambiente de trabalho precário representavam condições desfavoráveis ao bom desempenho de suas funções favorecendo a diminuição da capacidade física e psíquica das parteiras. Essas condições adversas expressavam, também, uma condição de vida margeada por sentimentos de medo, incerteza, insegurança e tensões.

Sentimentos como medo e coragem, alegria e tristeza, sofrimento e prazer são sentimentos constantes no trabalho de uma parteira demonstrando ter consciência dos riscos de vida a que a mulher e o recém-nascido estão sujeitos, quando um parto se realiza em domicilio rural.  Mas também há os sentimentos positivos, entre eles, alegria e satisfação relacionados com o êxito no trabalho e, desta forma, significam reconhecimento, status e valor social como era reconhecida Dona Morena como uma excelente parteira no Município de Peri-Mirim.

Diante das dificuldades acima citadas, Dona Morena possuía um quarto em sua casa, construído por seu marido, onde passou a realizar atendimentos e acolhia a gestantes prestes a dar à luz. Muitas grávidas passavam o último mês de gestação sob seus cuidados e só partiam após o nascimento do bebê. Muitas vezes, não cobrava por seus serviços, movida pelo desejo de ajudar. Seu último parto foi o de seu neto Cristhyan, filho de Maria Laudames. Além disso, Dona Morena abrigava estudantes vindos de povoados distantes que precisavam estudar na sede do município. Seu espírito acolhedor fazia com que ninguém saísse de sua casa sem comida, sem água ou sem um atendimento, mesmo quando ela mesma não se sentia bem.

Religião e Filosofia de Vida: Dona Morena era católica e também seguia ensinamentos espíritas. A sua prática de trabalho estava voltada para ajudar aqueles que a procuravam, principalmente em meio às dificuldades de atendimento médico no município pelo poder público. Suas palavras de sabedoria marcaram profundamente seus filhos. Entre suas frases mais lembradas, destacam-se: “Escorregar não é cair, a carga é ruim para quem não sabe conduzir.”  “Deixa o rastro, mas não deixa o nome.” (Dita aos filhos quando saíam sem ela): “Não estou nem aí, sou que nem cera: só quero quem me queira. Espero a pessoa aqui porque o meu batente é de pique.” (Expressão usada quando se sentia magoada.)

Legado: Dona Morena deixou um exemplo de força, generosidade e sabedoria. Sua vida foi dedicada ao cuidado do próximo, seja através do acolhimento, da medicina popular ou dos ensinamentos passados para seus filhos e netos. Seu nome permanece vivo na memória daqueles que tiveram o privilégio de conhecê-la e que foram tocados por seu amor e dedicação. Deixou um grande legado e muitas saudades. Partiu deste mundo em 11 de julho de 2016.

Entrevista concedida por: Maria Laudames Castro Martins e Sebastião de Jesus Castro Martins (seus filhos).

Maria Madalena Nunes Corrêa

Por Alda Regina Ribeiro Corrêa

Maria Madalena Nunes Corrêa foi uma educadora dedicada, cuja paixão pelo ensino moldou a vida de inúmeras pessoas na cidade de Peri-Mirim, Maranhão. Mais do que uma professora, foi uma referência para gerações de alunos, inspirando com seu compromisso, simplicidade e amor pelo conhecimento.

Nascida em 8 de maio de 1938, no povoado Miruíras, era filha de Leonílio Antônio Nunes e Maria Raimunda França Nunes. Sua infância foi marcada por desafios, pois perdeu a mãe quando tinha apenas dois anos. Diante das dificuldades, seus avós, que enfrentavam condições de extrema pobreza, confiaram seus cuidados à tia Eunice Oliveira. Posteriormente, passou a viver com outra tia, Ana Oliveira, e, mais tarde, com seu tio Francisco Oliveira, onde permaneceu dos seis aos dez anos.

