O LEGADO DE KEILA ABREU MELO EM PERI-MIRIM/MA

Por Diêgo Nunes e Edna Jara

Keila Abreu Melo Diniz nasceu em Peri-Mirim em 18 de junho de 1969. Filha de Manoel Melo (In Memorian) e Javandira Abreu Melo, foi a quarta filha de um total de seis: Manoel (In Memorian), Jeisa, Nilson, Keila, Gisele e Kênnya). Filha muito dedicada, com sua mãe e seus familiares. Casou-se com Alan Fábio Pereira Diniz e tiveram dois filhos: Luiz Eduardo Melo Diniz e Alain Victor Melo Diniz.

Morou quatro anos em São Luís para estudar. Formou-se em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. Iniciou sua vida profissional muito cedo. Apaixonada pela educação, Keila já sabia o que queria. Assim, serviu o município de Peri-Mirim como educadora há mais de uma década. O seu primeiro emprego nesta cidade foi por contrato do Estado.

Era uma pessoa que amava muito tudo o que fazia. Pessoa de caráter, sincera, lutadora, colaboradora, esportista, digna, alegre, enérgica, acolhedora, lecionava com dedicação…; Estes são só alguns dos atributos que descrevem quem a conheceu.

Todas estas características chamaram a atenção das autoridades políticas da época, que lhe ofereceram o importante cargo de Secretária Municipal de Educação. Ela, de bom grado, aceitou o desafio.

Sua família testemunhou as muitas noites, madrugadas, dias, fim de semana e até feriados que Keila dedicou a este serviço público. Não foi fácil, mas ela, mesmo com pouca idade que tinha exerceu a sua gestão com muita competência, dedicação e carinho.

Deixou seu legado no município de forma positiva. Pois foi um exemplo de mulher guerreira, justa e transparente em seus relacionamentos e ações, sensível, empática, companheira e fiel em todos os momentos e para tudo. Além de gostar de fazer caridade, foi torcedora do Vasco da Gama, católica ativa e dizimista atuante.

Um problema cardíaco, até então desconhecido, tirou a vida de Keila através de um infarto fulminante aos trinta e dois anos, mais precisamente em: 03 de junho de 2002.

A lição que ela nos deixou foi viver a vida com disposição, alegria, dedicação, cultivar amizades e o amor em família.

Keila partiu muito cedo desta vida. Mas sua missão aqui na terra foi de grande relevância ao nosso município na área da Educação.

Em sua homenagem, o vigésimo quinto prefeito da cidade, José Geraldo Amorim Pereira, no seu segundo ano de administração (2001-2008) nomeou o prédio construído ao lado do antigo prédio da Câmara (atual prédio da Secretaria Municipal de Assistência Social) como “Keila Abreu Melo”. Ainda no mandato de Afonso Pereira Lopes (2009-2012), assim, como uma parte da gestão do Prefeito João Felipe Lopes (2013-2016) funcionou o curso de informática para alunos da rede pública municipal e estadual ministrados por instrutores contratados.

Por interesse da gestão da época e em concessão com a Câmara Municipal, dezesseis anos após seu falecimento, o nome “Keila Abreu Melo” foi decretado permanentemente como nome oficial da escola municipal localizado no Bairro Campo de Pouso.

Seguindo o histórico da referida escola, o autor perimiriense Francisco Viegas Paz, em seu livro “Curiosidades Históricas de Peri-Mirim (2014), relata que a Escola Municipal “Tarquínio Viana de Sousa”, localizada no bairro Campo de Pouso, foi construída na administração de Carmem Martins, entre 1989 e 1992. O nome homenageou o ex-prefeito e pai da executante da obra. Funcionava nos turnos matutino e vespertino o ensino fundamental, com a capacidade de abrigar por turno 200 alunos.

Durante seis anos (2003 – 2008) o prédio foi cedido ao Estado para alojar alunos do Centro de Ensino “Artur Teixeira de Carvalho” das séries finais do ensino médio.

Retomado para as atividades da gestão municipal, serviu como primeiro anexo da Escola Municipal “Cecília Botão”. A extensão se deu pelo número crescente de alunos advindos dos mais diversos povoados do município de Peri-Mirim. A escola matriz já necessitava de um espaço mais amplo que pudesse atender a esta nova realidade, porém, dado o aumento da demanda foi necessário adequar este novo espaço de atendimento.

Foi pelo Decreto nº 007/2018 de 11 de julho de 2018 que o nome da Escola Municipal “Cecília Botão” – Anexo I passou a ser oficialmente Escola Municipal “Keila Abreu Melo”. Localizada no Campo de Pouso, s/nº, Peri-Mirim. A escola se tornou uma entidade independente pela criação da sua inserção cadastral na Receita Federal do Brasil e cadastro no Ministério da Educação recebendo código do INEP próprio.

A escola é mantida pela Prefeitura Municipal de Peri-Mirim e administrada pela Secretaria Municipal de Educação – SEMED e PDDE, sob CNPJ nº 30.681.962/0001-14 e INEP nº 21274010 e está baseada na metodologia do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC. O nível de ensino é o Fundamental séries iniciais (1º ao 5º ano), podendo abrigar 240 alunos distribuídos em quatro turmas ativas nos dois turnos. Atualmente, os departamentos estão divididos assim: sala da direção, secretaria, cantina, banheiros, salas de aula e uma pequena biblioteca.

A instituição atende alunos provenientes das Comunidades/Povoados do município. As crianças e adolescentes dos quais constituem o corpo discente desta escola apresentam perfis socioeconômicos e culturais distintos pertencentes a diversas classes sociais, a maioria são de origem de famílias de trabalhadores rurais, pescadores e funcionários públicos. São beneficiados também por programas do Governo Federal como Bolsa Família, além de recursos diretos do FNDE: PDDE (novo Mais Educação), que contribuem diretamente para formação de um ser humano mais digno.

A Escola Municipal Keila Abreu Melo vem sendo administrada desde janeiro de 2021 pelas gestoras Darlene Nunes e Tereza Nunes as quais vêm realizando um trabalho em conjunto com sua equipe escolar voltado para o foco em projetos pedagógicos sincrônicos às competências da BNCC que envolvam alunos, famílias e a escola no processo de ensino-aprendizagem na atual modalidade: ERE – Ensino Remoto de Emergência.

