Ignácio de Sá Mendes

Por Itaquê Mendes Câmara

Patrono da Cadeira nº 5 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Itaquê Mendes Câmara. Ignácio de Sá Mendes, nasceu em 16 de setembro de 1868, 4º filho do casal Antônio Jorge Souza Mendes, que veio de Portugal em 10 de agosto de 1841 com 9 anos, e Thereza Augusta de Sá.

Casou-se em 30 de dezembro de 1894 com Maria Botão Mendes, ela com 17 anos e ele com 26 anos e três meses. Veio de mudança para Macapá em 15 de março de 1897.

Ignácio de Sá Mendes e Maria Botão Mendes tiveram os seguintes filhos: Antônio Botão Mendes nascido em 28/10/1895, Raimundo Botão Mendes nascido em 20/05/1897, Marina Botão Mendes nascida em 25/11/1900, Mercedes Botão Mendes nascida em 03/12/1904, Margarida Botão Mendes nascida em 26/02/1907 e Marieta Botão Mendes nascida em 13/12/1909.

Ignácio principiou a negociar em 1888. Em 15 de junho de 1919, Ignácio de Sá Mendes foi eleito prefeito de Macapá e na mesma data  foi instalada a  Câmara Municipal, que empossou o prefeito eleito Ignácio Mendes e o vice-prefeito João Maia.

Ignácio de Sá Mendes Sobrinho, filho de Manoel Gonçalves de Sá Mendes e de Maria Clara Martins Mendes.

Academia Perimiriense realizou o I Concurso Artístico e Literário “Prêmio ALCAP Naísa Amorim”

A Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Peri-Mirim (SEMED), realizou dia 29 de março de 2019, o I Concurso Artístico e Literário “Prêmio ALCAP Naisa Amorim”, nas categorias Desenho, Poesia e Crônica, com o tema “Peri-Mirim e suas memórias, 100 anos de história”, em comemoração ao I Centenário da Cidade. O certame, idealizado pela acadêmica Jessythannya Carvalho Santos, homenageia a Patrona da ALCAP, professora Naisa Ferreira Amorim.

A ALCAP, por meio desse concurso, objetivou ampliar os conhecimentos acerca da história e cultura do Município de Peri-Mirim-MA, incentivando produções artísticas e literárias dos estudantes.

O concurso, destinado a alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio, incluída a modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), mobilizou mais de 2000 alunos em 14 escolas no município.

Alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental concorrem com trabalhos do tipo “Desenho”. Alunos do 6º ao 9º ano, incluindo a modalidade EJA, concorreram com trabalhos do tipo “Poesia”. Já os alunos do 1º ao 3º ano do Ensino Médio, incluindo a modalidade EJA, concorreram com trabalhos do tipo “Crônica”.

O primeiro colocado de cada categoria recebeu um livro e um tablet. Já o segundo colocado de cada categoria recebeu um livro e um prêmio em dinheiro no valor de R$ 150,00. Todos os autores das obras premiadas receberam uma medalha personalizada e certificado de reconhecimento emitido pela ALCAP e SEMED; todos os professores-orientadores das obras premiadas receberam certificado de moção de aplausos também emitidos pela ALCAP e SEMED. As escolas das obras premiadas receberam placa personalizada.

Os prêmios em dinheiro e os tablets foram doados pelo Juiz Douglas Amorim, filho da patrona da ALCAP, Naisa Amorim. As placas personalizadas foram doadas pelo Fórum em Defesa da Baixada Maranhense. Os livros e certificados foram disponibilizados pela ALCAP. Os livros são de autoria do acadêmico Francisco Viegas Paz – “Curiosidades históricas de Peri-Mirim”.

Para a presidente da ALCAP, Eni do Rosário Pereira Amorim, “Os grandes ganhadores deste concurso são os 130 alunos que tiveram seus trabalhos inscritos e todos os outros que tiveram a ousadia para produzir uma obra, isso porque, produzir uma obra em forma de desenho, poesia ou crônica é uma atividade potente para o desenvolvimento de nossas capacidades e habilidades de inventar narrativas afins, e isso vale muito mais do que a seleção em destaque, porque toda comunidade educacional saiu ganhando no final”.

Para a Secretária de Educação, Alda Regina Ribeiro Corrêa, “Foi um projeto satisfatório que despertou o interesse de boa parte dos alunos da rede municipal e estadual de ensino. embora, apenas seis alunos tenham recebido a premiação, mas todos estão de parabéns, pelo esforço e dedicação, assim, como os gestores das escolas e os professores que se doaram. Falhas, pontos negativos… sempre existirão, todavia, servem para aprimoramento dos próximos projetos. Avante ALCAP!