Aos 11 anos, determinada a ter uma educação, Madalena pediu permissão ao pai para ser alfabetizada. Com a autorização concedida, buscou a professora Cecília Botão, que a matriculou na turma de crianças de sete anos. Seu desempenho escolar sempre foi exemplar: nunca repetiu um ano e manteve excelentes notas. Aos 15 anos, prestou o exame de admissão para o ginásio e, nesse período, recebeu um convite da professora Cecília para auxiliá-la em sala de aula, o que pode ter despertado sua vocação para o ensino.

Durante essa fase da vida, mudou-se para a casa da prima Marita Oliveira e, pouco tempo depois, passou a morar e trabalhar com a tia Clara Oliveira. Juntas, fabricavam bolos de tapioca e os vendiam de porta em porta. A rotina era árdua: começavam a trabalhar às 4h da manhã, às 6h, os bolos já estavam prontos para entrega, e às 7h ela seguia para a escola. No dia 30 de novembro de 1957, Madalena concluiu o ensino primário na Unidade Escolar Carneiro de Freitas.

Aos 17 anos, Madalena convenceu o pai a construir uma casa para que pudessem morar juntos, junto com sua primeira madrasta, Miriam. No entanto, após três anos, o casal se separou. Pouco tempo depois, seu pai iniciou um novo relacionamento com Domingas Pereira França, e, dessa união, nasceram seus cinco irmãos: José Ribamar França, Lucineide França, Diomar de Jesus França, Cleide Domingas França e João Carlos França.

Foi nesse período que Maria Madalena conheceu Valdemar Corrêa, um jovem do povoado Pericumã. Decidiram se casar, mas, ao dar início aos trâmites, Madalena descobriu que não possuía certidão de nascimento. Após resolver essa pendência e obter os documentos necessários, foi oficialmente registrada. Em 20 de janeiro de 1962, casou-se com Valdemar Corrêa.

Nos primeiros anos de casamento, Madalena e Valdemar viveram com o pai e a madrasta de Madalena. Mais tarde, quando conquistaram sua casa própria, decidiram morar perto da família de Madalena, fortalecendo os laços familiares. O casal teve quatro filhos: Jucilei Nunes Corrêa, Lenivalda Nunes Corrêa, Valdemar Corrêa Júnior e Vera Silvia Nunes Corrêa.

Devido às responsabilidades domésticas e à chegada dos filhos, Madalena precisou interromper seus estudos temporariamente. Entretanto, nunca se afastou do ensino. Anos depois, quando sua filha mais velha iniciou o ensino médio, ambas se matricularam na mesma escola e concluíram juntas o magistério, em 29 de maio de 1983.

Sua trajetória profissional teve início oficialmente em 1º de fevereiro de 1966, quando foi nomeada professora das Escolas Reunidas Municipais pelo prefeito José Ribamar Martins França. Em 7 de maio de 1986, recebeu uma nomeação estadual do governador Epitácio Cafeteira e passou a atuar na Unidade Escolar Carneiro de Freitas.

Além disso, lecionou no Colégio Cenecista Agripino Marques, a convite de Raimundo João Santos. Como diretora adjunta, ao lado do professor João Batista Pinheiro Martins, desempenhou um papel essencial na implantação do ensino fundamental maior (5ª a 8ª séries) na Escola Municipal Cecília Botão. Ao lado do primeiro diretor da escola, trabalhou incansavelmente para transformar o projeto em realidade, garantindo uma educação de qualidade para a comunidade local e durante mais de 25 anos, dedicou-se ao ensino com compromisso e amor.

Maria Madalena Nunes Corrêa deixou um legado inestimável na cidade de Peri Mirim. Como professora, marcou gerações, transmitindo não apenas conhecimento, mas também valores de dedicação e carinho para seus alunos. Sua jornada foi interrompida em 13 de junho de 1991, mas suas lições seguem vivas na memória de seus alunos, amigos e colegas de trabalho. Seu impacto na educação permanece na Escola Municipal Cecília Botão e na história de Peri Mirim, inspirando novas gerações a valorizar o conhecimento e a transformação que a educação pode proporcionar.

