Camelôs em Peri-Mirim: sextas-feiras gordas e magras

Autor Diêgo Nunes

Como dizem os mais velhos: “dia de muito, véspera de nada”. Assim acontece com os camelôs, ou os carros de roupa, como são conhecidos por nossa população, que se instalam às sextas-feiras há aproximadamente trinta anos aqui em Peri-Mirim. A dificuldade financeira os trouxeram não só a Peri-Mirim, mas para algumas outras cidades da baixada maranhense. Que viajam as localidades em busca de uma renda extra.

Aqui em Peri-Mirim, eles iniciaram na Avenida Duque de Caxias com dezesseis barracas de roupas, ficaram lá no período de oito anos, depois mudaram-se e fixaram-se por dois anos no bairro Campo de Pouso, em seguida para o Rua Presidente Vargas, depois para o Mercado Municipal e atualmente estão na Rua Rio Branco situados a dezenove anos, às sextas-feiras, funcionando com doze camelôs, onde vendem roupas, calçados, utensílios domésticos, cosméticos, verduras, entre outros.

Os camelôs são de cidades da baixada maranhense: Viana, São Vicente Ferrer, Matinha, São Bento, Pinheiro e Bequimão, vão em casa e passam com a família algumas horas, fazem o que tem que fazer, organizam e voltam a luta, são viagens rotineiras e costumeiras de toda semana, onde a necessidade os faz ficar longe da família.

Eles já chegam na quinta à tarde, cansados, de uma semana exaustiva, que se inicia no domingo na cidade de São João Batista, segunda em Matinha, terça se dividem, uma parte vai para Cajari e outra para Pedro do Rosário, quarta vão para São Vicente Ferrer, quinta Cajapió, sexta em Peri-Mirim e sábado novamente se dividem, dessa vez em Olinda e Penalva.

Esses camelôs, já passaram e passam por situações difíceis, desde a saída de casa, a ausência no meio familiar, as viagens estressantes, cansativas e arriscadas até às hospedagens indesejáveis, onde eles muita das vezes, se alimentam fora de hora, não dormem tranquilos, já até passaram fome, ficaram o dia inteiro sem tomar banho, pegaram chuva às altas horas da noite, já foram expulsos a cachorro de algumas cidades, ou até mesmo pelo poder municipal, dormiram ao relento ou embaixo das suas barracas que já deixam prontas para o dia seguinte não ter a preocupação em montá-las.

Atualmente existem duas cidades que pensando em proteger o comércio local, proibiram os camelôs de exercerem suas atividades, e em outra cidade, o poder público municipal os cobra o valor de R$ 2,50, referente ao Alvará de Funcionamento, e eles pagam, pois não têm outra opção e nessa cidade corre dinheiro, como diz o senhor Cláudio.

Como antes eles chegaram a ter vinte e duas barracas trabalhando aqui em Peri-Mirim; com a pandemia houve uma redução para doze barracas. Muitos camelôs por conta das situações citados no início, deixaram de exercer a atividade, pois muitos montaram seus próprios negócios, já se aposentaram por idade, têm outras fontes de renda, aí deixaram de vir, nas cidades de Penalva, Olinda Nova e Cajapió, por exemplo, não tem mais nenhum camelô ambulante que atuava nessas aventuras semanais em busca do sustento.

Em Peri-Mirim, como bem sabemos, a cidade é hospitaleira, os camelôs têm muitas amizades, e vendem bem, eles já têm as clientelas certas, quando necessitam de um banho, eles encontram quem os ajude, a fazer suas refeições, eles têm sempre uma mão amiga, qualquer situação, eles são amparados. Dona Ana que trabalha a 15 anos em Peri-Mirim disse tudo: Peri-Mirim é muito acolhedor, quando nós chegamos fomos bem recebidos, vendemos bem, aqui já temos muitos clientes e o melhor, temos muitos amigos, não quero largar de vir pra cá trabalhar, só não moro aqui porque tenho minha família toda em São Vicente senão eu tava aqui direto.