Kelisson Melo, Professor-orientador Ana Sheilla Pinheiro Pimentel, vencedora do 2º Lugar, categoria Desenho Eni do Rosário Pereira Amorim, Presidente da ALCAP
Kelisson Melo, Professor-orientador Ana Sheilla Pinheiro Pimentel, vencedora do 2º Lugar, categoria Desenho Eni do Rosário Pereira Amorim, Presidente da ALCAP
Kelisson Melo, Professor-orientador Ana Sheilla Pinheiro Pimentel, vencedora do 2º Lugar, categoria Desenho Alda Regina Ribeiro Corrêa, Secretária de Educação Assunção de Maria Martins Lima, Diretora da EM Cecília Botão – anexo II (Carneiro de Freitas)
Kelisson Melo, Professor-orientador Ana Sheilla Pinheiro Pimentel, vencedora do 2º Lugar, categoria Desenho, Alda Regina Ribeiro Corrêa, Secretária de Educação, Assunção de Maria Martins Lima, Diretora da EM Cecília Botão – anexo II (Carneiro de Freitas)
Flávia Maria Martins Silva, representando a EM Cecília Botão Ione Costa Pereira, Professora-orientadora, Willyan Guilherme Silva Boás, vencedor do 2º Lugar, Categoria Poesia, Alda Regina Ribeiro Corrêa, Secretária de Educação e Augusto César Ferreira Castro, representando o Juiz Douglas Amorim.
Felipe Jesus da Conceição Pereira, aluno vencedor do 1º Lugar, categoria Crônica Hilário Nunes Martins, Diretor-Adjunto da C.E Artur Teixeira de Carvalho Ana Cléres Santos, representando o Fórum em Defesa da Baixada Alda Regina Ribeiro Corrêa, Secretária de Educação.
Hilário Nunes Martins, Diretor-adjunto da C.E Artur Teixeira de Carvalho Stefany Almeida Pereira, vencedora do 2º Lugar, Categoria Crônica Jessythannya Carvalho Santos, vice-presidente da ALCAP Alda Regina Ribeiro Corrêa, Secretária de Educação.

Rotina do acaso

Crônica de Francisco Viegas, publicada no livro Ecos da Baixada.

Quando os raios de sol descortinam no horizonte e começam a bronzear as nuvens que se movimentam como fumaça levadas pelo vento é a anunciação de que o dia está chegando para cumprir o que de mais belo ocorre na rotina da natureza.

Os pássaros em revoadas brincam sem parar num vaivém de intensa alegria e cantam o prelúdio da vida em sintonia com o amanhecer.

A rotina que se desenha em cada alvorecer parece transbordar as medidas do possível que, em outros momentos, vão tomando forma e proclamam o que sempre acontece de um jeito ou de outro. Nada fica para trás sem que se cumpra o que tem de ser cumprido nos primeiros momentos da aurora. A natureza providencia tudo segundo a rotina da vida no espaço e no tempo. E a terra se entrega em produção e colore sua existência do que há de mais belo aos olhos das criaturas.

O fascinante impressionismo remete a todos a feitura do Grande Arquiteto do Universo, que não poupou esforços em criar o que de mais encantador existe debaixo do céu. Um pedacinho desse universo se chama de Baixada Maranhense. Nela foram colocadas, de formas ornamentais, ilhas, morros, rios, lagos, lagoas e uma infinidade de campos inundáveis a perder de vista.

Como é lindo olhar as graúnas e outros pássaros em voos miúdos e as japeçocas (japiaçocas) pousadas nas vitórias-régias, que dão um tom ornamental de uma beleza ímpar aos campos com centenas de outras flores. Na Amazônia as vitórias-régias chegam a medir um metro de diâmetro, com o aspecto de grandes sombreiros mexicanos, onde os peixes se abrigam da luz solar.

Peixes de pequenos portes praticam suas peripécias em saltos para abocanharem os insetos de seus interesses que estão descansando nos caules das plantas. E quando o pescador observa esse fato faz seu pesqueiro ali próximo para disputar, também, a sua sobrevivência com alguns pescados.

Os campos da Baixada Maranhense formam uma grande manjedoura que cria e acalanta a vida aquática a se repetir todos os anos enquanto a água perdura. Sem água, quebra-se a cadeia produtiva e o encanto da vida. E, se falta água, sobra sofrimento e desespero, que deixa a esperança do baixadeiro árida e prolongada até o próximo inverno.

O poeta José Chagas no Soneto 3 do seu livro Colégio do Vento, com sua criatividade, dá uma dimensão do que tudo isso representa em beleza e preocupação para os baixadeiros, mesmo ele sendo sertanejo:

O campo era um continuar de vida

a se estender pelo horizonte a fora,

e a paisagem se dava repetida,

tanto em seu pôr do sol, como na aurora,

com a luz sendo uma cálida bebida

a embriagar a vastidão sonora,

onde as aves em voo na paz erguida

cobriam de asas o seu ir embora,

e o azul era uma longa despedida

do tempo a consumir-se todo em hora,

para, fugindo assim, dar a medida

de tudo o que era pressa na demora,

e o quanto fosse solidão já ida

não mais voltasse como volta agora”.

Os prometidos Diques da Baixada pelas autoridades governamentais parecem obra de ficção. Passada a filmagem nada se concretizou a não ser a promessa. E, novamente, no próximo pleito eleitoral renova-se tudo mais uma vez, e até colocam máquinas para garantir, como quem garantia antigamente com um fio do bigode, o trato acordado.

A Barragem dos Defuntos localizada ao sudeste de Peri-Mirim, construída com o objetivo de manter a água doce nos campos e evitar a contaminação pela água salgada, que vem do mar, por diversas vezes, durante a estação invernosa sofria a ação das intempéries do tempo e tinha que ser socorrida com o fim de evitar a evasão fulminante da água, que descia ao mar formando caudalosos rios.

Para solucionar o desperdício e o rompimento progressivo daquele anteparo, o prefeito de Peri-Mirim contratava um homem experiente que soubesse liderar uma boa equipe de trabalhadores com o objetivo de sanar as avarias causadas pelas fortes chuvas. Essa labuta exigia dos trabalhadores um condicionamento físico de boa qualidade e muita dedicação no enfrentamento da tarefa, inclusive em condições inesperadas, com animais peçonhentos de todas as espécies e tamanhos, muriçocas e maruins a perturbarem o desenvolvimento do serviço.