Afonso Pereira Lopes

Por Alda Regina Ribeiro Corrêa

Relata-se agora a trajetória de vida de Afonso Pereira Lopes. Nasceu no dia 02 de agosto de 1947, filho de Vitalino Lopes e de Raimunda Pereira Lopes, teve 6 irmãos, sempre foi criado na zona rural do Município de Peri-Mirim, pessoa de poucos estudos, mas de um grande conhecimento de vida.

 A sua primeira companheira (esposa), foi Sibele Penha, com quem teve cinco filhos: Tanânia, Tânia, Ateilson, Margareth e Jorge e ainda criou a então Vereadora Luzitelma Penha.

Depois contraiu matrimônio com Maria Amélia dos Santos Lopes, carinhosamente conhecida como Milú, com a qual tiveram doze filhos que são: Jeane, Geilda, Jeilson, Jeremias, Genilson, Jairo, Afonso Júnior, Jaciara, Jeisse Bruna, Késia, Keila, Judith (já falecida), adotou ainda Nelson. Ainda teve outros filhos do coração: Maria Lúcia, Manoel, Lurdinha, Raimundo e Duca. Assim os filhos das duas famílias, cresceram juntos, amando-se e mantendo o devido respeito, ou seja, cresceram unidos.   

 Afonso Lopes entrou no mundo da política, tornou-se assim, um Homem público que merece admiração pela suas atitudes além, do nosso reconhecimento e respeito, como cumpre tratar esses raros casos, como verdadeiras referências ou padrões de conduta. No ano de 1976 acontece dois grandes marcos em sua vida: em um Culto na Casa de Dinô (no mesmo povoado Juçaral) aceita Jesus como Salvador e Senhor da sua vida, tornando-se Assembleiano, daí a razão de ser conhecido como Irmão Afonso. Nesse mesmo ano, candidata-se a Vereador, sendo eleito com 222 votos.

Na eleição seguinte, candidata-se a vice-prefeito, na chapa de Benedito de Jesus Costa Serrão, obtendo vitória; no ano de 1988, novamente é eleito a Câmara de Vereadores, seguido dos mandatos em 1992, 1996 e 2004, totalizando 5 mandatos de vereador e em todos obtendo sempre o primeiro lugar em quantidade de votos. No ano de 2008 concorre as eleições, desta vez ao cargo de Prefeito de Peri-Mirim, foi eleito com uma diferença de votos expressiva, ficando à frente do Município de 2009 a 2012.

Em seu primeiro ano de mandato realizou o concurso público municipal, deixando assim, muitos filhos de Peri-Mirim e municípios vizinhos assegurados em uma função pública. Inspiração e modelo para os mais novos, prova real de que é possível ter homens públicos íntegros, razão para não perder a confiança no regime democrático, e muito mais. Completou assim, 32 anos na vida política. E ainda foi sindicalista por 16 anos.

A trajetória política e administrativa do Irmão Afonso Pereira Lopes foi marcada, sobretudo, pela retidão de sua invariável conduta, pela inteireza do seu caráter e pela firmeza do seu compromisso com os verdadeiros interesses do povo principalmente do seu povoado. Que na sua gestão de prefeito, recebeu pavimentação, um Mine Posto de Saúde e a tão almejada Escola para as crianças da localidade. Mesmo diante das dificuldades encontradas como homem público ele sabia, sempre, dar-nos lições de perseverança, humildade, paciência e do que mais fosse necessário para jamais esmorecer.

Quantas e quantas vezes tive a oportunidade de testemunhar o modo como a solidez de suas convicções democráticas e sua visão clara da perspectiva histórica da evolução dos povos eram expostas a todos nós, seus companheiros, a um só tempo como convite à reflexão e estímulo à persistência na luta política, na luta por ideais que pareciam inatingíveis, mas aos quais ele jamais renunciava.