Como diz dona Celina, matinhense que foi umas das camelôs pioneira aqui em Peri-Mirim: Nas sextas-feiras em Peri-Mirim, tem dia que dá bem de venda, tem dia que dá mal, mas o prazer de vim para cá, não tem preço, ao invés de ficar em casa, vamos a Peri-Mirim, quem sabe não vendemos alguma coisa?

Por outro lado, há uma indignação: há várias décadas pelos comerciantes e lojistas perimirienses, pois não existe e nunca existiu  iniciativa do poder público municipal para que as feiras fossem organizadas por eles mesmos, e a renda ficasse aqui mesmo na cidade. Se faz necessário o convite aos artesãos, produtores e criadores rurais expor seus produtos de maneira fixa não só uma vez por semana.

As mudanças constantes outrora feitas pelos prefeitos anteriores, eram reclamações da própria população, pois os camelôs deixavam o local de trabalho sujo, jogavam lixo nos quintais, as calçadas, furavam as ruas com as barracas e com o tempo criavam-se os buracos. Vendo isso os governantes da cidade de Peri-Mirim achavam melhor em mudá-los de localidades. Mas infelizmente os problemas persistem.

Outro fator que contribui para a permanência dos camelôs na cidade, é que existe uma cultura do comodismo, que no camelô as coisas são mais baratas, e o povo que não tem renda fixa, não quer de fato trabalhar, tem vergonha de fazer serviços de ambulante.

Imagem da Internet

Sete de setembro no Grupo Escolar Carneiro de Freitas

Na década de 1970, o dia 07 de setembro era dia de desfile obrigatório no Grupo Escolar “Carneiro de Freitas” em Peri-Mirim/MA, lembro-me da Professora de Ciências, Graça Diniz (in memoriam) que organizava e treinava os pelotões diferenciados, ensaiava acrobacias, danças e performances criativas.

Eu nunca soube onde aquela mulher esquia e brava aprendia essas técnicas. Quando eu cursava a 3.ª série, fui escolhida para sair no Pelotão do “Moinho”, treinei, sabia toda a coreografia. Mas tinha que comprar um tecido quadriculado em vermelho e branco.

Fui tirar as medidas da roupa com tia Rosa – esposa de Constantino -, que morava na sede. Na época eu não sabia o motivo, mas mamãe não comprou o tecido. No dia do desfile, como era obrigatório, tive que ir desfilar de farda.

Ainda bem que eu era a menor da turma e ficava no final do pelotão, assim ninguém podia me ver. Ouvia Graça Diniz gritar: “cadê a Ana Creusa??!!!, cadê Ana Creusa??!!”. Não sei se ela me viu, mas o desfile começou e eu podia ver a turma do “Moinho” com suas evoluções.

Senti o gosto amargo da decepção, na mesma hora compreendi que minha mãe não pôde comprar o tecido, pois a tia Rosa não cobraria pelo feitio da roupa.

Voltei para casa, não falei nada para minha mãe, não falei da minha decepção, nada! A professora discreta, que já tinha sido minha professora na 2ª série, também nunca falou sobre o assunto comigo, acho que ela também compreendeu que eu não tinha roupa para sair no pelotão especial.

Graça Diniz voltou a ser minha professora no Ginásio, na matéria Ciências. Quando eu a via, sempre lembrava do fato. Mas eu tinha uma forma de chamar a atenção daquela nobre professora: era estudar mais! Na 5ª série ginasial apenas três alunos passaram direto, sem fazer prova final, eu estava entre eles, com Gilberto Câmara e Delma Ribeiro.

Memórias de Ana Creusa

Peri-Mirim: Serra Velho

Autora: Eni Amorim

Não se pode afirmar como quando vieram para o Brasil as folias portuguesas da serração do velho. O que se sabe é que as crônicas coloniais do começo do século XVIII já falavam delas com entusiasmo (Mário Ferreira de Medeiros).