Por volta do ano de 1956, meu pai era o líder de uma equipe que recuperava a barragem em ocasiões de acentuado inverno, quando um dos seus comandados foi mordido por uma cascavel pequena, que os companheiros mataram. Levaram o acidentado juntamente com o réptil para o líder avaliar o que fazer, haja vista que não havia soro antiofídico no local. A solução encontrada pelo líder no momento foi dar um brado no trabalhador, argumentando que uma cobrinha daquele tamanho não teria como molestar um homem novo e forte do tipo do acidentado. E não é que deu certo! – Além disso, foi espremido o local ferido para expulsar o veneno inoculado no sangue e lavado com uma pinga, superficialmente.

Naquela época os habitantes do município, principalmente os criadores de gado, cobravam do prefeito da cidade que cuidasse de manter a barragem íntegra para o bem dos seus rebanhos e o povo, por sua vez, também fazia coro nesse sentido com o intuito de garantir o sustento de suas famílias com o pescado.

Havia, portanto, um entendimento saudável entre a população e o Poder Executivo. A cada inverno os canoeiros e pescadores se juntavam para limpar os igarapés com o incentivo do prefeito que, mesmo sem gastar dinheiro para isso, parecia ter em mente a satisfação de lidar com o problema mostrando a eficácia desse trabalho.

Com os igarapés limpos os canoeiros praticavam menos esforços na movimentação de suas embarcações e as piabas usavam o caminho limpo e com água corrente vinda do rio Aurá, para tentarem subir em piracema. Mas ao chegarem numa pequena barragem que une a sede do município ao bairro Portinho eram alcançadas pelas tarrafas dos pescadores que as esperavam com o fim de capturá-las. E assim a vida na Baixada vai seguindo seu curso na beleza enquanto tem água, enquanto tem alimento, e no sacrifício de décadas de espera por uma tomada de decisão que prolongue o tempo de cheias em nossa região.

Diques 2

JOÃO DE DEUS MARTINS

Por Ana Creusa Martins dos Santos

Patrono da Cadeira nº 12 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Ana Creusa Martins dos Santos. João de Deus Martins, conhecido como Dedeus, filho de Benvindo Mariano Martins e Ana dos Santos Martins. Segundo a acadêmica Maria Isabel Martins Veloso, ele era português, nascido em Açores, cuja data de nascimento ainda não foi identificada Porém, na Certidão de Óbito consta que ele é maranhense. Segundo a mesma fonte, ele veio para o Brasil no final do século XIX, aos 18 anos, com seu pai, Benvindo Mariano Martins.

Chegaram em São Luís, depois foram para Alcântara, de lá para Sacoanha em Peri-Mirim, pois pretendiam comprar terras para morar e trabalhar. Souberam que havia algumas terras não muito distantes; foram ver, gostaram, compraram e ali fixaram residência, em um lugar chamado Santa Severa, cujo nome mudaram mais tarde para Feijoal, porque de tudo que plantaram o que mais prosperava era feijão. Mas, Santa Severa continuou sendo a padroeira do lugar, tanto que a primeira escola estadual fundada em 1936 e chamava-se “Escola Santa Severa”.

Plantando mandioca, milho, algodão, arroz, cana-de-açúcar e todas as hortaliças, estes portugueses começaram a comprar mais terras (Centrinho, Boca do Rio e Umbaubá) e também começaram a comprar gado, pois as terras eram férteis e os campos maravilhosos para criar tudo que se quisesse.

Dessa maneira, foram construindo patrimônio, conseguiram seus primeiros escravos e se tornaram um dos maiores fazendeiros do lugar. Logo que o gado aumentou, o seu pai Benvindo começou a fazer queijo e vender em São Bento. Foi aí que depois todos os outros fazendeiros aprenderam a fazer o queijo e começaram a chamar “Queijo de São Bento” (pura invenção, pois o queijo é português, feito à mão pelo pai de João de Deus; portanto, de Peri-Mirim).

Quando seu pai Benvindo faleceu, João de Deus Martins (Dedeus), já estava casado com Maria Rosa Pinheiro Martins (Cota), assumiram tudo com muita sabedoria e garra. Do seu casamento com a esposa foram gerados 24 filhos, dos quais, criaram-se 18, sendo 9 homens e 9 mulheres.

Os filhos de João de Deus são: Raimundo Amâncio Martins (Mundico); João Venâncio Martins; Benvindo Mariano Martins Neto; João Bertoldo Martins; Antônio Raimundo Martins; Pedro Alexandrino Martins; Manoel de Jesus Martins; Procório José Martins; Raimundo Guilherme Martins (Santo) e José Martins.

As filhas são: Francisca Martins Campos (Chiquinha); Senhorinha Martins Melo; Ana Paula Martins Gonçalves (Anica); Mariana Martins Gonçalves; Maria Isabel Martins Nunes; Maria Joana Martins Pinheiro; Catarina Martins Pinheiro; Plautila Martins Ferreira (Florzinha) e Ana Teresa Martins Pinheiro (Donana).

Nessa época não havia escolas no interior, mas João de Deus contratava professores particulares para lecionar em sua casa para seus filhos e amigos. Um dos professores foi Opílio Lobato. Ele era à frente do seu tempo, muito inteligente, correto, sua palavra era lei. Outra professora foi Naisa Amorim, patrona de Maria Isabel Martins Veloso, detentora da Cadeira nº 01 da ALCAP e neta de João de Deus.