De igual modo, seu exemplo pessoal de desprendimento, de renúncia aos confortos da acomodação e de compromisso com seus ideais, sua biografia de homem público raro, enfim, constitui legado que não pode ser negligenciado nem esquecido. Ele é, e será sempre, um exemplo e um modelo que não podemos nos dar ao luxo de perder de vista.

Em sua trajetória de vida pública, conheceu e trabalhou com Jean Carlos Borges dos Reis, que desde de então ambos tinham um pelo outro imenso, carinho e amizade, chegando a ser considerado pelo Jean como um Pai. No blog o Vandoval Rodrigues disse as seguintes palavras: “o Ex prefeito Afonso, ao lado do seu fiel escudeiro, o Ex vereador Jean Reis”. E o mesmo ficou acompanhando ele até seus últimos momentos de vida, como sempre dizia o saudoso irmão “COMPANHEIRO É COMPANHEIRO”.

Afonso Pereira Lopes faleceu em 14 de setembro de 2018. Foi um exemplo de homem, de marido, de pai, de avô, de bisavô, amigo de todas as horas. Deixou aqui nesta terra: 19 filhos, 36 netos, 06 bisnetos, 08 noras e 09 genros.  Foi o doador do terreno da Igreja Assembleia de Deus, neste povoado de Juçaral e ainda ajudou na construção do templo.

O Salmo 133 era sua marca, gostava e pregava:

1 Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.

2 É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.

3 Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.

 Últimas palavras que mandou dizer aos filhos: FELIZ É A NAÇÃO CUJO DEUS É O SENHOR (SL 33:12).

           Saudações Eternas!

Fernando Ribamar Lobato Viana

Por Francisco Viegas Paz

Em 26 de agosto de 2016, entrevistei o escritor Waldemiro Antônio Bacelar Viana, membro da Academia Maranhense de Letras e filho do Dr. Fernando Ribamar Lobato Viana que, gentilmente, forneceu alguns dados sobre o seu pai.

Antes, porém, busquei na mente a agradável lembrança do Dr. Fernando Viana, quando o via passar pelas ruas da cidade de Peri-Mirim, saudando as pessoas com amabilidade, simpatia e afeto. Com esse jeito carismático participava, efetivamente, da vida dos peri-mirienses, aos quais colocava os seus préstimos de médico a serviço deste povo. A lembrança é das décadas de 50 e 60, com muita saudade e admiração.

Segundo o entrevistado, Dr. Fernando Viana, nasceu em São José de Ribamar no dia 31 de outubro de 1904 e faleceu em São Luís em 10 de setembro de 1983. Ele foi criado em São Bento, onde iniciou os estudos até sair para cursar Medicina. E, à medida que prosperava nos estudos vislumbrava ser útil aos menos favorecidos e de pouco alcance nos serviços médicos daquela época. Objetivo que culminou após a especialização na área médica.

A formação não sucumbiu da mente o gosto pela poesia e pelas letras. De vez em quando, o receituário virava uma página de poesia, ou de um livro. Suas poesias ficaram soltas, aqui e ali, ou publicadas em algumas páginas dos jornais, por serem muito engraçadas. Elas continham um quê de sofisticada rima e humor, que proporcionavam alegria aos leitores. Como esta onde ele referia a si próprio, talvez por achar melhor falar de si do que dos outros, pois sua decência não lhe permitia ofender ao seu próximo, mesmo que poeticamente.

Os anos se vão passando

Com preguiça, no desleixo,

E o nariz se aproximando

Da ponta curva do queixo.

Dr. Fernando desenvolveu um pouco mais a parte literária, pondo em prática o ideal de escritor, que lhe facultou a possibilidade de escrever e publicar dois livros: Folhas Soltas e Seara, os quais por serem interessantes tiveram as tiragens esgotadas, o que dificulta encontrá-los pelas livrarias de São Luís.

Dr. Fernando Viana, também tinha gosto pela política e terminou por conquistar um mandato de deputado estadual. Mas, decepcionou-se com ela e não pretendeu mais enveredar por esse caminho sinuoso, deixando-a definitivamente.