Eram festas de rua do povaléu (ralé). Segundo o site meussertões.com.br essa estranha brincadeira se espalhou pelo Brasil principalmente nas regiões norte e nordeste a partir do século XVIII. Constava no rito os motejos contra o velho, sua tortura e morte por meio da serração.

Em conversas com algumas pessoas da comunidade entre elas minha mãe (lnácia Amorim), ela me contou que na comunidade de Santana e Serra (povoado extinto), os moradores cultivavam a prática de realizar o folguedo.

Segundo os entrevistados essa brincadeira acontecia no período da quaresma: um grupo de pessoas da comunidade, na maioria jovens alegres que gostavam de se divertir e aprontar presepadas se reuniam e com alguns objetos, tambor, serra, tamborim, cuíca, latas, panelas o “diacho a quatro”, escolhiam sua vítima, de preferência um velho ranzinza da comunidade para ser “serrado”. Um dos critérios usados era que a vítima tinha que ser avô (ó), ou como dizemos: “estar no crepúsculo da vida”.

Então, à luz da meia-noite o grupo saía para fazer a serra na pessoa definida. Chegando na casa do dito cujo, chamavam o fulano de tal pelo nome, quando este respondia, diziam: -Levanta para vestir a camisa da verdade! Aí começava a zoeira, batiam nos tambores e latas, serravam gritavam, choravam como se o fulano de tal tivesse morrido e assim a brincadeira seguia noite a dentro nas casas das vítimas definidas.

Alguns moradores já suspeitando que podiam ser serrados não caiam na pegadinha, em contra partida, havia morador que entrava na brincadeira de bom humor enquanto que havia outros que não aceitava a brincadeira, ficavam bravos, xingavam os organizadores da brincadeira, enquanto quem estava de fora se divertia.

Nesse contexto do folguedo do “serra-velho”, mamãe me contou uma das presepadas que aconteceu com um morador da comunidade de Santana.

O grupo de jovens da sua época, isso na década de 50, escolheu como vítima o Sr. Bertoldo, este era irmão de meu bisavô, Domingos do Rosário. Alguém dedurou o grupo contando antecipadamente para este que ele seria serrado, então o mesmo começou a guardar mijo no pinico para surpreender o grupo.

No dia definido para a serra, este subiu nu em um cajueiro que ficava na frente da sua casa munido com o mijo dormido em um recipiente. Como a noite estava escura não dava para vê-lo.

Quando o grupo chegou, na calada da noite, o líder do grupo o chamou mudando sua voz para não ser reconhecido:
– Eh Bertoldo, eh Bertoldo… não obtendo resposta prosseguiu:
– Acorda para vestir a camisa da verdade! E começou a barulheira, um serrava um pedaço de madeira, batiam nas panelas, latas e tambores.

Foi quando o Sr. Bertoldo jogou o mijo dormido em cima do grupo e pulou no meio deles peladinho e foi aquele alvoroço, eles sorriram muito da presepadas e foram para casa banhar pra tirar o cheiro de mijo.

Pessoas entrevistadas:
Inácia Amorim; Terezinha Nunes Pereira; Mara Nunes; Nani Sebastiana e Maria Rosa Gomes.

Nota da Autora: Aos poucos a brincadeira foi se extinguindo, já na década de 60 e com a migração de muitos jovens para estudar nas cidades não mais se viu a brincadeira vindo a se extinguir por completo.

O Cangaceiro Tito Silva

Autor Manoel Braga

Tito Silva era filho de Wenceslau Silva, que por sua vez era filho de João Silva. Todos eles nasceram na localidade Ilha do Veado pertencente ao hoje município de Peri-Mirim. Contam que Wenceslau passou 1 ano dormindo no cemitério do Souza na Malhada dos Pretos após ter cometido um assassinato.