Depois que ele adquiriu as terras da Ilha Grande e Cametá, levou para esses povoados a Escola Sá Mendes – que subsiste até os dias de hoje – nome dado em homenagem a Ignácio de Sá Mendes, seu grande amigo e primeiro Intendente de Macapá, título que equivale a Prefeito.

Percebe-se, ao longo da história de João de Deus que ele dava muito valor para a Educação e ao Meio Ambiente, pois sempre conseguia uma forma de instalar escolas para seus filhos e netos e outras pessoas do lugar. Também mantinha uma floresta com árvores nativas, denominada “Mata”, que servia para retirada de madeiras e extrativismo, que também foi cenário de muitas histórias de visagens.

João de Deus faleceu no dia 10 de julho de 1943, em consequência de problemas na próstata. Seu túmulo está na entrada do cemitério de Peri-Mirim, junto de sua esposa Cota, de alguns filhos e netos.

CERTIDÃO DE ÓBITO DE JOÃO DE DEUS MARTINS (faltam as informações da data de nascimento e faltam listar alguns filhos).

Vida na Roça

Por Diêgo Nunes Boaes

Em meus tempos de criança, meu avô me acordava às 5h da manhã, antes de o galo do terreiro cantar, pegava sua foice e íamos a pé pelo campo, sentido povoado Canaranas em Peri-Mirim, era o mês de novembro, tempo de fazer roçado, íamos andando nos torrões que o tempo tinha marcado pela seca. Eu carregava uma garrafa térmica com bastante água e gelo para que até meio-dia tivéssemos o que beber. Minha avó preparava farofa de ovo para levarmos como merenda, às vezes colocava uma carninha seca frita, quando tinha, mas a farinha d´água não podia faltar. Ao chegar na casa da minha bisavó, recebíamos a benção dela e partimos para o roçado do meu avô, Domingos, vulgo Duro.

Entrávamos mato a dentro, ele cortava todos os matos e eu os puxava e os arrumava, deixamos que o tempo tomasse conta e todos secassem. Podíamos ouvir longe, aqueles toques nas madeiras. Após três dias de sol intenso, voltávamos para o roçado e tocávamos fogo em todas as plantas derribadas e já totalmente secas. O fogo se cabia de torrar tudo.  Os talos meu avô fazia questão de pegar todos eles, pois iriam servir para o cercado da roça. Eu os arrumava, os matos que não queimavam, fazíamos as rumas, chamadas de coivara para que queimassem também. O suor escorria aos nossos rostos, e a cor da tisna do carvão, criado a partir da queima, transcendência nosso corpo, os ombros avermelhados e feridos ficavam.

Depois que estava completamente limpo todo o roçado, iniciávamos a cercar, meu avô tirava os morões e os cipós, ele sempre tirava e eu era responsável em carregar as coisas necessárias para dentro da futura roça, levava nos ombros, mas quando não dava conta, arrastava-os.  Ele fazia os buracos, colocávamos os morões, socávamos com um pedaço de pau um pouco fino, para que o morão ficasse bem firme. Metíamos os talos secos, entremeávamos um com outros entrelaçados ficavam bem firmes, os cipós serviam para amarrar as pontas dos talos entre um e outro e ainda para segurar junto dos morões. Após tudo isso, limpávamos todo o roçado e aguardávamos o início das chuvas. Minha bisavó Tonha e minha tia bisavó Lica chegavam de surpresa para pegar a madeira que havia queimado para servir de lenha em suas cozinhas.

Ao início das chuvas, geralmente nos meses de janeiro para fevereiro, começávamos a nos preparar para as plantações, levávamos milho, feijão, maxixe, maniva e arroz para o plantio. O arroz era plantado nas áreas mais baixas, devido ao escoramento d´água e o alagamento. Geralmente ia conosco, meus tios, primos e avós. A família toda ocupava o roçado, para passar o dia todo. Era feito até uma pequena cabana improvisada. Minha avó levava o nosso almoço para a roça, e várias mangas doadas pela bisa Tonha, juntamente com um punhado de farinha. Uma manga para cada um e farinha para saboreamos com a manga era distribuído para todos, até no almoço a farinha não podia faltar, pois como bom baixadeiro, comer sem a preciosa farinha d´água parece que o comer não desce.

Eu plantava junto com meu avó e meus primos os caroços de milho e ajudamos os tios no plantio da maniva, minha avó e minha bisa plantavam o feijão e o arroz, meus tios plantavam maniva e maxixe. Deles o que mais demorava era a maniva, ao chegarmos, meu avó e meus tios pegavam os troncos das manivas secas e decotavam, ou seja, cortava todos em tamanhos pequenos e iguais, com auxilio do facão ou patacho e um tronco de árvore que era colocado transversalmente apoiado em uma pendoveira. Juntávamos os pedaços de maniva com tamanho de um palmo e colocávamos nos cofos, os destinados a plantá-las amarravam o cofo nas cinturas.