A decisão de nomear a escola como Keila Abreu Melo veio do desejo popular de perdurar seu legado com honras e méritos de educadora excelente nos anos de atuação.  A escola por sua vez, honra a graça de poder cativar essa herdade com resultados satisfatórios de um ensino eficaz e sempre oferecendo uma educação melhor e de qualidade para as crianças e adolescentes do nosso município.

Colaboradores: Família e amigos de Keila A. Melo.

Velho Casarão

Por Eni Amorim

Vendo-te definhar nas sombras das tuas ruínas,
Remonto-me para o período da tua aurora juventude, onde reinavas majestoso na imponência do tempo.
Guardas em tuas ruínas histórias e lendas de personagens que habitaram dentro de ti; Histórias de amores e desamores, esperanças, alegrias, tristezas, angústias, perdas e reencontros, chegadas e partidas…
Nas histórias do senso comum que brotam da imaginação de uma gente humilde surge a lenda da ’’Freira de chamató’’ (tamanco). (Eis que na calada da noite uma freira de chamató passeia pelas varandas do casarão com seu toc, toc irritante.) Lenda essa que fez o casarão tomar uma conotação de ‘’Casarão mal assombrado’’.
Guardastes no teu abrigo: religiosos, trabalhadores, viajantes, vendedores e moribundos…
Abrigas nas tuas entranhas histórias de muitos atores, cada qual com sua singularidade que lhe é peculiar.
Agora que a velhice chegou e que não tens mais o vigor de outrora,
Jazes esquecido ao relento e aos maus tratos, Não passas de escombros e de local para deposição de excrementos humanos e abrigo para os animais que perambulam pelas ruas da cidade.
E você, velho casarão, aguarda que o tempo complete o teu processo de oxidação, enquanto você figurará nos fragmentos de uma história nas névoas do tempo.

Peri-Mirim, 20 de junho de 2015

Anastácio Florêncio Corrêa

     Nasceu no dia 11 de março de 1939. Filho de Honório Pereira e Maria da Anunciação Correia, sendo o 3° dos onze filhos, seus irmãos são: Justino Corrêa, Valdemar Corrêa, João de Deus Corrêa, Maria José Pereira, Agostinho Corrêa, Valmir Corrêa, Dulcinete Corrêa, Maria Raimunda Corrêa, Raimunda Corrêa e Edvan Corrêa. Todos residiam na Serrinha – Pericumã. Avós Paternos: Joaquim Pereira e Plautila Pereira e avós Maternos: João da Paciência Andrade e Emília Correia, moravam no Povoado Conceição.

    Começou a estudar com dez anos de idade, na Escola Urbano Santos, com a professor Ciroca, com quem estudou a carta do ABC, Cartilha e o Livro do 1° ano. Sua segunda professora foi Maria de Crescencio, por 6 meses. Depois estudou a EJA, com 32 anos de idade, no CEMA, com a professora Maria da Conceição Corrêa.

     Com 12 anos já trabalhava na Lavoura, pescava e caçava na mata e no campo. Casou-se, com Helena Ribeiro no dia 20 de janeiro no ano de 1960, com quem teve 10 filhos, residindo no Barreiro.

      São eles:  José Reinaldo Ribeiro Corrêa, Reinivaldo Ribeiro Corrêa Rosângela Ribeiro Corrêa, Rosélia Ribeiro Corrêa, Ruben Ribeiro Corrêa, Rui Ribeiro Corrêa, Alda Regina Ribeiro Corrêa, Everaldo Ribeiro Corrêa, Roseane Ribeiro Corrêa e Herbeth Ribeiro Corrêa e mais dois com a senhora Claredite Nogueira, que são Júlio César Nogueira e Fernando Nogueira. Nos anos de 1965 e 1966, foi estudar no Município de Guimarães, na Escola da fé, seis meses em cada ano. Mudara-se, para a sede do Município no ano de 1970.

      O povoado Pericumã, tinha somente duas casas, uma de Honório e outra do seu pai. Depois, foi construída a de Rosico e a de Pedrinho Pereira e da Senhora Joaquina. Não havia estradas, só caminhos abatidos pelos moradores, dividido em quarteirões pelo prefeito. No ano de 1956, Clóvis Ribeiro abriu um comércio no Barreiro e falou com a professora Ciroca para ministrar aulas na casa de André Avelino. Após Ciroca a professora foi Helena Ribeiro, no ano de 1959. Ano no qual Clóvis Ribeiro falou com o prefeito da época, Agripino Marques para construir a Escola Urbano Santos. Sendo Helena Ribeiro a professora até o ano de 1970 e nesse mesmo ano chegou em Peri-Mirim o Padre Edmundo e por ele foi construída a igreja do Barreiro, próximo a Escola. Depois a professora passa ser Juscelina Pereira, por um período de 22 anos.

        No ano de 1970 passa a morar na sede do Município, na casa alugada de Jair Amorim e no dia 27 de fevereiro de 1978, através do Deputado Chiquitinho, ganhou uma nomeação do Estado, para trabalhar como vigia no CEMA, a diretora era Concita Pereira. Trabalhou nessa função por 33 anos. Em 1983, no mês de setembro se separou da esposa, Helena Ribeiro Corrêa. Depois morou com por 11 anos com Maria de Jesus Lopes, na entrada do povoado Porções, separa-se outra vez, e foi morar com Rosa Catarina Andrade por 12 anos na Travessa São José no Campo de Pouso.

     De 02 de janeiro de 2001 até 31 de dezembro de 2012, trabalhou para a Prefeitura Municipal de Peri-Mirim, na função de Fiscal Geral.

    Teve 12 filhos, 24 netos, 11 bisnetos. E morava sozinho, na Rua Desembargador Pereira Junior. Peri-Mirim/MA. Aos 82 anos, faleceu no Hospital do Servidor em São Luís, no dia 15 de maio de 2021, às 18:00 horas. E foi sepultado no dia seguinte no Cemitério do Povoado Pericumã, Povoado onde nasceu e se criou.

Biografia enviada ao Jornal O Resgate por Alda Ribeiro

Sete de setembro no Grupo Escolar Carneiro de Freitas

Na década de 1970, o dia 07 de setembro era dia de desfile obrigatório no Grupo Escolar “Carneiro de Freitas” em Peri-Mirim/MA, lembro-me da Professora de Ciências, Graça Diniz (in memoriam) que organizava e treinava os pelotões diferenciados, ensaiava acrobacias, danças e performances criativas.