O crime se deu por causa de uma brincadeira muito comum tempos atrás na Baixada. Era chamada de Serra. Consistia em fazer um ritual fúnebre de uma pessoa idosa que por ventura existisse na comunidade. Era um pouco macabro. Era feita a leitura de um suposto testamento do idoso em que suas coisas eram deixadas para os vivos.

Esse ritual era realizado tarde da noite acompanhado de muita zoada. Todo velho morria de medo de ser serrado. Tinha um instrumento confeccionado especialmente para essas ocasiões chamado de corrupião. Constituía-se de um pedaço de madeira onde era enfiado um fio que a pessoa segurava e rolava sobre a cabeça o que causava um barulho ensurdecedor. Muitas pessoas participavam da brincadeira.

Tinha uns que batiam em lata. Outros imitavam animais. Principalmente o acauã (rasga mortalha). Nesse ritual, o bode era muito comum também. Este geralmente se roçava na parede da casa feita de pindoba para criar o clima de despedida do idoso.

Uma determinada noite a “canalha” resolveu que era chegado o dia de rocar seu João Silva que já estava bem velho. Estava no ponto de ser serrado. Era tarde da noite, estava na hora de começar o ritual. Fizeram zoada. Leram o testamento. Distribuíram as coisas de seu João. Teve um que subiu em uma árvore e começou a imitar o rasga mortalha.

Seu Wenceslau, pai de Tito Silva, muito brabo pegou uma espingarda, esperou o rasga mortalha piar e largou chumbo. Foi só um tiro. O cabra caiu durinho. Acabou a brincadeira. A brincadeira acabou mesmo. Não fizeram mais esse ritual. Mandaram prender seu Wenceslau. Ele para não ser encontrado durante o dia se escondia no mato. À noite vinha dormir no cemitério onde sabia que não iam procurar por ele. E assim ele escapou muito tempo da prisão.

O primeiro prefeito de Bequimão, que nesse tempo ainda chamado de Santo Antônio e Almas foi o capitão José Mariano Gomes de Castro. Era um grande proprietário de terras, fazendeiro, comerciante e delegado. Certa ocasião o prefeito que, também, era o delegado mandou prender Tito Silva acusado de roubo de gado.

Durante a prisão, o denunciado foi muito torturado. Para completar, o delegado trouxe a mulher dele e na frente de Tito foi humilhada, teve suas vestes rasgadas e sofreu abuso sexual. Tito ficou injuriado. Prometeu que se vingaria.

Tito foi enviado para cumprir sentença na fazenda do senhor Antonio Sousa que era grande proprietário de terras na Tijuca. Tito ficou por lá um certo tempo, mas sempre esperando uma oportunidade para fugir. Durante esse tempo ele apresentou um bom comportamento. Ficou de confiança do fazendeiro.

Até que um dia o senhor Antonio chegou de viagem, apeou do cavalo e o entregou para Tito lavar e dá de comer. Era tudo que Tito tanto esperava. Tito aproveitou a oportunidade e deu no pé. Foi embora para o sertão.

Depois de um certo tempo ele voltou, já com um bando formado. Chegou à propriedade de seu Antonio num dia em que ele tinha encomendado uma missa. Tito com seu bando acabaram a festa. Fizeram zoada, deu tiro para cima e em todas as direções.

Dizem que o padre ficou tão assustado que se jogou do segundo pavimento da casa, só não morreu porque caiu dentro de um depósito de melaço. A mãe de seu Antonio, uma idosa, quase morre de susto. Contam que uma bala perdida pegou em uma garota que ficou se contorcendo de dor. Tito vendo aquilo pegou o seu punhal e enfiou na criança acabando com a sua agonia.

Depois dessa confusão toda que ele causou na casa do senhor Antonio Sousa, ele rumou para Bequimão para consumar sua vingança. Chegando lá, ele localizou o Coronel José de Castro. Ele o prendeu. Torturou o quanto pode. Furou os olhos e o castrou. Por último cortou as orelhas que levou para mostrar para a mulher como prova da sua vingança.

