Autora Eni Amorim
Rebuscando os arquivos da minha memória, revejo um senhor de estatura baixa, de cor branca com bochechas sempre muito rosadas, voz mansa, sorriso fácil, na cabeça, uma calvície bastante acentuada que guarnecia com chapéus de feltro para passear e de palha para trabalhar.
Estava sempre de calças compridas, achava que era desrespeitoso ao homem usar bermudas. Era trabalhador rural, tinha uma casa de farinha, onde, além da produção da farinha, eram feitos deliciosos beijus para tomarmos com café que muitas vezes era produzido no próprio sítio.
No sítio havia também um grande bananal do qual eram vendidos uma parte dos frutos produzidos e a outra, era para uso da família e partilha entre amigos e vizinhos. Vovô também plantava amendoim, cana-de-açúcar, tinha uma garapeira de onde tirava o famoso caldo de cana (garapa) para uso familiar e para a produção de melado, uma delícia por sinal.
Também era apicultor tinha várias colmeias no sítio. Na época da colheita, ele retirava o mel dos favos e nos entregava a cera para chuparmos os resíduos restantes do mel, ficávamos de bucho doce de tanto chupar mel rsrsrs. Era muito prazeroso esses momentos na casa do vovô Calixto.
Era analfabeto, só sabia literalmente desenhar o nome, mas fazia questão que os filhos estudassem, incentivava ao estudo e ao trabalho. A maior vergonha para ele, era ao participar das missas na comunidade não saber ler os folhetos que eram distribuídos.
Era muito família, Casou-se com vovó Joanita, com quem teve sua primeira filha, (mamãe); vovó veio a falecer 40 dias após o parto, ficando vovô viúvo. Mais tarde veio a casar com Terezinha Nunes irmã de tia Joanita (a vida e suas histórias…), com a qual teve 4 filhas: Tias, Isabel Nunes Pereira, Lucinda Bastos, Mara Nunes e Delcy Nunes (em memória).
Gostava de reunir os amigos e vizinhos para tomar um café ou fazer uma festa debaixo da mangueira na frente da casa com seu famoso radinho de pilhas. Outras vezes, reunia a família e vizinhos, contratava pessoas da comunidade que sabiam ler para contar histórias, principalmente histórias de cordel que estava muito em evidência na época…
Tinha o apelido de “Doutorzinho”, talvez por ser um homem sábio, ou por seu espírito de liderança e também por gostar de usar roupas brancas.
Fatos marcantes da vida de vovô Calixto:
1. Gostava de tomar uma bebida chamada “meladinha” feita de mel e cachaça após sua jornada de trabalho;
2. Estava sempre que podia, a ouvir o seu radinho de pilhas;
3. Gostava de assobiar, estava quase sempre assobiando, o que nos remete a pensar que estava sempre feliz;
4. Gostava de tocar Buscapé (um tipo de fogos de artifício), nas festas de bumba meu boi da comunidade e se divertia ao ver as pessoas com medo dos fogos;
5. Gostava de olhar os aviões passando com olhos de surpresa, ou quem sabe com olhos de incredulidade de um novo tempo que estava surgindo com tecnologias que ele não podia compreender…
6. Possuía um humor fora de série, contava piadas fazia piadas, tirava ondas, eu nunca vi vovô bravo. Como dizemos nos dias atuais: ele era ZEN…
7. Quando havia falta de alimentos na comunidade partilhava o muito ou o pouco que possuía com as outras pessoas, (a partilha sempre foi uma prática na família).
Antes de partir deste plano, acalentou um sonho: Ter uma televisão, a qual teve a oportunidade de conhecer ao viajar pela primeira e única vez na capital de São Luís do Maranhão…
Um homem simples, que nos deixou um legado da importância da família dos amigos e do amor ao próximo… Eternas saudades vovô Calixto…