Eu nunca soube onde aquela mulher esquia e brava aprendia essas técnicas. Quando eu cursava a 3.ª série, fui escolhida para sair no Pelotão do “Moinho”, treinei, sabia toda a coreografia. Mas tinha que comprar um tecido quadriculado em vermelho e branco.

Fui tirar as medidas da roupa com tia Rosa – esposa de Constantino -, que morava na sede. Na época eu não sabia o motivo, mas mamãe não comprou o tecido. No dia do desfile, como era obrigatório, tive que ir desfilar de farda.

Ainda bem que eu era a menor da turma e ficava no final do pelotão, assim ninguém podia me ver. Ouvia Graça Diniz gritar: “cadê a Ana Creusa??!!!, cadê Ana Creusa??!!”. Não sei se ela me viu, mas o desfile começou e eu podia ver a turma do “Moinho” com suas evoluções.

Senti o gosto amargo da decepção, na mesma hora compreendi que minha mãe não pôde comprar o tecido, pois a tia Rosa não cobraria pelo feitio da roupa.

Voltei para casa, não falei nada para minha mãe, não falei da minha decepção, nada! A professora discreta, que já tinha sido minha professora na 2ª série, também nunca falou sobre o assunto comigo, acho que ela também compreendeu que eu não tinha roupa para sair no pelotão especial.

Graça Diniz voltou a ser minha professora no Ginásio, na matéria Ciências. Quando eu a via, sempre lembrava do fato. Mas eu tinha uma forma de chamar a atenção daquela nobre professora: era estudar mais! Na 5ª série ginasial apenas três alunos passaram direto, sem fazer prova final, eu estava entre eles, com Gilberto Câmara e Delma Ribeiro.

Memórias de Ana Creusa

Peri-Mirim: Serra Velho

Autora: Eni Amorim

Não se pode afirmar como quando vieram para o Brasil as folias portuguesas da serração do velho. O que se sabe é que as crônicas coloniais do começo do século XVIII já falavam delas com entusiasmo (Mário Ferreira de Medeiros).

Eram festas de rua do povaléu (ralé). Segundo o site meussertões.com.br essa estranha brincadeira se espalhou pelo Brasil principalmente nas regiões norte e nordeste a partir do século XVIII. Constava no rito os motejos contra o velho, sua tortura e morte por meio da serração.

Em conversas com algumas pessoas da comunidade entre elas minha mãe (lnácia Amorim), ela me contou que na comunidade de Santana e Serra (povoado extinto), os moradores cultivavam a prática de realizar o folguedo.

Segundo os entrevistados essa brincadeira acontecia no período da quaresma: um grupo de pessoas da comunidade, na maioria jovens alegres que gostavam de se divertir e aprontar presepadas se reuniam e com alguns objetos, tambor, serra, tamborim, cuíca, latas, panelas o “diacho a quatro”, escolhiam sua vítima, de preferência um velho ranzinza da comunidade para ser “serrado”. Um dos critérios usados era que a vítima tinha que ser avô (ó), ou como dizemos: “estar no crepúsculo da vida”.

Então, à luz da meia-noite o grupo saía para fazer a serra na pessoa definida. Chegando na casa do dito cujo, chamavam o fulano de tal pelo nome, quando este respondia, diziam: -Levanta para vestir a camisa da verdade! Aí começava a zoeira, batiam nos tambores e latas, serravam gritavam, choravam como se o fulano de tal tivesse morrido e assim a brincadeira seguia noite a dentro nas casas das vítimas definidas.

Alguns moradores já suspeitando que podiam ser serrados não caiam na pegadinha, em contra partida, havia morador que entrava na brincadeira de bom humor enquanto que havia outros que não aceitava a brincadeira, ficavam bravos, xingavam os organizadores da brincadeira, enquanto quem estava de fora se divertia.

Nesse contexto do folguedo do “serra-velho”, mamãe me contou uma das presepadas que aconteceu com um morador da comunidade de Santana.

O grupo de jovens da sua época, isso na década de 50, escolheu como vítima o Sr. Bertoldo, este era irmão de meu bisavô, Domingos do Rosário. Alguém dedurou o grupo contando antecipadamente para este que ele seria serrado, então o mesmo começou a guardar mijo no pinico para surpreender o grupo.

No dia definido para a serra, este subiu nu em um cajueiro que ficava na frente da sua casa munido com o mijo dormido em um recipiente. Como a noite estava escura não dava para vê-lo.

Quando o grupo chegou, na calada da noite, o líder do grupo o chamou mudando sua voz para não ser reconhecido:
– Eh Bertoldo, eh Bertoldo… não obtendo resposta prosseguiu:
– Acorda para vestir a camisa da verdade! E começou a barulheira, um serrava um pedaço de madeira, batiam nas panelas, latas e tambores.

Foi quando o Sr. Bertoldo jogou o mijo dormido em cima do grupo e pulou no meio deles peladinho e foi aquele alvoroço, eles sorriram muito da presepadas e foram para casa banhar pra tirar o cheiro de mijo.

Pessoas entrevistadas:
Inácia Amorim; Terezinha Nunes Pereira; Mara Nunes; Nani Sebastiana e Maria Rosa Gomes.

Nota da Autora: Aos poucos a brincadeira foi se extinguindo, já na década de 60 e com a migração de muitos jovens para estudar nas cidades não mais se viu a brincadeira vindo a se extinguir por completo.

Inácia Rosa Pereira Amorim

Nasceu em 31/07/1939. Filha de Calixto Pereira Nunes e de Joanita Nunes Pereira. Casou-se aos 21 anos com Jair Amorim, um homem do campo, mãos e pés calejados e rústico com o qual teve seis filhos tendo que enfrentar os conflitos inerentes a vida a dois.

Filhos: Eni do Rosário Pereira Amorim, Laurijane Pereira Amorim (Nita), Sílvia de Ribamar Pereira Amorim (Cici), Jair Amorim Filho (Jacó, Jacolino, Jacó Bala) Cristina Maria Pereira Amorim (Cris), Evandro dos  Santos Pereira Amorim (Vando). Tem 08 netos e 05 bisnetos

Uma mulher de estatura pequena, personalidade forte; desde muito pequena quando veio ao mundo teve que enfrentar os reveses da vida que marcaram seu destino.