No final ele perguntou ao Coronel: – sabe o que vim fazer? – Eu vim te matar. O coronel era homem duro disse para Tito: – homem se mata, não se maltrata. Nisso um dos homens de Tito, achando que o vexame do coronel já tinha sido muito deu um tiro e acabou com o sofrimento do velho.

Depois de consumada a vingança, os homens de Tito se dispersaram. Tito acabou sendo preso. Foi enviado para cumprir pena em uma fazenda do governador do estado que na época era Magalhães de Almeida e que tinha como vice Marcelino Machado. Dizem que os dois mantinham uma relação homo afetiva. Tito estava bem por lá. Bom comportamento e tudo.

Um certo dia, para azar de Tito ele viu os dois se amando. Tito se escondeu. Mas eles ficaram com a dúvida se Tito tinha olhado ou não. Eles tinham medo que a relação deles viesse a público acabando com a trajetória política deles.

Um dia, eles chamaram Tito e perguntaram o que ele tinha visto. Ele disse que não tinha visto nada. Mas eles não acreditaram. Eles botaram Tito para cavar um poço. Quando já estava com uma certa fundura eles perguntaram ao Tito: – tu sabe o que tu tá fazendo e ele respondeu: – estou cavando a minha sepultura. Então, deram-lhe um tiro e o enterraram. E assim acabou a trajetória de vida violenta que Tito levou.

Nota do Autor: Parte desta história deve ser tratada como lenda, pois, baseou-se em ditos dos mais antigos. Sabe-se que pessoas como Tito Silva têm em torno de si muitos mistérios.


Sobre a foto destacada:  Na legenda da foto do livro Adagas & Punhais do irmão @antonioguimaraes355 está: “Cartão fotográfico emitido pelo retratista Joaquim Moura Quinou. Foto em gelatina e prata. Retrato do cangaceiro Tito Silva na cadeia pública de São Luís-MA, pouco antes de ser transferido para o Aprendizado Agrícola Christiano Cruz”. Acervo Antonio Guimarães. Querem programa sobre ele? Eu já queria um filme! Sua história é espetacular. Saiam da bolha, o assunto cangaço é muito maior que o ciclo LAMPIÔNICO.

PERI-MIRIM: Engenho e Poço de Pedras da Fazenda São José

Autora Ataniêta Martins

Nossas histórias são lembradas quando alguém se dedica a escrever ou contar sobre elas.

A Fazenda São José, localizada no Povoado Tapera em Peri-Mirim ainda exibe peças de um engenho antigo que funcionou naquele local que, segundo relatos, era bastante lucrativo aos fazendeiros que ali residiam.

Atualmente ainda podemos encontrar por lá, peças que foram deixadas para trás, fora do padrão das que são usadas hoje nos engenhos, o que denota que são peças de um engenho antigo. Pode-se observar que o local onde funcionava o engenho, foi escolhido por ser calmo e sereno, onde podiam trabalhar tranquilos e onde podiam ouvir os cantos dos pássaros.

As árvores antigas são testemunhas de quanto tempo essas peças do engenho estão ali enterradas. Embaixo das plantas entrelaçadas umas às outras, exibindo grossas e profundas raízes, que indica que estão ali por muitos e muitos anos e em estado de completo abandono.

Vendo aquelas peças, fico a imaginar se nossa Peri-Mirim tivesse um museu para expor essas peças, tanto a História seria preservada, como mais pessoas poderiam conhecer esse material de grande valor. Seria interessante fazer a catalogação para a nossa e as próximas gerações saberem que no nosso município existiram moinhos que funcionavam com mão de obra escrava.

Também pude verificar que na fazenda São José existe um poço, chamando de poço de pedras, construído por mãos talentosas e mágicas dos escravos que viveram naquela época; feito para saciar a sede do gado e para o trabalho no moinho. O interessante é que as pedras foram cortadas ou encontradas de um só tamanho e lá colocadas, tudo articulado com peculiar beleza.