Ele sofreu muito com o falecimento do filho caçula, Fernando Ribamar Viana Filho, em 1953, cujo episódio mexeu demais com o seu coração e a forma de vida. E, diante do acontecimento que o consumia resolveu mudar-se para a Fazenda Canaã no município de Peri-Mirim, a procura de uma vida mais salutar, onde a convivência familiar e a natureza fossem as maiores aliadas na terapia de suporte à perda do filho e na modelagem de uma vida espiritual saudável.

Quando coroinha fui com o padre Edmond Pouliot à Fazenda Canaã ajudar na celebração da Santa Missa, que era realizada em sua casa, mensalmente. A fazenda estava situada num local muito agradável e que impressionava pela tranquilidade e paz. Dentro do ambiente residencial havia uma capela, numa inequívoca demonstração de fé dos habitantes e, segundo o entrevistado, as nove pessoas da família, que lá residiam, eram todas católicas.

Próximo à fazenda, havia uma pista de pouso utilizada para servir às famílias, Viana e Bacelar, no transporte aéreo entre a Fazenda Canaã e a capital São Luís. Naquela época, a empresa de aviação Táxi Aéreo Aliança interligava a Baixada Maranhense à capital São Luís, diariamente, com modernas aeronaves.

Dr. Fernando, não só tratava as pessoas carinhosamente, como também atendia, gratuitamente, a quem buscava seus préstimos na área médica. Muitas vezes chegava a residência algum pai de família levando consigo uma peça de roupa de um filho, para, dali, obter um diagnóstico da esperada cura. Semelhante ao que acontecia, normalmente, com as benzedeiras do interior. Mas Dr. Fernando tirava de letra, pois, pelo tamanho da peça e com a experiência de médico sabia mais ou menos a idade e o peso que aquela criança poderia ter, e o resto vinha na conversa com o pai. O certo é que ele explicava tudo ao portador e entregava-lhe um medicamento, gratuitamente, a ser ministrado na criança que, daí para à frente, passava a ser sua paciente, assim que fosse necessário.

O medicamento ele conseguia também, gratuitamente, com o representante de medicamentos Mário Lameira, em São Luís.

Às vezes Dr. Fernando achava graça da esperança e crença que as pessoas tinham em procurá-lo para curar os entes queridos à distância. Mas quase sempre dava certo, pelo fato de o atendimento ter uma significativa dose de fé dos familiares e a boa vontade do prestativo e solidário médico.

Apesar de ter abandonado a política após o término do mandato de deputado estadual e, por residir há tempo no município de Peri-Mirim, foi convidado para compor uma chapa à prefeitura local, que tinha como candidato majoritário Tarquino Viana Sousa e Dr. Fernando Viana, como vice. A chapa foi vitoriosa e eles assumiram a Prefeitura Municipal de Peri-Mirim, para um mandato de quatro anos, que teve início a partir de 1958 e término em 1961. O município foi agraciado e administrado por dois senhores ilustres e de ilibada conduta moral.

Dr. Fernando voltou para São Luís em 1967 por motivo de doença, ocupando novamente a residência localizada na Rua do Egito, em frente ao Colégio Santa Teresa, onde permaneceu até os dias finais de sua existência.

A fazenda Canaã, hoje reformada e totalmente descaracterizada pertence ao Dr. Remi Trinta, que não conservou a pista de pouso, em virtude das Rodovias Estaduais 014 e 106, oferecerem condições de trafegabilidade adequadas, para ir e vir a São Luís e a outros municípios da baixada maranhense.

Prestar esta simples homenagem ao Dr. Fernando me trouxe muita felicidade e reconhecimento, pelo que ele representou aos conterrâneos de Peri-Mirim.

Floriano Pereira Mendes

Por Francisco Viegas Paz

Entrevistei José Gutemberg Mendes, o Zé de Floriano, que aceitou contar a história do seu pai – um expedicionário da segunda guerra mundial, com todo prazer.