Os milhos, e as demais sementes eram despejadas nas cuias que serviam de suporte para colocar nas covas abertas pelas enxadas. As manivas eram colocadas de duas em duas, as cabeças dos pedaços de maniva ficavam juntas, para que ao crescer acompanhassem só um ritmo. O milho era colocado 2 ou 3 sementes em cada cova, quando o milho era bonito e de belas espigas colocávamos 2 caroços, mas quando eram espigas pequenas colocávamos 3 caroços, as covas eram feitas em sentido dobrado, duas covas juntas, pois se morresse o milho plantado em uma, a outra ficaria para suprir aquele vago. O arroz era plantado com auxílio de uma máquina, 5 em 5 caroços para cada cova e eram bem próximas as covas uma das outras. O feijão era semeado também na baixa e colocado 3 ou 4 sementes nas covas, as folhas do arroz cobriam as covas abafando e servindo de estrume para as covas de feijão para que crescessem mais rápido e dessem bons e belos pés de feijão. Os pedaços secos de maxixe eram atirados junto das covas de maniva.

Em meio a muita chuva, as plantações cresciam, junto dela vários matos também, meu avô e eu íamos para a roça, para capinar com o auxílio de um patacho e ver se não tinha furos feitos por porcos nas cercas do roçado. O que me faz às vezes rir é que meu primo mais velho, quando meu avô dizia: – vamos plantar rápido para ir cedo pra casa. Ele enchia de 8, 9 e até 10 caroços as covas de milho. Só descobríamos quando chegávamos para capinar.

No mês de abril íamos colher as espigas de milho, era a parte que mais gostava, pois pensava logo em comê-las assadas, cozidas, feitas pamonhas e canjicas. Minha avó separava as espigas moles serviam para comer cozida, um pouco mais dura, assávamos ou eram raladas para fazer canjica ou pamonha, as muito duras eram utilizadas para alimentar as criações de galinha, pato e porco.

Naquela vida de roça, lembro-me dos pés de frutinha do mato, maracujazinho, murta, ingá e veludo eram as frutas que mais apreciava. Lembro-me também do cansaço, mas da única maneira que tínhamos de ajudar no sustento de casa, de como meu avô havia criado seus 6 filhos, na luta e no batalho, nos cabos da enxada e da foice, às vezes reclamava de acordar cedo, mas muito aprendi com meu avô, dos valores que ele me ensinou levo para a vida toda.

A Academia Perimiriense promoverá o II Prêmio ALCAP Naisa Amorim

A Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Peri-Mirim (SEMED), faz saber que, no período de 08/06/2020 a 11/06/2020 estarão abertas as inscrições para o “2.º Concurso Artístico e Literário “Prêmio ALCAP Naisa Amorim”, com o tema Os valores essenciais para a construção de um mundo melhor” nas categorias de Desenho, Poesia, Crônica e Escola Criativa. O tema do concurso traz como texto-base a obra do escritor Francês Antoine de Saint-Exupéry “O Pequeno Príncipe”.

Leia o livro acessando o link abaixo 

O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry

O concurso é destinado a estudantes do ensino fundamental e médio, incluída a modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) e escolas públicas sediadas no município de Peri-Mirim, tanto da rede municipal quanto estadual de ensino.

O II Concurso Artístico e Literário “Prêmio ALCAP Naisa Amorim” tem como objetivo incentivar o gosto pela leitura e provocar uma reflexão sobre a vida e os valores humanos essenciais para a construção de um mundo melhor.

O Projeto foi lançado no dia 04 de fevereiro pelos acadêmicos Diêgo Nunes e Edna Jara durante a Semana Pedagógica organizada pela Secretaria de Educação do Município (SEMED). Público Alvo: professores da rede municipal de ensino, estudantes, escolas e público em geral. Foram repassados ao público sobre as 4 categorias inseridas no projeto: desenho, poesia, ciência e escola criativa.

Confira o Edital no link abaixo:

Edital 01.2020 – II Concurso Naisa Amorim

Memórias de uma cidade

Por Eni Amorim

No início era só uma floresta,
Íngreme,
Cercada entre belos morros,
E Verdes Campos,
Cheia de animais e aves exóticas,
Muitos bacabais,
Babaçuais, jussarais,
Buritizais, entre tantas outras plantas nativas.
Campos inundáveis brotavam,
Cortando sua extensão,
Embelezando a paisagem,
Com sua diversidade de fauna e de Flora.
Certo dia,
Um Caminhante Errante,
Passou por aquele lugar,
E se apaixonou.
Fez um roçado,
E dentro dele,
Construiu uma cabana
Para se proteger do sol e da chuva.
Avaliou o local,
Havia caça em abundância,
O local era farto de fruteiras,
A terra era propícia para o cultivo,
E a criação de animais domésticos.
Havia sol, ar respirável,
Rios de águas perenes,
Cantos de pássaros…
Perfeito!
Achou que seria um bom lugar,
Para fixar residência.
Voltou para sua casa,
Conversou com a esposa, filhos e vizinhos,
Sobre a novidade do local encontrado.
E assim, a esse desbravador,
Se juntaram outros e voltaram ao local.
Avaliaram e,
Embevecidos,
Pelo que encontraram,
Resolveram ali fixar residência…
Foram buscar suas famílias,
Fizeram uma Choupana,
Que mais tarde virou uma casa.
Com o sucesso,
Dos primeiros moradores ao novo local,
Outros vieram e fizeram suas modestas casinhas,
Construíram logo uma capela,
Onde se reuniam para rezar.
Nasceu a devoção a São Sebastião Guerreiro,
Protetor da fome, da peste e das guerras.
Uma Quitanda,
Para suprir as necessidades dos moradores,
Nasceu uma rua aqui, outra ali,
Formando uma vila.
Elegeram um líder comunitário,
O qual seria responsável pela organização comunitária.
Plantavam, pescavam, caçavam, criavam,
Faziam festas,
E foram organizado seus espaços.
Havia solidariedade,
E todos se ajudavam em trabalhos de mutirões,
Como não podia deixar de ser,
No local também tinha lendas e Magias,
Haviam os currupiras que protegiam a Vila,
Dos cumes dos seus outeiros,
As mães d’água que protegiam as águas,
E as Curacanga que assombravam os vaqueiros e pescadores,
Na beirada dos Verdes Campos,
E tantas outras…
E assim,
Nesse exuberante Rincão da Baixada Maranhense,
Entre morros e belos Campos,
Sobre a égide do milagreiro e guerreiro São Sebastião,
Surgiu e cresceu uma comunidade amiga,
Esbanjadora de hospitalidade,
A vila de Macapá.