Atualmente, o poço encontra-se entupido até certa profundidade, certamente por falta de cuidados. Com a abolição da escravatura e consequente fechamento do engenho, o poço passou a ser usado na pecuária, pois os futuros moradores dedicaram-se à criação de gado bovino.

Outro fato importantíssimo é que existem árvores centenárias, mangueiras e, em destaque, um bacurizeiro com mais de 130 anos.

Nota dos Editores: O livro Curiosidades Históricas de Peri-Mirim, de autoria de Francisco Viegas, destaca que houve a existência de 11 (onze) engenhos antigos em Peri-Mirim: 1) Rio da Prata; 2) Santa Filomena; 3) Engenheiro Queimado; 4) Engenho Tijuca; 5) Teresópolis; 6) Santa Cruz; 7) Santana; 8) São Luís Bacelar; 9) Itaquipé; 10) Palestina e 11) Engenho Santa Estela. Com a descoberta do Engenho São José, são em número de 12 (doze) os engenhos antigos de Peri-Mirim.

Peças do Engenho
Peças do Engenho
Poço de Pedras
Poço de Pedras

PERI-MIRIM: Fazenda São José – Século XIX

Autora Ataniêta Martins

Essa fazenda tem uma grande história para ser explorada e contada.

A Fazenda São José fica localizada no Povoado Tapera, município de Peri-Mirim. Construída no século XIX, por mãos talentosas e mágicas de escravos que viveram naquela época. A fazenda encontra-se intacta atualmente, sem nenhuma modificação, tudo feito com materiais bem resistentes.

No centro da cozinha, encontra-se até hoje um poço, com águas cristalinas que serve para saciar a sede dos moradores daquele lugar.

Na época de sua construção, a fazenda era iluminada por candeeiros que funcionavam a querosene, depois a motor e atualmente com energia elétrica.

Várias famílias residiram na fazenda São José: incialmente morou a família do coronel Joaquim Sousa (fazendeiro rico, prestativo com sua comunidade); Dr. Viera Fontes que, em relatos do senhor Antônio Brígido Ribeiro, o Dr. Vierira Fontes, era desembargador, homem mais rico da redondeza, tinha uma caneta era de ouro, era respeitado por quem o conhecia, foi um dos primeiro a trazer helicópteros ao município.

Posteriormente residiu o coronel Altiberto Francisco Câmara, que possuía o título honorário de Soldado da Borracha, por ter sido dono de seringal em Porto Velho – Rondônia. Um de seus filhos, Ney Câmara, relatou-me que ele, era homem de caráter, valorizava a família sendo o bem mais precioso, deixou saudades à família e à comunidade. Tive o prazer de conhecer sua amável esposa, a Srª Maria do Rosário Câmara, com a qual passava horas conversando, devido meu amor pelos estudos das raízes históricas do seu município.

A Fazenda também pertenceu ao senhor José Domingues Pinheiro, dono de muitas fazendas na Baixada, das quais conservara os detalhes históricos.

Atualmente a fazenda tem como proprietário, o Sr. Sérgio, que é advogado, conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Maranhão. O Dr. Sérgio tem por meta restaurar a fazenda e garantir a preservação da fauna e flora, com intuito de deixar para as futuras gerações um património Histórico-Ambiental preservado.

Peri-Mirim, 13 de maio de 2020. PS: A fazenda já passou por reformas.

A procissão

Autora Eni Amorim

O festejo de São Sebastião em Peri-Mirim este ano aconteceu de um modo atípico.

São Sebastião cuja imagem que do cume do outeiro da Currupira vigia a cidade e que pela sua história de vida é o protetor das pestes, da fome, das guerras e das calamidades.

Hoje a sua imagem desfilou ornamentada em flores vermelhas e brancas em cima de um carro de som, seguida por outros carros com alguns devotos.