Perdeu a mãe com apenas quarenta dias de vida, tendo sido criada pela sua avó materna, seu pai e suas tias em uma época aonde havia muitas dificuldades naquele dado momento histórico; se compararmos com os dias atuais.

Mas a sua garra e perseverança a impulsionaram a construir sua história.

Estudou até a quarta série que era oferecido na época, aprendeu a ler e a escrever e sabe a tabuada na ponta da língua. Estudou corte e costura em Pinheiro com uma costureira renomada Carmerina Amorim.

Inácia apesar das dificuldades da época e com seis filhos para criar, não se deixava abater, estava sempre se reinventando. Era costureira, artesã (tecia redes de fio têxtil), Foi professora de costura em um dos projetos da LBA (Legião Brasileira de Assistência) um dos projetos conseguidos pela Paróquia São Sebastião com a ajuda de Padre Gérard Gagnon e Ana Lúcia de Almeida; fazia, horta e vendia as hortaliças orgânicas produzidas, fazia pastéis, bolos, cocadas e suquinhos tudo para venda e assim ajudar o papai nas despesas da casa. Quando a escassez de recursos era grande, muitas vezes dormiu com a barriga vazia para alimentar os seus filhos.

Acalentou um sonho no seu coração de que colocaria todos os filhos para estudar porque ela apesar de não ter tido a oportunidade, em sua sabedoria, conseguia definir bem a importância do estudo para iluminar os nossos rumos; e assim, atropelou as dificuldades para que seus filhos conseguissem estudar e trilhar seus caminhos por este mundo às vezes um tanto inóspito.

E todos os dias Mamãe, nós teus filhos, só queremos te agradecer pela tua perseverança, por cada incentivo, por cada oração, pelas torrentes de amor que derramas a cada um de nós mesmo sabendo que algumas vezes ferimos teu coração com a espada da ingratidão.

Obrigada pelas gotas de amor que derramas todos os dias em nossas vidas.

TE AMAMOS! Teus filhos.

Biografia encaminhada ao Jornal O Resgate por Eni Amorim

O Cangaceiro Tito Silva

Autor Manoel Braga

Tito Silva era filho de Wenceslau Silva, que por sua vez era filho de João Silva. Todos eles nasceram na localidade Ilha do Veado pertencente ao hoje município de Peri-Mirim. Contam que Wenceslau passou 1 ano dormindo no cemitério do Souza na Malhada dos Pretos após ter cometido um assassinato.

O crime se deu por causa de uma brincadeira muito comum tempos atrás na Baixada. Era chamada de Serra. Consistia em fazer um ritual fúnebre de uma pessoa idosa que por ventura existisse na comunidade. Era um pouco macabro. Era feita a leitura de um suposto testamento do idoso em que suas coisas eram deixadas para os vivos.

Esse ritual era realizado tarde da noite acompanhado de muita zoada. Todo velho morria de medo de ser serrado. Tinha um instrumento confeccionado especialmente para essas ocasiões chamado de corrupião. Constituía-se de um pedaço de madeira onde era enfiado um fio que a pessoa segurava e rolava sobre a cabeça o que causava um barulho ensurdecedor. Muitas pessoas participavam da brincadeira.

Tinha uns que batiam em lata. Outros imitavam animais. Principalmente o acauã (rasga mortalha). Nesse ritual, o bode era muito comum também. Este geralmente se roçava na parede da casa feita de pindoba para criar o clima de despedida do idoso.

Uma determinada noite a “canalha” resolveu que era chegado o dia de rocar seu João Silva que já estava bem velho. Estava no ponto de ser serrado. Era tarde da noite, estava na hora de começar o ritual. Fizeram zoada. Leram o testamento. Distribuíram as coisas de seu João. Teve um que subiu em uma árvore e começou a imitar o rasga mortalha.

Seu Wenceslau, pai de Tito Silva, muito brabo pegou uma espingarda, esperou o rasga mortalha piar e largou chumbo. Foi só um tiro. O cabra caiu durinho. Acabou a brincadeira. A brincadeira acabou mesmo. Não fizeram mais esse ritual. Mandaram prender seu Wenceslau. Ele para não ser encontrado durante o dia se escondia no mato. À noite vinha dormir no cemitério onde sabia que não iam procurar por ele. E assim ele escapou muito tempo da prisão.

O primeiro prefeito de Bequimão, que nesse tempo ainda chamado de Santo Antônio e Almas foi o capitão José Mariano Gomes de Castro. Era um grande proprietário de terras, fazendeiro, comerciante e delegado. Certa ocasião o prefeito que, também, era o delegado mandou prender Tito Silva acusado de roubo de gado.

Durante a prisão, o denunciado foi muito torturado. Para completar, o delegado trouxe a mulher dele e na frente de Tito foi humilhada, teve suas vestes rasgadas e sofreu abuso sexual. Tito ficou injuriado. Prometeu que se vingaria.

Tito foi enviado para cumprir sentença na fazenda do senhor Antonio Sousa que era grande proprietário de terras na Tijuca. Tito ficou por lá um certo tempo, mas sempre esperando uma oportunidade para fugir. Durante esse tempo ele apresentou um bom comportamento. Ficou de confiança do fazendeiro.

Até que um dia o senhor Antonio chegou de viagem, apeou do cavalo e o entregou para Tito lavar e dá de comer. Era tudo que Tito tanto esperava. Tito aproveitou a oportunidade e deu no pé. Foi embora para o sertão.

Depois de um certo tempo ele voltou, já com um bando formado. Chegou à propriedade de seu Antonio num dia em que ele tinha encomendado uma missa. Tito com seu bando acabaram a festa. Fizeram zoada, deu tiro para cima e em todas as direções.

Dizem que o padre ficou tão assustado que se jogou do segundo pavimento da casa, só não morreu porque caiu dentro de um depósito de melaço. A mãe de seu Antonio, uma idosa, quase morre de susto. Contam que uma bala perdida pegou em uma garota que ficou se contorcendo de dor. Tito vendo aquilo pegou o seu punhal e enfiou na criança acabando com a sua agonia.

Depois dessa confusão toda que ele causou na casa do senhor Antonio Sousa, ele rumou para Bequimão para consumar sua vingança. Chegando lá, ele localizou o Coronel José de Castro. Ele o prendeu. Torturou o quanto pode. Furou os olhos e o castrou. Por último cortou as orelhas que levou para mostrar para a mulher como prova da sua vingança.