E a vila vai crescendo…
Nasce uma fazenda,
Duas fazendas.
Um engenho de cana de açúcar,
Dois engenhos…
Uma escola,
Um posto de saúde,
Uma pracinha,
Um cemitério,
Uma delegacia,
As primeiras farmácias,
Agência do Correios,
E a vila de Macapá se torna Peri-Mirim.
Que para alguns de seus filhos apaixonados é chamada “Rainha da Baixada”,
Para outros carinhosamente,
“Paris-Mirim”…

Parabéns Peri-Mirim pelo seu Centenário 👏👏👏

Publicada em 31/03/2019

Fotos da Igreja antiga de São Sebastião e da Igreja atual.

 

Poema ao Aniversário da ALCAP

Por Nasaré Silva

A ALCAP é pura alegria
Pois está a aniversariar.
A casa de Naísa Amorim
Tem a honra de apresentar
Os ilustres acadêmicos
Confesso, são totêmicos,
Fazem cultura neste lugar.

Em maio de 2018
A ALCAP foi formada
Após algumas reuniões
Naísa fora homenageada
Por ter prestado serviço
Com amor e compromisso
Hoje está sendo louvada.

São vinte e sete cadeiras,
Para compositores e poetas.
Professor, jovem aprendiz,
Sonhadores e arquitetas
De esperança, sonhos, ideais.
As mãos não se soltam jamais.
A união, a arma secreta.

A cadeira número um
Compete a Maria Isabel
Patronesse Naísa Amorim,
Deixou-nos e mora no céu
Fez o bem por onde andou,
Na educação se lançou,
Tirou-nos da vista, o véu.

Carlos Pereira Oliveira,
O seu nome é distinto.
A cadeira é número dois,
Seu patrono, Jacinto Pinto.
Carlos pique, o poeta,
Da cultura é o profeta,
É amado neste recinto.

A cadeira número três
É de Raimundo Campelo
E Olegário Martins
Seu patrono, seu modelo.
Campelo, o cirurgião,
Fez suturas de pé ou mão,
Hoje, acadêmico terceiro.

Todos já ouviram falar
Em José Ribamar Bordalo,
Na política, veterano,
Acorda ao cantar o galo
Quatro é sua cadeira,
Na fazenda fez carreira,
Seu robe, campear gado.

Antônio João França Pereira,
É um grande visionário.
Sua cadeira, número seis,
Com Cecília Botão fez Ginásio.
Por sinal, sua patronesse.
Das Letras ele é o alicerce.
Dedicou-se no Seminário.

E a cadeira número sete
Pertence a Viegas da Paz.
Já escreveu alguns livros,
Ele é um poeta capaz.
Seu patrono, Rafael Botão,
Ambos nos causam emoção
Viegas escritor tenaz.

Graça Maria França
Oito, é a sua cadeira.
Seu patrono é importante
Secundino Mariano Pereira,
Ela reside no Portinho,
Da Academia é o pergaminho
Foi professora de carreira.

Cleonice Martins Santos
É uma grande mulher
Sua cadeira, número nove.
Patronesse, Maria Sodré,
Guerreira e empreendedora
Em seu cartório era doutora,
Uma grande mulher de fé.

A cadeira de número dez
É de uma professora
Nani Sebastiana da Silva
Nesta cidade, educadora.
Patronesse, Nazaré Maia,
Na educação, revolucionária,
Deste povo, preceptora.

A confreira Adelaide Pereira Mendes,
Amiga, corajosa e destemida.
Sua cadeira é de número onze
Mulher de fibra, aguerrida.
Patronesse, Jarinila Pereira,
Na educação fez carreira,
Flor preferida, margarida.

Ana Creusa dos Santos
Nome pomposo e bonito.
Fundadora da Academia
Escuta da natureza, o grito.
João de Deus é seu patrono
A cadeira doze é o seu trono.
O seu destino é bendito.

A cadeira número treze
É de Manoel Braga, o imortal.
Seu patrono, Walter Braga,
Corajoso, íntegro e especial.
Hoje está aqui presente
Nossa alegria ele consente
Pertence a ala cultural.

A cadeira catorze tem a honra
De pertencer à presidente,
Da Academia de Peri-Mirim,
Eni Amorim Pereira, o presente.
Sua patronesse, Dona Isabel.
Viveu em Santana, hoje no Céu.
Abençoa-nos constantemente.

A cadeira número quinze
Pertence a mim, a poeta.
Sou verdadeira e amiga,
O estudo é minha meta.
José Silva, meu patrono,
Em Santana fez seu trono
Eu o considero um profeta.