Uma procissão meio solitária sem a alegria pujante dos filhos da cidade e visitantes que costumavam seguir em grande multidão misturando-se pelas ruas da cidade em cantos e orações.

Este ano poucos filhos do lugar visitaram suas famílias como costumeiramente faziam nesta data festiva.

As celebrações litúrgicas aconteceram com restrições seguindo rigorosamente regras para a prevenção da Covid-19.

Durante a procissão caía uma chuvinha fina como se fossem lágrimas dos filhos da nossa terra que não puderam aqui estar ou que partiram para outro plano levados pela pandemia ou por outros tipos de doenças.

E a procissão seguiu seu curso rumo ao encontro do Sacrário, Cristo Vivo que reluz para toda a humanidade aonde o povo clama por milagres com a fé de que somente Deus é capaz de fazer, pois se dependermos exclusivamente de mãos humanas nada acontecerá.

O Festejo religioso realizado na comunidade é a exemplificação de uma história cultural na qual há uma impregnação no universo cultural do Povo da Comunidade. Sendo assim, os rituais aparecem como manifestações marcadas por atividades coletivas, pelas inúmeras representações e pela celebração em torno da imagem do santo protetor. O festejo religioso ultrapassa a si mesmo como unidade temporal para religar o visível e o invisível, aquilo que está dentro e fora de um tempo, buscando estabelecer laços comunitários, de identidade étnica e tradição dentro das mais variadas relações de poder existentes na comunidade.

Peri-Mirim, 20 de janeiro de 2021.

A HISTÓRIA DA MINHA CIDADE

Por Diêgo Nunes

Vamos juntos dar início
com muita animação
falar de uma cidade
que é pedaço do Maranhão

é a nossa Peri-Mirim
Terra de São Sebastião
que amamos a cada dia
com muita satisfação

cem anos de muita história
Tu tens a contar
foi povoado de São Bento
chamada Macapá

a história da minha cidade
é bonita de se ver
herança de várias culturas
povos que vieram aqui viver.

Tem a história dos três irmãos
que aqui se fixaram
Marcelino, Maximiniana e Martiliano
onde estas terras desbravaram

de Alcântara e São Bento
vieram alguns moradores
que aqui se encantaram
com os campos e as flores

produtora do arroz,
da mandioca e também do babaçu
tem a famosa piaba, farinha
tiquara e angu

aqui existe o famoso festejo
que atrai gente de todo lugar
a festa do padroeiro
aonde todos vem comemorar

tem as danças folclóricas
Bumba-meu-boi e cacuriá
tem balaio, dança do coco,
e a quadrilha para animar

festejo do divino,
tambor de crioula e mina
forró de caixa, corrida de cavalo
tudo isso me fascina.

Terra de muito encanto
que nos traz recordação
a sua bandeira tão linda
criada por alguém de coração
chamava-se Paulo Oliveira
homem de determinação
que a enriqueceu com as cores do Brasil
e do nosso querido Maranhão

O Hino de Peri-Mirim
criado por João de Deus Paz Botão
retrata a nossa cidade
que é aclamada por emoção
fala dos campos, paisagens, características de uma nação
conta à história de um povo
que vive em paz e união

Em 1919 foi elevado município
mas continuou com o nome Macapá
pra isso teve que ser mudado de nome
e algo da terra homenagear
como tinha muito junco
então Peri-Mirim resolveram colocar

Tem vários encantos
verdadeiras belezas naturais
campos inundáveis
e florestas de babaçuais
pena que alguns rios
já não existem mais

Quero aqui mencionar
o talento das redeiras
que muitos sustentos trouxeram
e não levaram em brincadeira
o serviço era pesado
mas, mesmo assim não dava canseira

tem coisa boa e ruim
muitas histórias pra contar
mas o que é mais importante
é que amo esse lugar.