No final ele perguntou ao Coronel: – sabe o que vim fazer? – Eu vim te matar. O coronel era homem duro disse para Tito: – homem se mata, não se maltrata. Nisso um dos homens de Tito, achando que o vexame do coronel já tinha sido muito deu um tiro e acabou com o sofrimento do velho.

Depois de consumada a vingança, os homens de Tito se dispersaram. Tito acabou sendo preso. Foi enviado para cumprir pena em uma fazenda do governador do estado que na época era Magalhães de Almeida e que tinha como vice Marcelino Machado. Dizem que os dois mantinham uma relação homo afetiva. Tito estava bem por lá. Bom comportamento e tudo.

Um certo dia, para azar de Tito ele viu os dois se amando. Tito se escondeu. Mas eles ficaram com a dúvida se Tito tinha olhado ou não. Eles tinham medo que a relação deles viesse a público acabando com a trajetória política deles.

Um dia, eles chamaram Tito e perguntaram o que ele tinha visto. Ele disse que não tinha visto nada. Mas eles não acreditaram. Eles botaram Tito para cavar um poço. Quando já estava com uma certa fundura eles perguntaram ao Tito: – tu sabe o que tu tá fazendo e ele respondeu: – estou cavando a minha sepultura. Então, deram-lhe um tiro e o enterraram. E assim acabou a trajetória de vida violenta que Tito levou.

Nota do Autor: Parte desta história deve ser tratada como lenda, pois, baseou-se em ditos dos mais antigos. Sabe-se que pessoas como Tito Silva têm em torno de si muitos mistérios.


Sobre a foto destacada:  Na legenda da foto do livro Adagas & Punhais do irmão @antonioguimaraes355 está: “Cartão fotográfico emitido pelo retratista Joaquim Moura Quinou. Foto em gelatina e prata. Retrato do cangaceiro Tito Silva na cadeia pública de São Luís-MA, pouco antes de ser transferido para o Aprendizado Agrícola Christiano Cruz”. Acervo Antonio Guimarães. Querem programa sobre ele? Eu já queria um filme! Sua história é espetacular. Saiam da bolha, o assunto cangaço é muito maior que o ciclo LAMPIÔNICO.

PERI-MIRIM: Engenho e Poço de Pedras da Fazenda São José

Autora Ataniêta Martins

Nossas histórias são lembradas quando alguém se dedica a escrever ou contar sobre elas.

A Fazenda São José, localizada no Povoado Tapera em Peri-Mirim ainda exibe peças de um engenho antigo que funcionou naquele local que, segundo relatos, era bastante lucrativo aos fazendeiros que ali residiam.

Atualmente ainda podemos encontrar por lá, peças que foram deixadas para trás, fora do padrão das que são usadas hoje nos engenhos, o que denota que são peças de um engenho antigo. Pode-se observar que o local onde funcionava o engenho, foi escolhido por ser calmo e sereno, onde podiam trabalhar tranquilos e onde podiam ouvir os cantos dos pássaros.

As árvores antigas são testemunhas de quanto tempo essas peças do engenho estão ali enterradas. Embaixo das plantas entrelaçadas umas às outras, exibindo grossas e profundas raízes, que indica que estão ali por muitos e muitos anos e em estado de completo abandono.

Vendo aquelas peças, fico a imaginar se nossa Peri-Mirim tivesse um museu para expor essas peças, tanto a História seria preservada, como mais pessoas poderiam conhecer esse material de grande valor. Seria interessante fazer a catalogação para a nossa e as próximas gerações saberem que no nosso município existiram moinhos que funcionavam com mão de obra escrava.

Também pude verificar que na fazenda São José existe um poço, chamando de poço de pedras, construído por mãos talentosas e mágicas dos escravos que viveram naquela época; feito para saciar a sede do gado e para o trabalho no moinho. O interessante é que as pedras foram cortadas ou encontradas de um só tamanho e lá colocadas, tudo articulado com peculiar beleza.

Atualmente, o poço encontra-se entupido até certa profundidade, certamente por falta de cuidados. Com a abolição da escravatura e consequente fechamento do engenho, o poço passou a ser usado na pecuária, pois os futuros moradores dedicaram-se à criação de gado bovino.

Outro fato importantíssimo é que existem árvores centenárias, mangueiras e, em destaque, um bacurizeiro com mais de 130 anos.

Nota dos Editores: O livro Curiosidades Históricas de Peri-Mirim, de autoria de Francisco Viegas, destaca que houve a existência de 11 (onze) engenhos antigos em Peri-Mirim: 1) Rio da Prata; 2) Santa Filomena; 3) Engenheiro Queimado; 4) Engenho Tijuca; 5) Teresópolis; 6) Santa Cruz; 7) Santana; 8) São Luís Bacelar; 9) Itaquipé; 10) Palestina e 11) Engenho Santa Estela. Com a descoberta do Engenho São José, são em número de 12 (doze) os engenhos antigos de Peri-Mirim.

Peças do Engenho
Peças do Engenho
Poço de Pedras
Poço de Pedras

PERI-MIRIM: Fazenda São José – Século XIX

Autora Ataniêta Martins

Essa fazenda tem uma grande história para ser explorada e contada.

A Fazenda São José fica localizada no Povoado Tapera, município de Peri-Mirim. Construída no século XIX, por mãos talentosas e mágicas de escravos que viveram naquela época. A fazenda encontra-se intacta atualmente, sem nenhuma modificação, tudo feito com materiais bem resistentes.

No centro da cozinha, encontra-se até hoje um poço, com águas cristalinas que serve para saciar a sede dos moradores daquele lugar.

Na época de sua construção, a fazenda era iluminada por candeeiros que funcionavam a querosene, depois a motor e atualmente com energia elétrica.

Várias famílias residiram na fazenda São José: incialmente morou a família do coronel Joaquim Sousa (fazendeiro rico, prestativo com sua comunidade); Dr. Viera Fontes que, em relatos do senhor Antônio Brígido Ribeiro, o Dr. Vierira Fontes, era desembargador, homem mais rico da redondeza, tinha uma caneta era de ouro, era respeitado por quem o conhecia, foi um dos primeiro a trazer helicópteros ao município.

