Por Francisco Viegas Paz
Em 26 de agosto de 2016, entrevistei o escritor Waldemiro Antônio Bacelar Viana, membro da Academia Maranhense de Letras e filho do Dr. Fernando Ribamar Lobato Viana que, gentilmente, forneceu alguns dados sobre o seu pai.
Antes, porém, busquei na mente a agradável lembrança do Dr. Fernando Viana, quando o via passar pelas ruas da cidade de Peri-Mirim, saudando as pessoas com amabilidade, simpatia e afeto. Com esse jeito carismático participava, efetivamente, da vida dos peri-mirienses, aos quais colocava os seus préstimos de médico a serviço deste povo. A lembrança é das décadas de 50 e 60, com muita saudade e admiração.
Segundo o entrevistado, Dr. Fernando Viana, nasceu em São José de Ribamar no dia 31 de outubro de 1904 e faleceu em São Luís em 10 de setembro de 1983. Ele foi criado em São Bento, onde iniciou os estudos até sair para cursar Medicina. E, à medida que prosperava nos estudos vislumbrava ser útil aos menos favorecidos e de pouco alcance nos serviços médicos daquela época. Objetivo que culminou após a especialização na área médica.
A formação não sucumbiu da mente o gosto pela poesia e pelas letras. De vez em quando, o receituário virava uma página de poesia, ou de um livro. Suas poesias ficaram soltas, aqui e ali, ou publicadas em algumas páginas dos jornais, por serem muito engraçadas. Elas continham um quê de sofisticada rima e humor, que proporcionavam alegria aos leitores. Como esta onde ele referia a si próprio, talvez por achar melhor falar de si do que dos outros, pois sua decência não lhe permitia ofender ao seu próximo, mesmo que poeticamente.
Os anos se vão passando
Com preguiça, no desleixo,
E o nariz se aproximando
Da ponta curva do queixo.
Dr. Fernando desenvolveu um pouco mais a parte literária, pondo em prática o ideal de escritor, que lhe facultou a possibilidade de escrever e publicar dois livros: Folhas Soltas e Seara, os quais por serem interessantes tiveram as tiragens esgotadas, o que dificulta encontrá-los pelas livrarias de São Luís.
Dr. Fernando Viana, também tinha gosto pela política e terminou por conquistar um mandato de deputado estadual. Mas, decepcionou-se com ela e não pretendeu mais enveredar por esse caminho sinuoso, deixando-a definitivamente.
Ele sofreu muito com o falecimento do filho caçula, Fernando Ribamar Viana Filho, em 1953, cujo episódio mexeu demais com o seu coração e a forma de vida. E, diante do acontecimento que o consumia resolveu mudar-se para a Fazenda Canaã no município de Peri-Mirim, a procura de uma vida mais salutar, onde a convivência familiar e a natureza fossem as maiores aliadas na terapia de suporte à perda do filho e na modelagem de uma vida espiritual saudável.
Quando coroinha fui com o padre Edmond Pouliot à Fazenda Canaã ajudar na celebração da Santa Missa, que era realizada em sua casa, mensalmente. A fazenda estava situada num local muito agradável e que impressionava pela tranquilidade e paz. Dentro do ambiente residencial havia uma capela, numa inequívoca demonstração de fé dos habitantes e, segundo o entrevistado, as nove pessoas da família, que lá residiam, eram todas católicas.
Próximo à fazenda, havia uma pista de pouso utilizada para servir às famílias, Viana e Bacelar, no transporte aéreo entre a Fazenda Canaã e a capital São Luís. Naquela época, a empresa de aviação Táxi Aéreo Aliança interligava a Baixada Maranhense à capital São Luís, diariamente, com modernas aeronaves.
Dr. Fernando, não só tratava as pessoas carinhosamente, como também atendia, gratuitamente, a quem buscava seus préstimos na área médica. Muitas vezes chegava a residência algum pai de família levando consigo uma peça de roupa de um filho, para, dali, obter um diagnóstico da esperada cura. Semelhante ao que acontecia, normalmente, com as benzedeiras do interior. Mas Dr. Fernando tirava de letra, pois, pelo tamanho da peça e com a experiência de médico sabia mais ou menos a idade e o peso que aquela criança poderia ter, e o resto vinha na conversa com o pai. O certo é que ele explicava tudo ao portador e entregava-lhe um medicamento, gratuitamente, a ser ministrado na criança que, daí para à frente, passava a ser sua paciente, assim que fosse necessário.
O medicamento ele conseguia também, gratuitamente, com o representante de medicamentos Mário Lameira, em São Luís.
Às vezes Dr. Fernando achava graça da esperança e crença que as pessoas tinham em procurá-lo para curar os entes queridos à distância. Mas quase sempre dava certo, pelo fato de o atendimento ter uma significativa dose de fé dos familiares e a boa vontade do prestativo e solidário médico.
Apesar de ter abandonado a política após o término do mandato de deputado estadual e, por residir há tempo no município de Peri-Mirim, foi convidado para compor uma chapa à prefeitura local, que tinha como candidato majoritário Tarquino Viana Sousa e Dr. Fernando Viana, como vice. A chapa foi vitoriosa e eles assumiram a Prefeitura Municipal de Peri-Mirim, para um mandato de quatro anos, que teve início a partir de 1958 e término em 1961. O município foi agraciado e administrado por dois senhores ilustres e de ilibada conduta moral.
Dr. Fernando voltou para São Luís em 1967 por motivo de doença, ocupando novamente a residência localizada na Rua do Egito, em frente ao Colégio Santa Teresa, onde permaneceu até os dias finais de sua existência.
A fazenda Canaã, hoje reformada e totalmente descaracterizada pertence ao Dr. Remi Trinta, que não conservou a pista de pouso, em virtude das Rodovias Estaduais 014 e 106, oferecerem condições de trafegabilidade adequadas, para ir e vir a São Luís e a outros municípios da baixada maranhense.
Prestar esta simples homenagem ao Dr. Fernando me trouxe muita felicidade e reconhecimento, pelo que ele representou aos conterrâneos de Peri-Mirim.