Lua Boa Vista

Lua

Autora Eni Amorim

O sol se despede no horizonte,
bocejando sonolento;
O vento assobia no quintal,
assanhando as palmas das juçareiras;
A lua apareceu lá no céu,
grávida de luz;
Sua luminosidade,
aos poucos vai pintando,
a noite cor de prata;
O caburé cantou seu canto solitário,
na mangueira do quintal;
Mamãe diz que é prenúncio do verão;
Marrecos passam,
com seu grasnado estridente,
rumo aos campos inundáveis;
Um casal de corujas suindara (rasga mortalha),
passam piando seu pio agourento,
para a torre da igreja;
Morcegos catam amêndoas,
na amendoeira e saem,
a semear pelos quintais;
E a lua,
lá do alto do seu esplendor,
desfila entre as nuvens,
conversa com as estrelas,
que brilham ainda mais,
diante de tanta formosura;
Os galos cantam mais cedo;
perdidos com a claridade da noite;
Na madrugada,
a Estrela da Alva,
aparece no céu,
dançando com a noite
e suas silhuetas;
Que aos poucos vão se escondendo,
enquanto o novo dia vai raiando…

Imagem de destaque: Eclipse solar na Boa Vista, Peri-Mirim/MA. Fotografia Ana Creusa. 

Quebradeira de coco

Autor Diêgo Nunes Boaes

Quebradeira de coco solteira, que cedo levanta, passa o café no velho bule, no fogareiro de barro, utilizando o carvão feito da casca do coco babaçu. Pega um pano, faz dele uma rodilha, uma proteção para a cabeça, pega sua “manchada”, sua “mancepa” e uma lata de meio quilo, este último era para medir a quantia de amêndoa de coco, colocava-os dentro do cofo e depois sobre sua cabeça, enrolava o vestido para ficar mais curto e colocava a mão na cintura para servir de contra-peso.

Segue para o mato para juntar coco. Junta um, dois, um aqui outro acolá, enche o cofo até transbordar, procura um local e os despeja, ficando um sobre o outro formando uma ruma. Ao terminar de juntar o coco, ela pega um tronco forte cortado ou raiz de mangueira ou de cajueiro, prega a “manchada” sobre o tronco com auxílio da “mancepa”, espécie de martelo de madeira, e assenta sobre o chão.

Começa a quebrar, em suas “mancepadas”, inicia uma de suas cantorias para ver o tempo passar ligeiro. Como passa-tempo aquelas cantigas de caixa eram as que se sobressaiam e lhe davam companhia naquele dia. Colocava as amêndoas dentro do cofo e as cascas do lado, estas iriam mais tarde para a caeira, um buraco feito para queimar as cascas transformando-as em carvão, que mais tarde também serviria, tanto para usar no preparo da alimentação, quanto para vender.

A quebradeira já de costas doídas daquele dia inteiro de batalho, chega em casa com seu cofo de amêndoas. Uma parte para venda, outra para alimentação das criações e  para a fabricação do azeite. Ela separa as da venda, soca no pilão as amêndoas que irá utilizar em casa, uma parte do bagaço serve de alimento para as galinhas caipiras, a outra vai para o caldeirão, que logo transformará em azeite.

O leite de coco serve para engrossar o caldo do peixe consertado em “tic tic” e também para ajudar na fabricação dos deliciosos bolos de tapioca. Das cascas ela retira o fubá para fazer mingau para as crianças menores da casa. E coloca na caeira o restante, ascende a caeira, cobre com as pindobas, palhas verdes de babaçu, e bastante terra, para abafar. E aguarda que o fogo faz sua parte.

No fim do dia ela retorna para tirar o carvão. Leva para casa os cofos fardos, e a casa enche de alegria. Prepara o mingau para os menores dormirem. E na ceia da noite prepara a mesa com aquele peixinho gostoso da água doce, e de sobremesa aquele café cheiroso, torrado com erva-doce, com o delicioso bolo de tapioca, digno de uma mulher guerreira. E assim é a história que se inicia dia após dia.