Posteriormente residiu o coronel Altiberto Francisco Câmara, que possuía o título honorário de Soldado da Borracha, por ter sido dono de seringal em Porto Velho – Rondônia. Um de seus filhos, Ney Câmara, relatou-me que ele, era homem de caráter, valorizava a família sendo o bem mais precioso, deixou saudades à família e à comunidade. Tive o prazer de conhecer sua amável esposa, a Srª Maria do Rosário Câmara, com a qual passava horas conversando, devido meu amor pelos estudos das raízes históricas do seu município.

A Fazenda também pertenceu ao senhor José Domingues Pinheiro, dono de muitas fazendas na Baixada, das quais conservara os detalhes históricos.

Atualmente a fazenda tem como proprietário, o Sr. Sérgio, que é advogado, conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Maranhão. O Dr. Sérgio tem por meta restaurar a fazenda e garantir a preservação da fauna e flora, com intuito de deixar para as futuras gerações um património Histórico-Ambiental preservado.

Peri-Mirim, 13 de maio de 2020. PS: A fazenda já passou por reformas.

Revivendo os tempos do açúcar em Peri-Mirim na década de 1950

Autora Clarice Pinheiro Almeida*

Algumas pessoas que viveram durante a existência dos engenhos de Peri-Mirim, e que trabalharam neles, ou tiveram parentes que neles trabalharam, ainda vivem, por isso, entendemos que é possível escrever sobre o tema, a partir dessas memórias e assim recuperar aspectos fundamentais da História de Peri-Mirim que ainda não foram explorados.

O município de Peri-Mirim guarda ainda hoje muitos vestígios da atividade açucareira, tanto material (ruínas de antigos engenhos e outros ainda em funcionamento) quanto imaterial (lembranças de homens e mulheres ligados de uma ou outra forma a essa atividade), como podemos perceber na fala de Bernardino Araújo de Almeida de 83 anos (in memoria), o qual inclui em suas lembranças de infância, diga-se de passagem, uma infância de muito trabalho, o cotidiano do engenho Teresópolis:

… e nós aqui, levantava… nós … morava…aquele magote de mulecote e juntava cofinho e socó e tocava. Nós encostava lá em Teresope … ele, assim que começava, o engenho, moer a cana, ele enchia aquela lata de garapa encostava lá. Aí nós ia chegando, criança, entrava, tudinho, já era mesmo que ser boi no bebedouro…tudinho encostado, criança, nós tudinho, cada qual… criança é bicho mau! (risos). Nós tumava cuiada de garapa… Ele tava por lá (o proprietário), não ligava… Nós tumava tudinho, todo mundo, saía, ia embora pro campo.

 

Segundo Paz (2014), Peri-Mirim contava com 10 unidades de engenhos assim distribuídos: Engenho Rio da Prata de propriedade de João Bertold; Engenho Santa Filomena de propriedade de Jomar Rodrigues; Engenho Queimado de propriedade de Raimundo Rodrigues; Engenho “Tijuca” de propriedade de Tarquínio Viana Sousa; Engenho “Teresópolis” de Francisco Viana de Sousa; Engenho “Santa Cruz” de propriedade da família Sousa; Engenho “Santana” de propriedade da família Bacelar, Engenho do “Itaquipé” de propriedade da família Pinheiro e; Engenho “Palestina” de propriedade de Timóteo Sousa.

O número significativo de engenhos em Peri-Mirim indica uma dinâmica econômica do município, baseada na produção de açúcar, cachaça e mel, pois, de acordo com relatos de antigos trabalhadores desses engenhos todos eles produziam esses três produtos.

O açúcar era o principal produto dos engenhos do município de Peri-Mirim, pois a cachaça e o mel eram obtidos dos resíduos do processo de depuração desse açúcar. Roberval Pinheiro de 72 anos conta que entre os 13 e 14 anos trabalhava no Engenho Teresópolis ajudando seu pai: “trabalhei muito ainda engarrafando cachaça pra meu pai”, e completa dizendo que nesse engenho era “produzido açúcar, mel e cachaça”. Analisando sua idade atual com o período em que “ajudava seu pai” no Engenho Teresópolis, constatamos que esse engenho estava em plena atividade por volta de 1958, dentro do marco temporal da nossa pesquisa.

O Engenho Teresópolis conforme mostra Paz (2014) pertencia a Francisco Viana de Sousa, que pelo sobrenome “Sousa” pode ter alguma relação de parentesco com Francisco Joaquim de Sousa, antigo chefe do Partido Liberal em Pinheiro, citado por Jerônimo de Viveiros pelo seu envolvimento numa disputa política com o coronel Guilherme de Araújo e Sousa, chefe do Partido Conservador em Pinheiro. O autor ao mencionar a disputa política entre os dois coronéis relata que: “os amigos de Francisco Sousa viviam nas redondezas de seu Engenho “Tijuca” (grifo do autor) […] Era um eleitorado pé de boi, que não faltava, mas que pertencia à freguesia de São Bento, onde não estavam os interesses políticos do chefe liberal” (VIVEIROS, 2014).

O engenho “Tijuca”, localizado no município de São Bento em 1885, ao que tudo indica, é o mesmo arrolado por Paz (2014) de propriedade de Tarquínio Sousa. Em 1885 Peri Mirim pertencia a São Bento. Francisco Viana de Sousa era proprietário do engenho “Teresópolis”, que formava um só território com “Tijuca”, tanto que o mesmo teria doado ao filho que estudava na Europa e por ocasião da Guerra de 1914 voltou ao Brasil e se instalou como proprietário de engenho como mostra a fala do senhor Jerônimo Costa, conhecido como “Coreiro”, de 88 anos, residente na atual comunidade quilombola “Tijuca”/Peri Mirim:

Esse camarada foi estudar…Tarquinio Viana de Sousa, era filho de Chico Sousa que era dono de Teresope, aí…o camarada que tinha eles lá, era muito amigo de Chico Sousa, esse tempo era barão dendo mato, e..rebentou a guerra de quatorze e lá, encaixotaro ele e colocaro no fundo do navio e ele veio embora pra São Luís, de São Luís ele veio bater no Teresope…Ele diz, meu filho eu vou arrumar umas área de terra pra vocês trabalhar […] Vieram no Santana, de Santana Eles vieram aqui […] e fundaram um engenho aqui. Então lá tinha um lugar chamado Tijuca. Tarquínio sabia tudo[…] então apelido daqui é Tijuca.