Flávio Andrade Braga
Possui cadeira dezesseis
É escritor renomado,
Faz sucesso o “Baixadês”
Patrono, Alexandre Botão,
Homem de bom coração,
Seu dote, a sensatez.

Alda Regina Correia
Deu cara nova à educação,
Patronesse, Helena Ribeiro,
Pois a amou de paixão.
Dezessete é sua cadeira
Professora, sua carreira.
Foi gestora de Cecília Botão.

E a cadeira dezoito
Tem patrono o Furtuoso.
Paulo Sérgio, o escolheu,
Por ser de fibra e valoroso.
Paulo, poeta, compositor,
É guerreiro, vencedor.
É homem bom, virtuoso.

Venceslau Pereira Júnior,
Homem de fibra e de fé,
Sua cadeira é dezenove,
Rônia, a sua mulher.
Patrono, Venceslau Pereira.
Foi dentista, fez carreira,
Creu em Deus, tinha fé.

Gisélia Pinheiro Martins,
Filha de Valton Barreira.
Cadeira de número vinte
Fala mansa, não diz asneira.
Seu patrono, João Botão.
Gisa é da educação
E professora de carreira.

Atanieta Nunes Martins
Amiga da faculdade,
Sua cadeira é vinte e um.
É leal, pratica alteridade.
Seu patrono, Carneiro de Freitas,
A Peri-Mirim deu receitas
De como viver de verdade.

A cadeira vinte e dois
É de Liliene da Glória,
Mãe de um casal de filhos,
A primeira Sara Vitória,
Patrono, Edimilson Ribeiro.
Farmacêutico e até parteiro,
Deus abençoe sua história.

Jessytania Carvalho Santos
Faz parte da diretoria,
Sua cadeira é vinte e três
Seu sorriso, pura alegria.
Agripino Marques, seu patrono,
Até hoje tem o trono,
De melhor prefeito da freguesia.

Jose Sodré Ferreira Neto
Sua cadeira é vinte e quatro.
Seu patrono, José dos Santos.
Gostava de campear nos prados
Cleres é a mãe de José,
Mulher de fibra e de fé.
A justiça os deixa empolgados.

A confreira Edna Jara,
Tem cadeira vinte e cinco.
Raimunda França, patronesse,
Trabalhava com afinco,
A sua avó, guerreira mulher,
A neta é assim, não tem mister.
Dessa forma, a estrofe eu findo.

Diego Nunes Boaes,
Tem cadeira vinte e seis,
Escolheu para patrono
Alguém fluente no inglês.
João Garcia Furtado
Até hoje admirado.
Falava também o francês..

A cadeira vinte e sete
É da confreira Elinalva.
Inteligente e brilhante,
Parece a estrela D’alva.
Júlia Silva, sua patronesse,
Nossa homenagem merece.
Voz de barítono, ressalva.

Jailson Alves Sousa
Vinte e oito, sua cadeira.
Raimundo João Santos,
Escolhido para patrono
O matemático Taninho,
Todos lhe davam carinho,
Nas quatro estações do ano.

A primeira diretoria
Desta forma é composta.
Presidente, Eni Amorim,
A vice é muito disposta,
Jessytania é seu nome.
Essa dupla é graciosa.

O primeiro secretário,
É nosso amigo à parte,
O companheiro Diego Nunes,
A sua vida é uma arte
Por onde passa deixa alegria
A todos dá felicidade.

A segunda secretária,
Ana Creusa, a fundadora,
Desta nossa Academia
É amiga, batalhadora.
Edna Jara Abreu Santos
É sua colaboradora.

Elinalva de Jesus Campos,
Tesoureira incondicional.
Atanieta e Francisco da Paz
São do conselho fiscal.
Bordalo também compõe
A equipe triunfal.

As atividades continuam
Fique aqui a nos honrar,
Com sua linda presença
Este evento só tem a brilhar
O poema está encerrando
Mas vocês, continuo amando
Já é hora de encerrar.

Obrigada,
Maria Nasaré Silva

Cecília Euzamar Campos Botão

Por Antônio João França Pereira

Patrona da Cadeira nº 06 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada por Antônio João França Pereira. Nasceu em São Luís, no dia 22 de novembro de 1912, filha de Torquata Campos, esta natural de São Vicente Ferrer, sem condições econômicas suficientes para criá-la e educá-la, decidiu deixá-la aos cuidados do Sr. Domingos Vieira, seu padrinho, não por falta de amor, mas como uma oportunidade de que Cecília viesse a ter melhores oportunidades na vida, tão difícil naquela época, principalmente para uma mãe solteira. E garças a Deus, assim aconteceu! Cecília teve uma boa criação e educação como prometeu seu padrinho.

Formou-se Professora Normalista, curso máximo do magistério na época. Como as dificuldades de trabalho no Estado eram grandes, só foi possível conseguir sua nomeação como Professora Normalista para o Município de Peri-Mirim, cidade da Baixada Maranhense. Chegou a Peri-Mirim em 1930, aos 18 anos, normalista, nomeada para licenciar no Grupo Escolar Carneiro de Freitas, o qual dirigiu e ensinou gerações até 1970.

Logo que lá se estabeleceu, mandou buscar para o seu convívio sua mãe e seus irmãos, que moravam em São Vicente Ferrer. A família consanguínea passou a viver junta até o casamento dos irmãos e morte de sua mãe, compensando, dessa forma, os anos que estiveram separados.