Floriano Pereira Mendes, filho de José Álvares Mendes e Aximena Pereira Mendes, nasceu em São Luís no dia 20 de setembro de 1925 e, ao completar a idade de alistamento militar foi servir ao Exército, momento em que a segunda guerra mundial, comandada pelo nazista alemão Hitler, que sonhava em dominar o mundo, estava em plena atividade de destruição dos países contrários ao seu regime.

O Exército brasileiro, na ocasião, estava recrutando militares para a guerra e o jovem Floriano não pensou duas vezes em colocar o nome como voluntário da Pátria, embora em total desacordo dos pais. Mas a sua inspiração o impulsionava para aquela missão de perigo. E, já que os pais não concordavam com a atitude do filho, ele encontrou um meio de satisfazer o chamamento do Exército Brasileiro e realizar o idealismo de bravura: fugiu e foi se alistar no 6º Regimento de Infantaria de São Paulo, de onde sairia para a Itália. Com os últimos acertos do regimento no Brasil, a Força Expedicionária Brasileira – FEB partiu e chegou à Itália em 16 de julho de 1944, conforme já dito anteriormente.

Floriano foi atingido por uma granada e um estilhaço se alojou na nuca que permaneceu por toda a vida. Além disso, uma rajada de metralhadora perfurou o intestino e estilhaçou o osso da perna. Socorrido, Floriano foi levado para um hospital de base, onde se submeteu a várias cirurgias. As vísceras destruídas foram recompostas por outras de carneiro, as quais se mantiveram compatíveis e sem rejeição pelo organismo do bravo guerrilheiro. E, no osso da perna, utilizaram o implante de uma platina, para ajudar a recompor a tíbia, que se refez de acordo com os princípios da medicina.

No hospital italiano ele ficou sob os cuidados da enfermeira Soraya, que o tratou com muito profissionalismo e carinho, fazendo com que o paciente tivesse uma excelente recuperação, como de fato ocorreu.

Por ter sobrevivido à guerra e voltado para casa, o Exército o promoveu a tenente e o governador do Maranhão, José Sarney, reconhecendo a bravura do maranhense, o patenteou como capitão. Entretanto, ele não chegou a usufruir da promoção de capitão, pois veio a óbito 45 dias depois que tomou conhecimento da justa ascensão. Neste caso, o benefício, de acordo com a lei, ficou a cargo da família.

Quando Floriano voltou para o Maranhão e, ainda solteiro, demonstrava muito nervosismo no dia a dia, com o reflexo dos tiros da guerra e a zoada infernal da artilharia aérea. O pai, que o acompanhava de perto, resolveu mandá-lo para sua fazenda no Agostinho, em Peri-Mirim, com o intuito de tranquilizá-lo. Na região encontrou uma moça de nome Josefa Leite Gutemberg, com a qual começou a namorar e depois ataram o compromisso matrimonial. E assim ele foi gostando cada vez mais do ambiente e terminou fixando residência no local conhecido por Boa Vista no mesmo município, onde o casal teve seus filhos e prosperou como comerciante e fazendeiro.

Boa Vista é um local calmo, que possui os encantos da natureza e muita harmonia, portanto, propício para acalmar até mesmo as tristes lembranças da guerra. Lá, a família se desenvolveu e os filhos tiveram o privilégio de estudar na capital São Luís, levados de avião pelos préstimos do avô que era sócio da Empresa Táxi Aéreo Aliança. A fazenda onde a família Mendes residia tinha um aeroporto de uso exclusivo.

Floriano pode ser considerado um peri-miriense de coração, pois nesta cidade da Baixada constituiu família e colaborou na saúde, na evolução do município, inclusive como partícipe da política local, pela qual tinha certa paixão.

Floriano Mendes era enfermeiro e, na ausência de médicos, exercia os seus préstimos para curar quem o procurava. Com gratidão, lembro que fui curado por ele quando tinha a idade de 12 anos.