 

O relato que o Sr. Jerônimo faz sobre o engenho de “Teresópolis” e “Tijuca” deve ter chegado a ele por seus familiares ou outras pessoas mais velhas, pois o mesmo nasceu quinze anos após o início da Primeira Guerra Mundial (1914) que ele já menciona em sua fala. Portanto, é possível a existência de outras versões para o nome dado ao lugar. Porém, é fato que esse lugar pertencia a São Bento tanto em 1885, como assegura Viveiros quanto em 1914 como diz Sr. Jerônimo.

A longa vida do engenho “Teresópolis” pode ser observada também nas lembranças que o Sr. Bernardino guarda de sua infância. Em seu relato, já anotado neste trabalho, ele narra que passava nesse engenho quando ia pescar. Nesse período ele já utilizava o socó como instrumento de pesca. Embora ele não tenha precisado sua idade, deveria ter entre dez e doze anos, haja vista que por não ser tão leve, a criança para manejar um socó teria que ter mais ou menos essa idade. Levando em consideração que o mesmo nasceu em 1928, sua convivência no cotidiano de “Teresópolis” teria ocorrido lá pela década de 1930. Queremos com isso demonstrar que engenhos em Peri-Mirim existiram desde antes da abolição do trabalho escravo e que esses mesmos engenhos não se extinguiram totalmente com o fim oficial da escravidão.

Sobre o engenho “Tijuca”, resguardadas as questões envolvendo o seu surgimento, colocadas neste artigo, partiremos da fala do Sr. Jerônimo Costa (Coreiro). Esse engenho teria sido doado para Tarquínio Viana Sousa, filho de “Chico Sousa”, proprietário do engenho “Teresópolis”. De acordo com a fala do Sr. Coreiro, Tarquínio estudava na Europa, quando por ocasião da explosão da Primeira Guerra Mundial (1914) “encaixotaro ele no fundo de um navio e veio simbora pra São Luís, de São Luís veio bater em Teresópolis”. Esse engenho, como os demais, produzia mel, açúcar e cachaça.

O Sr. Coreiro informa que trabalhou no engenho “Tijuca” desde os dez anos de idade “bateno crivo e coano a garapa, tirano o cisco…”. A partir dos 15 anos passou para temperador de dorna pra fazer cachaça, com mel. Essa atividade era bastante cansativa como mostra o mesmo. “Era duzentos e setenta lata d’água que eu batia numa bomba pra depois carregar pra subir numa altura assim…pra encher uma dorna do tamanho dessa porta, de três em três dias”.

A dinâmica da produção de açúcar no engenho “Tijuca”, segundo o Sr. Coreiro, compreendia plantação da cana por terceiros em terras do Sr. Tarquínio, posteriormente a cana era moída no engenho. Geralmente, eram produzidos 2000 quilos de açúcar bruto por safra que ia de setembro a dezembro. O açúcar era divido ao meio com o lavrador. Porém, a cachaça e o mel ficavam para o proprietário. A metade do açúcar reservada para o lavrador muitas vezes era comprada pelo proprietário do engenho, embora, segundo conta Sr. Coreiro, esse poderia vendê-la para outras pessoas.

O açúcar do engenho “Tijuca” era distribuído para o mercado local e para outros municípios vizinhos como por exemplo, Bequimão e Pinheiro, segundo Coreiro.

Tarquínio Viana Sousa foi prefeito de Peri-Mirim no período de 1959 a 1961. De acordo com Paz (2014, p. 51), “pela sua experiência empresarial e seriedade, administrou o município com austeridade e fez o que estava ao seu alcance”. Para o Sr. Coreiro, no entanto, “…ele trabalhou quatro ano lá em Peri-Mirim, não fez nada”.

Não conseguimos dados quanto à época que o engenho deixa de produzir açúcar, cachaça e mel, mas ao que tudo indica, quando ele é transferido para outro dono, Ribamar Bacelar, essa produção começa a perder força. Ribamar Bacelar transfere o engenho para os irmãos Gonçalves de Pinheiro que mais tarde vão transferi-lo para os irmãos pernambucanos. Segundo Paz (2014) esses não demonstraram interesse em continuar produzindo açúcar.

Outro engenho que funcionou em Peri-Mirim foi o “Rio da Prata”, de propriedade do Sr. João Bertoldo Ferreira, que segundo Paz (2014), produzia açúcar, cachaça e mel. O engenho “Rio da Prata” encontra-se registrado na memória da Senhora Dioneia Paula de Almeida, com 94 anos por ocasião de nossa entrevista com ela.

O envolvimento dela com esse engenho era como pequena plantadora de cana de açúcar, ao lado do seu esposo, já falecido. Entrevistamos a Sra. Dioneia em 25 de maio de 2014 e ela confirmou a existência de “engenhos de cana de açúcar em Rio da Prata, Santa Filomena, Itaquipé e Tijuca”.

Dona Dioneia contou que plantou um canavial que ao final produziu 2000kg de açúcar, sendo que, seguindo a regra geral, foi dividido ao meio com o proprietário do engenho Rio da Prata. “O restante ficou armazenado em casa e foi sendo vendido aos poucos, sendo que até a década de 1980 ainda tinha açúcar em casa”. Ela fala também que o açúcar era vendido, pelo menos na época em que comercializou o seu produto, a 300 reis que equivalia a 3 tostões. A comercialização desse açúcar era feita em Pinheiro como afirma Dona Dioneia. Consta também no depoimento de Dona Dioneia que o último proprietário do engenho Rio da Prata foi o Sr. Faustino, assassinado na década de 1990 quando finalizou também a atividade desse engenho que ainda produzia cachaça e mel.

Os engenhos Santana e Santa Cruz pertenciam também à família Sousa como aponta Paz (2014), aliás, a família Sousa era a principal proprietária de engenho em Peri-Mirim, visto que também estava ligada aos engenhos “Teresópolis” e “Tijuca” como já mostramos acima. Sobre os engenhos Santana e Santa Cruz não conseguimos reunir informações mais precisas. Na visita que realizamos na comunidade “Santa Cruz” onde funcionou esse último não encontramos moradores mais antigos, e os mais jovens não souberam dar maiores detalhes sobre o mesmo.

O engenho Palestina de propriedade do Sr. Timóteo Sousa também não nos foi possível recolher maiores informações, a não ser que na década de 1980 as terras desse engenho foram transferidas para o Sr. João Ramalho e o Sr. Timóteo terminou seus dias muito pobre morando no povoado Curitiba, município de Palmeirândia.