Profissionalmente, Cecília realizou-se na área educacional. Por muitos anos exerceu a função de Diretora e Professora do Grupo Escolar Carneiro de Freitas e ao se aposentar foi a primeira a oferecer seus dadivosos préstimos à Fundação do Ginásio Bandeirante, como Secretária. Foi também coordenadora das professoras leigas da Escola que leva a seu nome: “Escola Municipal Cecília Botão”, homenagem recebida depois de aposentada.

Naquele interior tão pequeno, e desprovido de tantas coisas, Cecília foi um pouco de tudo: professora, advogada, médica, parteira, conselheira e tantas outras atividades, consideradas de grande importância para suavizar as carências ali existentes.

A verdade é que ela adotou Peri-Mirim como sua, pelo amor que passou a lhe ter. E sempre dizia: “São Luís não me quis, mandou-me embora aos 18 anos, numa idade tão bonita para uma jovem! Esta cidade, Peri-Mirim, me acolheu e aqui sou feliz!”.

Casou-se no dia 26 de dezembro de 1940, com Antenor Botão, comerciante da cidade e tiveram três filhos biológicos: José de Ribamar, Maria das Graças e Conceição de Maria e dois de “coração”: João Furtado (que faleceu muito cedo) e João Felipe. Teve três netos: Cecília, filha de José, Giovana e Eduardo filhos de Graça e Eduardo que quando nasceu ela já havia partido. Faleceu aos 64 anos de idade em 10 de setembro de 1976, ironicamente no dia que estava marcada a mudança definitiva do casal para São Luís.

Como primícias da notável Escola Normal do Maranhão, sua vida foi um desfilar de bons exemplos como mestra, mãe e amiga. Pregou pela palavra e pelos atos de vida. Esposa irreverente, a mulher forte de quem falam as escrituras.

Emprestando seu nome a uma instituição educacional à cidade que ela adotou e na qual semeou verbo e vida, o povo perimiriense só faz justiça àquela que, como muitos outros, merece ter seu nome gravado na pedra e na alma das grandes e pequenas mentes claras.

Jacinto Pinto Pinheiro

Por Carlos Pereira Oliveira

Patrono da Cadeira nº 02 da Academia de Letras, Ciências e Artes Perimiriense (ALCAP), ocupada Carlos Pereira Oliveira. Nasceu no dia 30 de janeiro de 1932, no Povoado de Inambu – Peri-Mirim. É o segundo filho do casal Bonifácio Pinheiro e Patrocina Pinto. Na fase pré-escolar, a família mudou-se para o povoado Poções e mais tarde para a sede do município, com o propósito de colocar os filhos para estudarem.

Jacinto foi matriculado no Colégio Coronel Carneiro de Freitas, onde cursou até o quinto ano do primário. Fazia um turno de aula e outro na oficina de carpintaria, sendo seus mestres Manduca (Armando Leôncio Paz) e Tácito Nunes. Aprendeu a profissão rapidamente e se tornou um dos melhores marceneiros da região. Com a competência demonstrada na marcenaria e o carinho que tinha pelas pessoas, atraiu muitos discípulos, para aprenderem a profissão.

Jacinto gostava muito de cantar e tocar pandeiro, o que desempenhava com maestria e altivez. Sendo cobiçado para cantar na Igreja, na Escola de Samba e no Conjunto Musical de Rafael Botão.

Tudo que fazia tinha a marca da sua dedicação, compromisso e perfeição. Era um homem muito tratável, respeitoso e amigo. Por isso, tinha 360 (trezentos e sessenta) afilhados. Uma marca difícil de ser ultrapassada em qualquer localidade da Baixada Maranhense e, principalmente, da sua terra natal Peri-Mirim. O acadêmico da ALCAP, Francisco Viegas Paz foi o seu primeiro afilhado.

Jacinto era um dos principais articuladores do time de futebol Santa Cruz Esporte Clube da cidade de Peri-Mirim, do qual era um exímio jogador. Por ser um homem muito forte, tinha um chute potente e a cabeçada, mais ainda.

Ele teve uma vida dedicada às artes locais e, por isso, convidado para fazer parte até das ladainhas, muito comum nas décadas passadas e que até hoje ainda algumas pessoas pagam suas promessas nos festejos.

Duas moradoras da sede do município tinham horror aos seus apelidos, mas faziam maior elogio aos irmãos Jacinto e Raimundo Pinto que as respeitavam e de certo modo se sentiam amadas por eles. Um bom exemplo para os outros que, por acaso, agiam ao contrário dos bons costumes.

Quando os padres canadenses chegaram a Peri-Mirim, em 15 de agosto de 1958, o contrataram para renovar os bancos da Igreja e construir um parapeito que separava a nave principal da igreja do altar, deixando aberto um espaço para o deslocamento. Os padres ficaram satisfeitos em ver o cantor do coro da igreja executar com maestria as referidas obras.

Em 31 de dezembro de 1962 ele estava ensaiando a Escola de Samba, do qual era membro efetivo e, antes de sair cantou pela última vez uma música de  Ataulfo Alves “Me dá meu paletó”, que diz:

O general chegou Aurora
Me dá meu paletó
Que eu vou me embora

Quem se arrumou se arrumou
Quem não se arrumou se arrumasse
Eu não sou daqui sou de fora
Me dá meu paletó
Que eu vou me embora.

Jacinto foi assassinado no dia 31 de dezembro de 1962 e deixou a cidade de Peri-Mirim perplexa e os seus trezentos e sessenta afilhados órfãos da sua bênção.