O que sabemos a respeito do “Engenho Queimado” de propriedade do Sr. Raimundo Rodrigues é que ele se localizou “nas terras da Fazenda Todos os Santos”, conforme informação dada pelo Sr. Raimundo Inácio Rodrigues Bittencourt, filho do proprietário, em 06 de maio de 2017. O Sr. Raimundo Inácio está hoje com 62 anos de idade e informa que ao nascer (1955), encontrou o “Engenho Queimado” em pleno funcionamento.

Ele contou também que o “Engenho Queimado” foi desmembrado na década de 1970 quando seu pai se separou da esposa. Em 1973 o outro engenho, construído na altura do km 157 da MA 014, iniciou suas atividades produzindo açúcar, cachaça e mel, sendo que a cachaça era o “carro chefe” da produção. O novo engenho recebeu o nome de engenho “Dona Moça”, em homenagem à proprietária Avelina Costa, conhecida como “Dona Moça”.

O engenho “Dona Moça” continua em funcionamento até os dias atuais, produzindo, exclusivamente, cachaça. Atualmente, o mesmo é comandado por dois netos do Sr. Raimundo Rodrigues.

Quando perguntado sobre a questão da mão de obra utilizada no “Engenho Queimado” faz o seguinte esclarecimento: “o peão é aquele que a gente coloca no chão para rodar e o pião é aquele que trabalha em uma obra e que quando a obra termina ele se desloca para outro local. Na época não era conhecido como pião e sim como trabalhadores braçais ou trabalhador braçal”. Assim ele aponta que a mão de obra daquela época era o trabalhador livre, o qual além de fazer trabalhos pesados, não possuía vínculos empregatícios com o engenho, sendo, portanto, um trabalhador temporário.

Abaixo apresentamos fotos de equipamentos utilizados para a fabricação de cachaça no engenho “Dona Moça”, o único em funcionamento entre os dez citados neste trabalho. (PS. Deixou-se de publicar as fotos por razões técnicas. Anexamos fotos de uma visita realizada ao Engenho Dona Moça por membros da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense – ALCAP).

Nas diversas entrevistas realizadas, com o Sr. Bernardino, Sr. Roberval, Sr. Coreiro, Dona Dioneia e com o Sr. Raimundo Inácio fizemos questão de falar da mão de obra. Na fala do Sr. Bernardino ele lembra que muitas pessoas eram envolvidas no processo de produção do açúcar; o Sr. Roberval diz que no engenho “Teresópolis”, “trabalhava de 50 a 60 pessoas daquela redondeza todinha, homens e mulheres que vinham tanto dos arredores do engenho quanto de localidades mais distantes.”, e assim por diante. Não percebemos nessas falas reclamações quanto a falta de braços para o trabalho nos engenhos açúcar.

Os engenhos nesse período eram abastecidos, geralmente, com cana de açúcar que era produzida por pequenos produtores, muitas vezes em terras pertencentes ao proprietário do engenho, e isso acontecia no Engenho Teresópolis como relata Sr. Roberval, inclusive, lembrando a situação do seu pai, Sr. Ademar; do mesmo modo relata D. Dioneia que plantava cana de açúcar e abastecia engenho Rio da Prata. Isso ao nosso ver poderia amenizar problemas com mão de obra. Entretanto é muito comum encontrar referências à falta de mão de obra como uma das causas de fechamento dos engenhos no Maranhão e também em Peri-Mirim como mostra Paz (2014).

A presença de plantadores de cana que abasteciam os engenhos era uma prática recorrente na produção açucareira no Brasil. Era assim no nordeste açucareiro, onde os senhores de engenho não davam conta sozinhos de bastecer o engenho de cana de açúcar, havendo sempre a necessidade de recorrer a plantadores externos, que tanto poderiam produzir em suas propriedades quanto na do dono do engenho, (SCHWARTZ 1988). Pelo visto essa prática persistiu no pós-abolição, também aqui em Peri-Mirim.

Quando a cana era produzida por terceiros (os pequenos produtores) esses eram responsáveis por todo o processo produtivo da cana, que depois de colhida era levada para ser processada no engenho. O açúcar, a cachaça e o mel produzidos, geralmente eram divididos ao meio como mostram alguns relatos. Isso era comum não apenas em Peri-Mirim, mas também em outros municípios da Baixada Maranhense.

 Os diversos depoimentos demonstram que a produção açucareira em Peri-Mirim não era nada desprezível. A senhora Dioneia e seu marido chegaram a produzir até 2000kg de açúcar bruto. Do mesmo modo o Sr. Coreiro também aponta a produção de 2000kg de açúcar bruto em uma safra.

Outra importante questão a ser lembrada neste trabalho são as condições de trabalho nos engenhos. Sr. Bernardino conta que quando criança, o caminho que fazia para ir pescar passava pelo engenho “Teresópolis” onde encostava para tomar “garapa”. Segundo ele, muitas pessoas morreram pela excessiva carga de trabalho, pois a jornada de trabalho começava entre meia noite e uma hora da manhã. O salário que recebiam, segundo o mesmo, era insignificante, não dava para suprir as necessidades. Quando os trabalhadores adoeciam não tinham como custear nem os remédios. Lembrou também que a mão de obra era composta só por pessoas negras e de branco, só o proprietário, o senhor Fradique.

Algumas pessoas que viveram durante a existência desses engenhos, e que trabalharam neles ou tiveram parentes que trabalharam nos mesmos, ainda vivem, por isso, entendemos que é possível escrever sobre o tema, a partir dessas memórias e assim recuperar aspectos fundamentais da História de Peri-Mirim que ainda não foram explorados.

Nas entrevistas que fizemos para este trabalho (Sr. Bernardino, D. Dioneia, Sr. Roberval, Sr. Coreiro e Sr. Raimundo Inácio) percebemos que quase não há divergências em relação a questões importantes da produção açucareira em Peri-Mirim, a maioria dessas informações coincidem e se complementam.

* Clarice Pinheiro Almeida licenciada em Licenciatura em Ciências Humanas, habilitação em História pela Universidade Federal do Maranhão/CCHNST – Campus Pinheiro.

Fonte: https://monografias.ufma.br/jspui/bitstream/123456789/1850/1/ClariceAlmeida.pdf